
O caminho que ultrapassa os 600 quil�metros de Ja�ba, no Norte de Minas, at� Belo Horizonte se tornou ainda mais �rduo diante dos constantes aumentos no pre�o do diesel. O longo ch�o a percorrer � um empecilho para quem trabalha diariamente no campo. Para transportar a colheita de bananas caturra e prata at� o Ceasa Minas, na Regi�o Metropolitana de BH, o produtor rural Valmir Marques dos Santos, de 48 anos, viu o pre�o do frete disparar nos �ltimos dias, o que reduziu gradativamente sua margem de lucro com a produ��o.
O drama vivido por Valmir � o mesmo de outros agricultores que dependem de transporte para escoar os hortifrutigranjeiros at� a venda. Os fretes para quem desloca a colheita at� o Ceasa tiveram reajustes entre 40% e 50%. De acordo com a pesquisa do �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, a infla��o do diesel no ano atingiu o patamar de 28,4%.
Nos �ltimos 12 meses, o combust�vel j� acumula alta de 52%. Na esteira do diesel, o pre�o dos demais gastos na agricultura, como adubo, fertilizantes e venenos para pragas, tamb�m se acentuaram, com altas de at� 120% no mercado, em raz�o do conflito entre Ucr�nia e R�ssia.

At� o ano passado, Valmir pagava em torno de R$ 2 mil para trazer em torno de 600 caixas de bananas at� a capital. Hoje, o custo gira em torno de R$ 2,8 mil. “Na semana que vem, nos disseram que ele vai aumentar para R$ 3 mil. Est� muito dif�cil. Por isso, vejo muitos produtores desistirem de trabalhar”, lamenta o produtor.
“O diesel subiu muito, mas nunca conseguimos repassar essa perda para o cliente. Nosso ganho depende muito da oferta do produto. E o sal�rio da popula��o n�o aumentou muito. Por isso, n�o podemos contar com o lucro como era antes”, afirma.
Peso do frete sobre o produtor
Outro agricultor que tamb�m desloca a colheita de Ja�ba at� o Ceasa � Eufr�sio Aparecido dos Santos, de 48, que dedicou boa parte da sua vida na produ��o de mam�o, maracuj�, lim�o, quiabo, manga e mandioca. Al�m de usar seu pr�prio caminh�o, ele gasta com frete terceirizado em torno de R$ 4 mil para transportar os produtos a cada viagem.
Semanalmente, o custo gira em torno de R$ 12 mil. Uma das alternativas para vencer o aumento do �leo diesel e tentar arrecadar mais com a produ��o foi reduzir o n�mero de hectares plantados. “Atualmente, o que mais pesa para n�s s�o os combust�veis e os insumos. Isso encarece demais a produ��o e inviabiliza o trabalho. Por isso, acabamos reduzindo a �rea plantada. Eu reduzo um pouco, outros fazem o mesmo e s� assim conseguimos”.
Em vez de contratar mais funcion�rios, Eufr�sio trabalha com a fam�lia. O pai do agricultor, Walter Paulo dos Santos, de 77, foi o precursor das atividades no campo e hoje a influ�ncia � passada ao filho, Pablo Santos, de 20. “S�o muitos anos trabalhando na terra e jamais vi algo semelhante. O homem do campo nunca passou por tamanha dificuldade para sustentar o neg�cio”, diz Walter.

Natural de Bom Repouso, no Sul de Minas, Sebasti�o Ribeiro de Alc�ntara, de 72, n�o se lembra de pagar um transporte t�o caro como nos dias atuais. Ele dedicou mais de meio s�culo de vida na planta��o de batatas na regi�o de Tr�s Cora��es e hoje desembolsa R$ 3 mil para descolar a colheita at� BH. O pre�o da batata no mercado caiu e o saco � vendido a R$ 30.
“Era hora de ganharmos dinheiro, mas tudo tem subido. Aquele dinheiro que voc� ia receber a mais serve para pagar esses aumentos no pre�o do frete. N�o compensa ter seu pr�prio transporte, porque teria de pagar empregado para dirigi-lo, o que ficaria mais caro”, diz. H� quem optou por comprar um caminh�o para transportar os produtos da lavoura at� os postos de venda, mas quem tamb�m lida com a mesma dificuldade.
"Infelizmente, o custo tem de ser repassado"

O gasto para levar a colheita no caminh�o � acima de R$ 2,5 mil, dos quais 13% s�o acrescidos ao valor vendido no mercado. Apesar disso, ele diz que o cen�rio � de muita luta para evitar preju�zos maiores. “Infelizmente, o custo tem de ser repassado. Quando o produto chega com grande oferta no mercado, o produtor tem de assumir esse repasse, pelo fato de o custo do transporte ser muito alto”, afirma.

Arthur Linhares Pinto, de 59 anos, cuja fazenda fica em Nova Uni�o, a 80 quil�metros da capital, diz que o total de combust�vel gasto inserido no pre�o da colheita das mexericas gira em torno de 10% a 12%.
Com mais de 40 anos de trabalho, ele acredita que o per�odo p�s-pandemia foi muito ruim para quem vive no campo: “Temos que morrer nesse pre�o de custo. A mercadoria sobe no mercado, mas n�o podemos lucrar mais. O mercado consumidor tem, mas o problema � que o poder aquisitivo do povo � pequeno”. Arthur Linhares diz que, na situa��o atual, � muito dif�cil continuar a produ��o. “J� penso em parar. A idade est� chegando e os preju�zos s�o muito grandes.”
Expectativa � espera de redu��o do ICMS
Entidade que representa os produtores de Minas, a Federa��o da Agricultura e Pecu�ria do Estado de Minas Gerais (Faemg) v� com grande expectativa a quest�o do Projeto de Lei 18/2022, sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que limita a aplica��o de al�quotas de ICMS para combust�veis, g�s natural, energia el�trica, comunica��es e transporte coletivo. A entidade considera que a medida pode representar redu��o importante nos custos para o produto.“� uma expectativa importante que precisa ser considerada e pode trazer um alento na quest�o do ICMS, o que beneficiaria os produtores na quest�o dos combust�veis. J� houve queda de 0,64% no IPCA-15 relacionado aos item transportes, mas temos que acompanhar como vai fechar a infla��o, dentro de uma perspectiva de desdobramento do projeto de lei, para ver se haver� redu��o para as refinarias e tamb�m para os consumidores”, ressalta a assessora econ�mica da Faemg, Aline Veloso.

De acordo com ela, a Faemg vem orientando os produtores sobre a melhor forma de cortar custos nas propriedades rurais, compensando as perdas pelo reajuste dos combust�veis.
“Hoje, v�rios produtores usam o diesel como insumo em suas propriedades e tamb�m no transporte. Qualquer reajuste fora do controle do produtor rural impacta na quest�o de custos. Nossa orienta��o � para que ele apure seus custos de produ��o para que obtenha a m�xima efici�ncia em sua atividade. Infelizmente, este controle n�o est� nas m�os”, comenta.