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Estado de Minas PANDEMIA

Desigualdade cresce mais no Brasil do que em outros pa�ses, aponta FGV

Popula��o de renda mais baixa apresentou deteriora��o social mais forte no pa�s


11/10/2021 17:02 - atualizado 11/10/2021 17:36

Crianças vivem em situação de extrema pobreza, em Montes Claros, região Norte de Minas Gerais
Crian�as vivem em situa��o de extrema pobreza, em Montes Claros, regi�o Norte de Minas Gerais (foto: Luiz Ribeiro/DA Press - 16.09.2019)
A pandemia ampliou a desigualdade mais no Brasil do que nos demais pa�ses do mundo. Esse � o resultado de uma pesquisa feita pelo Centro de Pol�ticas Sociais da Funda��o Getulio Vargas (FGV Social), com dados internacionais do Gallup World Poll, que mostra a percep��o da popula��o em rela��o �s pol�ticas p�blicas de sa�de, educa��o e meio ambiente. O desempenho brasileiro nas tr�s esferas foi pior do que o de outros 40 pa�ses.

 

 

 

Os dados, colhidos antes e depois da pandemia, destacam ainda que a deteriora��o social brasileira foi mais forte entre a popula��o de renda mais baixa.

 

"A pandemia � um choque global que afeta o dia a dia do mundo inteiro. Mas, no Brasil, a administra��o e o gerenciamento das �reas de sa�de, educa��o e meio ambiente foram piores. Por isso, tivemos um resultado abaixo da m�dia", diz Marcelo Neri, diretor do FGV Social.


Na educa��o, a satisfa��o dos 40% mais pobres caiu 22% no Brasil e 2,38% no mundo. Neri explica que esse porcentual reflete a piora de dados educacionais na pr�tica. O tempo m�dio de estudo di�rio na popula��o de 6 a 15 anos caiu para 2 horas e 18 minutos, enquanto o m�nimo legal � de 4 horas.

Entre os mais pobres, esse tempo ficou abaixo de 2 horas, e nas classes A e B ficou acima de 3 horas, o que aumenta o abismo social. A fam�lia de Adriana Telles de Menezes, de Juiz de Fora (MG), viveu esse drama (mais informa��es abaixo). Neri ressalta ainda que as escolas ficaram fechadas mais no Brasil do que no restante do mundo. Isso sem contar que muitas crian�as deixaram de estudar porque n�o tinham celular ou computador dispon�vel e porque as apostilas n�o chegavam at� elas.

 

Na sa�de, houve queda de 10,5% entre os brasileiros mais pobres e alta de 2,28% na m�dia dos demais pa�ses. A situa��o se inverte entre os 40% mais ricos. No Brasil, a satisfa��o dessa faixa da popula��o subiu 0,5%; nos demais pa�ses caiu 0,08%. Em rela��o �s pol�ticas ambientais, houve piora em todas as faixas de renda, enquanto a percep��o melhorou no resto do mundo.

"A pandemia deixou marcas sociais e econ�micas muito fortes. Houve uma invers�o de tend�ncias. A desigualdade vinha diminuindo e a educa��o, apesar de ruim, tamb�m melhorava. Agora tudo mudou", afirma Neri. Segundo ele, as matr�culas escolares recuaram ao menor patamar desde 2007, e isso ter� consequ�ncias no futuro, no aprendizado e na produtividade do trabalhador, que j� estava estagnada h� algum tempo.

Na pr�tica, esses fatores t�m um peso muito forte na competitividade do Brasil, sobretudo a quest�o da educa��o. O presidente da Trevisan Escola de Neg�cios, VanDick Silveira, destaca que o resultado de hoje ter� efeito daqui a 20 anos na for�a de trabalho. A educa��o, diz ele, � muito ruim e deve piorar. "O PIB per capita � o mesmo de dez anos atr�s. Em d�lar, caiu 45% em 20 anos. A popula��o ficou mais pobre em termos globais."

Na avalia��o de Jos� Pastore, professor da Universidade de S�o Paulo, 500 dias sem aula deixam uma "cicatriz" nas crian�as. "N�o se trata de dar mais aulas, mas de ter uma estrat�gia de recupera��o, o que n�o existe por enquanto", diz. Segundo ele, sem essa pol�tica, o Pa�s corre o risco de perder toda uma gera��o.

 

"� como diz Paul Krugman (Nobel de Economia), 'para o desenvolvimento econ�mico, a produtividade n�o � tudo, mas quase tudo'. Na competitividade, educa��o n�o � tudo, mas quase tudo", afirma.


Sobre a quest�o ambiental, o efeito � mais direto na exporta��o. Sem pol�ticas r�gidas, diz Marcelo Neri, pode haver perda de neg�cios. A pandemia aumentou a consci�ncia de consumidores que passaram a pressionar as empresas por pr�ticas mais sustent�veis, como um "trailer" de novos desafios do Pa�s.

 

'Meu filho esqueceu as letras'

 

Adriana Telles de Menezes, de 37 anos, mora com o marido, os sete filhos - com idades entre 10 e 20 anos - e uma neta de 3 anos no bairro Linhares, na zona leste do munic�pio de Juiz de Fora (MG). Quando as escolas foram fechadas, em mar�o de 2020, ela teve de lidar com os desafios de um ensino remoto sem conex�o de internet e sem aparelhos eletr�nicos. As apostilas impressas, distribu�das pela escola estadual, substitu�ram as aulas virtuais dos filhos.

Gabriel, o filho mais novo de Adriana, estava aprendendo a ler e a escrever. Sem contato direto com os professores e com os colegas, o aprendizado ficou comprometido. "Ele perdeu o interesse pelo estudo. Fala que n�o sabe fazer mais, que esqueceu as letras. Come�a a ficar nervoso e a chorar falando que n�o consegue. O professor fala para a gente n�o for�ar", relata a m�e.

Al�m da aus�ncia de recursos tecnol�gicos, a alimenta��o � mais um aspecto que evidencia as dificuldades enfrentadas pela fam�lia. "Na escola eles costumavam ter refei��es diferentes. Em casa a gente n�o consegue dar a mesma qualidade. E, ficando o dia todo em casa, eles querem comer toda hora."

A preocupa��o com o desenvolvimento dos filhos torna-se ainda maior pelo fato de ela pr�pria enfrentar, diariamente, as consequ�ncias de n�o ter conclu�do os estudos. Adriana trabalha como auxiliar geral em um supermercado da cidade e, sem o ensino m�dio completo, conta que � ainda mais dif�cil conseguir uma promo��o de cargo ou um aumento.

"Vejo o quanto seria importante ter estudado mais. Eu n�o tive apoio e nem material para estudar. N�o quero que eles percam tantas oportunidades. Hoje tento fazer diferente com eles para que consigam um futuro diferente do meu", desabafa.

 

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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