(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas DIZEM ESPECIALISTAS

Sem investimento, economia brasileira n�o deve avan�ar em 2022

Quando um pa�s n�o cresce, � dif�cil para o investimento produtivo aumentar, especialmente em ano de incertezas por causa das elei��es


10/01/2022 08:18

Ministro da Economia, Paulo Guedes
Ministro da Economia, Paulo Guedes (foto: Edu Andrade/Ascom/ME)


Um dos principais motores da economia de um pa�s � o investimento, mas ele s� ocorre de forma expressiva quando h� confian�a no governo e crescimento. Historicamente, o Brasil cresce pouco e tem investimento baixo. E, para que o Produto Interno Bruto (PIB) cres�a de forma robusta e sustentada em torno de 5% ao ano, a taxa de investimento precisa ser superior a 25% do PIB, segundo especialistas. Mas, conforme dados do Fundo Monet�rio Internacional (FMI) iniciados em 1980, o Brasil nunca conseguiu ter uma taxa de investimento elevada.

Pelas proje��es do organismo multilateral, que tem estimativas mais otimistas do que as do mercado para o crescimento da economia brasileira, o pa�s n�o conseguir� ter uma taxa de investimento de 20% do PIB, pelo menos, at� 2026. O FMI prev� alta de 1,5% no PIB brasileiro neste ano, acima da atual mediana das previs�es dos analistas ouvidos pelo Banco Central (BC), que estima crescimento de 0,36%. Mas muitos analistas e grandes institui��es financeiras n�o descartam um cen�rio de estagna��o, ou at� mesmo de recess�o, em 2022.

Quando um pa�s n�o cresce, � dif�cil para o investimento produtivo aumentar, especialmente em um ano cheio de incertezas por conta das elei��es presidenciais e da deteriora��o dos fundamentos macroecon�micos, segundo especialistas.

A s�rie hist�rica do FMI, iniciada em 1980, mostra que o patamar mais elevado da taxa de investimento do Brasil ocorreu em 1994, de 23,5% do PIB. Naquele ano, foi iniciado o Plano Real, que conseguiu domar o drag�o da hiperinfla��o, e o pa�s cresceu 5,3%. Pelas estimativas do Fundo, apesar da recupera��o em rela��o aos pisos recentes, a taxa de investimento do Brasil dever� encerrar o ano em 17,2%, abaixo da m�dia global, de 26,7% do PIB, e menos da metade da taxa chinesa, de 44,6% do PIB.

J� pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), a taxa de investimento do pa�s chegou a 19,4% do PIB, �ndice acima dos 16,3% registrados no mesmo per�odo de 2020 — o que foi comemorado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e pela sua equipe. Contudo, o patamar desse indicador est� quase 5% abaixo do pico do terceiro trimestre de 2010 na s�rie hist�rica do IBGE, iniciada em 1996.

Gráfico de investimentos no Brasil nos últimos anos


O consenso entre os especialistas � de que o atual cen�rio est� mais desafiador, sem ajuda do setor externo como no passado. Segundo eles, neste ano, um dos motivos que devem travar os investimentos, � a deteriora��o do quadro fiscal, ap�s aprova��o da PEC dos Precat�rios. E, com a infla��o persistente e elevada no pa�s e l� fora e sem uma ajuda do governo na �rea fiscal, o Banco Central precisar� manter o ciclo de alta da taxa b�sica de juros (Selic), atualmente, em 9,25%, para dois d�gitos ao longo do ano — o que � p�ssimo para os investimentos p�blico e privado, porque encarece o custo do cr�dito.

Reformas

Analistas tamb�m reconhecem que ainda existem incertezas em torno das promessas do ministro da Economia, Paulo Guedes, feitas em evento do setor de constru��o de que existem cerca de R$ 700 bilh�es de investimentos contratados para os pr�ximos 10 anos. Eles consideram o volume baixo para garantir patamares mais sustent�veis de crescimento econ�mico e admitem que ainda n�o h� garantias reais de que eles ocorram se o cen�rio macroecon�mico n�o melhorar. E, quando questionada sobre a previs�o da pasta sobre o tamanho da parcela dessa proje��o de investimentos que dever� ocorrer em 2022, a Economia evita fazer uma estimativa. Especialistas lembram que as �ltimas previs�es da pasta para o crescimento do PIB brasileiro neste ano, de 2,1%, s�o mais otimistas at� do que as do BC, de 1%.

O economista Sim�o Davi Silber, professor da Universidade de S�o Paulo (USP), reconhece que o investimento no pa�s tem muitas dificuldades para aumentar neste ano e nos pr�ximos. Ele recorda que o pa�s n�o conseguiu crescer, em m�dia, acima de 1% ao ano na �ltima d�cada e, pelos c�lculos dele, "para ter uma expans�o de 4%, seria necess�ria uma taxa de investimento de 25% do PIB". Logo, para melhorar esse quadro, ele afirma que ser� preciso destravar as reformas, algo que n�o est� mais no radar. "Isso significa que temos uma possibilidade de crescimento e de amplia��o da capacidade produtiva bastante modesta. A taxa de investimento atual � meio fajuta, porque n�o h� desconto da deprecia��o. Se a descontarmos, o investimento l�quido � zero".

