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Estado de Minas Renda achatada

Trabalhador faz m�gica diante de infla��o alta e efeitos da crise pol�tica

Mais da metade dos acordos e conven��es coletivas firmada no 1� semestre concedeu reajuste salarial abaixo do INPC


05/09/2021 04:00 - atualizado 05/09/2021 07:33

Além da redução das propostas salariais, inflação alta pressiona o bolso sobretudo com alta dos alimentos, combustíveis e energia elétrica
Al�m da redu��o das propostas salariais, infla��o alta pressiona o bolso sobretudo com alta dos alimentos, combust�veis e energia el�trica (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 21/6/21 )

A cada dia o trabalhador brasileiro v� o sal�rio minguar no fim do m�s. A pandemia, que pegou o mundo de surpresa, elevou os gastos p�blicos, afetou negativamente a infla��o, os juros, o c�mbio e os �ndices de ocupa��o no pa�s. A renda m�dia de quam tem carteira assinada ou trabalha na informalidade est� 9,4% abaixo daquela observada no fim de 2019. As quest�es econ�micas s�o predominantes nesse cen�rio desfavor�vel, que ainda recebeu a contribui��o da crise h�drica, elevando as despesas das fam�lias.
 
A crise pol�tica n�o � um detalhe particular nesse cen�rio que aperta o bolso dos brasileiros. Com a confian�a em baixa, empres�rios tendem a investir menos e a adiar contrata��es, alertam especialistas. O Boletim Salari�metro, da Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas (Fipe) de agosto, comprova que os reajustes ficam cada vez mais defasados perante a infla��o, hoje pressionada especialmente pelos combust�veis, energia el�trica, alimentos e bebidas.

O estudo da Fipe indicou que 50,5% dos acordos e conven��es coletivas no pa�s firmados entre janeiro e julho envolveram corre��o abaixo da infla��o oficial medida pelo �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor (INPC) acumulado at� a data-base das categorias profissionais. O levantamento mostra que apenas 22,9% das negocia��es, no per�odo, resultaram em ganhos reais (acima da infla��o) e que 26,6% dos reajustes empataram com o INPC.O indicador subiu 5,01% no primeiro semestre do ano.

“O cen�rio pol�tico carrega a incerteza do per�odo eleitoral e tem efeitos colaterais na economia. Esses fatores afetam o sal�rio do trabalhador porque o empres�rio precisa ter seguran�a para contratar. Sem contrata��o, a demanda por vaga fica maior e o sal�rio cai, mesmo quando o funcion�rio migra para outro emprego. A situa��o seria diferente se os poderes estivessem, por exemplo, em harmonia, de bra�os dados”, explica F�bio Bentes, economista-chefe da Confedera��o Nacional de Com�rcio, Servi�os e Turismo (CNC).
 
Na economia, a previs�o � de piora no curto prazo. A partir de novembro, com o fim da estiagem, � poss�vel que se comece a ver “a luz no final do t�nel”, diz Bentes. O economista Cesar Bergo, s�cio-investidor da Corretora OpenInvest, concorda que o desemprego recorde, ao aumentar a oferta de m�o de obra, tem um efeito dr�stico no sal�rio do trabalhador.

N�o podemos tamb�m esquecer da ‘pejotiza��o’, que deixou o trabalhador sem renda ao sair de um emprego (sem f�rias e sem FGTS). Mas o que o mercado est� de olho � no ambiente de neg�cios, nas reformas tribut�ria e administrativa e no desenrolar dos acertos entre Executivo, Legislativo e Judici�rio”, ressalta Bergo.
 
Ramille Taguatinga, especialista em direito trabalhista do Kolbe Advogados e associados, refor�a que, como a competi��o � expressiva, os sal�rios na oferta de emprego tendem a ser mais baixos. “Se um candidato n�o aceitar, o seguinte ir� aceitar”, explica. “Isso significa que a m�o de obra est� mais barata, mas a qualidade n�o mudou. As grandes empresas continuam a lucrar bastante, com despesa de pessoal muito menor. Para os trabalhadores, por outro lado, o resultado � nefasto: anos de dedica��o, forma��o �nica e curr�culo extenso n�o s�o refletidos nos sal�rios”, completa a especialista.

