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Estado de Minas A LUTA PELA RECUPERA��O DA ECONOMIA

PIB n�o cresce no 2� tri e economistas j� veem 'pibinho' em ano de elei��o

'Tempestade perfeita' na economia leva analistas a projetarem PIB abaixo dos 2% no pr�ximo ano. Se crise h�drica se agravar, desempenho pode ser ainda pior


01/09/2021 09:12 - atualizado 01/09/2021 09:55


'Tempestade perfeita' na economia leva analistas a projetarem PIB abaixo dos 2% no próximo ano. Se crise hídrica se agravar, desempenho pode ser ainda pior(foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
'Tempestade perfeita' na economia leva analistas a projetarem PIB abaixo dos 2% no pr�ximo ano. Se crise h�drica se agravar, desempenho pode ser ainda pior (foto: Marcelo Camargo/Ag�ncia Brasil)

PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro registrou queda de 0,1% no segundo trimestre, em rela��o ao primeiro, divulgou h� pouco o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) — que considera a pequena varia��o negativa uma estabilidade.

Na compara��o com o segundo trimestre de 2020, pior momento dos efeitos da pandemia sobre a atividade econ�mica, a alta foi de 12,4%.

O resultado representa uma desacelera��o em rela��o ao crescimento de 1,2% do PIB no primeiro trimestre, na compara��o com o quarto trimestre de 2020, quando o bom desempenho da atividade foi puxado pela agropecu�ria, ind�stria e servi�os.

De abril a junho, dois desses componentes perderam for�a.

A agropecu�ria registrou uma queda de 2,8% em rela��o ao trimestre anterior, devido ao efeito negativo da estiagem e de geadas sobre a produ��o agr�cola. J� a ind�stria recuou 0,2% na mesma base de compara��o, impactada pela falta de insumos e alta dos custos de produ��o.

Na contram�o, o setor de servi�os manteve o crescimento (de 0,7% em rela��o ao trimestre anterior), gra�as � gradual reabertura da economia, que tem levado os brasileiros a voltar a consumir em restaurantes, bares, shopping centers, cinemas e hot�is.


Mas, para os economistas, tudo isso j� � passado, uma imagem distante no retrovisor. Os analistas est�o de olho nesse momento em como ser� o desempenho da economia em 2022, ano que ser� marcado pela disputa eleitoral � Presid�ncia da Rep�blica.

E as perspectivas s�o pouco animadoras: a infla��o em alta deve levar o Banco Central a subir ainda mais os juros, com efeito negativo sobre investimentos e consumo. Al�m disso, o aumento de pre�os diminui o poder de compra das fam�lias, o que tamb�m prejudica a atividade econ�mica.

Crise hídrica e do setor elétrico é um dos fatores de incerteza para o PIB de 2022; na foto, o lago de Furnas em Minas Gerais um julho deste ano, abaixo dos 27% de capacidade(foto: AFP)
Crise h�drica e do setor el�trico � um dos fatores de incerteza para o PIB de 2022; na foto, o lago de Furnas em Minas Gerais um julho deste ano, abaixo dos 27% de capacidade (foto: AFP)

O descontrole das contas p�blicas e a volatilidade gerada pela corrida eleitoral devem piorar as condi��es financeiras — como s�o chamadas no jarg�o econ�mico o desempenho de indicadores como juros futuros, risco-pa�s, c�mbio e bolsa de valores, uma esp�cie de "term�metro" das expectativas dos agentes do mercado financeiro quanto ao desempenho futuro da economia — o que tamb�m tende a prejudicar as condi��es de investimento.

Somam-se a esse quadro uma crise h�drica e do setor el�trico sem precedentes, al�m de um mundo que deve crescer menos em 2022, consumindo assim menos commodities brasileiras como min�rio de ferro e produtos agr�colas.

Diante desse cen�rio que os economistas avaliam como uma "tempestade perfeita" (express�o usada para uma coincid�ncia de diversos fatores negativos), a perspectiva � de que o PIB brasileiro cres�a menos de 2% em 2022, ap�s avan�ar algo como 5,2% este ano — vindo de uma queda de 4,1% em 2020, devido � pandemia.

Assim, o diagn�stico dos economistas � un�nime: vem a� mais um ano de 'pibinho' e isso tende a impactar a decis�o dos eleitores em outubro de 2022.


Inflação em alta deve levar o Banco Central a subir ainda mais os juros, com efeito negativo sobre investimentos e consumo(foto: ROBERTO PARIZOTTI/CUT)
Infla��o em alta deve levar o Banco Central a subir ainda mais os juros, com efeito negativo sobre investimentos e consumo (foto: ROBERTO PARIZOTTI/CUT)

Juros maiores, atividade econ�mica menor

Flavio Serrano, economista-chefe da gestora de recursos Greenbay Investimentos, espera um crescimento de 1,7% para o PIB brasileiro em 2022.