Como o estoque de capital no Brasil � velho, acrescenta Silber, "n�o temos c�lculo da deprecia��o, que pode chegar de 4% a 5% do PIB, em termos l�quidos, mesmo se a taxa de investimento fosse 20%, ela seria, na verdade, de 15%. Portanto, � preciso 4% de investimento para gerar 1% de produto na margem. Logo, se o pa�s investe 16%, n�o d� para crescer mais de 2% ao ano". Ele refor�a que ser� "muito dif�cil" para o pa�s conseguir chegar a ter uma taxa de 24% do PIB.

Na avalia��o dos especialistas, o pa�s continua preso na armadilha do baixo crescimento, e, por isso, n�o h� grandes perspectivas de aumento dos investimentos em 2022, ano em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) mergulha de cabe�a no populismo pela reelei��o. O professor da USP destaca que essa deteriora��o das perspectivas econ�micas tamb�m � resultado do estrago das a��es recentes do governo Bolsonaro, que marcou retrocessos na agenda econ�mica e fiscal.

"N�o tem reformas. N�o tem privatiza��o. O sistema tribut�rio � muito ruim e n�o h� uma boa reforma encaminhada. H� um excesso de gasto do governo, que � ineficiente e n�o adota medidas para revisar esses gastos. N�o d� para comemorar os R$ 700 bilh�es de investimentos contratados que o governo anuncia por conta das concess�es em infraestrutura, porque n�o h� uma certeza de que ser�o concretizados se o quadro macroecon�mico continuar desfavor�vel", alerta Silber.

A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (FGV Ibre), avalia que os investimentos em concess�es anunciados pelo governo s�o positivos, mas n�o s�o suficientes em um cen�rio em que o mundo n�o dever� ajudar o pa�s a crescer. "O cen�rio internacional n�o ser� favor�vel neste ano, ao contr�rio do que ocorreu no in�cio dos anos 2000, quando houve o boom das commodities que favoreceu pa�ses emergentes, como o Brasil. E este in�cio de d�cada ser� muito mais desafiador, porque todos os pa�ses est�o lidando com as consequ�ncias de uma pandemia, que tamb�m provocou uma infla��o global", ressalta.

Incertezas

De acordo com Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, os investimentos anunciados por Guedes n�o devem ser garantia de crescimento do Brasil. "O pa�s n�o ser� a fronteira de investimento que o ministro costuma prometer. � preciso uma mudan�a de mentalidade sobre a necessidade ainda de se ajustar o fiscal e, hoje, n�o h� garantias de continuidade das reformas, que est�o em suspenso. Os riscos me parecem muito grandes de que voltaremos a ter dificuldades a partir de 2023", afirma.

O especialista da MB prev� zero de crescimento da economia neste ano, mas n�o descarta o risco de o PIB ser negativo. Ele ressalta que h� concess�es que podem acontecer neste ano, o que � importante para a �rea de infraestrutura, uma continuidade desse processo. "Mas n�o significa forte empuxo de investimentos agora, porque o cen�rio de crescimento de longo prazo est� abalado pelas incertezas pol�ticas. N�o est� claro quem ser� o pr�ximo presidente, mas cada vez fica mais claro que, talvez, o novo governo n�o ser� reformista. Essa � a grande dificuldade neste momento. Por isso, o investimento privado tende a acontecer num ritmo muito lento neste ano, at� haver clareza do xadrez pol�tico para, eventualmente, o investimento desacelerar ainda mais", alerta.

Para o economista C�sar Bergo, s�cio diretor da Open Invest, n�o h� como pensar em crescimento sustentado do pa�s na atual conjuntura. "Sabemos que, apesar de uma melhora no cen�rio da pandemia, enfrentamos um quadro de incerteza, que afeta diretamente os investimentos. Temos uma situa��o fiscal fr�gil e um n�vel de desemprego elevado. O crescimento que observamos em 2021 � mais fruto do maior uso de fatores de produ��o ociosos do que de novos investimentos", afirma.

O economista e especialista em contas p�blicas Raul Velloso tamb�m alerta que a economia n�o vai crescer de forma robusta se n�o houver investimento pesado de infraestrutura. "Investir � construir. Tudo aquilo que n�o d� para importar de fora e for importante para o crescimento da economia, tem que ser constru�do dentro do pa�s", afirma. Para ele, o setor p�blico precisar� agir quando o setor privado n�o tiver disposi��o para investir, mas existem limita��es or�ament�rias. "O investimento, em geral, n�o pode ser substitu�do pelo privado. Tem que se fazer com o dinheiro p�blico. S� que, se o setor p�blico n�o estiver com dinheiro suficiente, ele n�o consegue fazer", lamenta.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)