
A conta de energia e os combust�veis t�m levado a culpa pelos aumentos persistentes do custo de vida – n�o sem raz�o, devido � alta de pre�os que os chamados servi�os administrados pelo governo t�m apresentado –, mas a infla��o j� atinge as despesas mais comuns e t�picas dos brasileiros. Na Grande Belo Horizonte, a refei��o tradicional � mesa do caf� da manh�, servida do p�ozinho franc�s com manteiga e caf�, aperta o or�amento familiar e se descolou da varia��o m�dia dos pre�os em quase todas as bases de compara��o pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

O caf� mo�do foi al�ado � lista de vil�es dos pre�os em julho, ao encarecer 4,89%, frente a varia��o de 0,71% do �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) medido em BH e entorno. As remarca��es do p�o franc�s e da manteiga tamb�m foram bem superiores � m�dia geral do custo de vida na Regi�o Metropolitana da capital, tendo alcan�ado, respectivamente, 1,50% e 2,60%.
Quando a an�lise � feita desde janeiro, o f�lego desses produtos faz inveja. Enquanto o IPCA atingiu 4,61%, o caf� mo�do ficou 6,46% mais caro; a manteiga sofreu reajuste de 6,56% e o p�o franc�s foi remarcado em 5,32%. O melhor � preparar o bolso, uma vez que o cen�rio mais prov�vel desenhado por pesquisadores de institutos de pesquisa da infla��o e economistas � de novos aumentos dos pre�os.
Nos �ltimos 12 meses terminados em julho, os aumentos observados na Grande BH atingiram 12,33%, em m�dia, nos gastos com caf� mo�do para o consumidor, e 12,24% no caso da manteiga. O IPCA, por sua vez, variou 9,43%. S� o p�o franc�s perdeu para a infla��o nesse per�odo, com reajuste de 7,19%. A justificativa para o encarecimento de Itens como o caf� tem aliado os efeitos de geadas nas lavouras ao pr�prio impacto da infla��o dos combust�veis sobre o frete das mercadorias.
O pre�o m�dio do quilo do p�o franc�s na capital mineira j� chega a R$ 19,90 em algumas padarias de Belo Horizonte. Em uma rede de supermercados da capital, o pre�o da baguete � de R$ 29,90 o quilo. Segundo pesquisa divulgada pelo site Mercado Mineiro em 27 de julho passado, com dados apurados entre os dias 20 e 23 em 29 padarias, al�m dos reajustes, o p�o franc�s varia 73% no quilo, dada a disparidade dos pre�os cobrados em BH, entre R$ 11,49 e R$ 19,90.
Escassez
A costureira Bet�nia Coimbra, de 59 anos, e a filha musicista D�bora Coimbra, de 26, t�m o h�bito de todos os dias tomar o caf� da manh� em padarias. A varia��o de pre�os, tanto entre os estabelecimentos que elas frequentam, quanto as remarca��es “de um dia para outro” t�m assustado. “S�o valores que variam em at� 50% de um lugar para outro”, observam.
Mas o que tem chamado tamb�m a aten��o de m�e e filha � a escassez de alguns produtos. “Chegamos em uma padaria e o caf� s� � preparado na hora. Em outra n�o havia manteiga para passar no p�o. S� margarina.” A comerciante Luciana Alves diz que, no caso do caf�, esse procedimento evita que o produto fique acumulado em garrafas t�rmicas ou m�quinas por muito tempo e sujeito a oxida��o ou altera��o de sabor.
O bolso tamb�m enfrenta aperto para quem tem o h�bito de fazer a primeira refei��o do dia em casa, junto aos familiares. A psic�loga aposentada Val�ria Marques Moreira Barbosa, de 66, mora com o marido e dois filhos na Regi�o Sul de BH e diz que a solu��o para fugir das altas foi substituir produtos no caf� da manh�.
“A solu��o � a crepioca (crepe de tapioca), com ovos e praticamente a elimina��o dos p�es. Um pacote de 250 gramas de p� de caf� est� custando, em m�dia, R$ 11, o que significa que um quilo � vendido acima de R$ 30 e a expectativa diante das circunst�ncias clim�ticas � que fique bem mais caro. Sem contar a manteiga e o leite", reclama Val�ria.
Mudan�as
Para o presidente da Associa��o Mineira da Ind�stria da Panifica��o (Amip�o), T�rcio Dantas, a sociedade vem absorvendo e entendendo as necessidades de altera��es de pre�os. “Na realidade, o aumento n�o foi apenas de produtos aliment�cios, que sofreram impactos de outras altas como energia e combust�veis, por exemplo.”
O setor de panifica��o, segundo o dirigente da entidade, sofreu muito com as consequ�ncias da pandemia, entre elas o desemprego, o “dinheiro mais curto no bolso”, a paralisa��o de alguns setores, que deixaram de fornecer insumos e produtos, a consequente queda no consumo. Trata-se de uma soma de fatores que justificam os aumentos no setor de alimentos, de acordo com Dantas. “Afetando principalmente produtos b�sicos como o p�o e leite.”
Levantamento feito pela Amip�o mostra que a situa��o mais grave do setor foi registrada na Regi�o Central da capital, e alguns bairros de classe m�dia, “que ofereciam servi�os de caf� da manh� e almo�o e sofreram queda significativa de at� 50% no faturamento, com os sucessivos decretos de abertura e flexibiliza��o do funcionamento dos estabelecimentos, devido ao combate � COVID-19”.
Em bairros de periferia e algumas regi�es de classe m�dia, houve certo crescimento das vendas devido ao trabalho remoto, que manteve as pessoas em casa. “Naqueles bairros que praticamente eram dormit�rios, empresas registraram maior movimento no com�rcio local", diz o presidente da Amip�o.
Ele acredita que mudan�as de h�bitos sinalizam uma nova cultura de consumo, o que poder� tamb�m influenciar os custos de comercializa��o de produtos e os pre�os ao consumidor. “As pessoas hoje compram onde querem, de onde est�o e a qualquer momento. Aprenderam a n�o sair da pr�pria casa pra comprar qualquer produto. O que esper�vamos que aconteceria nas pr�ximas d�cadas, aconteceu no �ltimo ano. Quem n�o se adequar estar� fora do mercado”, conclui.
Repasses
A s�cia-propriet�ria do Teresa Caf�, nas imedia��es do Mercado Central de BH, Luciana Alves, de 43, conta que a aquisi��o de produtos para suprir o caf� da manh� registrou sucessivos aumentos desde a abertura do estabelecimento, em dezembro do ano passado. “Seguramos ao m�ximo o repasse de pre�os ao consumidor, mas agora n�o est� sendo mais poss�vel”, afirma. De forma gradual, os pre�os v�o sendo repassados “para n�o assustar os fregueses.”
Luciana diz que as altas mais sentidas, a princ�pio, na empresa foram as de derivados de latic�nio e de panifica��o e quitandas. Na sequ�ncia, est� o caf�. Ela prev� alta ainda mais significativa de pre�os devido �s consequ�ncias das varia��es clim�ticas, agravadas pelas geadas que atingiram regi�es produtoras de Minas em julho.
No varejo
Varia��o de pre�os m�dios entre julho de 2020 e 21 (kg)
» P�o franc�s 9,97%
» P�o doce 13%
» Mussarela 33,83%
» Presunto 16,76%
Varia��o de pre�os apurados entre 20 e 23 de julho em 29 padarias de BH
» Presunto (Kg) 62%
» P�o com manteiga (unidade) 70%
» Caf� com leite (m�dia) 160%