(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas FARTURA AMEA�ADA

Como as mudan�as no clima est�o alterando o mapa da seca em Minas

Agravamento da crise h�drica leva escassez at� a regi�es pr�speras para a agropecu�ria. Este ano, o Tri�ngulo sofreu duplamente com extremos: geada e seca


14/10/2021 04:00 - atualizado 14/10/2021 07:29

Mercado em Machacalis
Mercado em Machacalis: prefeitura estima que cidade tenha perdido 40% das nascentes, o que fez a produ��o despencar (foto: Alexandre Amador/Divulga��o)

 

Conhecida pelas vastas extens�es de plantio e pelo sucesso do agroneg�cio, incluindo a pecu�ria, a pr�spera regi�o do Tri�ngulo Mineiro � testemunha de que as altera��es no clima j� s�o uma realidade e t�m mudado a fronteira da escassez h�drica no estado. “Percebemos que a cada ano que passa o clima aqui fica mais quente e diminui a umidade”, afirma Jos� Rubens Laureano da Concei��o, presidente da Cooperativa de Economia Popular Solid�ria da Agricultura Familiar, Reflorestamento e Agroecologia de Uberl�ndia (Coopersafra).

 

Neste ano, a produ��o agr�cola sofreu ainda mais pela combina��o de dois fen�menos ligados a extremos do tempo, que costumam ser associados �s mudan�as clim�ticas: geada e seca. Em junho, a regi�o foi castigada por fortes geadas durante o inverno. Foi devastador. “Oitenta por cento da produ��o de verduras foi perdida. Al�m das hortali�as, foram afetadas as planta��es de c�tricos, de banana, de manga e de outras frutas”, relata o presidente da Coopersafra, que tem 92 associados.

 

Depois do frio, ele explica, vieram os efeitos da seca, que, neste ano, est�o mais severos no Tri�ngulo. “Os preju�zos na produ��o de verduras e frutas se multiplicaram”, diz Laureano. “Acredito que as condi��es do clima pioraram por causa do desmatamento e tamb�m de- vido ao uso da �gua do len�ol fre�tico”, opina o presidente da Coopersafra, destacando que, com a queda da produ��o regional, aumentaram os gastos com o frete e a log�stica dos alimentos “importados”, com impactos diretos no com�rcio. Al�m disso, h� a eleva��o de pre�os em fun��o da lei da oferta e da procura, com menos disponibilidade de produto para a mesma demanda.

 
DE LESTE A OESTE

No outro extremo de Minas, a leste, na divisa com a Bahia, as consequ�ncias negativas das mudan�as clim�ticas s�o sentidas em cidades como Machacalis, de 7,11 mil habitantes, no Vale do Mucuri. “A cada ano que passa, a crise h�drica em nossa regi�o vai se agravando. Neste ano, tivemos uma queda recorde, que chega a 50% na produ��o da agricultura familiar e da pecu�ria de corte e leite. Muitos criadores perderam cabe�as de gado por causa da seca”, afirma o secret�rio municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Alexandre Amador, ressaltando que o munic�pio busca apoio dos governos estadual e federal para conter os danos econ�micos e ambientais sofridos devido �s altera��es clim�ticas.

 

Segundo ele, ao longo de 10 anos houve redu��o de mais de 40% das nascentes da regi�o. “Agora, al�m da falta d'�gua para o consumo humano, n�o tem o recurso para a produ��o de verduras e para manuten��o dos animais”, lamenta. Alexandre Amador ressalta que os efeitos da escassez h�drica afetam duramente a agricultura domiciliar, reduzindo pequenas atividades, como a produ��o de alface. “Pessoas que antes produziam mil p�s de alface por semana hoje est�o produzindo 100 por causa falta d'�gua”, afirma o secret�rio.

 

Para ele, s� h� uma solu��o para o problema: a preserva��o e recupera��o de nascentes. “A crise h�drica s� ser� invertida no momento em que se conservarem as nascentes. Se isso for feito, mesmo no per�odo de estiagem vai ter �gua e as nascentes v�o ajudar a manter as atividades no campo e no com�rcio”, assegura Amador.

