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Estado de Minas ENTREVISTA

Meirelles: ''Reelei��o de Bolsonaro ser� um desastre para o pa�s''

Ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central avalia que a pol�tica fiscal do atual governo est� deteriorada


02/05/2022 08:08 - atualizado 02/05/2022 08:47

Meirelles sentado gesticula com as mãos
(foto: C.B/ D.A Press)
As mudan�as feitas no teto de gastos, no fim do ano passado, minaram a credibilidade da pol�tica fiscal do atual governo, de acordo com Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, ex-ministro da Fazenda e ex-secret�rio da Fazenda e do Planejamento do estado de S�o Paulo, hoje coordenador do programa econ�mico do pr�-candidato Jo�o Doria (PSDB), ex-governador paulista.

"N�o desestruturou o teto. Desestruturou a pol�tica fiscal", afirma Meirelles, que liderou a equipe respons�vel pela elabora��o da emenda constitucional que criou a regra, em 2016, ao ser questionado sobre a antecipa��o da modifica��o orquestrada pelo governo e aliados no c�lculo no teto. A altera��o deveria ocorrer apenas em 2026, e, combinada com a pedalada dos precat�rios previstos neste ano, abriu mais de R$ 100 bilh�es de espa�o para gastos em ano eleitoral.

Para ele, a pol�tica fiscal foi desmoralizada e a infla��o est� mascarando a realidade, apesar de a equipe econ�mica e o pr�prio ministro da Economia, Paulo Guedes, insistirem no discurso de que o governo n�o abandonou o caminho da consolida��o fiscal. "O teto de gastos continua com a mesma for�a e, agora, evidentemente, a pol�tica fiscal precisa respeitar o limite de gastos. Isso � fundamental", afirma. Ele ressalta que a atual pol�tica fiscal � "expansionista" e o Banco Central est� sozinho no combate � infla��o. Por isso, a carestia persiste afetando o bolso da popula��o.

Meirelles compara a situa��o atual � de 2015, quando a infla��o elevada ajudou a colocar o pa�s em recess�o. No entender dele, a situa��o agora � "similar". "Naquela �poca, a incerteza foi de tal magnitude que levou a uma recess�o. Agora, estamos, simplesmente, em uma estagfla��o: crescimento muito baixo e infla��o elevada", destaca.

Na avalia��o do ex-ministro da Fazenda, ser� um desastre para o pa�s ter mais quatro anos de governo Bolsonaro. "O pa�s iria sofrer muito, caso ocorresse isso. Seria um desastre. E o problema � que a hist�ria nos diz que tudo que est� ruim tem espa�o para piorar mais", diz. "N�s temos que evitar que isso aconte�a, sem d�vida", complementa.

Segundo Meirelles, o Brasil, sim, tem jeito. Como exemplo, cita a gest�o dele � frente do BC, do Minist�rio da Fazenda, e, recentemente, no estado de S�o Paulo, que � respons�vel por mais de um ter�o dos empregos criados no pa�s. "Acredito, sim, que o Brasil pode voltar a crescer e pode voltar a crescer de forma robusta", afirma.

O ex-candidato � Presid�ncia em 2018 pelo MDB e atualmente filiado ao PSD acha que ainda h� espa�o para uma terceira via e a tend�ncia, segundo ele, � de mudan�a do atual cen�rio polarizado, quando a campanha se intensificar e as elei��es se aproximarem. "As pessoas est�o preocupadas com a infla��o, est�o preocupadas com o emprego, est�o preocupadas em comprar, em se alimentar e em conseguir sustentar o consumo de suas casas e das suas fam�lias. O foco na elei��o, hoje, est� muito baixo", frisa.

