(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas CONJUNTURA

Rendimento cai e trabalhador tem que escolher entre comer ou pagar contas

Com infla��o sem tr�gua, rendimento das fam�lias n�o para de encolher e chega ao menor n�vel desde o in�cio da s�rie hist�rica do IBGE


23/01/2022 10:39 - atualizado 23/01/2022 12:39

inflação
(foto: Flickr)
Diante da escalada da infla��o, a renda dos trabalhadores brasileiros n�o para de encolher e est� no menor n�vel desde 2012, in�cio da s�rie hist�rica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). N�o bastasse a popula��o estar ganhando cada vez menos por conta da carestia, a desigualdade vem aumentando em meio � pandemia da covid-19, que colocou o pa�s de volta ao mapa da fome.

Duas em cada tr�s categorias de trabalhadores n�o t�m reajustes suficientes para recompor as perdas com os aumentos de pre�os, de acordo com sindicalistas. Em 2021, o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a infla��o oficial, registrou alta de 10,06%, a maior varia��o anual desde 2015. Nesse contexto, muitas fam�lias j� escolhem comprar comida ou pagar as contas.

O desemprego deu uma leve recuada, devido � reabertura da economia, conforme os dados mais recentes do IBGE, mas ainda atinge um grande n�mero de brasileiros, e a informalidade voltou a crescer. O n�mero de desempregados chegou a 12,9 milh�es de brasileiros no trimestre m�vel de agosto a outubro de 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua (Pnad Cont�nua).

O levantamento do IBGE mostra ainda que o rendimento m�dio, de R$ 2.449, caiu 4,6%, frente ao trimestre anterior, e 11,1%, em rela��o ao mesmo intervalo de 2020. � o menor patamar desde o in�cio da s�rie. Enquanto isso, a taxa de informalidade chegou a 40,7% da popula��o ocupada, ou 38,2 milh�es de pessoas. No trimestre anterior, essa taxa era de 40,2% e, no mesmo per�odo de 2020, de 38,4%.

Perdas reais


Pesquisa da consultoria IDados, com base em dados da Pnad, revela que 30,2 milh�es de brasileiros n�o ganham o suficiente para sobreviver e t�m renda de trabalho de at� R$ 1.100, o valor do sal�rio m�nimo de 2021. Ali�s, desde 2019, o piso salarial deixou de ter ganho real, e, no ano passado e neste ano, n�o tem compensado a alta do custo de vida. No fim de 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) editou a Medida Provis�ria (MP) nº 1.091/2021, que aumentou o sal�rio m�nimo para R$ 1.212.

Apesar de o reajuste nominal ser de 10,18%, descontada a diferen�a em rela��o ao reajuste abaixo da infla��o ocorrido no piso do ano passado, a corre��o foi de 10,02%, conforme os dados do Minist�rio da Economia. Logo, o novo piso salarial ficou 0,14 ponto percentual abaixo da alta de 10,16% do �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor (INPC) — indicador que corrige o sal�rio m�nimo — registrada em 2021.

De acordo com o assistente social, doutor em sociologia e professor em�rito da Universidade de Bras�lia (UnB) Vicente Faleiros, a jun��o de infla��o com queda de renda � uma combina��o perversa para todos os assalariados, em especial para os trabalhadores informais, que est�o sentindo ainda mais o impacto da infla��o h� mais tempo.

"A queda da renda tem sido mais acentuada nas faixas de menor rendimento. Com o desemprego, o arrocho salarial e o distanciamento social que impediu trabalhos informais, como dos ambulantes, a situa��o ficou ainda mais cr�tica para esses trabalhadores", afirma.

"A infla��o, em torno de 10%, no geral, teve um impacto de 40% para as fam�lias mais pobres que utilizam seus rendimentos no consumo de sobreviv�ncia, como comida, g�s, eletricidade e transporte. Nessas condi��es, aumenta a desigualdade social, a sobrecarga no grupo familiar e a necessidade de cortar n�o s� a carne, mas cortar na carne, reduzindo o necess�rio", explica o acad�mico.

Rendimento familiar cai e trabalhador está tendo que escolher comer ou pagar conta
Rendimento familiar cai e trabalhador est� tendo que escolher comer ou pagar conta (foto: Arte/CB)


Desafios


Escolher entre comer e pagar as contas � um dos principais desafios dos trabalhadores mais pobres em tempos de infla��o elevada combinada com pandemia. Pesquisa da Intelig�ncia em Pesquisa e Consultoria (Ipec), contratada pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), sobre o impacto entre escolher pagar contas ou comprar alimentos aponta que o gasto com energia el�trica e g�s de cozinha compromete metade ou mais da renda de 46% das fam�lias brasileiras.

A cozinheira Cibele Arantes, 43 anos, desempregada h� nove meses, est� nesse grupo de pessoas que tentam sobreviver com o pouco que ganham diante da alta generalizada dos pre�os. Ela mora em uma casa com dois filhos para criar, mas conta com a ajuda do pai das crian�as. "O restaurante onde eu trabalhava fechou as portas, muito cliente parou de ir l� nessa crise. A sorte � que eu tenho meu marido para me ajudar nos custos aqui em casa", conta.

Com uma renda familiar menor desde que perdeu seu emprego, Cibele diz que fica cada vez mais dif�cil fechar o m�s no azul. "Agora, tem vez que tenho que deixar de pagar conta para comprar alimento", explica. Os boletos se acumularam e ela n�o conseguiu pagar nem o telefone. "Eu fiquei umas tr�s semanas sem internet porque n�o consegui pagar meu plano. Um emprego resolveria tudo, j� me apliquei para diversas vagas, mas ainda n�o tive uma resposta positiva", afirma.

Fator agravante para os altos �ndices inflacion�rios, o d�lar, � sentido, sobretudo, na bomba dos combust�veis. Em 2017, o pre�o m�dio da gasolina era de R$ 4,099. Cinco anos depois, em alguns estados, o litro ultrapassou os R$ 7. O peso desse aumento foi sentido, principalmente, por quem usa ve�culos para trabalhar.

� o caso do motorista de aplicativo Andr� Braz, 50 anos, que viu a sua rotina virar de cabe�a para baixo com a alta no pre�o dos combust�veis. H� quatro anos na profiss�o, Andr� costumava trabalhar 12 horas di�rias ao volante. Agora, isso j� n�o � suficiente para acompanhar os reajustes nos pre�os da gasolina. Para compensar e equilibrar as despesas, ele come�ou a vender produtos para passageiros, como perfumes, roupas, balas e itens de beleza. Contudo, v� o lucro pressionado pela infla��o. "Os pre�o dos produtos pesam mais para mim. Mas como vou repassar isso?", pergunta.

Professor de macroeconomia da UnB, Roberto Ellery aponta uma "forte correla��o" entre o aumento da infla��o e a pobreza. "Uma poss�vel explica��o � que os mais pobres n�o conseguem reajustar suas rendas para repor as perdas com a infla��o. O argumento tamb�m vale para os assalariados em geral. Pol�ticas de transfer�ncia de renda podem amenizar o efeito sobre a mis�ria", afirma.

Al�m da infla��o corroendo a renda das fam�lias, outro ponto de preocupa��o para a economia no mundo � o recrudescimento da pandemia com o surgimento da variante �micron, que pode voltar a afetar o setor de servi�os, que � o que mais emprega e estava come�ando a se recuperar no fim de 2021, segundo os analistas.

*Estagi�rio sob a supervis�o de Rosana Hessel


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)