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Estado de Minas PEQUI S/A

Pequi: Minas, Goi�s e Tocantins disputam patrim�nio do 'ouro do cerrado'

Import�ncia social e econ�mica do pequizeiro leva batalha ao Congresso, com tentativas de eleger a capital do fruto e reconhecer dom�nio sobre sua produ��o


12/09/2021 04:00 - atualizado 12/09/2021 11:08

Fruto da árvore que se tornou símbolo de Minas é fonte de sustentação de comunidades em mais de 170 municípios e garante renda durante todo o ano
Fruto da �rvore que se tornou s�mbolo de Minas � fonte de sustenta��o de comunidades em mais de 170 munic�pios e garante renda durante todo o ano (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press - 7/12/20)

Japonvar/Mirabela – O pequi se tornou protagonista de uma luta travada entre tr�s estados – Minas Gerais, Goi�s e Tocantins – para associar seu territ�rio ao valor cultural e socioecon�mico do fruto que simboliza a diversidade do cerrado, gera emprego e renda para milhares de pessoas em �reas pobres e castigadas pela aridez no pa�s. Tr�s propostas de reconhecimento do m�rito do pequi foram apresentadas no Congresso Nacional. A primeira delas, de autoria do deputado Marcelo Freitas (PSL-MG), visa � transforma��o de Montes Claros, no Norte de Minas, em capital nacional do pequi.

 

O deputado Jos� Nelto (Podemos-GO) quer tornar o pequi goiano patrim�nio cultural, ambiental e ecol�gico nacional. Outro projeto, desta vez do senador Eduardo Gomes (MDB-TO), requer para o fruto o t�tulo de patrim�nio cultural imaterial do Brasil. Nessa guerra para ser o “dono” do pequi, batalha empreendida principalmente por Goi�s, Minas leva grande vantagem por ser o maior produtor no Brasil, tanto do fruto quanto de seus derivados. A presen�a na cena mineira � tao marcante que, por meio de uma lei, o pequizeiro virou �rvore s�mbolo do estado.

 

A ocorr�ncia da esp�cie e boa parte da produ��o de pequi se concentram em pequenos munic�pios do Norte de Minas. O Estado de Minas visitou comunidades da regi�o, ouviu pequenos produtores e consultou t�cnicos e especialistas na atividade para mostrar a dimens�o da cadeia produtiva do fruto, que ser� mostrada nesta s�rie de reportagens “Pequi S/A”. Nos �ltimos anos, o poder de multiplica��o de renda do pequizeiro alcan�ou expressivo crescimento devido � mudan�a no seu aproveitamento voltado ao mercado consumidor.

 

As engrenagens da produ��o, beneficiamento e comercializa��o passaram a girar durante todo o ano, e n�o apenas no per�odo de safra, de dezembro a fevereiro. Isso permite �s fam�lias apurarem receita com o fruto, inclusive quando se aproxima a flora��o das temporadas.

 

Isso � resultado do valor agregado obtido da cultura extrativista, gra�as �s inova��es tecnol�gicas que permitiram a venda do pequi congelado e o beneficiamento da mat�ria-prima. Surgiram v�rios derivados, como a polpa, farinha, �leo, castanha e pequi em conserva. A “cerveja de pequi”, j� produzida, � prova disso e o fruto nativo tamb�m tem sido usado como mat�ria-prima para produtos medicinais.

 

Ao mesmo tempo em que ganha fama com a disputa de tr�s estados em torno da sua produ��o, o com�rcio de pequi � feito com pouco registro oficial, � base da informalidade. O fruto faz parte da chamada economia invis�vel, que virou t�bua de salva��o para milh�es de pessoas superarem a pandemia.

 

Uma delas � a produtora L�cia Helena Rodrigues Macedo, de 51 anos, moradora do munic�pio de Japonvar, no Norte de Minas. “Considero o pequi um tesouro da nossa regi�o e, principalmente agora na pandemia da COVID-19”, afirma. Ela trabalha com o marido, Jos� Luiz Mendes de Macedo, de 56. O casal tem dois filhos: Tamires, de 27, que � casada; e Talisson, de 22, solteiro.

