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Estado de Minas NO APERTO

PEC Kamikase deixa uma legi�o de sem-aux�lio

Trabalhadores que sofrem com a crise n�o ter�o o mesmo benef�cio concedido pelo governo federal a caminhoneiros, taxistas e fam�lias j� cadastradas no Cad�nico


31/07/2022 04:00 - atualizado 02/08/2022 08:46

Washington Almeida, que trabalha como chapa na Ceasa
Washington Almeida, que trabalha como chapa na Ceasa, em Contagem, das 4h � meia-noite para ganhar pouco mais de um sal�rio m�nimo por m�s para ele e a esposa, afirma que o aux�lio traria um grande al�vio para o bolso da fam�lia (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )

Pele queimada de sol, corpo suado, trabalho duro di�rio e m�os calejadas. O dia come�a �s 4h para Washington Almeida, de 31 anos, que trabalha como chapa – empregado bra�al que presta servi�os de carga e descarga de caminh�es – na Central de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas), em Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. Todos os dias, ele faz um verdadeiro plant�o por l� e negocia os pre�os direto com os motoristas para tentar levar o sustento de sua fam�lia.

Sempre � disposi��o dos caminhoneiros que precisam de m�o de obra, os chapas n�o entraram na PEC de Benef�cios, que concede aux�lio de R$ 1 mil por m�s aos motoristas de cargas pesadas a partir de agosto. Aprovada recentemente, a proposta, tamb�m apelidada de PEC Kamikaze, tem gerado grande debate e sido descrita como “eleitoreira”, uma vez que amplia programas sociais do governo de Jair Bolsonaro (PL) em pleno ano de elei��es.

Aproveitando uma pausa do trabalho pesado, Washington descansava, na manh� da �ltima quarta-feira, sentado em seu carrinho, que serviu de cama na noite anterior. “T� aqui desde ontem. Cheguei era 4h, trabalhei na parte da manh� e � tarde. S� fui parar por volta da meia-noite. Coloquei meu colch�o em cima do carrinho e dormi. Quando foi 5h da manh� j� estava trabalhando de novo”, conta.

Na profiss�o h� 11 anos, ele diz que j� tem seus macetes para garantir o sustento da fam�lia. “Sempre que preciso j� durmo por aqui. Se fosse voltar pra casa, nem ia dormir e j� teria que vir pra c� de novo. J� tenho um local onde eu guardo o colch�o e as minhas coisas”, relata. Segundo ele, al�m da incerteza do servi�o, sua renda foi duramente impactada desde o in�cio da pandemia de COVID-19 no Brasil. “O mercado enfraqueceu muito. Muita gente deixou de comprar. Se a popula��o n�o compra, n�o tem transporte. Nosso servi�o aut�nomo caiu 50% do que era antes da pandemia”, revela.

Como Washington, dezenas de homens madrugam na Ceasa, todos na expectativa de um bom neg�cio. “Tem que ser r�pido, porque � um servi�o muito pesado. Para ganhar dinheiro tem que levantar cedo”, diz. Todo esse esfor�o para garantir pouco mais de um sal�rio m�nimo no fim do m�s. Ele conta que tentou pegar o aux�lio emergencial no in�cio da pandemia de COVID-19, mas lhe foi negado.

Para ele, que � o �nico respons�vel pelas despesas da fam�lia, ser inclu�do na PEC de Benef�cios traria um grande al�vio para o bolso. “Somos s� eu e a minha esposa, mas as contas ainda ficam muito puxadas. Hoje, uma compra para n�s dois fica na faixa dos R$ 400, sem contar �gua, luz, � muita coisa. O aux�lio pagaria quase uma presta��o da minha casa, ia me ajudar muito”, revela ele, que conseguiu comprar o im�vel pelo programa de habita��o social Casa Verde Amarela, antigo “Minha Casa, Minha Vida”.

Willy Nelson de Oliveira Lobo, de 33 anos, � chapa fichado em uma das empresas da Ceasa. “Fui pegando bico at� aparecer essa oportunidade. � um dos servi�os mais pesados, porque aqui a gente carrega ra��o para cachorro, cavalo. Mas as condi��es de trabalho s�o melhores, porque tem o sindicato n�”, aponta.

Ele pega servi�o �s 7h, mas, muitas vezes, n�o tem hora para parar. “A situa��o aqui todo dia � essa. N�o tem hora de ir embora”, conta. At� o in�cio desse m�s, ele tamb�m era o �nico respons�vel pelo or�amento familiar.

“Minha esposa estava desempregada, mas conseguiu um emprego agora”, conta. Ainda assim, ele diz que qualquer valor de aux�lio do governo j� ajudaria nas despesas de casa. “A compra que eu fazia de R$ 500 no m�s agora � R$ 700, e olha que somos s� eu, minha esposa e nossa filha. O aumento do sal�rio n�o � repassado de acordo com aumento das despesas no nosso dia a dia”, avalia.

PAGANDO PARA TRABALHAR 

O motorista de aplicativo Anderson Ferreira
O motorista de aplicativo Anderson Ferreira reivindica o benef�cio assim como os taxistas t�m direito: "estamos nas ruas da mesma forma", diz (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )


Dirigindo 12 horas di�rias, sem folgar nem um dia da semana, nem mesmo aos domingos ou feriados, o motorista por aplicativo Anderson Ferreira, de 40, diz que as condi��es de trabalho est�o cada vez mais prec�rias. “Come�o por volta das 5h30. Tem hora que a gente fica muito tempo parado, e quando chama � uma viagem ruim. Estamos praticamente pagando para trabalhar. Imagina voc� rodar tr�s quil�metros e receber s� R$ ? Isso sem contar que ainda tem o deslocamento at� o passageiro para depois seguir viagem at� o destino dele”, pontua.

