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Estado de Minas TRANSPORTE

Custo "fecha o sinal" para motoristas de aplicativo

Gastos com combust�veis e manuten��o em alta, infla��o de profissionais no mercado e baixas taxas de retorno desestimulam condutores. Consumidor tamb�m sofre


16/08/2021 04:00 - atualizado 16/08/2021 07:06

Veron Guilherme não conseguiu quitar prestações e devolveu o carro: maioria hoje apela para aluguel de veículos, aponta associação
Veron Guilherme n�o conseguiu quitar presta��es e devolveu o carro: maioria hoje apela para aluguel de ve�culos, aponta associa��o (foto: Arquivo pessoal/Divulga��o)

 

Pressionados por aumento de combust�veis e baixo valor de remunera��o nas corridas, motoristas de aplicativos perdem renda, deixam a atividade ou tentam se equilibrar assumindo outras fun��es paralelamente. Esses fatores, somados aos custos de manuten��o e, em muitos casos, de aluguel ou financiamento de ve�culos, tornaram a atividade, que j� foi considerada a salva��o diante do desemprego de mais de 14 milh�es de brasileiros, invi�vel para muitos. Na outra ponta, usu�rios reclamam de constantes cancelamentos de corridas, do custo das tarifas e do aumento do tempo de espera, conforme relatam os pr�prios condutores.

 

Alta da gasolina na Grande BH foi de 27,01% de janeiro a julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), enquanto o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo, que mede a infla��o para fam�lias com renda de at� 40 sal�rios m�nimos, ficou em 4,61%. A renda est� achatada at� mesmo para quem roda com g�s natural. Segundo o IBGE, o g�s veicular encareceu 27,50% neste ano no Brasil (n�o h� pesquisa do item na Grande BH). Pressionados, alguns tiveram que devolver carros ainda n�o quitados �s institui��es financeiras e apelam para o aluguel, provocando uma retomada de f�lego nas locadoras, em movimento nas locadoras inverso ao verificado durante os picos da pandemia, quando faltou espa�o nos estacionamentos para guardar os ve�culos devolvidos e sem uso (leia mais abaixo).

 

S�o muitas as reclama��es por parte dos motoristas quanto aos valores pagos por corrida, mas o temor de retalia��o, como suspens�o ou cancelamento de cadastro, faz com prefiram o anonimato ao falar sobre condi��o de trabalho e remunera��o. Muitos assumem que rejeitam as corridas curtas por n�o compensar – o que tem provocado irrita��o nos usu�rios – e que a jornada � excessiva para conseguir fechar as contas no final do m�s. Outros admitem que tentam fidelizar clientes fora do ambiente de aplicativos, "atitude proibida pelas plataformas”.

 

Um motorista residente em Belo Horizonte, que prefere o anonimato, narra o drama que vem enfrentando, um retrato das queixas de outros condutores. Ele trabalhava em categoria b�sica desde 2016. Em 2019, subiu de categoria no aplicativo em busca de melhor tarifa. Hoje dirige carro pr�prio com capacidade de 55 litros de combust�vel no tanque. "Quando comecei a trabalhar, o �lcool era R$ 2,10 o litro, gastava R$ 115 para encher o tanque. Ontem (10/8) gastei R$ 241. Ficamos nas m�os do aplicativo, que argumenta que se subir pre�o perde passageiro, s� que est�o perdendo motoristas."

 

Segundo o condutor, no in�cio, o aplicativo pagava R$3,60 a corrida inicial e o quil�metro rodado sa�a a R$ 1,16, valor hoje reduzido para R$ 0,99. "Tenho carro pr�prio. Na �poca em que alugava, pagava R$1.300. Hoje, o carro b�sico hoje seria R$ 1.800", calcula.

 

Jornada prolongada

Dados da Associa��o Frente de Apoio Nacional ao Motorista Aut�nomo (Afanma) indicam que 30% dos condutores que circulam nessa modalidade na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte usam ve�culos financiados, e 20%, carros pr�prios j� quitados. Metade da frota � de propriedade de locadoras. "Aqueles que financiaram seus carros encontram-se em situa��o complicad�ssima. S�o muitos os que devolveram o ve�culo �s institui��es e perderam o que j� tinham pago", conta Paulo Xavier, de 54 anos, presidente da entidade.

 

A associa��o produziu planilhas baseada no dia a dia da categoria e mostra que quem rodava de 6 a 8horas por dia, hoje trabalha at� 15 horas para conseguir uma m�dia di�ria de R$ 70. "O custo geral do motorista com combust�vel, manuten��o, pe�as, documentos, impostos, multas e deprecia��o � alt�ssimo. Sem contar que os carros chegam a rodar at� 100 mil quil�metros em um ano."

 

O dirigente da entidade calcula que quem circula 200 quil�metros por dia, j� sai de casa devendo R$ 100 de combust�vel e outros R$ 70 de di�ria (no caso dos alugados). "Se faturar R$ 200, ter� no final do dia R$ 30 livres, o que d� menos que um sal�rio m�nimo por m�s. Sem contar que a tarifa, que nunca foi reajustada nos sete anos de entrada de operadoras aqui, agora est� menor."

