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Estado de Minas SOBREVIVENTES DA PANDEMIA

Sobreviventes: empres�rios contam como resistiram � epidemia de fal�ncias

Comerciantes de BH que n�o baixaram as portas na pandemia relatam como venceram dificuldades, �s vezes com sacrif�cio de bens e empregos, e planejam a retomada


14/11/2021 04:00 - atualizado 14/11/2021 08:56

Rui Barreto, dono da Opus Livraria e Papelaria, no Gutierrez, em BH, conta como empresa sobreviveu à pandemia
Rui Barreto conseguiu enxergar oportunidades em meio � tormenta (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
No Bairro Gutierrez, Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, as vitrines vazias, as portas fechadas e as placas de “aluga-se” n�o deixam d�vidas: ali jazem dezenas de pequenos neg�cios, v�timas da crise do novo coronav�rus. “Aqui do meu lado tinha uma farm�cia. Mais � frente, funcionava uma boutique...”, aponta Rui Mansur, de 63 anos, dono da Opus Livraria e Papelaria. Instalada h� 36 anos na Rua Andr� Cavalcanti, a loja � uma das que sobreviveram � epidemia de fal�ncias que assombra o com�rcio de BH h� quase 20 meses.

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Milhares de comerciantes n�o tiveram a mesma sorte. O �ltimo levantamento da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC) apontou 9,55 mil lojas fechadas em Minas ao longo de 2020, o segundo pior desempenho do pa�s, atr�s apenas de S�o Paulo. Em todo o Brasil, 75 mil CNPJs n�o resistiram �s restri��es da pandemia e foram baixados.
 
Quem ainda est� de p� n�o se atreve a dizer que est� salvo – e nem poderia, diante do cen�rio econ�mico que inclui infla��o, d�lar alto, gasolina a R$ 7, al�m da pior crise h�drica da hist�ria. Mas arrisca receitas de sobreviv�ncia, cujos ingredientes s�o variados: do velho credi�rio �s listas de distribui��o do WhatsApp, passando pelos conhecidos sald�es, a mais moderna Black Friday e aposta nas vendas de fim de ano.

Virada

Rui Mansur, da Opus Livraria e Papelaria, descreve a travessia da tormenta que chegou com a crise como “o maior tombo de sua vida”. O empres�rio diz que chegou a ser protestado por fornecedores j� que, com o fechamento total da cidade, no in�cio de 2020, ficou sem recursos para honrar compromissos.

Arte
Com o nome sujo, perdeu cr�dito na pra�a, o que impediu, em um primeiro momento, o uso de benef�cios como o Programa Nacional de Apoio �s Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe). A linha de capital de giro foi criada pelo governo federal para ajudar na recupera��o das microempresas.

“O primeiro ‘pulo’ que eu tive que dar foi esse: negociar com fornecedores. Claro que nem todo mundo me compreendeu. Mas muita gente foi flex�vel comigo. At� mesmo o dono do im�vel onde a loja funciona. Propus a ele pagar a metade do aluguel durante per�odo cr�tico da pandemia e ir aumentando aos poucos depois, na retomada. Ele aceitou”, conta o comerciante.

Para manter a entrada de dinheiro, Rui mudou o foco das vendas. Com o fechamento das escolas, de fevereiro de 2020 a junho de 2021, o com�rcio de livros did�ticos e uniformes – at� ent�o, carro-chefe da loja –, baixou praticamente a zero. A suspens�o das aulas interrompeu ainda o funcionamento da �nica filial da Opus, situada dentro do Col�gio Loyola, no Bairro Cidade Jardim, Zona Sul de BH.

A solu��o encontrada pelo empreendedor foi promover a venda de jogos, brinquedos pedag�gicos e servi�os de gr�fica. Para isso, usou principalmente o WhatsApp. “Essas demandas foram aumentando � medida que as fam�lias passaram a ficar em casa. Assim que percebi esse movimento, n�o tive d�vidas: criei uma lista de distribui��o enorme, com os milhares de contatos que eu tinha de clientes, e comecei a fotografar a mercadoria para oferecer. Deu muito certo. Passei a entregar em m�dia 50 pedidos por dia”, relata Mansur.

“Tamb�m fiz muita propaganda dos servi�os de gr�fica, pois, na pandemia, muita gente passou a trabalhar de forma aut�noma, produzindo pe�as gr�ficas. No fim, a diversidade dos meus produtos me salvou. Se eu vendesse uma coisa s�, a esta altura, j� teria quebrado”, reflete.

Com o nome limpo, as contas j� equacionadas e apenas um funcion�rio dispensado, Rui retomou os projetos para o futuro. Ele avalia que as mudan�as que ocorreram em seu neg�cio s�o permanentes e caminham para lev�-lo a uma esp�cie de virada, semelhante �quela que o livreiro experimentou nos anos 1990.

“Naquela �poca, minha principal fonte de receita eram os jornais e revistas. Deixei de priorizar isso para estruturar a papelaria e livraria, com op��es de presentes, que tenho hoje. Em um futuro breve, acho que vou deixar de ser livreiro. Minha inten��o, daqui para frente, � investir na gr�fica. Meu servi�o ficou conhecido e eu, hoje, deixo de atender clientes porque n�o tenho os equipamentos necess�rios. Sinto que a gr�fica � o futuro do neg�cio e, naturalmente, vou migrar para esse segmento”, planeja.

