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Estado de Minas ECONOMIA

Por que PIB cresce mas sensa��o de mal-estar econ�mico persiste

PIB avan�ou 1,2% no 2� tri, mas �ndice de mal-estar com a economia segue pr�ximo do recorde, puxado por infla��o e inadimpl�ncia


01/09/2022 10:09 - atualizado 01/09/2022 11:41


Pessoas recolhem alimentos descartados por vendedores em Belém do Pará
PIB avan�ou 1,2% no 2� tri, mas �ndice de mal-estar com a economia segue pr�ximo do recorde (foto: AFP)

A economia brasileira cresceu 1,2% no segundo trimestre de 2022, em rela��o ao trimestre anterior, acima das expectativas dos economistas, que era de uma alta de 0,9%.

Na compara��o anual, a alta do PIB (Produto Interno Bruto) foi de 3,2%, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) nesta quinta-feira (1/9).

O bom desempenho foi generalizado entre os setores, com altas registradas na ind�stria (2,2%), servi�os (1,3%) e agropecu�ria (0,5%), sempre em rela��o ao trimestre anterior.

Para o ano de 2022 como um todo, os economistas projetam um avan�o de 2,1% do PIB brasileiro, bem acima do 0,3% estimado no in�cio deste ano, segundo o boletim Focus do Banco Central, que re�ne as expectativas de economistas do mercado financeiro.

Apesar desses n�meros positivos, a sensa��o de mal-estar com rela��o � economia persiste entre os brasileiros. E essa n�o � apenas uma impress�o, existe um indicador para medir essa sensa��o, � o chamado "�ndice de Mis�ria".

No segundo trimestre, mesmo com a alta do PIB, o �ndice de mal-estar econ�mico seguiu pr�ximo do recorde, puxado pela infla��o e pela inadimpl�ncia das fam�lias, que mais do que compensaram as melhoras do emprego e da renda no per�odo.

"O PIB deste ano tem previs�o de crescimento da ordem de 2%, o que � pouco tendo em vista o que se perdeu nos �ltimos anos", afirma Jo�o Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

"E PIB n�o faz milagre: a informalidade segue elevada, a renda dos mais pobres segue pressionada pela infla��o de alimentos e a inadimpl�ncia � recorde. Ent�o � natural que as pessoas estejam se sentindo mal em termos de bem-estar. Pelo menos uma grande parte da popula��o", acrescenta o economista.

Entenda por que o PIB est� crescendo mais do que o esperado, mas ainda assim o mal-estar econ�mico se mant�m. E como essa combina��o deve afetar o voto dos eleitores em outubro.

Por que o PIB teve alta no 2º trimestre

Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, diz que tr�s fatores principais explicam o bom desempenho do PIB no segundo trimestre e em 2022 de forma geral.

"O primeiro fator � a reabertura p�s-pandemia que ainda gera benef�cios � economia, puxando segmentos de servi�os, como transportes e armazenagem, servi�os prestados � fam�lia e servi�os p�blicos", enumera Margato.

Um segundo ponto � a recupera��o do mercado de trabalho, que tem superado as expectativas, diz o economista.

At� junho, o pa�s abriu mais de 1,3 milh�o de vagas com carteira assinada, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), e a taxa de desemprego recuou para 9,3%, menor patamar para o segundo trimestre desde 2015, de acordo com o IBGE.

"O �ltimo elemento de destaque s�o os est�mulos fiscais de curto prazo que v�m sendo implementados pelo governo", diz o analista da XP, citando os quase R$ 30 bilh�es em saques extraordin�rios do FGTS liberados no segundo trimestre e medidas de antecipa��o de renda, como o pagamento do 13º dos aposentados em abril e do abono salarial no in�cio do ano.

Julia Braga, professora da Faculdade de Economia da UFF (Universidade Federal Fluminense) destaca ainda um outro fator importante para o avan�o da economia em 2022: a alta de pre�os das commodities, impulsionada pela guerra entre R�ssia e Ucr�nia.


Homem trabalhando na colheita de soja em Salto do Jacuí, Rio Grande do Sul
Crescimento do PIB brasileiro � influenciado pela alta global de pre�os das commodities, diz Julia Braga, professora da UFF (foto: AFP)

"O Brasil � um grande exportador de commodities — petr�leo, produtos agr�colas, metais, min�rio de ferro. Em geral, quando h� um aumento desses pre�os como agora, que � um aumento da magnitude que aconteceu l� na d�cada de 1970, naturalmente esses setores reagem a esse est�mulo", diz Braga, lembrando que isso tem um efeito de "encadeamento" sobre outras atividades, como servi�os de transporte e investimentos em bens de capital.

Os analistas avaliam, por�m, que a economia deve perder for�a na segunda metade do ano, como reflexo da forte alta dos juros no Brasil e da desacelera��o da economia global.

A perda de ritmo, no entanto, deve ser suavizada pelo pacote de benef�cios aprovado pelo governo �s v�speras da elei��o, incluindo o Aux�lio Brasil de R$ 600, vale-g�s, aux�lios para taxistas e caminhoneiros e cortes de impostos para reduzir a infla��o.

Mas ent�o por que o mal-estar econ�mico persiste?