 

Uma recupera��o com que sonha o pequeno agricultor Ezequiel Alves Martins, da comunidade do C�rrego das Piabas. Ele afirma que sua produ��o de hortali�as caiu 85% na compara��o com o que colhia 10 anos antes. “A situa��o � alarmante. A cada ano perdemos nascentes pela falta de chuva mais volumosa e tamb�m pela falta de consci�ncia ambiental de muitas pessoas”, diz Ezequiel, lembrando que h� uma d�cada os plantios de hortali�as no lugar eram mantidos com “irriga��o por gravidade”, aproveitando a fartura de �gua que deu nome ao local.

 

Ezequiel afirma que a situa��o s� n�o est� pior porque o pai dele cercou cinco hectares para preserva��o de nascentes em um terreno de 24 hectares. “Mesmo preservando a �rea, o n�vel de �gua caiu muito e foi necess�rio construir uma barragem para conter �gua da chuva e segurar a umidade na terra”, acrescenta.

Risco de extremos

Os agricultores que fornecem sua colheita para a Ceasa Minas n�o apontaram grandes problemas relacionados � crise h�drica. De acordo com o Ricardo Martins, coordenador de informa��es de mercado do local, a produ��o de setembro ficou 1,1% abaixo da registrada em agosto, o que indica uma tend�ncia de estabilidade. Agora, a preocupa��o � com outro extremo. Segundo Ricardo, o excesso de chuvas a partir deste m�s pode ser um tormento: “T�nhamos o receio de que o per�odo chuvoso demorasse a chegar, mas esperamos que as chuvas sejam regulares, para que n�o tenhamos problema de seca. Os produtores est�o bem animados. � claro que as �guas n�o podem vir de forma exagerada, j� que os hortigranjeiros detestam extremos, como muito calor, frio ou chuva em excesso”.

 

Mário Campos, na Grande BH
Lavoura em M�rio Campos, na Grande BH: produtores da regi�o metropolitana se prepararam para enfrentar escassez, mas se preocupam com o futuro e sofrem com os custos (foto: Ed�sio ferreira/EM/D.a press)
 

 

Impactos na energia e apreens�o com o futuro

Roger Dias

 

Com o Brasil vivendo uma das maiores crises h�dricas da hist�ria, produtores da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte se prepararam com o tempo para enfrentar a falta de chuvas. V�rios deles investiram na perfura��o de po�os artesianos e em sistemas de irriga��o que economizam �gua, a fim de contornar o problema. Apesar disso, houve impactos na produ��o e o cen�rio � de preocupa��o com o quadro a m�dio e longo prazos, al�m da dificuldade imediata com o custo da energia, tamb�m consequ�ncia das condi��es clim�ticas.

 

O produtor Eduardo Jos� de Souza, de 47 anos, residente em Capim Branco, passou por dificuldades no ano passado, j� que sua cisterna j� n�o gerava �gua suficiente para irrigar a lavoura. Por causa disso, deixou de molhar as plantas mais velhas e priorizou as novas. Outra a��o foi diminuir significativamente a �rea plantada com verduras e legumes (cenoura, batata, ab�bora, repolho, beterraba).

 

Ele investiu R$ 7,5 mil na constru��o de um po�o artesiano, que minimizou o sofrimento para produzir em 20 mil metros de terra, e instalou tamb�m microaspersores, que diminuem o consumo de �gua. “Antes, tinha que optar por n�o plantar ou deixar de molhar as plantas mais velhas. Agora ainda n�o tive problema de falta de �gua, mas o sol est� muito quente. A produ��o n�o est� legal, porque o calor acaba castigando as plantas. Mas, hoje, temos uma lagoa e um po�o artesiano que abastecem a planta��o. Se n�o tiver �gua em um, o outro compensa”, diz.

 

Ainda assim, ele se preocupa com o futuro e teme que a crise h�drica possa se intensificar: “O problema est� ficando perigoso. Estamos apreensivos. Estamos com medo de essa crise se expandir. Tenho terras para produzir mais, mas n�o vou poder aumentar agora. Pelo contr�rio, vou diminuir. A energia est� muito cara e h� o problema da �gua”.