A entrevista de Meirelles

Meirelles sentado coloca os dedos indicadores pra cima
(foto: C.B/ D.A Press)


O teto de gastos foi adotado na sua gest�o � frente do Minist�rio da Fazenda, em 2016. Hoje, h� uma discuss�o grande, com v�rios candidatos dizendo que, se eleitos, n�o v�o manter o limite para despesas. O atual governo j� mudou muito essa regra. Como o senhor v� essa quest�o? � poss�vel o Brasil, hoje, conviver sem o teto de gastos?
N�o. Acho que, hoje, o teto � t�o importante como era antes, quando fizemos, porque, devido �s incertezas fiscais, inclusive, incertezas em rela��o ao cumprimento do teto e ao compromisso com ele est�o levando a todos esses efeitos do mercado, �s subidas de pre�o do d�lar, que ainda est� em patamar elevado. E tudo isso est� causando essa infla��o que temos hoje no pa�s. � uma situa��o similar, talvez, na mesma agudeza que t�nhamos em 2015. Naquela �poca, a incerteza foi de tal magnitude que levou a uma recess�o. Agora, estamos, simplesmente, em uma estagfla��o: crescimento muito baixo e infla��o elevada. Em uma situa��o como essa, o que � preciso � restaurar a confian�a na pol�tica fiscal, na sustentabilidade fiscal do pa�s a m�dio e longo prazos. E, para isso, � necess�rio restaurar completamente a credibilidade do teto de gastos. N�o � uma op��o. De fato, � uma atitude firme e � exatamente o contr�rio do que os candidatos (� Presid�ncia da Rep�blica) est�o propondo. � preciso anunciar um compromisso firme com o teto de gastos. E, a partir da�, sim, eu acredito que poderemos ter uma restaura��o do n�vel de confian�a, uma queda de indicadores importantes, inclusive, do valor do d�lar frente ao real, e uma confian�a de que a infla��o vai ser controlada. E, com tudo isso, teremos condi��es de restaurar o crescimento do pa�s. Em resumo: temos que fazer exatamente uma restaura��o da credibilidade, da confian�a do teto de gastos. Esse � o caminho.

Esses mesmos candidatos alegam que � poss�vel adotar um outro instrumento fiscal para substituir o teto de gastos. Esse instrumento existe? Qual seria?
N�o existe. (Esses novos instrumentos) s�o exatamente f�rmulas para poder gastar mais, em outras palavras. � o que eles chamam de "ter mais flexibilidade". Flexibilidade (no teto) significa gastar mais. Um exemplo concreto: se fala em abrir exce��o e tirar do teto os investimentos. Mas o caminho n�o � esse. A partir do momento em que se abre espa�o para tirar os investimentos, voc� est� tirando espa�o para o crescimento de despesas obrigat�rias. O que � necess�rio, na realidade, � outra coisa. � respeito ao teto, fazer a reforma administrativa para abrir espa�o para os investimentos. N�o s� investimentos em infraestrutura, mas investimento no social, como, ali�s, fizemos no estado de S�o Paulo. Fizemos uma reforma administrativa rigorosa. E o que aconteceu? Entramos o ano de 2022 com R$ 53 bilh�es em caixa. Ent�o, o estado, no momento, est� executando oito mil obras e, ao mesmo tempo, fazendo programas sociais, como bolsa do povo, vale-g�s, em n�vel estadual, e tudo isso com respeito ao teto de gastos. Portanto, � exatamente o contr�rio. Temos, sim, que fazer as reformas, principalmente, a administrativa. Tamb�m fizemos uma reforma fiscal e uma reforma da Previd�ncia rigorosa (no estado). E, no governo federal, o que tem que ser feito � a reforma administrativa e tocar em frente a reforma tribut�ria que est� no Congresso. Mas n�o a reforma tribut�ria apenas com o Imposto de Renda, mas uma reforma tribut�ria ampla, tal qual foi apresentada pelos estados, por unanimidade. Com isso, sim, ser� aberto espa�o no teto para poder fazer investimentos em infraestrutura e no social. E, ao mesmo tempo, voc� restaura a credibilidade para que os investimentos privados voltem e o pa�s possa crescer, atraindo recursos internacionais. Hoje, existe muita liquidez no mundo, mas que, numa situa��o fiscal de incerteza, (o dinheiro) n�o vem para o Brasil. Temos de criar condi��es para os empres�rios nacionais se sentirem com mais confian�a para aplicar recursos e investir. Esse � o caminho, de respeito ao teto de gastos e de fazer as reformas administrativa e tribut�ria.

