A economia brasileira cresceu 4,6% em 2021 e 0,5% no quarto trimestre, em rela��o ao terceiro, informou nesta sexta-feira (04/03) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica).
Ambos os resultados representam uma recupera��o, ap�s queda de 3,9% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020 e recuos de -0,3% e -0,1%, respectivamente, no segundo e terceiro trimestres de 2021 (o dado do segundo trimestre foi revisado de -0,4% divulgado anteriormente).
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No ano passado, os principais destaques positivos da atividade foram o setor de servi�os (em alta de 4,7%), impulsionado pelo avan�o da vacina��o, e a ind�stria, que cresceu 4,5%, ap�s tombo de 3,4% no primeiro ano da pandemia.
O setor agropecu�rio registrou queda de 0,2% em 2021, impactado por quebras de safras devido a quest�es clim�ticas e problemas na cadeia de produ��o pecu�ria.Na ponta da demanda, os investimentos cresceram impressionantes 17,2% em 2021, sob efeito dos juros baixos no in�cio do ano passado — � preciso lembrar que a Selic come�ou 2021 em 2%, menor patamar da hist�ria.
Apesar do crescimento bem acima dos anos anteriores, economistas avaliam que h� pouco a se comemorar com o resultado do PIB em 2021. Isso porque boa parte do crescimento � resultado da compara��o com o ano fraco de 2020 e o avan�o de 4,6% do PIB brasileiro em 2021 � inferior ao de pa�ses vizinhos como Col�mbia (10,6%) e Argentina (10,3%).
Para 2022, as perspectivas j� eram pouco animadoras, com economistas prevendo PIB estagnado — isto �, com varia��o zero ou pr�xima de zero —, devido principalmente ao efeito da forte alta de juros sobre a economia.

A esse cen�rio pouco otimista somou-se a guerra na Ucr�nia, que traz ao menos quatro riscos adicionais para a atividade esse ano: o de uma piora na infla��o devido � alta de pre�os das commodities; de juros elevados por mais tempo, na tentativa de conter esse aumento da infla��o; de continuidade dos gargalos de produ��o na ind�stria; al�m de um aumento da incerteza, que inibe os investimentos das empresas.
Entenda o que aconteceu com o PIB em 2021, como ficou o quarto trimestre e o que vem pela frente em 2022, em meio �s incertezas geradas pelo conflito no Leste Europeu.
2021: servi�os em destaque, mas pouco a comemorar
Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, destaca o bom desempenho do setor de servi�os em 2021, com crescimento de 4,7%, ap�s queda de 4,3% em 2020.
"Aqui a maior influ�ncia, a partir da metade do ano, veio da reabertura econ�mica. Depois de muitas idas e vindas, a campanha de vacina��o contra covid-19 ganhou tra��o ao final do segundo trimestre, permitindo o retorno de uma s�rie de atividades que impulsionaram o setor terci�rio na segunda metade do ano", observa o analista.
Ele destaca os servi�os prestados �s fam�lias, como turismo, hospedagem, bares e restaurantes; al�m do desempenho s�lido dos servi�os de informa��o e comunica��o, resultado da din�mica da pandemia; e transportes, com a retomada da mobilidade.
Na ind�stria, que registrou uma alta de 4,5% em 2021, ap�s queda de 3,4% no ano anterior, o quadro � um pouco mais complexo.
Margato observa que boa parte do crescimento registrado no ano passado se deve � base de compara��o fraca de 2020. Mas, olhando o resultado a fundo, h� desigualdade importantes.
A constru��o civil registrou uma alta de 9,7% no ano passado, com retomada das obras particularmente no segmento imobili�rio residencial. J� a ind�stria de transforma��o cresceu 4,5%, ap�s uma queda de 4,4% em 2020, com o crescimento contido por gargalos de produ��o, com alta de custos e escassez de mat�ria-prima em setores diversos, como o automotivo.
Com queda de 0,2%, o setor agropecu�rio foi impactado positivamente pelo crescimento da safra de soja no primeiro trimestre. Mas, ao longo do ano, culturas como milho, caf�, cana-de-a��car e algod�o tiveram quebras de safras importantes, devido a problemas clim�ticos.
"A leitura que fica de 2021 � que o Brasil est� crescendo muito menos do que seus pares", avalia Marcos Ross, economista-chefe do banco Haitong.
"Estamos crescendo 4,6%, at� que � bastante para o quadro recente de Brasil, mas � muito menos do que Col�mbia e Argentina, que est�o crescendo acima de 10%. E tem muito de efeito estat�stico no nosso crescimento, devido � base fraca de 2020."
4º trimestre: agro forte, mas calma l�
Se em 2021 o efeito estat�stico teve papel importante na alta de 4,6% do PIB, no quarto trimestre n�o foi diferente.
O grande destaque no crescimento de 0,5% da economia em rela��o ao terceiro trimestre foi o avan�o de 5,8% da agropecu�ria, mas isso se deve em forte medida a um efeito "rebote", ap�s queda de 7,4% no terceiro trimestre, resultado de uma combina��o de seca, geadas e o fim da safra de soja.
