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Estado de Minas VIDA CARA

Custo alto afeta reinado do frango na mesa do brasileiro

Em 1994, junto do iogurte, ave acess�vel ganhou significado de melhora da condi��o socioecon�mica. Em 2020, alta de pre�os foi de 14,6%, quase 3 vezes o IPCA


06/12/2021 04:00 - atualizado 06/12/2021 07:21

A estudante Ludmila reclama de ter desembolsado R$ 16 pelo quilo do bife de frango
'Gostava de fazer asinha assada, que hoje se tornou nobre', Ludmila Rodrigues, estudante (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 10/11/21)
Na largada do Plano Real e durante bom tempo de dura��o do bem-sucedido programa para deter a infla��o, o frango e o iogurte se tornaram acess�veis e ganharam fama como indicadores de que a qualidade de vida dos brasileiros estava melhorando. Era uma realidade bem diferente da corrida inflacion�ria que o pa�s viveu do fim dos anos 80 a meados da d�cada de 1990. “Quanto mais consumida a prote�na, sinal de que melhor � a condi��o socioecon�mica”, observa o economista Andr� Braz, coordenador do �ndice de Pre�os ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Funda��o Getulio Vargas.


No entanto, Braz diz que o Brasil anterior a 1994 n�o pode ser comparado com o atual. “Mesmo vivendo agora um contexto de infla��o mais alta, distante da nossa meta, n�o quer dizer que estaremos vivendo o per�odo pr�- estabiliza��o (quando a infla��o estava fora de controle). N�o d� para comparar. Na �poca, n�o havia uma �ncora monet�ria ou fiscal, isso desestabilizava muito a economia, sujeitando a popula��o a aumentos absurdos de pre�os”, diz o economista.

 

A economia brasileira tem outros fundamentos, hoje, e � capaz de se sustentar por muitos anos com um comportamento de pre�os longe daquela hiperinfla��o enfrentada antes de 1994, avalia Braz. O pa�s testou quase uma dezena de planos econ�micos nos tempos da espiral inflacion�ria. As taxas de infla��o haviam alcan�ado at� 5.000% ao ano antes do Real.

 

O Brasil viveu cerca de 15 anos com evolu��o do custo de vida acima de dois d�gitos e corre��o monet�ria que estimulava a hiperinfla��o. Houve per�odos de remarca��es di�rias de pre�os e os produtos desapareciam das prateleiras do varejo, enquanto a popula��o estocava alimentos com o temor das sucessivas altas. Havia remarca��es autom�ticas de pre�os e dos sal�rios, num efeito de bola de neve pelo qual a infla��o de um m�s era de imediato repassada ao m�s seguinte. Durante o Plano Cruzado, que congelou os pre�os em 1986, a carne sumiu dos supermercados.

 

Frango se tornou carro-chefe do comércio de Constantino Jr.
Casa administrada por Constantino Jr. oferece dois p�s de galinha como tira-gosto para estimular o consmo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 10/11/21)

 

“N�o � porque a atividade econ�mica est� fraca hoje, e a infla��o ganha espa�o, dada a crise de confian�a, � quest�o fiscal com o governo insistindo em gastar mais do que arrecada, que estamos � beira de perder a estabiliza��o conquistada pelo Plano real. Precisar�amos de v�rios desastres pol�ticos e econ�micos para colocar o pa�s em situa��o semelhante a que vivemos no passado”, afirma Andr� Braz.

 

Economista e gestor dos sites de pesquisas de pre�os Mercado Mineiro e comOferta.com, Feliciano Abreu observa que boa parte da popula��o economicamente ativa, hoje “desconhece o que � uma infla��o galopante. E os juros comendo a renda sem que as pessoas percebam”, afirma. Ele alerta para a perda do poder aquisitivo. “Quem ganha hoje o mesmo que ganhava em janeiro de 2020, antes da pandemia, j� perdeu muito seu poder de consumir”. Os consumidores de baixa renda tem sido os mais prejudicados pela diminui��o da renda e o desemprego.