 

Em Japonvar, com seus 8,3 mil habitantes, a renda local e o com�rcio est�o diretamente relacionados ao pequi. De acordo com o estudo da Empresa de Extens�o Rural e Assist�ncia T�cnica de Minas Gerais (Emater-MG), 63% da popula��o local cata o fruto no mato ou revende o produto durante a safra. Ainda segundo a Emater-MG, na temporada 2020/2021, o fruto nativo movimentou cerca de R$ 6 milh�es no munic�pio e garante o sustento de centenas de fam�lias no restante do ano, gra�as ao beneficiamento e � comercializa��o de seus derivados.

 

A produtora de derivados de pequi Lúcia Helena Macedo, com o marido José Luis, considera o fruto um tesouro
A produtora de derivados de pequi L�cia Helena Macedo, com o marido Jos� Luis, considera o fruto um tesouro (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press. Brasil - 27/7/21)

 

'Abaixo de Deus'


L�cia Helena Macedo conta que catava e vendia pequi somente nos meses da safra. Hoje, obt�m recursos ao comercializar durante todo o ano derivados, como a castanha, o �leo e a polpa do fruto. “O pequi ajuda n�o somente os pequenos produtores, mas todos da nossa regi�o. O pequi � uma b�n��o de Deus”, diz a produtora. Por causa da pandemia, o marido e o filho Talisson perderam o trabalho nas lavouras da regi�o e a fam�lia decidiu, ent�o, investir mais no fruto do cerrado.

 

Outro morador de Japonvar que supera a pandemia com a renda do pequi � Josefino Ribeiro de Aquino, conhecido como Zu de Daniel, e que trabalha junto da mulher, Maria Aparecida Ferreira de Aquino, a dona Lili. O casal comercializa o pequi in natura e derivados, como polpa e �leo.

 

Josefino Aquino destaca que, neste ano, mesmo com uma pequena queda no pre�o, o chamado “ouro do cerrado” garante o sustento de sua fam�lia e de muitas outras de Japonvar. “O pequi est� sendo uma forte ajuda para o povo em geral. Abaixo de Deus, s� o pequi para salvar a gente nesta pandemia”, afirma.

 

As vendas do casal alcan�aram cerca de 64 toneladas de pequi in natura durante a safra 2020/2021. Eles processaram 3 toneladas do produto nativo, transformadas em polpa e pequi em conserva, que s�o vendidas em garrafas pet. Passado o per�odo da safra, o com�rcio desses itens assegura o sustento. “Tudo que conseguimos foi gra�as ao pequi”, diz Aparecida Aquino, referindo-se aos bens, como carro, m�veis e eletrodom�sticos, al�m da casa onde mora.

Abastecimento


Produtor rural e dono de uma mercearia em Japonvar, Ednaldo Pereira Barbosa, de 52, se dedica totalmente ao com�rcio do fruto nativo durante a safra, quando a movimenta��o do setor praticamente dobra. Neste ano, ele vendeu cerca de 400 toneladas, que lotaram 40 caminh�es enviados para Goi�s e Mato Grosso, e produziu cerca de 400 litros de �leo e 300 quilos de polpa de pequi. “Muitas pessoas aproveitam os recursos que ganham na �poca da safra do pequi e fazem feiras para o ano inteiro”, observa.

 

Ednaldo � pai de 16 filhos, e, como outros moradores da cidade, envolve parte da fam�lia no of�cio com o pequi, que emprega seis filhos e um genro. “Espero que a safra do pequi vai ser melhor ainda sem pandemia”, diz Ednaldo, que j� recebeu a primeira dose da vacina contra a COVID-19 e vai tomar a segunda inje��o em setembro.

 

Tamb�m morador de Japonvar, o comerciante Fernando Lima, de 56, se transformou em executivo de neg�cios do pequi. Ele foi fundador da primeira co-  operativa de catadores do fruto do munic�pio, criada em 2003 e que, anos depois, foi desativada. Todo ano, Fernando vende o ouro do cerrado para outros estados em grande escala. Na safra 2020/2021, comercializou cerca de 750 toneladas do fruto, adquirido de mais de 300 catadores de Japonvar.