As mudan�as feitas pelo governo no ano passado no teto de gastos, alterando a metodologia do c�lculo do limite, n�o prejudicam a credibilidade desse mecanismo? Al�m disso, ao pedalar os precat�rios, o governo criou uma d�vida adicional enorme, que ainda n�o sabemos o tamanho… Esse monte de chamin�s, n�o desestruturou o teto?
N�o desestruturou o teto. Desestruturou a pol�tica fiscal. N�o vamos confundir a desestrutura��o da pol�tica fiscal com a do teto de gastos. Algu�m me perguntou em um evento: 'Mas, com tudo isso que o governo est� falando, o senhor n�o acha que desmoralizou o teto de gastos?' Eu disse: 'N�o. Desmoralizou a pol�tica fiscal'. O teto de gastos continua com a mesma for�a. Agora, evidentemente, a pol�tica fiscal precisa respeitar o teto de gastos. Isso � que � o fundamental.

O governo est� comemorando o forte crescimento da arrecada��o, dizendo que a pol�tica fiscal est� no caminho certo, da consolida��o, mas o que vemos � que muito do resultado positivo que se tem visto � por conta da infla��o. Pol�tica fiscal beneficiada por uma infla��o alta � consistente?
N�o � consistente. Essa foi a pol�tica fiscal que tivemos durante todo o pior per�odo da economia brasileira, o da hiperinfla��o, quando o custo de vida chegou a atingir 2.000% ao ano. Essa era a forma de financiamento do governo. Mas isso desorganizou a economia e o pa�s, como um todo, sofreu com isso. A situa��o tamb�m foi ruim em 2015 e 2016, quando n�s tivemos, isoladamente, uma infla��o elevada diminuindo o deficit p�blico. S� que o pa�s entrou em recess�o. Em resumo: uma infla��o elevada leva a uma recess�o, e n�o resolve o problema.

E acaba criando uma obra de fic��o. T�o logo a realidade cruel chega ou a infla��o cai, vamos ver o desastre, como ocorreu com os bancos que viviam de receita inflacion�ria e quebraram l� atr�s…
Exatamente. Mas a sociedade e o pa�s como um todo j� est�o pagando o pre�o da infla��o alta. Esse � o problema. O que eu acho � que a realidade � ruim. A infla��o mascara, de um lado, as contas p�blicas, porque inflaciona exatamente a receita. Mas, obviamente, acontece isso como resultado da alta nos pre�os. Inflacionando os pre�os, atinge aquilo que a popula��o consome. Ent�o prejudica o consumo e o padr�o de vida das fam�lias. Em �ltima an�lise, desorganiza a economia. Isso � que � relevante. A infla��o tem essa caracter�stica perversa de desorganizar a economia. Ent�o, n�s temos que levar todos esses fatores em conta com muito cuidado, porque tudo isso significa que o efeito l�quido, o efeito final, real, da infla��o � negativo para todos. E o fato � que a popula��o, com isso, perde. E perde muito.

No que o governo est� errando na quest�o da infla��o? O Banco Central promoveu o maior arrocho que j� se viu na taxa de juros desde o in�cio do regime de metas de infla��o, em 1999. De mar�o de 2021 at� esta semana, os juros devem subir mais de 10 pontos percentuais, de 2% para 12,75% ao ano. Por que a infla��o n�o est� caindo?
Porque o Banco Central est� sozinho no combate � infla��o. Est� fazendo a contra��o monet�ria, subindo a taxa de juros, mas, ao mesmo tempo, est� havendo uma expans�o fiscal. Isso � contradit�rio, porque voc� tem duas for�as, de um lado, a pol�tica monet�ria contracionista tentando segurar um pouco a infla��o, e, do outro lado, uma pol�tica fiscal expansionista. Essas duas for�as tendem a se anular. Ent�o, � importante que exista uma consist�ncia, isto �, a pol�tica monet�ria e a pol�tica fiscal atuem na mesma dire��o, como fizemos, por exemplo, em 2016 e 2017, quando t�nhamos uma infla��o elevada e recess�o. O Banco Central aplicou uma pol�tica rigorosa, mas, com o teto de gastos, a expectativa de infla��o caiu rapidamente, e isso, obviamente, fez com que se avistasse, a� sim, a queda da taxa de juros.

