"Penso em crescimento profissional. No que eu puder fazer para contribuir, n�o medirei esfor�os"
Sirlane Fernandes, vendedora, que voltou a trabalhar na empresa da qual havia sido demitida
Favorecido pela tr�fego intenso em diversas regi�es de Belo Horizonte, hoje, a ritmo semelhante ao do per�odo pr�-pandemia de COVID-19, o com�rcio de portas para a rua n�o apenas retomou as expectativas de voltar a faturar como passou a conjugar os verbos investir, admitir e reinventar.
Passados um ano e seis meses desde os primeiros casos de contamina��o pelo coronav�rus no Brasil, a recupera��o � encarada com bastante cautela, ap�s longos per�odos de fechamento e reabertura, desde mar�o de 2020, entre as medidas para conter a doen�a respirat�ria.
Esse � o tema da segunda mat�ria da s�rie de reportagens que o
Estado de Minas
publica desde domingo mostrando as mudan�as nas empresas do com�rcio, do setor de servi�os de entretenimento e das escolas com a reabertura gradativa da capital.
Na semana passada, decretos municipais suspenderam a proibi��o � presen�a das torcidas nos est�dios e � venda de bebidas alco�licas e foram liberadas tamb�m feiras de gastronomia e corridas com protocolos sanit�rios para preven��o contra a dissemina��o do coronav�rus.
No primeiro semestre do ano, o com�rcio varejista de Belo Horizonte registrou expans�o de 4,63% nas vendas, segundo levantamento feito pela C�mara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH). A entidade trabalha com expectativas otimistas para os pr�ximos meses, motivadas, sobretudo, por datas comemorativas importantes para o setor: o Dia das Crian�as, em 12 de outubro, a megaliquida��o Black Friday, realizada em novembro e inspirada no Dia de A��o de Gra�as nos Estados Unidos; e o Natal, tradicionalmente o melhor per�odo para os neg�cios.
Josy Soares impulsionou as vendas digitais da loja que mant�m e reformou o espa�o f�sico para receber os clientes (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Na Regi�o Centro-Sul de BH, as perspectivas s�o favor�veis no magazine Gujoreba, especializado em produtos para casa, brinquedos e presentes. O gerente da loja, Gustavo Batista, conta que administra o estoque e avalia possibilidades de contrata��o, atento � situa��o da pandemia.
“Tudo est� mais controlado, o que permite investimentos”, afirma. “Estamos sempre observando os n�meros sobre a pandemia. N�o sabemos o que pode ocorrer, mas estamos mais seguros e com confian�a de fazer mais contrata��es, claro, sempre com cautela.”
Para Jorge Teixeira, gerente de loja de cal�ados, recupera��o efetiva somente ser� percebida em novembro (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Recontratadas
Das cinco funcion�rias que trabalhavam em uma das filiais da empresa, duas foram demitidas durante o per�odo mais cr�tico da crise sanit�ria, e agora, com a reabertura da cidade, elas tiveram a sorte de ser recontratadas. Uma delas � Sirlane Fernandes, de 29 anos.
“Foi uma mistura de sentimentos. Fiquei bem apreensiva, porque entrei em novembro do ano passado, no meio da pandemia, mas houve fechamento do com�rcio por volta de janeiro. Como era recente o contrato, me explicaram que eu seria demitida, mas disseram que, assim que tivesse o retorno, eu seria readmitida”, conta Sirlane.
A vendedora, que tamb�m � formada em psicologia, est� preparada para trabalhar duro e confessa a preocupa��o com o futuro incerto. “Penso em crescimento profissional na loja. No que eu puder fazer para contribuir n�o medirei esfor�os.” As dispensas, segundo Gustavo Batista, foram inevit�veis em raz�o do longo tempo de fechamento do com�rcio.
Na vizinhan�a, a loja de cal�ados e artigos femininos Spatifilus v� o retorno gradativo dos clientes. O gerente, Jorge Teixeira, acredita que o com�rcio s� vai alavancar a partir de novembro. “Ficamos mais de um ano sob press�o da pandemia e ainda sofremos. Mas agora estamos voltando aos poucos”, explica. A acelera��o da campanha de vacina��o contra o v�rus � essencial para a retomada das vendas, na opini�o de Teixeira. “Quem espera uma mudan�a agora, de imediato, pode se frustrar”, comenta.