 

Acompanhando as mudan�as do mercado, Lima passou a produzir e comercializar derivados do produto extrativista, como o pequi congelado a v�cuo, a polpa e o fruto em conserva. Com sua experi�ncia e conhecimento do mercado, ele afirma que na guerra do pequi, travada com Goi�s, Minas Gerais leva vantagem. “Goi�s � um grande consumidor. Mas Minas Gerais � o estado que mais produz o pequi no pa�s”, observa. Ele lembra ainda que Japonvar � o munic�pio que mais fornece o fruto para a Central de Abastecimento (Ceasa) de Goi�s.

 

Com a venda de pequi in natura e de seus derivados, a exemplo de polpa e óleo, Aparecida Aquino assegura a sobrevivência da família
Com a venda de pequi in natura e de seus derivados, a exemplo de polpa e �leo, Aparecida Aquino assegura a sobreviv�ncia da fam�lia (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press -27/7/21 )

Derivados ganham espa�o e estreiam nas redes sociais

 

O distanciamento social necess�rio para conter a dissemina��o do coronav�rus fez com os produtores de derivados de pequi aprimorassem o sistema de venda e isso fortaleceu a economia movimentada pelo fruto, na avalia��o do t�cnico da Emater-MG Fernando Cardoso de Oliveira, que atua no Norte de Minas Gerais. “Esse foi o lado bom da pandemia. Ela acelerou o processo de comercializa��o dos produtos naturais, como o pequi, por meio das ferramentas virtuais. As pessoas passaram a usar as redes sociais, como o Facebook e o WhatsApp, para vender as mercadorias, buscando novos mercados”, observa.

 

Impactou tamb�m a cadeia produtiva o aumento da m�o de obra no extrativismo do pequi, com o retorno de trabalhadores �s suas cidades de origem devido ao agravamento do desemprego, ap�s a crise sanit�ria.”As pessoas perceberam que o pequi, hoje, garante renda certa durante o ano inteiro, e assim passaram a diversificar o aproveitamento do produto para ter o sustento at� a safra seguinte”, comenta Fernando Oliveira.

 

Com a exper��ncia do trabalho de assist�ncia t�cnica na regi�o de Pedras de Maria da Cruz, sede do escrit�rio onde ele trabalha, e de Japonvar, Oliveira estima que metade do pequi catado durante a safra � vendido in natura, enquanto a outra metade se transforma em �leo, polpa, entre n�mero mais amplo de derivados, comercializados no resto do ano.

 

Maria dos Anjos Ferreira da Silva, de 43, a Nenem, � uma das moradoras de Japonvar que aprimoram o processamento do pequi. Ela retira a castanha do fruto, que envia a um revendedor de Bras�lia (DF). Na safra 2020/2021, vendeu 400 quilos de castanha. Produziu ainda 3 mil quilos de pequi em conserva, armazenados em bombonas de 150 quilos e comercializados no atacado, e 500 quilos de polpa de pequi.

 

“Posso dizer que gra�as ao pequi a gente acabou n�o sendo muito afetada pela crise da pandemia. O dinheiro que ganho com a venda da castanha, da polpa e do pequi em conserva d� para eu viver o ano inteiro e esperar chegar a pr�xima safra do pequi”, diz Nenem.

 

Ant�nia Mendes de Souza, de 66, moradora de Mirabela, munic�pio vizinho de Japonvar, conta que desde os anos 1980, durante a safra, compra o pequi in natura (em casca) de centenas de catadores do Norte de Minas e revende o produto, preenchendo caminh�es que seguem carregados para outros estados, como Bahia e Goi�s. Neste ano, inovou processando 2 mil d�zias de pequi congelado e embalado a v�cuo, para a comercializa��o durante o ano inteiro.

 

“O pequi pra n�s � tudo na vida”, afirma Ant�nia. Ela salienta que na “disputa do pequi” travada com os goianos, os mineiros levam a melhor. “O pequi nosso � muito melhor. Al�m disso, Minas � que abastece Goi�s com o pequi”, afirma.

 

Moradora de Janu�ria (tamb�m no Norte de Minas), Vicentina Bispo de Almeida, de 63, conta que aprimorou o aproveitamento do pequi, produzindo derivados do fruto s�mbolo do cerrado, como farofa, pa�oca e geleia de pequi, al�m de condimentos. “Sempre vendi meus produtos em feiras, que foram suspensas por causa da pandemia. Mas n�o parei de fazer as coisas. Acredito que as feiras v�o voltar”, diz Vicentina.


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