(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ECONOMIA

Por que o d�lar est� caindo tanto mesmo com guerra e crise econ�mica

Juro alto, for�a das commodities, bolsa barata e sa�da de investimentos da R�ssia ajudam a explicar a queda da moeda americana


23/03/2022 20:39 - atualizado 23/03/2022 20:39

Dólares
Juro alto, for�a das commodities, bolsa barata e sa�da de investimentos da R�ssia ajudam a explicar a queda da moeda americana (foto: Getty Images)
O d�lar tem surpreendido nos �ltimos dias, com uma forte queda em rela��o ao real, mesmo em meio � guerra na Ucr�nia e � alta de juros nos Estados Unidos.

 

Normalmente, esses dois fatores levariam o real brasileiro a perder for�a, devido � avers�o ao risco e � maior atra��o de recursos para a economia americana.

 

Mas a combina��o de Selic em dois d�gitos, commodities em alta, bolsa brasileira barata e sa�da de investimentos da R�ssia e leste europeu rumo a outros mercados emergentes ajuda a explicar como o d�lar, que chegou pr�ximo dos R$ 5,80 em 2021, � negociado agora abaixo dos R$ 5, tendo chegado aos R$ 4,84 nesta quarta-feira (23/3), menor patamar desde mar�o de 2020.

 

Analistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que, com a perspectiva de commodities em alta por mais tempo e de o Banco Central subir ainda mais os juros no Brasil, o real pode continuar se fortalecendo no curto prazo e o d�lar atingir novos patamares de baixa.

 

No entanto, os economistas acreditam que esse movimento n�o deve se sustentar num prazo mais longo. Com a perspectiva de uma alta mais forte dos juros nos EUA e as elei��es em outubro, eles avaliam que o d�lar pode voltar a ganhar for�a mais � frente.

 

Entenda em 4 pontos a queda recente do d�lar em rela��o ao real.

1. Por que o d�lar est� em queda?

Segundo Silvio Campos Neto, economista da Tend�ncias Consultoria, dois fatores principais explicam a recente queda do d�lar em rela��o ao real.

 

S�o eles: a alta das commodities, das quais o Brasil � um grande produtor e exportador mundial, e a Selic (taxa b�sica de juros da economia brasileira) atualmente em 11,75%, com perspectiva de novas altas nos pr�ximos meses.


soja
Brasil exporta commodities agr�colas e minerais, em alta com a guerra na Ucr�nia (foto: Enrique Marcarian/Reuters)

 

"O real vinha muito desvalorizado, mas n�o havia nenhuma grande expectativa de corre��o no curto prazo, ent�o a queda recente do d�lar de fato surpreende", diz Campos Neto.

 

"O primeiro fator que explica isso � o fato de esse ser um ano muito favor�vel �s commodities, movimento que foi refor�ado pelo conflito no leste europeu. Isso deu um g�s nos pre�os de uma s�rie de itens e o real � uma moeda liquidamente beneficiada por esse fator, por ser o Brasil um grande exportador", afirma.

 

O segundo ponto � a forte alta de juros no Brasil, que levou o pa�s a ter atualmente a segunda maior taxa de juros reais do mundo, atr�s apenas da R�ssia (os juros reais consideram a taxa de juros nominal, menos a infla��o), e a quarta maior taxa de juros nominal, atr�s somente de pa�ses com graves problemas econ�micos, como Argentina (42,5%), R�ssia (20%) e Turquia (14%).

"O reposicionamento da taxa de juros para um patamar mais condizente com a nossa realidade permitiu um olhar dos investidores para c�, com isso temos visto um redirecionamento de fluxos [de investimentos] j� desde o in�cio do ano", completa.

 

Soma-se a esses dois fatores uma bolsa brasileira que estava muito barata na compara��o internacional e com diversos pap�is ligados ao setor de commodities, como Vale, Petrobras e as empresas do setor agr�cola.

 

Por fim, h� o fluxo de investidores que deixaram a R�ssia e o leste europeu em meio � instabilidade naquela regi�o, e que encontraram no Brasil uma alternativa de investimento em pa�ses emergentes.

 

"Os dados de fluxo cambial do Banco Central mostram uma entrada de um pouco mais de US$ 10 bilh�es para o Brasil no acumulado do ano", observa Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos.

 

"Isso indica que o investidor estrangeiro volta a olhar o Brasil com atratividade: um pa�s que estava barato, com moeda desvalorizada. Agora, com juros altos e commodities em alta, ele se torna uma refer�ncia para pa�ses emergentes, num momento em que outros emergentes s�o abalados, caso da R�ssia e todos os pa�ses do leste europeu."