Internet aliada
A proximidade com a popula��o que volta �s ruas ajuda esse com�rcio. Uma das palavras popularizadas durante a pandemia foi o verbo reinventar. Foi assim para Josy Soares, propriet�ria da loja de lingeries Carolina ETZ. Ela refor�ou as vendas pelo modelo virtual e, agora, mant�m o sistema com a loja f�sica de portas abertas. O per�odo anteriorde fechamento foi tamb�m dedicado a reformas.
“Agora conseguimos expor melhor as mercadorias e atender o cliente com maior efici�ncia”, comemora Josy Soares. “Dependemos muito da economia, da quest�o de governo. � dif�cil fazer uma proje��o. O movimento melhorou muito com a reabertura da loja, mas trabalhamos on-line e presencialmente”, afirma. A empresa incremetou a presen�a em redes sociais, como Instagram e WhatsApp, al�m do site oficial. Pol�ticas de marketing tamb�m ajudam na divulga��o.
Para Josy Soares, a maior dificuldade para manter o neg�cio durante a pandemia foi continuar a pagar despesas como aluguel e impostos, sem faturar. “As contas n�o pararam de chegar. Com a loja fechada, ficou muito dif�cil, mas conseguimos manter e fazer os pagamentos. Investimos mais em vendas on-line. Conseguimos atender �s demandas, mesmo com loja fechada, tentando recuperar o mais r�pido poss�vel.”
O gerente Gustavo Batista acrescenta que o custo geral de manuten��o das empresas subiu com as lojas f�sicas fechadas. “N�o havia como a empresa continuar com a equipe completa. Mas seguramos o m�ximo de funcion�rios que conseguimos e fizemos algumas suspens�es de contratos de trabalho. Ainda assim, ficamos prejudicados devido � queda acentuada das vendas. N�o est�vamos preparados para um fechamento longo.”
PRECAU��O - 4,63% Foi a taxa de crescimento do com�rcio de BH no primeiro semestre
Infla��o e crise pol�tica afetam cen�rio de rea��o
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press 14/4/21)
"O com�rcio come�a a retomar a normalidade, mas muito capenga"
Nadim Donato, presidente do Sindilojas-BH
Fatores que t�m prejudicado a recupera��o da economia brasileira, o aumento do custo de vida e do desemprego e a crise pol�tica ter�o de ser enfrentados pelo com�rcio no per�odo tradicionalmente de boa receita para o caixa no fim de ano, como observa o presidente da C�mara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva. “As datas comemorativas s�o extremamente importantes para o com�rcio. Para que elas sejam positivas, � imprescind�vel que, al�m do controle da infla��o, haja gera��o de emprego, renda e a promo��o de um cen�rio econ�mico seguro e com boas perspectivas”, comenta.
O Sindicato dos Lojistas do Com�rcio de Belo Horizonte (Sindilojas-BH) sinaliza uma melhora ainda a passos lentos. Segundo o presidente da entidade, Nadim Donato, o com�rcio enfrenta queda de receita de cerca de 20% em rela��o ao faturamento de 2019 – portanto, no per�odo anterior � pandemia. “Alguns com�rcios cresceram, mas a grande maioria (62%) ainda est� com faturamento menor que o de 2019”, afirmou.
Para Nadim Donato, o que mais dificultou a vida do setor durante o processo de fechamento e reabertura foi a falta de sincronia com outros segmentos da economia que permaneceram com as portas fechadas. “O com�rcio come�a a retomar a normalidade, mas muito capenga, porque muitas das atividades de com�rcio de bens, servi�os e turismo funcionam numa engrenagem s�. A pessoa vai fazer uma refei��o, passa em frente a uma loja e entra. A outra fez uma viagem de neg�cios, est� no hotel, passa no restaurante”, exemplifica.
O com�rcio passou por tr�s fases desde o ano passado. Na primeira delas, quando somente as lojas tiveram permiss�o para reabertura, n�o havia fluxo de clientes, como destaca o presidente do Sindiloas-BH. Na etapa seguinte, com o retorno ao funcionamento de bares e restaurantes, o movimento de clientes e as vendas foram retomados.
Com a flexibiliza��o de maior n�mero de atividades econ�micas, h� cerca de tr�s meses o cen�rio para o com�rcio come�ou a melhorar. “Agora, com tudo liberado, n�o diria que ainda � a normalidade, mas estamos voltando 70% a 80% do fluxo de pessoas do que era antes e, com isso, aumentando tamb�m um pouco as vendas”, afirmou.“Esperamos um trimestre melhorando, n�o igual a 2019 ainda, mas melhorando. Acreditamos num 2022 de recome�o, porque ainda n�o recome�ou.”