O senhor falou que o governo desmoralizou a pol�tica fiscal atual. Isso � resultado do populismo?
Sim. � exatamente isso. Num momento em que se faz essas coisas todas, como mexer no teto de gastos, mudar o per�odo de verifica��o de infla��o para o c�lculo do limite da regra, tudo isso leva a esse efeito. O teto de gastos deixa de apresentar resultados.

O governo, agora, faz expans�o fiscal do lado da receita, reduzindo imposto, j� que a arrecada��o bate recordes. Quais os riscos dessa pol�tica?
Os riscos s�o claros, porque � exatamente o que acontece, em termos cl�ssicos, com infla��o elevada. Tivemos tudo isso durante a hiperinfla��o, e que o Brasil viveu foi um dos piores momentos ao longo da hist�ria, na d�cada de 1980, quando tivemos infla��es elevad�ssimas que, evidentemente, inflacionaram a receita. E o governo, levando isso em conta, come�a a gastar os recursos provenientes da infla��o. Isso agudiza o processo. O que o governo tem que fazer � o contr�rio. Tem que respeitar o teto, e, com isso, permitir que o Banco Central controle a infla��o, e as receitas inflacion�rias, evidentemente, v�o cair. Por outro lado, o respeito ao teto permite um bom equil�brio or�ament�rio e, o mais importante, os investimentos em infraestrutura e no social. Com as reformas tribut�ria e administrativa e a economia organizada, temos condi��es de ter um avan�o nos investimentos privados e no crescimento do pa�s.

O presidente Jair Bolsonaro � candidato � reelei��o. A infla��o de 12% ao ano pode amea�ar a vit�ria dele? Ele tamb�m pagar� o pre�o pela infla��o alta? N�o seria incoerente a popula��o reeleger um governante que foi leniente com a infla��o? 
Esse racioc�nio est� absolutamente correto. Agora, ele est� apostando, evidentemente, que os gastos eleitoreiros v�o compensar o desgaste da infla��o. Uma avalia��o do ponto de vista realista diz que n�o. Mesmo as pessoas que recebem o Aux�lio Brasil t�m o valor desse benef�cio tamb�m erodido pela infla��o. Existe um n�mero vasto de pessoas, a maioria, que n�o recebe o aux�lio. Elas tamb�m est�o tendo os seus rendimentos erodidos pela infla��o. Em resumo: � uma conta perdedora no final. Bolsonaro aposta que o aux�lio, principalmente, em algumas regi�es em que ele est� mais fraco vai lhe permitir a reelei��o. Mas acho que a infla��o vai puni-lo eleitoralmente. Esse � o quadro, e vamos ver como, exatamente, ele vai decorrer nos pr�ximos meses.

Ent�o, o senhor acha que a infla��o pode derrotar o Bolsonaro? 
Acho que sim.

Olhando um pouco para a quest�o da desigualdade, que j� era elevada e aumentou muito com a pandemia, como reduzi-la? Esse fosso entre ricos e pobres s� ser� reduzido em um pr�ximo governo?
Para reduzir a desigualdade, o pa�s tem que crescer e criar empregos. O melhor programa social, o melhor programa de distribui��o de renda, o melhor programa de diminui��o de desigualdade que existe � a cria��o de empregos. N�o tem d�vida. Esse � o caminho para o Brasil.