Carn�: o milagre do rem�dio caseiro

Helcio Marra, dono da Sapataria Umuarama, no Padre Eustáquio, em BH, conta como empresa sobreviveu à pandemia
Helcio Marra se apoiou no credi�rio e na "fidelidade em presta��es" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Fundada h� 51 anos no Bairro Padre Eust�quio, Regi�o Noroeste de BH, a Umuarama Cal�ados permanece de p� gra�as a estrat�gias mais conservadoras. O propriet�rio H�lcio Marra – da terceira gera��o a comandar o neg�cio – diz que apostou na longeva rela��o com a clientela, mediada pelo bom e velho credi�rio.
 
“Muita gente me perguntou se eu n�o ia cortar o carnezinho de pagamento na pandemia. Mas eu mantive, e n�o me arrependo. Ele ajudou a manter o elo com os clientes, que tiveram cr�dito para comprar em um momento em que o mercado estava bem mais r�gido”, afirma o comerciante, atento � realidade de que a modalidade de financiamento ainda � significativamente popular entre os brasileiros.

De fato, pesquisa divulgada em 25 de outubro pela Confedera��o Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Servi�o de Prote��o ao Cr�dito (SPC Brasil) mostrou que carn� � a segunda forma preferida de parcelar compras no pa�s, perdendo apenas para o cart�o de cr�dito. A lista segue com o cart�o de loja e cheque pr�-datado.

O “carn�” confere � sapataria uma segunda vantagem: para pagar as presta��es, o fregu�s precisa procurar a loja, o que d� aos vendedores a oportunidade de fazer novas vendas. “Enquanto o com�rcio esteve fechado, a gente fazia essa abordagem via WhatsApp. Mas, agora que a cidade est� aberta, as pessoas precisam vir aqui quitar suas parcelas e a gente, � claro, faz de tudo para que elas n�o saiam de m�o abanando”, entrega Marra.

Outras estrat�gias usadas pela Umuarama para permanecer com as portas abertas foram mais amargas. Para enxugar os custos, a empresa fechou sua �nica filial e reduziu o quadro de funcion�rios a menos da metade. Dos 18 que trabalhavam no local, restam oito. Marra, por fim, vendeu o pr�dio onde a matriz funciona para sanear as finan�as.

“Quando o com�rcio fechou de vez, acabei contraindo empr�stimos para conseguir saldar os compromissos. As vendas estavam fracas e esses d�bitos acabaram ficando muito pesados. Para resolver a situa��o, vendi o pr�dio da loja, que era nosso. Agora, o comprador nos aluga o espa�o”, diz o propriet�rio, que encara o futuro com otimismo. “As vendas est�o praticamente normais agora. E esse Natal vai ser muito bom. Acredito que o pior j� passou”.


Uma gordurinha para tempos de vacas magras

 Ronaldo Tadeu Gomes Ribeiro, dono do Enxovais Monte Azul, no Padre Eustáquio, em BH, conta como empresa sobreviveu a pandemia
Ronaldo Gomes Ribeiro conta que reserva permitiu manter o neg�cio (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
A retomada das atividades em Belo Horizonte n�o chega a entusiasmar Ronaldo Ribeiro, dono da Enxovais Monte Azul, outro estabelecimento antigo do Padre Eust�quio. As expectativas do empreendedor parecem acompanhar o �ndice de Confian�a do Empres�rio do Com�rcio (Icec) medido pela CNC. Em outubro, o indicador caiu 3,1% na compara��o com setembro, para 119,3 pontos, na segunda queda consecutiva.

O empres�rio explica os motivos. Em primeiro lugar, porque o segmento de enxovais foi um dos poucos que lucraram no per�odo mais r�gido da pandemia, quando as atividades econ�micas e sociais da cidade estavam mais restritas.

“Confesso que outubro de 2020 foi muito melhor para mim do que este outubro. As pessoas ainda estavam em casa, sem muita op��o de lazer. Portanto, investiram no ambiente. Vendi muita cortina e toalha, por exemplo. Agora, com o retorno do turismo, dos bares e dos eventos sociais, as vendas despencaram. O dinheiro, � claro, tem outros destinos”, diz Ribeiro.

O administrador tamb�m aposta em um Natal fraco, j� que, segundo ele, as pessoas j� renovaram suas roupas de cama, mesa e banho durante a pandemia. “� claro que � sempre uma data boa, mas n�o prevejo retomada dos ganhos ao patamar de 2019, como esperam lojas de outros setores”, pondera o comerciante.

A despeito da acelera��o das vendas na primeira onda da epidemia, a batalha da Monte Azul para n�o fechar as portas foi dura. “Mesmo vendendo no delivery, fiquei no preju�zo por um bom tempo. A sorte � que eu tinha uma reserva financeira, que me permitiu ficar de p�, inclusive sem demitir ningu�m. N�o fosse essa ‘gordurinha’, eu n�o teria resistido”, conta Ronaldo.

Para turbinar o faturamento, o propriet�rio chegou a contratar uma empresa de marketing digital, mas a estrat�gia, at� o momento, surtiu pouco efeito. “Os meus clientes s�o mais velhos, mais tradicionais. Gostam de vir � loja, tocar nas colchas, edredons e toalhas. Minha comunica��o com eles foi mais via WhatsApp. De qualquer forma, com a pandemia mudamos um pouco os planos. At� 2020, fal�vamos em abrir uma segunda loja em Belo Horizonte. Atualmente, com os altos custos operacionais, vimos que n�o compensa. � melhor abrir um e-commerce.”


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