Infla��o atinge pratos tradicionais da culin�ria de BH
Nos �ltimos 20 anos, pratos bem conhecidos da gastronomia da capital mineira, como o kaol do Palhares e o mocot� do Non�, foram atingidos pela alta dos pre�os
Kaol do Palhares: mesmo com o impacto da infla��o no pre�o, o prato provoca filas de clientes na cal�ada da Rua Tupinamb�s
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Quem mora ou j� visitou as ruas do Centro de Belo Horizonte certamente deve ter experimentado o tradicional kaol do Caf� Palhares, ou mesmo o cafezinho com p�o de queijo do Caf� Nice, ou tomado o caldo de mocot� no Non�.
E tamb�m experimentado o famoso beirute do Xod�, na Pra�a da Liberdade, ou o pastel da pastelaria Mar�lia de Dirceu. Voc� imaginaria que todos esses produtos consumidos h� d�cadas custavam at� quatro ou cinco vezes menos no in�cio do s�culo?
A crise inflacion�ria do Brasil em 2022 n�o s� atingiu a cesta b�sica das fam�lias, mas interferiu diretamente no lazer e no paladar do belo-horizontino ou dos turistas. Num cen�rio de incertezas no pa�s, os estabelecimentos da capital trabalham arduamente para tentar segurar ao m�ximo os pre�os de seus “queridinhos”, e os consumidores tentam economizar para n�o deixar de sabore�-los.
Em dias de semana e aos s�bados, longas filas se formam na cal�ada da Rua Tupinamb�s, 638 para saborear o kaol do Palhares, vencedor do concurso Comida di Buteco deste ano. Em 2002, esse tradicional prato era vendido a R$ 4,90. Hoje, o produto custa R$ 25,90. De acordo com o IBGE, de janeiro de 2002 a abril de 2022, o �ndice de Pre�os ao Consumidor Acumulado (IPCA) chegou a 252%.
Empada do Mercado Central: qualidade do salgado continua falando mais alto que os pre�os e atraindo consumidores
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Fundado em 1938, o Caf� Palhares tem como hist�ria j� ter enfrentado os efeitos econ�micos da Segunda Guerra Mundial, da ditadura militar, do Plano Cruzado, do Plano Collor e o congelamento de pre�os, o que ajudou a garantir solidez financeira e sabedoria para encarar as crises.
O aumento no pre�o dos insumos da cesta b�sica (arroz, feij�o e carnes) � o que mais impacta no pre�o do prato. “A grande maioria n�o deixou de comer aqui, mas a infla��o impacta na margem de lucro. N�o temos como aumentar 40% no pre�o do kaol”, explica o empres�rio Andr� Palhares, um dos administradores do restaurante e caf�, ao lado do pai e do tio, Jo�o L�cio e Luiz Fernando Palhares.
Renato Moura Caldeira, dono do Caf� Nice, um dos mais tradicionais
de BH: em 20 anos, pre�o do caf� subiu de R$ 0,80 para R$ 3
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
Por sua vez, os clientes se mant�m determinados em consumir o kaol. "Conheci o prato atrav�s do meu pai. Mas estamos sentindo na pele essa infla��o. Em rela��o � comida, n�o tem como parar. Todos continuam consumindo. Tem que ser de vez em quando. N�o pode ser sempre", afirma a psic�loga Luana Campos, de 37 anos, que visitou o estabelecimento ao lado das colegas de trabalho Cristiana Coutinho, de 37, e Cleissiene Lima, de 31.
Qualidade N�o � preciso ser belo-horizontino para conhecer o caldo de mocot� do Non�, desde 1964 em atividade. Nos �ltimos 20 anos, o produto teve alta de 650%, passando de R$ 2 para R$ 15. Apesar disso, n�o deixou de ser um dos preferidos dos consumidores. "O caldo do Non� � tradi��o de v�rios anos. Se eu vier no Centro e n�o tomar o caldo, � a mesma coisa de n�o ter vindo. O pre�o aumentou, mas n�o nos impede de vir aqui”, conta a florista Alessandra Souza, de 44.