E o pa�s se desviou desse caminho? 
Pois �. A desigualdade se resolve com duas a��es fundamentais. Primeira, a cria��o de empregos. As pessoas come�am a trabalhar, a ter seus sal�rios, e aqueles que estavam desempregados, onde est� a raiz da desigualdade, melhoram o padr�o de vida. Segunda, educa��o, que � um outro problema que estamos neste momento. Na educa��o voc� tem desde programas de treinamento e de qualifica��o do trabalhador, que aumentam a produtividade a curto prazo e diminuem a desigualdade tamb�m. E, a longo prazo, a educa��o � a verdadeira solu��o para a diminui��o da desigualdade. � preciso aumentar fortemente a efici�ncia, o resultado e a qualidade do gasto em educa��o, al�m dos valores, para que, de fato, tenhamos uma solu��o de longo prazo para o problema da desigualdade. Isso, conjugado com o crescimento econ�mico e gera��o de emprego.


O senhor h� de convir que a educa��o n�o � prioridade do atual governo. Estamos no quinto ministro…
Isso � um problema.

Com rela��o �s propostas dos pr�-candidatos, o l�der nas pesquisas falava em revogar a reforma trabalhista. Agora, diz que vai revis�-la. Como v� isso?
Olha, eu acho que ele est� mal assessorado, certamente. � algo que, num primeiro momento, tem a apar�ncia de que o beneficia eleitoralmente, mas, na verdade, o prejudica. Porque os pr�prios trabalhadores v�o entender que perdem sem a reforma trabalhista, pois aumentam os conflitos, cai mais ainda o emprego e se come�a a ter problemas com os trabalhadores que hoje precisam ser incorporados ao mercado de trabalho, que s�o os de entregas e de compras eletr�nicas. O que se tem que fazer � levar a reforma � frente e n�o voltar atr�s. Isso (revogar a reforma trabalhista) � um erro grande, e � resultado de uma m� avalia��o. 

O senhor fala de levar a reforma trabalhista � frente e incluir os trabalhadores como os de aplicativos. Esse seria o caminho? 
Sim, porque isso est� correto. S�o tipos de ocupa��es e de empregos que n�o existiam quando fizemos a reforma.

O senhor ressaltou a quest�o fiscal de S�o Paulo, que entrou 2022 com mais de R$ 50 bilh�es em caixa e tem feito programas sociais importantes. Sabemos que um ter�o dos empregos que v�m sendo criados no Brasil est�o em S�o Paulo. Por que o ex-governador Jo�o Doria, que � pr�-candidato � Presid�ncia, n�o consegue capitalizar isso e tem uma rejei��o alta, inclusive, no estado que ele governou?
� dif�cil dizer. Eu acho que, com o tempo e o evoluir da campanha eleitoral, isso pode ser esclarecido. A popula��o n�o tem uma vis�o t�o clara dessa realidade. O fato � que tudo isso precisa ser levado, essa informa��o e essa vis�o, para o p�blico mais amplo. E � exatamente o que ser� feito, no devido tempo, com a campanha eleitoral. Ele tem possibilidades grandes de melhorar o desempenho durante o curso da campanha, na medida em que as pessoas, de fato, passarem a prestar a aten��o nas elei��es. O que est� acontecendo � muito simples. As pessoas est�o preocupadas com a infla��o, com o emprego, est�o preocupadas em comprar, em se alimentar e em conseguir sustentar o consumo de suas casas e das suas fam�lias. O foco na elei��o, hoje, est� muito baixo. As pessoas n�o est�o muito preocupadas com isso. Mas, em um certo momento, v�o se preocupar e v�o ter o foco na elei��o. A�, sim, todos esses fatores podem come�ar a ser levados em conta.

Na sua avalia��o, ainda tem espa�o para a chamada terceira via?
Eu acho que sim, exatamente pelo aspecto que eu estou dizendo. O eleitorado n�o est� com a aten��o voltada para a elei��o. Se a pessoa n�o est� pensando nisso e chega o pesquisador e pergunta em quem voc� votaria para presidente hoje, ela fala um dos dois nomes que conhece. Um que j� foi presidente durante muitos anos e o Brasil cresceu naquela �poca e eu fui, inclusive, presidente do Banco Central; o outro, que � presidente agora. A maioria menciona um dos dois e n�o est� acompanhando a campanha e sequer est� informada sobre os candidatos da terceira via. Esse � o ponto fundamental que, eu acho, tende a mudar quando as pessoas tiverem a aten��o voltada para isso.

