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Estado de Minas VIDA CARA

S�mbolo do Plano Real, frango perde status e aumentos superam infla��o

�cone do plano de estabiliza��o lan�ado em julho de 1994, ave era comprada a R$ 1 da �poca, que hoje valeria R$ 7,02. Com reajuste, pre�o alcan�a quase R$ 15


06/12/2021 04:00 - atualizado 06/12/2021 07:26

O pedreiro Henrique dos Santos Linhares deixou de consumir frango com frequência
'Churrasquinho no final de semana acabou. Nem com asa de frango a gente faz', Henrique dos Santos Linhares, pedreiro (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 10/11/21)
De esteio da estabilidade monet�ria a vil�o dos pre�os, o frango passou do c�u ao inferno no per�odo de 27 anos e cinco meses que separa dois Brasis. O pa�s que abra�ava o Plano Real em julho de 1994, como sa�da da espiral inflacion�ria, exibia a ave como s�mbolo. A na��o que volta a se assustar com o custo de vida assiste, hoje, a cenas dram�ticas de consumidores em busca de restos de carnes desprezadas pelos a�ougues, como p�s de galinha, diante do aperto do or�amento e a queda da renda.

 

Em valor corrigido, o R$ 1 que comprava um quilo de frango em julho de 1994 vale, agora, R$ 7,02, com base na evolu��o do �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). A varia��o medida at� outubro, per�odo mais recente da pesquisa do indicador da infla��o oficial, � de 602,04%, apurada entre 1º de julho de 1994 e 30 de outubro.

 

Com a quantia atualizada, o consumidor n�o compra mais o quilo de frango resfriado nos a�ougues de Belo Horizonte. O produto � oferecido entre R$ 9,15 e R$ 14,95, de acordo com levantamento feito em 23 de novembro pelo site de pesquisas de pre�os Mercado Mineiro. Na regi�o Centro-Sul da cidade, seria tamb�m necess�rio completar o dinheiro at� mesmo para adquirir o quilo de p�s de galinha, cotado a R$ 13,99 pelo site especializado.

 

A alta dos pre�os da prote�na que deixou de ser alternativa � carne cara na mesa dos brasileiros acumula 20,08% nos �ltimos 12 meses at� outubro na Grande BH, quase o dobro da infla��o de 10,46% apurada na capital e entorno. A remarca��o � ainda maior do custo no varejo do frango em peda�os, que atingiu 32,28%, pela pesquisa do IBGE. Os reajustes continuam a ganhar f�lego, medios de janeiro a outubro �ltimo, tendo alcan�ado 11,13% e 26,07%, respectivamente, enquanto o IPCA foi de 7,77%.

 

N�o s� o frango, como as carnes em geral se tornaram vil�s da infla��o ap�s a condi��o at�pica imposta pelos efeitos da COVID-19 na economia, observa o economista Andr� Braz, coordenador do �ndice de Pre�os ao Consumidor (IPC) do Insituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Funda��o Getulio Vargas. Encareceram as ra��es para trato animal, o milho e a soja, al�m da forte desvaloriza��o do real frente ao d�lar. Esse conjunto de fatores elevou o custo de produ��o de aves e ovos.

 

Outro vetor de eleva��o de pre�os apontado por Braz s�o as exporta��es brasileiras de carnes, que afetaram a oferta interna do produto. “O frango tamb�m � exportado e isso explica o desabatescimento no mercado dom�stico. O volume de exporta��o tem a ver com desvaloriza��o do real. Quanto mais barata for a nossa moeda, mais o pa�s se parece com uma vitrine em promo��o. Todos querem comprar aqui e ajudam a sustentar os pre�os em alta”, destaca.

 

D�gitos


Feliciano Abreu, economista e gestor dos sites Mercado Mineiro e comOferta.com lembra que consiste tend�ncia o aumento de pre�os das carnes no fim do ano, devido � tradi��o das festas crist�s de Natal e Ano Novo. Levantamento de pre�os m�dios de carnes em 39 estabelecimentos na Regi�o Metropolitana de BH, realizado pelos sites entre 3 e 5 de novembro, apontou ligeira queda, mas o pre�o final continua alto e h� varia��es que ultrapassam tr�s d�gitos percentuais. “O pre�o do pr�prio frango foi o que menos caiu”, diz Feliciano.

 

O consumidor tem dificuldade de perceber o recuo verificado em novembro. O pre�o m�dio do quilo da ave resfriada  diminuiu de R$ 11,64 para R$ 11,32, queda 2,79%.