D�cio dos Santos, propriet�rio do Mocot� do Non�: nem a alta
de 650% no pre�o espanta os fi�is consumidores da iguaria
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS)
No Xod�, o gerente C�sar Viana faz estoques maiores e embalagens menores para tentar reduzir custos e pre�os do beirute e outros produtos
(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)
Um dos propriet�rios do local, D�cio dos Santos diz que o clima atual incentiva mais vendas. “Tentamos novos fornecedores, mas temos que optar pela qualidade e o pre�o. Deixamos o valor mais abaixo mesmo. N�o temos como acompanhar a infla��o. Mas, no frio, as vendas certamente aumentam, o que nos motiva a continuar.”
Na Pra�a da Liberdade, o beirute do Xod�, que comemora 60 anos em 2022, � o queridinho dos turistas que admiram um dos cart�es-postais da cidade. Esse sandu�che, presente h� d�cadas na vida do belo-horizontino, teve alta superior a 200% de 2002 at� hoje – o principal produto custava R$ 9 h� 20 anos, hoje o pre�o � R$ 30.
Como os demais, o estabelecimento n�o repassou a maioria dos aumentos dos insumos para o consumidor nos �ltimos anos e tra�ou estrat�gias para lidar com os per�odos de crise.
“Estamos comprando estoques maiores, diminu�mos algumas embalagens e conversamos com os fornecedores para obter melhores pre�os. Al�m disso, nosso card�pio mudou em 2017, pois sa�mos das carnes industrializadas para as artesanais, o que deixou o produto mais atrativo”, afirma o gerente-geral C�sar Gon�alves Viana.
A gerente da pastelaria Mar�lia de Dirceu, Juliana Bahia, com a p�gina do EM de 20 anos atr�s, quando o pastel custava R$ 0,60
(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS)
Pre�o da farinha encarece o pastel
Um dos produtos mais amados pelos belo-horizontinos, o pastel tamb�m n�o fugiu da crise inflacion�ria, muito em fun��o dos recentes aumentos da carne, do �leo de soja, do queijo, do leite e da farinha, esta uma das vil�s por causa da guerra entre R�ssia e Ucr�nia.
A tradicional pastelaria Mar�lia de Dirceu, fundada em 1992 por cinco irm�s, tentou abdicar ao m�ximo dos reajustes para n�o prejudicar as vendas e os clientes. Uma reportagem do Estado de Minas no in�cio dos anos 2000, emoldurada nas paredes do estabelecimento, mostrava que um pastel custava, em m�dia, R$ 0,60. Hoje, o salgado custa entre R$ 5 e R$ 6.
“A tradi��o nos ajudou a manter o volume de vendas. Sabemos que o consumidor tamb�m est� numa situa��o complicada. Os insumos aumentaram 30% na m�dia, mas repassamos pouco esse valor. Al�m disso, procuramos variar o servi�o, servindo festas e eventos para aumentar o or�amento”, afirma a gerente-geral Juliana Bahia.
Os frequentadores do Caf� Nice, localizado no cora��o de BH e ponto de encontro de pol�ticos e celebridades, tamb�m sentiram no bolso o pre�o do cafezinho.
Desde o ano passado, o caf� teve aumento de 25% em fun��o da valoriza��o do produto e das varia��es clim�ticas. Em 2002, um simples cafezinho custava R$ 0,80, de acordo com o propriet�rio, Renato Moura Caldeira.
Hoje, o cliente paga R$ 3 pelo caf�; com o p�o de queijo, R$ 7. “Tenho dificuldade para dar aumento. Muita gente n�o saiu de casa e continua trabalhando em home office, o que reduz as vendas. Se o empres�rio n�o tiver perseveran�a, n�o prospera”, afirma Caldeira.
Da mesma forma, a empada do Mercado Central tamb�m conviveu com s�rio aumento no pre�o dos insumos. Em 20 anos, ela passou de R$ 1,90 para R$ 5,50.
“A tradi��o, o recheio, a massa, qualidade e atendimento ajudam a ter o nome que ela tem nesses muitos anos de trabalho. O pessoal nos procura, mesmo com a mudan�a dos pre�os”, diz Ros�ngela Gomes Evangelista, de 55, respons�vel pela confec��o das massas.
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