 

Perdas

Veron Guilherme, de 49,, n�o conseguiu garantir o pagamento em dia das presta��es do financiamento e devolveu o carro � financeira. "Eu tinha um carro 2008, que pelo ano de fabrica��o estava impedido de rodar no aplicativo. Comprei um 2018, com presta��es mensais de R$1.175, dando o antigo, calculado em R$ 12 mil, de entrada". Mas n�o deu certo. Ele chegou a pagar 18 presta��es, mas as contas n�o fechavam mais. "N�o tive alternativa, precisava priorizar a sobreviv�ncia e a sa�da foi devolver o ve�culo".

 

A�ougueiro, Veron faz trabalhos eventuais em estabelecimentos de Contagem, onde mora. "As operadoras n�o se preocupam com motoristas, mas com o mercado e o lado do usu�rio. A taxa cobrada poderia ter valor mais justo nas corridas. O carro dava oito quil�metros por litro, com pre�o de gasolina a R$ 6, tinha dia que recebia R$ 1,20 por corrida."

 

Morador de uma cidade da Grande BH, pai de dois filhos, outro motorista fala das dificuldades, mas teme revelar sua identidade. "A situa��o est� muito dif�cil e se me suspenderem n�o saberia mais o que fazer." Entre as dificuldades, cita a tens�o no tr�nsito para atingir um faturamento suficiente para arcar com as despesas. S�o de 10 a 12 horas, todos os dias da semana, para uma receita em torno de R$ 4 mil no fim do m�s. "� preciso cabe�a fresca para lidar com situa��es diversas. Ficamos muito vulner�veis. �s vezes, passageiro n�o aparece e n�o recebemos a taxa de retorno. H� um excesso de regras. Tem momentos em que preciso fazer tr�s corridas para compensar uma perdida. Em corridas de sete quil�metros recebemos R$ 1."

 

Ele conta que tomou suspens�o de 12 horas porque uma passageira n�o apareceu. Era corrida compartilhada. O aplicativo informou que n�o tinha como cancelar porque j� havia anunciado embarque. "S�o situa��es em que, se a pessoa n�o precisar muito, acaba abandonando. Tem sido comum ouvir de passageiros sobre outros cancelamentos, que esperaram at� tr�s chamadas. A cada tr�s passageiros que embarcam no meu carro, um relata cancelamento."

 

O motorista afirma que n�o h� apoio por parte da operadora do aplicativo. Ao contr�rio. "No fim do ano passado, em pleno pico da pandemia, a atitude foi aumentar a tarifa cobrada dos motoristas, enquanto as despesas aumentavam”, relata. Segundo ele, a taxa imposta chega a at� 35% do valor da corrida. “Fica muito puxado. Aperta o nosso or�amento. Nos obriga a fazer sele��o de corrida, uma autonomia de deslocamento menor".

 

Em situa��es como perda de corrida, cancelamentos ou pessoas que n�o aparecem, fica dif�cil explicar � operadora, sustenta. "Parece que s� tem rob�s no atendimento." Ele acredita que as pessoas que entraram no in�cio do sistema chegaram a ganhar dinheiro consider�vel, mas "s�o os que est�o abandonando neste momento”.

 

Jullianny Bárbara tenta equilibrar perdas com trabalho no trânsito somente em horários de pico e jornadas em outra atividade
Jullianny B�rbara tenta equilibrar perdas com trabalho no tr�nsito somente em hor�rios de pico e jornadas em outra atividade (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
 

 

Sele��o de hor�rio

Jullianny B�rbara, resolveu assumir a dire��o de um ve�culo de aplicativo ao ficar desempregada no ano passado. "Foi bom, consegui pagar as contas. Mas neste ano, com o fechamento da cidade, acabei parando por dois meses e os boletos voltaram a se acumular. A� voltei, com a flexibiliza��o gradativa de abertura de BH."

 

Por ter outra fonte, gerenciando redes sociais, ela n�o trabalha o dia todo com as corridas, buscando equilibrar as horas destinadas a cada atividade para n�o ficar no preju�zo. "O aplicativo tem muitas vari�veis que pegam, mas, querendo ou n�o, ainda d� uma flexibilidade de hor�rio. Mas tenho consci�ncia que preciso rodar em hor�rios espec�ficos, como os de pico, para fazer mais dinheiro. N�o fico o dia todo. Saio de manh� e fa�o at� pouco ap�s o almo�o. Ou saio depois do almo�o, at� umas 22h, que � meu limite.” O carro de B�rbara � alugado e � pago semanalmente. Isso faz com que as constantes altas dos combust�veis pesem.

Para plataformas, hora � de ganhos

Diferentemente do que dizem os condutores, operadoras dos aplicativos sustentam que seus “parceiros” vivem um bom momento, impulsionado pela demanda e afirmam que mudan�as no sistema de cobran�a adotadas recentemente buscam equil�brio tarif�rio ou propiciam melhorias para a plataforma.