"O principal cen�rio � um Banco Central que vai subir mais juros do que estava previsto inicialmente. Estamos caminhando para uma taxa b�sica de juros de 7,5%, 8%, eventualmente at� mais. E obviamente que isso tem implica��es sobre a atividade", diz Serrano.

"Ano que vem, a economia vai desacelerar seu ritmo de expans�o por conta desse aumento de juros", acrescenta.

Definida pelo Banco Central, a Selic � a taxa b�sica de juros da economia. Ela serve de refer�ncia para todas as taxas de juros do pa�s, como aquelas dos empr�stimos, financiamentos e aplica��es financeiras.

Atualmente, a Selic est� em 5,25%. Ela chegou � m�nima hist�rica de 2% entre agosto de 2020 e janeiro de 2021, quando o Banco Central reduziu a taxa de refer�ncia na tentativa de reativar a economia abalada pela crise do coronav�rus. Agora, com a infla��o em alta, os economistas avaliam que taxa pode voltar aos 8%, patamar que n�o era visto desde 2017.

Uma Selic mais alta torna mais caro tomar dinheiro emprestado, seja para as fam�lias ou para as empresas. Assim, o aumento dos juros � usado pelo Banco Central para "esfriar" a economia, uma maneira de controlar a infla��o, quando os pre�os est�o em alta. Mas a consequ�ncia de puxar esse freio � menos consumo e menos investimento.


Questionamentos do processo eleitoral por Bolsonaro e seus apoiadores são prenúncio de eleições tumultuadas em 2022, o que aumenta a incerteza da economia(foto: Getty Images)
Questionamentos do processo eleitoral por Bolsonaro e seus apoiadores s�o pren�ncio de elei��es tumultuadas em 2022, o que aumenta a incerteza da economia (foto: Getty Images)

Descontrole nas contas p�blicas e incerteza eleitoral

Marcela Rocha, economista-chefe da gestora Claritas Investimentos, previa antes uma alta de 2% para o PIB brasileiro em 2022, mas reduziu essa estimativa para 1,7%.

"Nossa vis�o j� era mais c�tica em rela��o ao crescimento do ano que vem, porque o per�odo eleitoral no Brasil � normalmente conturbado, o que aumenta a incerteza, o ru�do, a volatilidade, e pode levar a aperto de condi��es financeiras", diz Rocha.

Al�m desse aperto, e da alta esperada dos juros, a economista avalia que deve haver uma piora do risco-pa�s, uma medida da desconfian�a dos investidores em rela��o ao Brasil.

"N�o temos convic��o de que os juros v�o parar em 7,5%. A infla��o n�o para de surpreender para cima, tem essa hist�ria da crise h�drica, que coloca uma incerteza enorme em como vai ser o repasse de pre�os para energia e temos uma infla��o que passa a ser mais disseminada, contaminando itens como os pre�os de servi�os", enumera a analista.

Segundo ela, o quadro � ainda mais grave pois a incerteza fiscal — aquela relacionada � solv�ncia das contas p�blicas — s� aumenta, o que tamb�m alimenta a desconfian�a dos investidores.

Entre essas incertezas relacionadas �s contas p�blicas, ela lista a tentativa do governo de adiar o pagamento dos precat�rios (d�vidas do governo com senten�a judicial definitiva); a ambi��o da gest�o Jair Bolsonaro (sem partido) de lan�ar um Bolsa Fam�lia "turbinado" para o ano eleitoral, que ainda n�o se sabe como ser� financiado; e os desafios de se elaborar um Or�amento para 2022 que respeite a regra do teto de gastos.

"A gente tem elei��o, tem um Brasil que n�o fez o dever de casa de reformas estruturais, tudo isso leva o PIB do ano que vem para baixo. E ainda tem outros riscos", alerta a economista.


O ano de 2022 deve ser de menor crescimento em todo o mundo, reduzindo a demanda por commodities brasileiras como o minério de ferro (foto)(foto: Getty Images)
O ano de 2022 deve ser de menor crescimento em todo o mundo, reduzindo a demanda por commodities brasileiras como o min�rio de ferro (foto) (foto: Getty Images)

Mundo menos favor�vel e crise h�drica

Entre esse outros riscos, est� o cen�rio externo. Esse ano, com o avan�o da vacina��o, reabertura das cidades e manuten��o dos est�mulos ficais e monet�rios nas principais economias globais, o mundo serviu de vento favor�vel ao Brasil. Em 2022, o quadro deve ser outro.

"Temos um mundo que deve crescer menos no ano que vem, com mais bancos centrais apertando a pol�tica monet�ria [isto �, subindo juros ou retirando est�mulos]", diz Serrano.

