As estrat�gias do consumidor para driblar a disparada dos pre�os
Consumidores recorrem a h�bitos como compras no atacado ou divididas entre fam�lias para escapar dos reajustes constantes e garantir produtos na mesa
Compras em centros atacadistas, como a Ceasa, s�o op��o para adquirir maiores quantidades de produtos com pre�os menores (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A disparada dos pre�os dos itens essenciais da cesta b�sica em Belo Horizonte e na regi�o metropolitana leva os consumidores a adotarem comportamentos muito comuns nos anos 1980 e 1990, quando o Brasil amargou crise econ�mica e teve perdas inflacion�rias alt�ssimas. A prefer�ncia por atacados e pelo antigo h�bito de dividir compras entre familiares e vizinhos tornou-se necessidade imediata para aproveitar promo��es e driblar os constantes aumentos que caem sobre o bolso.
O consumidor sente de forma imediata a varia��o nos pre�os no pa�s, puxada justamente pela alta nos combust�veis e nos alimentos. No m�s passado, o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, considerado a infla��o oficial do Brasil, fechou em 1,06%, em seu pior resultado no m�s desde 1996. Em 12 meses, o IPCA j� acumula alta de 12,13%. Em Belo Horizonte, de acordo com a Funda��o Ipead/UFMG, o custo da cesta b�sica em abril foi de R$ 716,26, com crescimento de 3% em rela��o a mar�o e equivalente a 59,10% do sal�rio m�nimo.
Cada vez mais assustada com a disparada dos alimentos, a motorista Rosilene de Oliveira, de 37 anos, se habituou a fazer compras para a fam�lia inteira nos atacados. Assim, ela adquire maiores quantidades de �leo de soja, caf�, leite e carnes no geral e em seguida reparte com os parentes. “Precisamos procurar produtos mais baratos, deixar de lado algumas coisas para tentar levar algo melhor para a mesa. � sempre melhor comprar em grandes quantidades para ganhar mais desconto”, afirma.
A comerciante Helena de Oliveira diz aproveitar as promo��es do dia a dia e por quantidade (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O auxiliar de produ��o Jo�o Figueiredo, de 27, se convenceu de que a melhor alternativa era procurar comprar por atacado. Uma vez por m�s, ele faz toda a compra de casa, que pode muitas vezes preservar as constantes idas aos supermercados. “Ultimamente, procuro comprar mais para aproveitar o pre�o melhor e buscar o estabelecimento mais rent�vel. Antes, comprava em outros locais, mas constantemente somos obrigados a mudar o local da compra pela alta dos pre�os. A economia � bem pequena, mas no fim do m�s d� grande diferen�a.”
Em 2022, o IPCA j� registra alta de 4,29%. Os n�meros de abril foram mais elevados do que imaginava o Banco Central, que havia projetado uma infla��o de 3,5%, com margem de erro de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos para todo o ano. Para amenizar o impacto sobre o bolso dos brasileiros, o governo federal aprovou a redu��o do Imposto de Importa��o para alguns produtos de alimenta��o e vergalh�es de a�o. At� 31 de dezembro, foram reduzidas a zero as al�quotas de importa��o sobre carnes de boi desossadas; carne de frango, peda�os e miudezas, congelados; trigo e farinha de trigo; milho em gr�o; bolachas e biscoitos; e outros produtos de padaria, pastelaria e ind�stria de biscoitos.
De acordo com o economista Marcos Taroco, mestre em economia pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), a expans�o do pre�o nos transportes interferiu negativamente nos demais produtos de primeira necessidade dos brasileiros: “Os desajustes nas cadeias produtivas demoram a ser resolvidos, e os alimentos tendem a ser um dos mais penalizados. Ao mesmo tempo, como os combust�veis est�o sendo uma fonte de aumentos constantes, isso encarece em muito o custo do transporte, o armazenamento e outros elementos da cadeia produtiva dos alimentos, al�m dos outros itens de primeira necessidade”.
Ele entende que a alta dos principais alimentos traz � tona o aumento repentino da pobreza no pa�s: “Toda a incerteza criada no contexto da pandemia refletiu-se tamb�m na deprecia��o do real frente ao d�lar. Com a alta perda de poder de compra diante dos elevad�ssimos pre�os da cesta b�sica, o impacto tende a ser maior nas fam�lias de menor renda devido � grande participa��o de produtos b�sicos, como alimentos e bebidas, no or�amento familiar”.
O coordenador de pre�os do IBGE em Minas, Ven�ncio Ot�vio Ara�jo, diz que os fatores geopol�ticos e clim�ticos tamb�m ajudam na ciranda dos pre�os: “A eleva��o dos alimentos b�sicos tem ocorrido de forma frequente nos �ltimos 12 meses. Tivemos o conflito entre R�ssia e Ucr�nia, que influencia nos pre�os dos fertilizantes e encarece a produ��o. Tivemos tamb�m muita chuva em janeiro, o que interfere na produ��o de hortali�as. Com isso, o pre�o � repassado ao consumidor”.
A motorista Rosilene de Oliveira costuma fazer compras maiores para toda a fam�lia para ter desconto (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
Verduras e frutas
Na Ceasa, os clientes tamb�m j� aderem � pr�tica de compras conjuntas de hortigranjeiros. O aposentado Walisson Ferreira, de 45, desloca oito quil�metros para aproveitar promo��es do Mercado Livre do Produtor e dos diversos atacados no local para dividir com os pais, que moram em Contagem. “Fui orientado para vir aqui e comprar em pacotes maiores. Al�m da variedade, vejo como vantagem a quest�o do pre�o. Eles t�m quantidades maiores. Compro doces e outros alimentos em maiores quantidades. Gasto um pouco mais de gasolina, mas tenho quantidade maior em casa.”
Por sua vez, a comerciante Helena de Oliveira, de 58, se anima com a chance de obter descontos maiores nos atacados: “Costumo a aproveitar muitas promo��es do dia a dia, porque vejo que tudo est� muito caro. �s vezes combinamos de comprar em maiores quantidades, porque temos boas promo��es. Aqui, h� muita variedade. Para quem compra muito, vale a pena buscar em locais como esses”.
O aposentado Wallisson Ferreira e Maria L�cia Ferreira foram orientados a buscar pre�os menores na Ceasa (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O supervisor de informa��es de mercado da Ceasa, Ricardo Martins, avisa que � preciso paci�ncia para buscar melhores ofertas: “A dica sempre � aquela antiga: pesquisar bastante e aproveitar as promo��es do varejo. Muitos estabelecimentos fazem promo��es �s quartas e quintas-feiras e as pessoas devem ficar atentas para economizar”.
Segundo ele, houve redu��o de 0,8% dos hortigranjeiros em abril. Na primeira quinzena de maio, as verduras e frutas tiveram queda de 12,5% se comparada ao mesmo per�odo do ano passado. “Mantidas as condi��es clim�ticas mais favor�veis, o pre�o deve cair mais um pouco e a situa��o ser� mais calma”, diz.
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