
A situa��o dos motoristas de transporte de passageiros por aplicativo � desesperadora, segundo Paulo Xavier, presidente da Frente de Apoio Nacional ao Motorista Aut�nomo (FANMA). Os trabalhadores est�o gastando mais da metade da renda di�ria na compra de combust�veis. “A situa��o que vinha se arrastando numa equa��o muito dif�cil para o motorista, devido a tantas altas ao longo desses anos, e agora piorou muito. No in�cio das opera��es por aplicativo, o combust�vel significava no m�ximo 20% da receita. Hoje, ultrapassa a 50%. Os motoristas t�m selecionado melhor as corridas. � necess�rio crit�rio que considere valor do quil�metro rodado. Hoje o condutor trabalha mais, alguns chegam a 15 horas por dia, n�o porque estejam ganhando mais, mas para diluir os custos.”

Morador de Contagem, na Grande Belo Horizonte, e motorista de aplicativo h� cinco anos, Veron Guilherme cumpre jornada de 12 horas di�rias. “H� 5 anos a gasolina era 25% da despesa, e hoje est� em 50%. As taxas de aplicativos podem chegar a 40%, dependendo das corridas. A gente depende do usu�rio, portanto a despesa n�o pode ser jogada ao consumidor. Se voc� ganha R$ 200, R$100 v�o para gasolina, R$ 20 para o carro, R$ 15, alimenta��o e o que sobra s�o R$ 65. O usu�rio reclama, mas os motoristas est�o avaliando as corridas, quilometragem, deslocamento."
Jo�o Pedro Costa, de 26 anos, se mant�m na atividade, mas considera que j� n�o compensa. “A gente tem que selecionar muito as corridas. Para cada dez chamadas, atendemos duas que valem a pena. “Piorou muito. Eu colocava R$ 50 de combust�vel, hoje � R$ 150. J� penso em mudar ramo.”
O motoboy Gleisson da Silva Siqueira, de 46 anos, ficou indignado com os reajustes. “A situa��o est� complicada. At� penso em desistir da profiss�o. Com esse aumento do combust�vel, onde vamos chegar? O governo n�o faz nada, ningu�m faz nada, ningu�m agiliza”, afirmou.
Foi o que fez o motorista de aplicativo Farid Mothaw Granja, 36 anos. “Come�ava a trabalhar �s 8 da manh� e parava por volta de 21h, gastando, em m�dia, R$ 120 com gasolina, e pagava R$ 50 de di�ria. Sobravam 60 reais por doze horas di�rias. Desisti de trabalhar com aplicativo de passageiros. Passei a trabalhar com Ifood, com moto. Corro mais risco, mas preferi porque com o aumento de combust�vel ficou impratic�vel”, conta.

J�lio Cezar Barbosa Borges � concession�rio de um t�xi, e diz gastar m�dia que varia conforme o dia da semana entre R$ 80 a R$ 150. “Antes desses aumentos todos eu gastava, em m�dia, um quinto com combust�vel, e, hoje, gasto quase a metade do que fa�o no dia abastecendo. Rodo, em m�dia, 100 quil�metros por dia. Por m�s, tenho um gasto em torno de R$ 2.600 com combust�vel e manuten��o.”
A artes� Raquel Monteiro � usu�ria frequente de transporte por aplicativo e mora em Nova Lima, na Grande BH. Ela notou, nos �ltimos tr�s meses, um aumento da demora pelo servi�o. Quanto a valores diz que n�o notou muita diferen�a. “Apenas em hor�rio de pico os pre�os se elevam, a� eu aguardo uns 10 minutos e solicito novamente. Tem sido recorrente tamb�m o cancelamento de viagens”, afirma.
Em nota, a plataforma POP 99 informou que est� atenta � situa��o do pa�s e tem investido esfor�os e recursos para reduzir o impacto da crise econ�mica global e os consequentes reajustes dos combust�veis, que afetam os motoristas parceiros e a todos. A empresa afirma que o �ndice de cancelamentos na plataforma registrado em todo o Brasil nos �ltimos 12 meses est� abaixo de 5%, “a menor porcentagem do setor”, afirma. A plataforma Uber n�o respondeu � reportagem at� o fechamento desta edi��o.
Empresas de �nibus ter�o escala reduzida
Ap�s os aumentos nos pre�os dos combust�veis anunciados pela Petrobras, as empresas de transporte p�blico de Belo Horizonte divulgaram, ontem, um desabafo, sustentando que o setor enfrentar� o colapso, diante de grave crise financeira. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), o reajuste de 24,9% no pre�o do diesel nas refinarias inviabilizar� toda a atividade, que j� se encontra deficit�rio desde o ano passado.
A entidade afirma que as despesas do transporte p�blico, em janeiro, giraram em torno de R$ 64 milh�es, enquanto a receita foi de R$ 58,9 milh�es proveniente da cobran�a de tarifa dos usu�rios. Hoje, as empresas empregam cerca de 8,5 mil funcion�rios, sendo 5 mil motoristas, na capital. “Os recursos financeiros gerados pelas tarifas cobradas dos usu�rios n�o s�o suficientes para custear o diesel usado na opera��o e pagar a m�o de obra. O aumento divulgado pela Petrobras inviabiliza a continuidade da opera��o”, afirma o presidente do Setra-BH, Raul Lycurgo Leite.
O sindicato enviou of�cios � prefeitura da capital, � BHTrans, empresa respons�vel pela gest�o do transporte p�blico na capital, � C�mara Municipal de BH, ao Minist�rio P�blico e � Justi�a de Minas Gerais como alerta para a gravidade do problema vivido pelas empresas. “Agimos dentro dos limites do contrato. E ele prev� uma revis�o extraordin�ria emergencial quando eventos dessa magnitude ocorrem. Solicitamos uma reuni�o emergencial com a prefeitura para levar a situa��o”, afirma Lycurgo Leite.
O presidente do Setra-BH explica que as tarifas de �nibus n�o s�o reajustadas desde 2018, uma das raz�es apontadas pelo colapso do setor. No ano passado, a PBH conseguiu o desbloqueio de R$ 4,3 milh�es retidos na Justi�a para o custeio de despesas com a folha salarial e diesel.
Lycurgo Leite diz que as empresas n�o v�o paralisar os servi�os, mas atuar�o em escala reduzida. “O contrato prev� que haja reajuste das passagens. Por�m, o poder p�blico pode prever que esse � um evento tempor�rio em raz�o da guerra R�ssia e Ucr�nia e prever um subs�dio tempor�rio. Entretanto, � uma decis�o para as autoridades. As empresas implantar�o plano de guerra para tentar evitar o colapso".
“Para que o plano de guerra seja bem pensado e implantado e para que a popula��o tenha tempo suficiente para ser adequadamente informada, os servi�os permanecer�o com sua viagens e quadros de hor�rios normais at� o final da noite de ter�a-feira, dia 15/03/2022", afirmou o Setra-BH, em nota. A prefeitura de BH foi questionada sobre o problema, mas n�o se posicionou at� o fechamento desta edi��o. (RD)