 

O quilo do p� de galinha, que antes da pandemia era descartado pelos a�ougues ou vendido por R$ 0,50 na Grande BH, agora, custa at� R$ 13,99. “Infla��o sempre existiu em alimentos, mas o frango teve um caminho aberto �s exporta��es. Sempre houve movimenta��o de pre�o, mas nesse per�odo todos os custos aumentaram. N�o � s� o frango, mas em toda a cadeia produtiva, houve alta de combust�vel, transporte, energia el�trica.”

 

De outro lado, Abreu enfatiza a perda do poder aquisitivo da popula��o. “O dinheiro valia muito mais, e a desvaloriza��o do real redireciona as vendas priorizando os mercados externos. Isso tamb�m interfere.”

 

H�bitos


Com base na Pesquisa de Or�amento Familiar (POF), do IBGE, que serve de base para a composi��o do IPCA, a varia��o do pre�o do frango inteiro acumulada entre julho de 1994 e outubro �ltimo foi de 497,56%, no Brasil e 275,05% na �rea metropolitana da capital mineira. O pre�o do produto em peda�os variou 442,2% no territ�rio nacional, e 514,03% na Grande BH no per�odo.

 

O coordenador de Pesquisa da Supervis�o de Levantamento de Pre�os do IBGE em Minas Gerais, Venancio Otavio Araujo da Mata, explica que at� 2005 o instituto apurava os pre�os do frango de forma gen�rica. Somente no ano seguinte, foram inclu�dos em separado os itens “frango inteiro” e “frango em peda�os”. 

 

“Periodicamente, o instituto avalia os h�bitos de consumo da popula��o para adequar os �tens a serem inclu�dos ou retirados da pesquisa, conforme o peso de cada um deles no or�amento familiar”, explica Venancio da Mata.

 

No hist�rico de levantamento de pre�os a partir de 1995, os maiores reajustes acumulados para o frango inteiro na Grande BH foram registrados, de forma crescente, nos �ltimos quatro anos, de 176,7% em 2018, 194,49% em 2019 e 237,49 no ano passado.

Da popularidade � sobra no balc�o


A corrida dos pre�os das carnes tem exigido esfor�o redobrado das fam�lias para n�o eliminar a prote�na � mesa, mas nem o frango escapou da compra escassa. Na casa do pedreiro Henrique dos Santos Linhares, de 25 anos, a ave deixou de ser consumidana propor��o do passado. Resignado, ele, que vive com mais seis pessoas, reconhece  n�o ser poss�vel colocar a carne branca � mesa como costumava fazer. “N�o d� pra consumir nem frango com frequ�ncia. O pre�o vem aumentando a cada vez em que vou ao a�ougue. Outras carnes, nem pensar. Churrasquinho no final de semana acabou. Nem com asa de frango a gente faz.”

 

Val�rio Alexandre da Costa, eletricista de 56 anos, tem h�bito de consumir asa e sobre de frango, “�s vezes um frango assado ou inteiro para assar em casa”, conta. Contudo, ele diz que est� dif�cil manter o consumo, embora os cortes da carne ainda sejam adquiridos a pre�os mais baixos do que os de boi e porco. S�o quatro pessoas na casa dele e os gastos com a prote�na pesam muito no or�amento. “O p� de frango, que era jogado fora, chega a custar R$ 8 o quilo”, reclama.

 

Pizzaiolo com experi�ncia tamb�m em casa especializada na venda de frango assado, Let�cia Luz Brito, de 26, se assusta ao ver um frango assado oferecido a R$ 36. “As pessas chegam atra�das pela assadeira com aquelas pe�as bonitas e cheirosas, mas desistem ao ver o pre�o. O almo�o, de vez em quando, tem coxa e sobrecoxa, mas o pre�o est� um absurdo”, reclama.

 

Promo��o


H� 62 anos, o pai do comerciante Constantino Gabriel Araujo Jr., de 57, trocava terras ga�chas por Belo Horizonte e levou “uma novidade” para o Bairro Carlos Prates, regi�o Noroeste da capital. Junto da mulher, o pai de Constantino abriu as portas da Cantina Minas Goi�s, uma das pioneiras na venda de frango assado na regi�o. “Meu pai trouxe a frangueira que guardo aqui at� hoje como recorda��o”, conta com orgulho.

 

A casa que tinha o frango assado como carro-chefe precisou se diversificar. “Naquela �poca, frango era um prato nobre, e depois se tornou mais acess�vel. Agora, est� de volta � nobreza”, observa Constantino. Ele estima queda no consumo em torno de 50%. “Tivemos que come�ar a inovar, servindo o frango no prato feito e em peda�os. Preparo p�s de galinha, que � sobra do frango comprado inteiro. A gente d� para pessoas carentes mas usamos tamb�m como promo��o. A pessoa toma cerveja e ganha dois p�s de galinha como tira-gosto.”


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