 

Apesar de contar com po�os artesianos, o agricultor Elias Simi�o, de 42, ficou durante um m�s sem produzir durante o per�odo de estiagem no inverno. Segundo ele, a falta de chuvas no ano passado prejudicou sua safra de almeir�o, alface-roxa, alface-crespa e chic�ria em Sarzedo, na Grande BH. A aposta � invertir em mais um po�o artesiano, para tentar solucionar a quest�o.

 

Recentemente, Elias teve de come�ar nova produ��o depois de pausa: “Colhi apenas o restante que havia e vamos iniciar novo plantio. Est� ficando cada vez mais complicado plantar, diante do aumento dos pre�os da mat�ria-prima, como adubos e insumos, e da energia. Vai chegar um ponto em que, se n�o tomarmos provid�ncias, nem ter� como mexer com isso, at� porque o reajuste no pre�o da produ��o � muito baixo”.

 

No caso de Jos� Cardoso da Silva, de 68, que se dedica � produ��o de cheiro-verde (cebola, salsa, manjeric�o, alecrim, coentro e hortel�) em M�rio Campos, tamb�m na Regi�o Metropolitana de BH, a falta de chuvas n�o afetou muito a produ��o. Ele conta com duas lagoas que fornecem �gua para irrigar os quatro hectares de terra. Apesar disso, houve apreens�o. “Nesta �poca do ano, os lagos ficaram bem baixos, mas as �ltimas chuvas que ocorreram na regi�o melhoraram um pouco a situa��o.”

 

Mesmo que a produ��o tenha sobrevivido bem � falta de chuvas, o agricultor diz que sua conta de luz aumentou muito desde o ano passado, motivada pelo reajuste da bandeira tarif�ria vermelha, ocorrida justamente em virtude da crise h�drica do pa�s. Ainda que tenha subs�dio de 30% da Cemig, ele se preocupa muito com o momento de infla��o na energia: “Neste ano, estou pagando  R$ 1 mil, R$ 1,5 mil. A conta cresceu muito nos �ltimos meses. De um jeito ou de outro, temos de economizar”, adverte.

‘Fechar as torneiras’ tornou-se urgente

O combate ao desperd�cio e o re�so da �gua est�o entre as principais estrat�gias para que empreendedores possam contribuir para amenizar os efeitos das mudan�as clim�ticas no com�rcio e em outros segmentos. A opini�o � do enge- nheiro-agr�nomo Pierre Santos Vilela, consultor do Servi�o Brasileiro de Apoio � Pequena e M�dia Empresa em Minas (Sebrae-MG).

 

O especialista ressalta que as mudan�as clim�ticas representam um problema global, que n�o pode ser atribu�do apenas aos produtores rurais e empreendedores de uma �nica regi�o. “Cada um pode fazer sua parte para amenizar os impactos que est�o ocorrendo no seu neg�cio ou atividade”, pontua Vilela. “� necess�rio pensar em estrat�gicas coletivas para o enfrentamento das incertezas clim�ticas. Os estabelecimentos comerciais e industriais devem trabalhar com o re�so de �gua. O desperd�cio � o primeiro fator a ser combatido, tanto de �gua quanto de energia el�trica e de outros insumos. � preciso aumentar a efici�ncia”, recomenda o consultor do Sebrae Minas.

 

“No Brasil, hoje, existe um consumo m�dio de 120 litros de �gua por habitante/dia. � muita coisa”, reclama Pierre Vilela. “� preciso reduzir o gasto do insumo em todos os estabelecimentos que dependem da �gua”, orienta.

 

A economista Ana Paula Bastos, da C�mara de Dirigentes Lojistas (CDL/BH), chama a aten��o para a import�ncia da sustentabilidade. “� necess�rio ter uma produ��o consciente, com meio ambiente preservado”, diz.

 

Ana Paula lembra que a redu��o dos recursos h�dricos, resultante das mudan�as clim�ticas, acarreta impactos tamb�m para a gera��o de energia, produ��o de alimentos e toda a cadeia produtiva. “� necess�rio investir em crescimento sustent�vel, uso de energia renov�vel e conserva��o do meio ambiente, para a manuten��o do com�rcio, que precisa de renda, do emprego e do consumo”, assegura a economista. (LR) 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)