Jo�o Doria admitiu que pode abrir um di�logo com o PT e at� mesmo ser vice da senadora Simone Tebet (MDB). A prioridade, que ficou clara na avalia��o dele, � derrotar Bolsonaro. Essa tamb�m deve ser a prioridade do pa�s?
De fato, isso � um ponto importante. O pa�s n�o vai bem. O pa�s vai mal, e por diversos aspectos. E falamos aqui de dois aspectos fundamentais. Primeiro: o desenvolvimento econ�mico, seja no crescimento baixo, seja na infla��o elevada, seja no desemprego elevado. E, segundo, o baixo investimento, resultado, em resumo, de uma m� administra��o e de uma m� gest�o. Uma boa gest�o � fundamental para o pa�s. E tudo isso mostra que, de fato, a hora � de mudan�a.

Dado essa quest�o dos conflitos e dos choques das institui��es e das tentativas de minar a democracia, vemos especialistas do seu porte dizendo que, neste momento, n�o tem que olhar para o teto de gastos e reformas, mas se preocupar com a democracia. Nesse sentido, o Brasil aguentaria mais quatro anos de Bolsonaro?
Eu acho que o pa�s iria sofrer muito, caso ocorresse isso. Seria um desastre. E o problema � que a hist�ria nos diz que tudo que est� ruim tem espa�o para piorar mais. Esse � o ponto. N�s temos que evitar que isso aconte�a, sem d�vida.

E em um eventual governo Lula, o senhor voltaria se fosse convidado? O senhor ficou oito anos � frente do Banco Central, um dos mandatos mais longevos…
Foi o mais longevo. Eu tenho uma postura a esse respeito que eu sempre segui em toda a minha vida profissional que � a seguinte: eu n�o tomo decis�o por hip�tese, caso aconte�a. Eu tomo decis�es sobre fatos concretos. Ent�o, no momento, eu n�o penso nisso e n�o vou tomar decis�o frente a uma s�rie de vai acontecer isso ou aquilo. Agora, estou trabalhando na coordena��o do plano econ�mico do Doria. Vamos em frente. No futuro, vamos ver exatamente qual ser� a realidade e tomar as devidas decis�es de acordo com ela.

O Brasil tem jeito?
Certamente. Mostramos isso, por exemplo, n�o s� quando estive no Banco Central e controlamos a infla��o que estava muito alta naquela �poca e equilibramos a situa��o cambial, mas tamb�m, depois, quando assumi o Minist�rio da Fazenda, em 2016. Naquele ano, o Brasil estava em uma recess�o e o PIB brasileiro, de junho de 2015 a maio de 2016, tinha ca�do 5,2%. Tiramos o pa�s da recess�o. De dezembro de 2016 a dezembro de 2017, o Brasil cresceu 2,2%. Ou seja, caiu 5,2% nos 12 meses anteriores at� assumirmos o governo, e, depois que foram aprovadas as medidas fundamentais e durante aquele ano completo em que estivemos no governo com as pol�ticas todas funcionando, o pa�s cresceu 2%. Ent�o, � poss�vel sim. Acredito, sim, que o Brasil pode voltar a crescer, e de forma robusta. Foi um governo muito curto e houve um efeito importante.

Ent�o d� para chamar o Meirelles de novo, citando o lema da sua campanha?
Vamos ver.