 

Pelo retrovisor


A estudante de odontologia Ludmila Naira Souza Acosta Rodrigues, de 35 anos, conta que pagou caro, ao desembolsar R$ 16 pelo quilo de bife de frango em a�ougue do bairro Santo Andr�, na regi�o Noroeste de Belo Horizonte. “Na verdade o bife fica mais caro, porque o a�ougueiro pesa a carne com os ossos e depois retira a carca�a”, dz a consumidora. Moradora no bairro h� 28 anos, Ludmila divide espa�o de casa com uma crian�a e  dois adultos. “Depois da alta da carne, passamos a consumir frango quase que todo dia, picadinho, assado, ou em torta. As v�zes alterno frango e porco. Gostava de fazer asinha assada, que hoje se tornou nobre.”

 

Os dados do IBGE indicam, de fato,  que desde 2018 os aumentos de pre�o do frango inteiro t�m superado em larga escala a infla��o na Grande BH medida pelo IPCA. Isso ajuda a entender a pr�tica das ofertas adotada no com�rcio especializado da av, a exemplo da casa dirigida por Constantino Gabriel Araujo Jr., de 57. Ainda que a ave tenha se transformado no principal motor das vendas, o comerciante busca incentivar o consumo, com tira-gosto gratuito de p�s de galinha associado � compra de cerveja.

 

No ano passado, a varia��o de pre�os do frango inteiro na Grande BH, segundo o IBGE, foi de 14,66%, quase tr�s vezes acima da infla��o, de 4,99%. O mesmo fen�meno j� havia ocorrido em 2018 (10,11% de aumento, ante o IPCA de 4%) e em 2019 (6,58% e 4,20%, respectivamente).

 

O consumo per capita da carne de frango no Brasil cresceu de 41,99 quilos por habitante em 2018 a 45,27 kg/hab no ano passado. Ainda assim, est� abaixo do pico de 47,38 kg/hab registrado em 2011, segundo dados da Associa��o Brasileira de Prote�na Animal (ABPA). A produ��o nacional tem se expandido, tendo saido de 12,855 milh�es de toneladas em 2018 a 13,845 milh�es de toneladas no ano passado. Em 2020, 69% da oferta ficaram no mercado interno e 31% tiveram o mercado internacional como destino.

 

For�a exportadora


Os n�meros das exporta��es de frango tamb�m mostram um Brasil diferente daquele de meados dos anos 90. O Centro de Estudos Avan�ados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)/USP, registrou resultados positivos das exporta��es de frango em outubro �ltimos, que superaram a m�dia de 355.638 toneladas mensais nos nove meses anteriores. Em rela��o a setembro, o volume embarcado recuou quase 7%, mas outubro teve um dia �til a menos, o que influencia nesse balan�o.

 

Com isso, a m�dia di�ria embarcada nos dois meses foi muito similar, superior a 18 mil toneladas/dia, apresentando redu��o de apenas 2% de um per�odo para outro. A queda mensal no volume foi parcialmente neutralizada por nova melhora no pre�o m�dio do produto, que atingiu US$1.770,90 por tonelada, aumento de mais de 2% em rela��o ao m�s anterior e quase 31% em compara��o a outubro de 2020.

 

Desabatescimento nos supermercados
No fim dos anos 80 o Brasil enfrentava a hiperinfla��o, que o Plano Ver�o, de 1989, tentou conter, sem sucesso, promovendo o congelamento dos pre�os (foto: Norma Albano/Estad�o Conte�do/AE - 31/1/89)

 

Mem�ria

Opera��o salvamento

 

O Plano Real foi um processo de estabiliza��o econ�mica iniciado em 1993 e o seu sucesso representou a quebra da espinha dorsal da infla��o no Brasil. A entrada em circula��o do real em 1º de julho de 1994 mudou o cen�rio de uma infla��o que, no acumulado de 12 meses, chegou a 4.922% em junho de 1994, �s v�speras do lan�amento da nova moeda. A infla��o, que finalizou 1994 com 916%, atingiu 22% em 1995.

Desde ent�o, mesmo com as v�rias crises internacionais e internas que prejudicaram a estabiliza��o econ�mica, o IPCA acumulado em 12 meses passou de 9% em poucas ocasi�es. No fim dos anos 80 o Brasil enfrentava a hiperinfla��o, que o Plano Ver�o, de 1989, tentou conter, sem sucesso, promovendo o congelamento dos pre�os, o que gerou desabatescimento nos supermercados (foto). 


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