Sufoco no dia a dia


Segundo o economista Hugo Passos, com a crise sanit�ria, as empresas viram as receitas despencarem e os custos, nas alturas. Milhares de pessoas foram demitidas, por diversos motivos. “Quando a contamina��o pelo coronav�rus recuou, com a vacina��o da popula��o, as empresas come�aram a recontratar, mas com sal�rio mais baixo”. Com o cen�rio bastante desafiador para o Brasil e infla��o acima de 9% em 12 meses, os ganhos de quem est� empregado, ca�ram 23%, em m�dia, e, em alguns casos, para quem entrou em novo emprego, a queda foi de 78%”, informou Passos.
 
A administradora Sabrina da Silva, de 27 anos,, conta que desistiu de seu �ltimo emprego, ap�s um m�s de trabalho, porque al�m do sal�rio abaixo da m�dia do mercado n�o correspondia �s suas qualifica��es profissionais. “Como achei outro emprego que me pagaria melhor e teria mais benef�cios, optei por sair”. Ela estranhou os procedimentos da contrata��o, j� que, a princ�pio, n�o teve informa��o sobre o sal�rio. “S� me disseram quando fui avisada de que havia sido aprovada no processo seletivo. Como queria muito sair de onde estava, acabei aceitando”.
 
Fabiane Pereira, de 40, secret�ria-executiva, revela tamb�mque conseguiu uma vaga por meio de processo seletivo e levou levou um susto na hora da contrata��o. Ela diz que, no ato da entrevista, havia um valor pr�-combinado. Por�m, ap�s passar na entrevista e assinar o contrato, o valor caiu. "Era menor at� do que eu ganhava no trabalho anterior, mas aceitei. Fizeram um acordo comigo, para aumentar o valor apenas um ano depois (o que n�o ocorreu)".
 
A secretaria afirma que procurou lidar com a situa��o com naturalidade, porque ainda acreditava que a situa��o poderia mudar. “Eu queria o aumento, por�m n�o tinha o que fazer, n�o fizeram um contrato provando o que havia combinado comigo. N�o tinha o que fazer. Toda a situa��o me deixou muito frustrada. Depois de um tempo as demandas aumentaram, meu trabalho n�o era valorizado e eu resolvi procurar outros empregos”, afirma. “Hoje, eu vejo que n�o s� a empresa onde eu trabalhei, mas v�rias outras pagam o sal�rio abaixo da m�dia, principalmente se for mulher", reclama.

Sal�rio de ingresso caiu em julho

N�o h� f�rmula m�gica capaz de solucionar os problemas do mercado de trabalho no Brasil, na avalia��o de Ramille Taguatinga, especialista em direito trabalhista do Kolbe Advogados e associados. “O que se pode fazer � aumentar a fiscaliza��o e a sindicaliza��o para que os empregados laboram em condi��es menos prec�rias e que ao menos o piso salarial seja respeitado”, diz.
 
Taguatinga destaca a import�ncia de o trabalhador saber seus direitos, estar inteirado sobre os acordos coletivos de sua categoria e, principalmente, que saiba o valor do piso salarial para eventual negocia��o com o empregador. “O trabalhador tem direito ao piso, bem como aos dispostos na Constitui��o, na CLT (Consolida��o das Leis do Trabalho) e nos acordos da categoria”, declara.
 
O governo federal comemorou o saldo de 316.580 novos trabalhadores contratados com carteira assinada em julho de 2021, registrados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Minist�rio do Trabalho.
 
Ao mesmo tempo, o sal�rio m�dio de admiss�o caiu 1,25% na compara��o com o m�s anterior (R$ 1.801,99), queda real de R$ 22,72. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad Cont�nua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), aponta que, embora a taxa de desocupa��o tenha recuado para 14,1% no segundo trimestre, redu��o de 0,6 ponto percentual em rela��o ao primeiro trimestre, o Brasil ainda tem 14,4 milh�es de pessoas na fila em busca de um trabalho.

discrimina��o Protegida pelo nome fict�cio, nesta reportagem, Roberta Barros de Souza, uma brigadista de 45 anos, observa arca com preju�zo diante de colegas melhor remunerados.  “Onde trabalho no momento, recebo menos da m�dia que meus colegas. Como fui a �ltima contratada, fizeram o contrato com um novo valor, mas com a mesma fun��o. Eu acho injusto, mas n�o est� f�cil conseguir outro emprego", afirma.
 
Ela est� na empresa h� alguns meses, porque precisa de dinheiro para sustentar sua fam�lia. “N�o gosto de reclamar de trabalho, porque querendo ou n�o eu j� estou contratada, quando h� milhares de pessoas desempregadas pelo pa�s. Eu pelo menos consigo evitar que minha fam�lia passe fome”.


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