J� o setor de servi�os teve uma alta mais modesta, de 0,5%, ainda sob impulso do avan�o da vacina��o, mas com destaque negativo para o com�rcio, que registrou queda de 2% em rela��o ao trimestre anterior, sob impacto da perda de renda da popula��o, diante do avan�o da infla��o.
O "rebote" da agropecu�ria e a ligeira alta do PIB de servi�os compensaram uma queda de 1,2% da ind�stria, que teve desempenho negativo em quase todos os setores: extrativa (-2,4%), transforma��o (-2,5%), eletricidade (-0,2%). A exce��o foi novamente a constru��o, com avan�o de 1,5%.
2022: com guerra, novos riscos
Ao fim do ano passado, os economistas estavam pessimistas com as perspectivas para o PIB em 2022, prevendo um desempenho muito pr�ximo de zero.

Alguns fatores contribu�am para isso: a fraca heran�a estat�stica deixada por 2021 para esse ano (de apenas 0,1%); a forte alta de juros, com a Selic indo de 2% em janeiro do ano passado para 10,75% em fevereiro de 2022, com perspectiva de superar os 12% nos pr�ximos meses; a perspectiva de uma infla��o persistente, mesmo diante dos juros altos; e o clima negativo para neg�cios, devido �s incertezas do ano eleitoral.
Nesse come�o de ano, por�m, a coisa tinha mudado um pouco, e alguns economistas estavam mais otimistas.
Eles estavam olhando para uma s�rie de fatores promissores: a atividade em recupera��o no quarto trimestre de 2021, ap�s dois trimestres de queda no PIB; a perspectiva de avan�o de concess�es e privatiza��es neste ano; munic�pios e Estados de caixa cheio ap�s a arrecada��o recorde de 2021, que pode se traduzir em investimentos; e a perspectiva de uma s�rie de est�mulos � economia por um governo Bolsonaro de olho na reelei��o.
Mas ent�o veio a guerra na Ucr�nia. O otimismo perdeu for�a e os economistas agora avaliam que h� quatro riscos principais para a atividade nesse ano.
"Ficou para atr�s a possibilidade de normaliza��o das cadeias produtivas com esse novo choque da guerra. Esse novo cen�rio pode pressionar a ind�stria ainda mais, tanto em custos, como em dificuldade de acesso a mat�rias-primas", observa Luana Miranda, economista da gestora de recursos GAP Asset.
Outra preocupa��o agora � com uma piora da infla��o, diante da forte alta de commodities como petr�leo, g�s natural, minerais e alimentos como trigo, milho e soja, que podem ser impactados ainda por uma eventual escassez global de fertilizantes.
"Tem um vi�s altista para a infla��o. A parte de combust�veis � uma preocupa��o: a defasagem dos pre�os dom�sticos em rela��o aos pre�os internacionais de gasolina chegou em 30%. Isso � muito alto, pois a defasagem costuma rodar em torno de 10%. A Petrobras n�o deve conseguir segurar essa defasagem por muito tempo sem reajustar os pre�os", diz Miranda, ponderando que o real valorizado em rela��o ao d�lar ajuda a evitar um quadro ainda pior.
Segundo Margato, da XP, alguns setores da economia brasileira podem se beneficiar dessa alta de pre�os das commodities, como o agroneg�cio, que vai vender seus produtos a valores mais altos. Mas o efeito l�quido de uma infla��o maior � negativo para a economia em geral.
"Infla��o mais alta tira poder de compra das fam�lias", diz Margato, destacando a queda da renda dos brasileiros que persiste h� pelo menos seis meses, como resultado da infla��o.
Com a carestia persistente, o Banco Central pode optar por manter os juros altos por mais tempo, o terceiro fator de aten��o para a atividade.
"Nas nossas contas, a Selic chega a 12,75% em junho. Antes, ach�vamos que ap�s as elei��es de outubro, haveria espa�o para o Banco Central come�ar a cortar a taxa b�sica de juros, mas a depender da evolu��o do conflito militar, talvez o Banco Central decida postergar um pouco esse corte. Isso tamb�m significa uma atividade dom�stica mais fraca adiante", afirma o analista da XP.
Por fim, o �ltimo ponto de aten��o nesse novo cen�rio trazido pelo conflito no Leste Europeu � o aumento das incertezas.
"Diante de um quadro de maior percep��o de risco, de um quadro econ�mico mais nublado, isso pode deprimir a confian�a dos empres�rios e postergar decis�es de investimentos. Isso impacta o sentimento econ�mico e pode tamb�m atrapalhar a din�mica da atividade", completa Margato.
Marcos Ross, do Haitong, destaca que tudo vai depender da dura��o da guerra.
"O Brasil n�o � uma economia muito aberta, somos historicamente fechados e muito protecionistas. Ent�o n�o temos uma raiz de crescimento voltada ao com�rcio exterior", observa.
"Agora, se a alta de pre�os de commodities persistir ao ponto de impactar a atividade da China, pode haver um efeito de desacelera��o econ�mica mais complicado."
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