O argumento da “preserva��o do equil�brio entre demanda e oferta” � o apresentado pela Uber para seu sistema de cobran�a, por meio de nota. De acordo com o texto, a pandemia levou a maior procura pelo aplicativo “por ser considerado sistema de transporte seguro”, e, em decorr�ncia disso, os usu�rios est�o tendo de esperar mais tempo por uma viagem, especialmente nos hor�rios de pico, quando h� mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens. A consequ�ncia, afirma a nota, s�o ganhos maiores para quem dirige o app desde o in�cio do ano.

De acordo com a empresa, em Belo Horizonte, por exemplo, os parceiros que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em m�dia, de R$ 1.100 a R$ 1.200 na semana, “m�dia superior aos rendimentos mensais de v�rias atividades no pa�s, como fisioterapeutas, int�rpretes, marceneiros ou corretores de seguros, por exemplo, de acordo com dados do site Trabalha Brasil, que compila essas informa��es”.

A empresa defende que sua pol�tica de pre�os din�micos e promo��es para motoristas parceiros beneficia tamb�m o usu�rio. “O pre�o din�mico � um recurso muito �til porque, por um lado, faz alguns usu�rios adiarem as suas viagens � espera de um pre�o menor e, por outro, incentiva que mais motoristas parceiros se desloquem para atender uma determinada regi�o”, afirma. A empresa ainda sustenta que tenta ajudar os parceiros a driblar os custos dos combust�veis, entre outros, com programa de vantagens.

Por sua vez, a 99 diz que a taxa cobrada dos motoristas parceiros do aplicativo � revertida em investimentos que os beneficiam, como em seguran�a. De acordo com a plataforma, o teto cobrado � de cerca de 30% do valor da corrida, “mas h� casos em que � empregada a taxa negativa, ou seja, o valor repassado ao motorista � maior que o pago pelo passageiro e esta diferen�a � custeada pela empresa para democratizar o acesso das pessoas e apoiar os ganhos dos parceiros. Quanto aos gastos, informa que neste ano j� garantiu mais de R$ 3,1 milh�es em desconto nos postos da rede Shell em todo o pa�s.

A empresa credita o aumento do tempo de espera na plataforma � alta da demanda desde o final de 2020, quando o movimento foi retomado em 100% quando comparado ao per�odo antes da pandemia. Al�m disso, destaca, houve ainda uma procura pelo servi�o pela classe C, que n�o conseguiu realizar o isolamento social. De acordo com o Datafolha, cita, 40% dos brasileiros da classe C passaram a utilizar os carros por aplicativo com mais frequ�ncia. Somado a isso, acrescenta, a retomada das atividades comerciais em 2021 tamb�m impulsionou o retorno da locomo��o das Classes A/B, que deixaram de fazer home office em per�odo integral. “Esse aumento de pedidos de corrida pode ocasionar maior tempo de espera na plataforma”. (EG)
 
Pátios lotados marcaram os meses mais difíceis para as locadoras na pandemia: agora, elas voltam a ser opção para quem busca renda nos aplicativos
P�tios lotados marcaram os meses mais dif�ceis para as locadoras na pandemia: agora, elas voltam a ser op��o para quem busca renda nos aplicativos (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )
 

Locadoras come�am a recuperar f�lego

Na esteira da pandemia de COVID-19, as locadoras de ve�culos viram seus p�tios se encherem no ano passado, quando motoristas de aplicativo come�aram a devolver os carros alugados por falta de cliente. Agora, com a retomada das atividades e a procura por parte de condutores que perderam seus ve�culos por n�o conseguir quitar o finamento, o setor respira com mais facilidade, avalia o diretor-executivo do Sindicato das Empresas Locadoras de Autom�veis do Estado de Minas Gerais (Sindloc), Leonardo Soares Nogueira Silva.

"A sa�da � o carro alugado, porque tem como negociar com a locadora. J� que depende do carro, n�o recebe multa, n�o se envolve em sinistro e tem um padr�o profissional de conduta, (o condutor) consegue at� um certo desconto com locadora, quilometragem maior para rodar mais e fazer receita", recomenda. Nogueira lembra que as despesas de manuten��o, seguro, IPVA s�o por conta do locat�rio, com o locador pagando "apenas pelo uso."

O dirigente da entidade explica, que no in�cio da pandemia, em mar�o 2020, o mercado para loca��o de aplicativo encontrava-se muito aquecido. "O segmento acompanha o movimento da mobilidade urbana. � primeira restri��o de locomo��o, esses motoristas entraram em p�nico e devolveram os carros. Algumas locadoras sequer tinham onde estacionar os ve�culos devolvidos", lembra

Com a volta gradual, tr�s fatores marcaram o setor de loca��o, aponta Leonardo: muita gente optando por sair do transporte coletivo e ir para o individual, evitando circular em �nibus, lota��es ou vans; a migra��o de outras profiss�es para aplicativos como alternativa ao desemprego; mas tamb�m a falta de carro nas locadoras. "Com paralisa��o na ind�stria de autom�veis, o setor de loca��o est� em d�ficit de compra de carros. As frotas est�o reduzidas e n�o conseguem repor nem crescer", explica. (EG)
 


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