"Esse cen�rio deve ser menos favor�vel para os pre�os das nossas exporta��es, como min�rio e soja. Isso afeta o setor exportador e cria para o ano que vem um ambiente mais desafiador para o crescimento."

Essa situa��o seria em tese favor�vel � infla��o, devido � atividade econ�mica mais fraca. Mas esse al�vio n�o deve acontecer, por conta de outros riscos importantes, como a crise h�drica.

"No agro, houve quebra de safra, e n�o h� raz�o para imaginar que no ano que vem d� tempo de recuperar, e isso � menos PIB", observa Jos� Francisco de Lima Gon�alves, economista-chefe do Banco Fator.

"A crise energ�tica pode piorar o cen�rio ainda esse ano, e a�, � imprevis�vel. Sabe-se l� o que vai acontecer, porque pega de tudo quanto � lado — pega a ind�stria, pega transporte, para n�o falar da restri��o � agricultura."

Para Serrano, a crise h�drica e energ�tica � o principal risco negativo para o PIB de 2022.

"Podemos ter problemas ainda esse ano, mas vai afetar o ano que vem se a gente n�o tiver um per�odo �mido razo�vel at� fevereiro e mar�o. A� aumenta a chance de racionamento de energia, com consequ�ncias s�rias para a atividade", observa o economista. "Da� j� seria um cen�rio de PIB zero ou negativo, e n�o de crescimento de 1% ou 1,5%."


Cenário econômico é negativo para o presidente, mas desfecho eleitoral ainda é imprevisível, avalia Marcela Rocha, da Claritas Investimentos(foto: Getty Images)
Cen�rio econ�mico � negativo para o presidente, mas desfecho eleitoral ainda � imprevis�vel, avalia Marcela Rocha, da Claritas Investimentos (foto: Getty Images)

E qual o efeito de tudo isso nas elei��es?

Em 1992, o ent�o marqueteiro de campanha do presidente americano Bill Clinton cunhou uma express�o que, desde ent�o, � lembrada em toda elei��o: "� a economia, est�pido!"

Com a frase, James Carville apostava na vit�ria do democrata contra um George H. W. Bush (o Bush pai) que tentava a reelei��o em meio a uma recess�o econ�mica.

A frase � sempre lembrada porque a economia � um fator central em qualquer elei��o e, em 2022, n�o deve ser diferente.

"[A situa��o econ�mica] j� est� afastando apoiadores do presidente. Isso significa que o espa�o para ele fica cada vez mais limitado �queles 15% que s�o apoiadores da pessoa [de Jair Bolsonaro] e n�o do governo", diz Gon�alves, do Fator.

"Isso significa que ele vai se isolando do chamado poder econ�mico e esse poder econ�mico vai buscar um terceiro — nem Lula, nem Bolsonaro", avalia o analista. "Mas, para mim, a essa altura do campeonato, esse n�o � o caso-base, a n�o ser que venha impeachment do Bolsonaro. Esse terceiro ou terceira s� deve aparecer na hip�tese de Bolsonaro ser rifado."

Marcela Rocha, da Claritas, avalia que o cen�rio econ�mico � negativo para o presidente, mas destaca que o desfecho eleitoral ainda � imprevis�vel.

"Claramente uma economia desacelerando, uma taxa de desemprego ainda alta e uma crise h�drica que leva pre�os para cima n�o s�o favor�veis para a popularidade do Bolsonaro", diz a economista.

"Bolsonaro j� enfrentava uma perda do apoio popular, mesmo num momento em que a economia estava se recuperando e a vacina��o avan�ando. Ent�o a piora desse cen�rio n�o contribui de jeito nenhum para a popularidade dele melhorar. Mas, infelizmente, isso n�o tira as incertezas a respeito da elei��o", avalia.

Isso porque, diz Rocha, Bolsonaro mant�m uma grupo de apoiadores fi�is, que se reflete em uma base eleitoral s�lida que soma entre 20% e 25% do votos. "Al�m disso, ele tem controle da m�quina p�blica e pode fazer alian�as com partidos. Ent�o mesmo que a popularidade dele n�o aumente, o cen�rio econ�mico n�o � uma 'p� de cal' na chance dele de reelei��o."

Flavio Serrano, da Greenbay, avalia que um risco importante � o de Bolsonaro tentar responder � perda de popularidade com mais gasto p�blico, aprofundando a crise fiscal.

"Se voc� tem um ambiente mais desafiador, a press�o por uma expans�o do gasto p�blico aumenta e pode retroalimentar esse cen�rio negativo em que o pol�tico e o fiscal atrapalham as expectativas de crescimento", diz o economista.

"Quem acha que gastar mais vai dar em mais crescimento, est� equivocado, porque isso s� tende a gerar mais infla��o no m�dio prazo e mais infla��o � menos crescimento."

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