
O levantamento mostra que apenas 22,9% das negocia��es, no per�odo, resultaram em ganhos reais (acima da infla��o) e que 26,6% dos reajustes empataram com o INPC.
Segundo o economista Hugo Passos, com a crise sanit�ria, as empresas viram as receitas despencarem enquanto os custos n�o pararam de subir. Milhares de pessoas foram demitidas, por diversos motivos. "Quando a contamina��o pelo coronav�rus recuou, com a vacina��o da popula��o, as empresas voltaram a contratar, mas ofertando sal�rios mais baixos". Com o cen�rio bastante desafiador para o Brasil e infla��o acima de 9% em 12 meses, "os ganhos de quem est� empregado ca�ram 23%, em m�dia, e, em alguns casos, para quem entrou em novo emprego, a queda foi de 78%", informou Passos.
A brasiliense Sabrina da Silva, 27 anos, administradora, conta que desistiu, ap�s um m�s de servi�o, de seu �ltimo emprego, porque, al�m do sal�rio abaixo da m�dia do mercado, a vaga n�o correspondia as suas qualifica��es profissionais. "Como achei outro emprego em que ganharia melhor e teria mais benef�cios, optei por sair". Ela estranhou os procedimentos da contrata��o porque, em princ�pio, n�o teve informa��o sobre o sal�rio. "S� me disseram quando fui avisada de que havia sido aprovada no processo seletivo. Como queria muito sair de onde estava, acabei aceitando".
A secret�ria executiva Fabiane Pereira, 40 anos, tamb�m conseguiu uma vaga por meio de processo seletivo. "Fiz provas de portugu�s, reda��o, racioc�nio l�gico, entre outras", conta ela. Chegou at� a ser informada, no ato da entrevista, do valor do sal�rio para a vaga em disputa. Por�m, ap�s ser selecionada e assinar o contrato, esse valor caiu. "Era menor at� do que eu ganhava no trabalho anterior, mas aceitei porque eu estava precisando. Fizeram um acordo comigo, para aumentar esse valor apenas um ano depois". O que n�o aconteceu.
A secret�ria procurou lidar com a situa��o com naturalidade, porque ainda acreditava que poderia recompor seu padr�o salarial. "Eu queria o aumento, por�m, n�o tinha o que fazer, n�o fizeram um contrato provando o que haviam combinado comigo. Toda a situa��o me deixou muito frustrada. Depois de um tempo, as demandas aumentaram, meu trabalho n�o era valorizado e eu resolvi procurar outro emprego", lamenta. "Hoje, eu vejo que n�o s� a empresa onde eu trabalhei, mas v�rias outras pagam sal�rio abaixo da m�dia, principalmente se for mulher", observa.
*Roberta Barros de Souza, 45 anos, brigadista, conta que passa pela mesma situa��o. "Onde trabalho no momento, recebo menos da m�dia que meus colegas. Como fui a �ltima contratada, fizeram o contrato com um novo valor, mas com a mesma fun��o. Eu acho injusto, mas n�o est� f�cil conseguir outro emprego", afirma. Ela est� na empresa h� alguns meses, porque precisa de dinheiro para sustentar sua fam�lia. "N�o gosto de reclamar de trabalho, porque querendo ou n�o eu j� estou contratada, quando h� milhares de pessoas desempregadas pelo pa�s. Eu pelo menos consigo fazer minha fam�lia n�o passar fome".
Sem m�gica
Ramille Taguatinga, especialista em direito trabalhista da Kolbe Advogados e Associados, refor�a que, como a competi��o por vagas � expressiva, os sal�rios na oferta de emprego tendem a ser mais baixos. "Se um candidato n�o aceitar, o seguinte aceitar�", explica. "Isso significa que a m�o de obra est� mais barata, mas a qualidade n�o mudou. As grandes empresas continuam a lucrar bastante, com despesa de pessoal muito menor. Para os trabalhadores, por outro lado, o resultado � nefasto: anos de dedica��o, forma��o �nica e curr�culo extenso n�o s�o refletidos nos sal�rios."
Para Ramille, n�o h� f�rmula m�gica para o problema do mercado de trabalho no Brasil. "O que se pode fazer � aumentar a fiscaliza��o e a sindicaliza��o para que os empregados laboram em condi��es menos prec�rias e que, ao menos, o piso salarial seja respeitado. � sempre bom o trabalhador saber seus direitos, estar inteirado sobre os acordos coletivos de sua categoria e, principalmente, que saiba o valor do piso salarial para eventual negocia��o com o empregador. O trabalhador tem direito ao piso, bem como aos dispostos na Constitui��o, na CLT e nos acordos da categoria", declara.
Cen�rio nebuloso
As quest�es econ�micas s�o predominantes nesse cen�rio desfavor�vel para o mercado de trabalho, que ainda vive a expectativa do impacto da crise de energia. E ainda tem a crise pol�tica. Com tantas incertezas, empres�rios tendem a investir menos e a adiar contrata��es, alertam especialistas.
"O cen�rio pol�tico carrega a incerteza do per�odo eleitoral e tem efeitos colaterais na economia. Esses fatores afetam o sal�rio do trabalhador porque o empres�rio precisa ter seguran�a para contratar. Sem contrata��o, a demanda por vaga fica maior e o sal�rio cai, mesmo quando o funcion�rio migra para outro emprego. A situa��o seria diferente se os Poderes estivessem, por exemplo, em harmonia, de bra�os dados", explica F�bio Bentes, economista-chefe da Confedera��o Nacional de Com�rcio, Servi�os e Turismo (CNC). Na economia, a previs�o � de piora no curto prazo, mas, a partir de novembro, com o fim da estiagem, ser� poss�vel ver "luz no fim do t�nel", diz Bentes.
O economista Cesar Bergo, s�cio-investidor da Corretora OpenInvest, concorda que o desemprego recorde tem um efeito dr�stico no sal�rio do trabalhador, "mas o que o mercado est� de olho � no ambiente de neg�cios, nas reformas tribut�ria e administrativa e no desenrolar dos acertos entre Executivo, Legislativo e Judici�rio. No in�cio de 2020, o mercado ainda acreditava no governo. Diferentemente do que acontece em 2021. Quem pagou essa conta foram os empregados", ressalta Bergo.
*Roberta � o nome fict�cio, a personagem n�o quis se identificar por medo de perder o emprego.