2. O d�lar vai cair mais? At� onde ele pode chegar?

Segundo Rocha e Campos Neto, o d�lar ainda pode cair mais sim, no horizonte pr�ximo.

 

"Olhando todos os vetores que est�o puxando o d�lar para baixo, n�o temos ainda perspectiva de uma mudan�a de cen�rio. Os pre�os de commodities continuar�o pressionados e a Selic, por mais que o Banco Central queira j� apontar para um fim do ciclo de alta, ainda n�o d� para escrever em pedra qual vai ser o n�vel final da taxa de juros", observa a economista da Claritas.


Fachada do Banco Central em Brasília
Na �ltima ata do Copom, o BC indicou que pode levar a Selic acima de 12,75%, a depender do que vai acontecer com o petr�leo, que impacta a infla��o (foto: Marcello Casal Jr/Ag. Brasil)

 

Na �ltima ata do Copom (Comit� de Pol�tica Monet�ria), o BC indicou que pode levar a Selic acima de 12,75%, a depender do que vai acontecer com o valor do barril de petr�leo, que impacta os pre�os dos combust�veis no Brasil e, consequentemente, a infla��o.

Nesta quarta-feira, o barril de petr�leo chegou aos US$ 120, num sinal de que a autoridade monet�ria brasileira pode de fato ter que levar a taxa de juros acima dos 13%.

 

Mas at� onde o d�lar pode ir, � dif�cil de prever. A analista da Claritas fala em um limite de R$ 4,70 ou R$ 4,65. J� o economista da Tend�ncias v� um limite de R$ 4,50 ou R$ 4,40, mas avalia que esse n�o � o cen�rio mais prov�vel, pois h� outros fatores em jogo que devem por um freio na valoriza��o do real no horizonte mais longo.

3. A queda do d�lar � sustent�vel?

Num horizonte mais longo, os economistas avaliam que n�o. Provavelmente, com a aproxima��o da elei��o e a alta mais forte de juros nos EUA, esse movimento deve estancar.


Lula e Bolsonaro
Elei��es devem trazer volatilidade ao c�mbio, pois nenhum dos candidatos favoritos � Presid�ncia � percebido pelo mercado como comprometido com uma agenda econ�mica ortodoxa (foto: Ag�ncia Brasil)

 

"Estamos falando de um real valorizado num momento em que o Fed [banco central americano] est� subindo juros e o d�lar se aprecia globalmente. Esse aumento de juros l� fora vai ser mais intenso e isso deve trazer condi��es mais complicadas para fluxo de investidor estrangeiro em emergentes", diz Rocha.

J� as elei��es devem trazer volatilidade ao c�mbio, pois nenhum dos candidatos favoritos � Presid�ncia � percebido pelo mercado como comprometido com uma agenda econ�mica ortodoxa e com reformas para reduzir o gasto p�blico.

 

"Claro que, se tivermos um novo governo indicando uma agenda econ�mica mais ortodoxa e respons�vel, temos condi��es de o c�mbio terminar o ano no patamar atual ou at� um pouco abaixo disso. Mas, diante das possiblidades que est�o atualmente colocadas, h� no m�nimo uma grande incerteza sobre como vai ser a condu��o da economia a partir do ano que vem", diz Campos Neto.

 

Por fim, a guerra segue no horizonte como um fator de incerteza e alguma piora na crise no leste europeu tamb�m poderia levar a um quadro de avers�o ao risco que tire dinheiro dos mercados emergentes, rumo a investimentos mais seguros, o que enfraqueceria o real.

5. Qual o efeito do d�lar em queda para a economia?

A queda do d�lar, caso fosse sustent�vel, poderia trazer algum al�vio para a infla��o, ao compensar parte do efeito da alta das commodities e baratear a importa��o de insumos.

 

Mas Marcela Rocha avalia que n�o � esse o caso.

 

"Para ter um repasse dessa queda do d�lar para a infla��o, seria necess�rio ter visibilidade de que esse quadro vai durar por algum tempo, mas n�o � isso que vemos hoje", diz ela.

 

Na balan�a comercial, Campos Neto acredita que o efeito deve ser pouco para os exportadores — que se beneficiam dos altos pre�os das commodities —, mas pode ser favor�vel para a importa��o de bens industrias, diante da perspectiva de que a economia brasileira ainda deve ter algum crescimento este ano, mesmo que baixo.

 

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)