H� seis anos, ele se tornou um dos 600 mil motoristas do Uber do Brasil. Ele conta que as muitas horas em frente ao volante causam dores nos ombros e nas costas ao fim de mais um longo dia de trabalho. “Esse momento est� sendo um dos piores. D� pra levar, d� para pagar as contas, mas falar que estamos ganhando rios de dinheiro, n�o. Estamos apenas pagando as contas”, lamenta.

Anderson e outros motoristas e entregadores por meio de aplicativos tamb�m ficaram de fora da proposta do governo federal, que, por outro lado, concedeu benef�cios mensais aos taxistas cadastrados nas prefeituras. Est�o previstas seis parcelas de R$ 1 mil, que come�am a ser pagas em 16 de agosto, quando v�o receber R$ 2 mil. O aux�lio ocorre somente at� dezembro, assim como o Aux�lio Brasil de R$ 600. Anderson avalia que a categoria � invis�vel aos olhos do poder p�blico.

“Eu acho que tinha que ser igual. O mesmo direito que eles t�m seria bom pra gente tamb�m. Estamos nas ruas da mesma forma que os taxistas”, reivindica. Ele lembra, ainda, que o pre�o do combust�vel est� inviabilizando a profiss�o. “Com a gasolina oscilando de pre�o o tempo todo est� muito dif�cil rodar. No m�s de f�rias, ent�o, o movimento vai l� embaixo e as corridas n�o est�o com valores atrativos”, comenta.

O motoboy Jean Marcel Lana Fortin
Para o motoboy Jean Marcel Lana Fortin, que tem trabalhado mais horas para conseguir sustentar a casa, o aux�lio deveria ser estendido para mais categorias (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )


Trabalhar mais e ganhar cada vez menos se tornou uma realidade para diversos motoboys e entregadores por aplicativos. “N�s fomos muito solicitados no in�cio da pandemia, mas depois deu uma reduzida dr�stica. Tenho trabalhado muito mais horas por dia, mas isso n�o reflete em mais dinheiro no bolso”, aponta o motoboy Jean Marcel Lana Fortini, de 42 anos.

Ele ainda ressalta os gastos com manuten��o veicular e registros s� para conseguir trabalhar. “Tem um monte de coisa que a gente corre atr�s, renovar carteira, placa vermelho, manuten��o da moto, que desgasta bastante com o uso di�rio”, afirma. Para ele, o aux�lio do governo deveria ser estendido a todas as categorias de trabalhadores informais. “N�s tamb�m somos aut�nomos, igual o taxista e o caminhoneiro. Entendemos que eles realmente merecem, mas n�s tamb�m. N�o tem por que ficarmos de fora dessa”, reclama o motoboy.

J� o entregador que usa bicicleta, por sua vez, depende essencialmente da for�a f�sica para trabalhar. Em uma cidade como Belo Horizonte, cheia de morros e sem muitas op��es seguras de travessia, isso � um desafio e tanto.

Ciclistas ouvidos pela reportagem do Estado de Minas relatam fazer jornadas de mais de 12 horas di�rias, muitas vezes sem folgas. “A gente � novo, mas tamb�m temos que ajudar em casa”, conta o entregador de bicicleta Carlos Eduardo Soares, de 18. Trabalhando h� seis meses com entregas, ele costuma pedalar cerca de 60 quil�metros por dia, o que equivale a tr�s vezes a dist�ncia entre Belo Horizonte e Contagem. “Moro com meus pais, ajudo a pagar as necessidades b�sicas, conta de luz, �gua. Ter o aux�lio iria ajudar muito”, comenta.

DESPESAS EM ALTA 

o motorista de ônibus Wantuil Machado Martins
"Mesmo que a gente esteja fichado, as despesas de casa est�o muito caras", diz o motorista de �nibus Wantuil Machado Martins, que tamb�m queria o aux�lio


A rotina dos motoristas de �nibus em Belo Horizonte tamb�m � de cansa�o, estresse e muitas horas de trabalho. Esses profissionais t�m suas necessidades invis�veis para a sociedade. No tr�nsito, s�o encarados como vil�es. Se o �nibus atrasa ou quebra no meio do caminho, � muitas vezes sobre eles que os passageiros descontam sua raiva. “Hor�rio para pegar tem, hora pra parar, n�o. �, em m�dia, oito horas por dia, mas pode ser mais. Depende do percurso, do tr�nsito”, conta Ivaldo Dantas, de 41, que trabalha h� quinze anos como motorista de �nibus.

Com uma express�o cansada, ele diz se sentir muito desvalorizado, at� mesmo pelos passageiros que faltam com educa��o e respeito nas viagens. “N�o � f�cil”, afirma. As condi��es financeiras da profiss�o tamb�m n�o s�o as melhores. “Seria bom ter aux�lio. Mesmo que a gente esteja fichado, as despesas de casa est�o muito caras. N�s temos conta, aluguel, condom�nio. Qualquer valor ajuda”, complementa Wantuil Machado Martins, de 39, tamb�m na profiss�o h� mais de uma d�cada.


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