Recentemente, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, em uma conversa com empres�rios, disse que a pol�tica monet�ria de Roberto Campos Neto � melhor do que a sua � frente do Banco Central. Pode comentar essa provoca��o?
Olha, acho que o ponto � o seguinte: os n�meros falam por si em rela��o � minha gest�o, ao per�odo em que estive no Banco Central. Se olharmos o per�odo de 2005 a 2010, quando a pol�tica monet�ria j� estava estabelecida, com a meta de infla��o j� fixada em 4,5%, naqueles cinco anos, a infla��o foi exatamente 4,5%. E, durante todo o per�odo em que estive no BC, o pa�s cresceu 4%, na m�dia dos oito anos. Mas, se pegarmos a m�dia de 2005 a 2010, foi 5%. O mais importante, se olharmos a base disso, � que a pol�tica monet�ria e o efeito dela mantiveram a infla��o na meta de 4,5% durante todo o per�odo em que ela foi estabelecida, at� 2010. E a m�dia foi de 4,5%. Acumulamos quase US$ 300 bilh�es em reservas internacionais. Quando assumi, o Brasil devia ao FMI (Fundo Monet�rio Internacional) US$ 30 bilh�es e t�nhamos apenas US$ 15 bilh�es em reservas. Ent�o, os n�meros falam por si. N�o preciso de grandes respostas, porque a realidade j� responde.

Muitos falam que o governo Lula foi beneficiado pela alta dos pre�os das commodities, e que n�o soube aproveitar. As reservas cambiais que temos hoje decorrem disso, certo?
Sim. E mais: a alta da commodities est� acontecendo agora. E isso n�o levou o pa�s �quele crescimento e nem a controlar a infla��o. Nada disso. E (a alta das commodities no governo Lula) foi num per�odo em que enfrentamos a crise de 2008, que foi, �nica, com resultados catastr�ficos no mundo. E enfrentamos com sucesso. Em resumo: houve eventos positivos naquela �poca, e, depois, algo mais forte e negativo, que foi a crise de 2008. E enfrentamos situa��es positivas e situa��es extremamente negativas.


O mundo, hoje, v� o pa�s com muitas reservas. O senhor acha que o mundo vai voltar a comprar o kit Brasil?
No momento em que fa�amos as coisas certas, e o Brasil come�ar a respeitar o teto de gastos, respeitar as regras fiscais, respeitar o meio ambiente, e o governo adotar um discurso consistente em outras �reas, como a quest�o sanit�ria, (o pa�s recupera a credibilidade). Assim que o Brasil voltar a adotar esse discurso, ser� respeitado. No per�odo em que eu estava no Banco Central, a revista The Economist publicou na capa o Cristo Redentor decolando feito um foguete. Ent�o, � poss�vel, perfeitamente. N�s j� fizemos isso e pode ser feito novamente. N�o h� d�vida.

Neste ano, temos uma meta de 3,5%, indo para 3,25% em 2023. Esse objetivo cadente � fact�vel, na atual conjuntura, ou veremos uma revis�o, j� que muitos economistas falam que a infla��o estrutural do Brasil � acima de 4%?
O ponto � o seguinte: � poss�vel ter metas menores. A maioria dos pa�ses emergentes t�m metas de infla��o ao redor de 3%. � fact�vel, n�o h� d�vidas. J� tivemos, inclusive, infla��o ao redor de 3%, quando eu estava no Minist�rio Fazenda. Naquela �poca, a infla��o ficou abaixo do piso da meta (de 3%, em 2017). Ent�o, � absolutamente poss�vel. J� mostramos isso. Basta fazer o que � correto, n�o apenas o correto na pol�tica monet�ria, mas tamb�m o correto na pol�tica fiscal. Isso � que � importante. Como fizemos naquela �poca? Aprovamos o teto de gastos, respeitamos o teto e, ao mesmo tempo, com uma pol�tica monet�ria austera, levamos a infla��o � meta.

Ent�o, o senhor acha que n�o � preciso mudar a meta de infla��o neste ano?
N�o. Mudar a meta de infla��o seria um mau sinal, um sinal de leni�ncia e de conformismo com uma infla��o elevada. O que temos que fazer � um trabalho de restaura��o do teto de gastos e de converg�ncia para a meta. Pode at� fixar, como fizemos em 2003, um programa intermedi�rio de converg�ncia para o objetivo inflacion�rio. Agora, a meta tem que ser mantida.

O senhor j� definiu seu futuro pol�tico? Vai ser vice ao governo de S�o Paulo ou se candidatar ao Senado?
Vou definir nos pr�ximos 30 dias.




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