O professor Jo�o Saboia, da UFRJ, explica que o �ndice de Mis�ria � uma boa forma de entender o mal-estar dos brasileiros com a economia.

Tradicionalmente, esse indicador � calculado levando em conta dois fatores que t�m muito mais peso que o PIB no bem-estar das pessoas: a infla��o e a taxa de desemprego.

Mas Saboia, junto ao economista Jo�o Hallak, do Corecon-RJ (Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro), desenvolveu uma nova vers�o do �ndice levando em conta quatro indicadores:

  • infla��o;
  • taxa de subutiliza��o do mercado de trabalho — que al�m do desemprego, considera quem est� trabalhando menos horas do que gostaria, e quem poderia trabalhar, mas n�o est� procurando emprego por algum motivo;
  • rendimento m�dio da popula��o;
  • e taxa de inadimpl�ncia.

A partir da�, os economistas chegam num n�mero que varia de 0 a 100. Quanto mais alto, maior o mal-estar econ�mico da popula��o.

No segundo trimestre deste ano, o �ndice estava em 75,9, quarto pior resultado registrado pelo indicador desde 2012, in�cio da s�rie hist�rica. E muito pr�ximo do recorde de 80,9, registrado no quarto trimestre de 2021.

Para se ter uma compara��o, no quarto trimestre de 2019, antes do in�cio da pandemia, o �ndice de Mis�ria estava em 40,5. Ao fim de 2014, antes da crise que se abateria sobre o pa�s no ano seguinte, o indicador chegou � sua m�nima: 14,7.

Ou seja: mesmo com a alta recente do PIB, o mal-estar econ�mico continua consider�vel. E a infla��o e o endividamento das fam�lias s�o os dois fatores principais por tr�s disso, segundo Saboia.

Infla��o, inadimpl�ncia, informalidade e renda estagnada

Ao reduzir os impostos para combust�veis, o governo federal conseguiu diminuir a infla��o em julho. Mas isso � pouco sentido pela parcela mais pobre da popula��o por dois motivos: a persist�ncia da infla��o elevada h� muitos meses e a alta dos pre�os dos alimentos.

Em julho, mesmo com o IPCA (�ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo) em queda de 0,68% no m�s, a infla��o acumulada em 12 meses seguia acima dos 10% e a alta dos alimentos chegou a quase 15%, com itens b�sicos como batata (67%), leite (66%) e caf� (58%) com varia��es de pre�os ainda mais significativas no per�odo de um ano.

Com a infla��o corroendo a renda das fam�lias, elas ficaram menos capazes de honrar compromissos financeiros. Com isso, tanto o percentual de fam�lias endividadas (78%), como o de fam�lias com d�vidas em atraso (29%) est�o em n�vel recorde, segundo os dados mais recentes da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimpl�ncia do Consumidor).

Saboia cita ainda o avan�o do n�mero de trabalhadores informais no mercado de trabalho.

"H� uma certa badala��o por parte do governo, dizendo que o mercado de trabalho est� indo muito bem. Mas muitos dos empregos gerados s�o informais. Isso por um lado � bom, pois a taxa de desemprego est� menor e as pessoas est�o conseguindo de alguma maneira serem absorvidas no mercado de trabalho, mas muitas delas est�o sendo absorvidas de maneira prec�ria", diz o professor da UFRJ.

Julia Braga, da UFF, destaca ainda a fraqueza da renda, que apesar de uma ligeira melhora em julho, segue muito pr�xima do patamar de dez anos atr�s.


Gráfico de linha mostra evolução da renda média mensal dos brasileiros entre os trimestres encerrados em janeiro de 2012 e julho de 2002
Gr�fico divulgado pelo IBGE mostra a evolu��o da renda m�dia mensal dos brasileiros (foto: IBGE)

"O recente aumento do emprego est� associado a uma renda baixa, corro�da pela infla��o de 2021 e do primeiro semestre de 2022. Num patamar de R$ 2.700, a renda m�dia dos trabalhadores brasileiros � similar � de dez anos atr�s, ela est� praticamente estagnada", observa a professora.

"Isso tudo tem impacto no bem-estar das pessoas, porque a popula��o continua crescendo e os novos postos de trabalho que est�o sendo gerados s�o de baixa renda. Al�m disso, n�o h� uma pol�tica de valoriza��o do sal�rio m�nimo e h� uma piora na distribui��o de renda. Ent�o � um crescimento econ�mico que n�o atinge toda a popula��o, o que fica claro com o aumento da fome."

E como tudo isso afeta a elei��o?

Ent�o temos de um lado: PIB em alta, desemprego em queda e aux�lio de R$ 600 no bolso.

E do outro: infla��o de alimentos persistente, endividamento e n�mero de trabalhadores informais recordes e renda estagnada ao n�vel de dez anos atr�s.

Com a proximidade das elei��es de outubro, a pergunta inevit�vel �: qual o efeito dessa combina��o de fatores no voto do eleitor?

"Se eu pudesse resumir o efeito da economia no quadro eleitoral de 2022, eu diria o seguinte: ela mant�m a viabilidade e a competitividade da candidatura � reelei��o [de Jair Bolsonaro], mas n�o traz um sentimento de continuidade natural para a maioria do eleitorado", diz Rafael Cortez, cientista pol�tico e s�cio da Tend�ncia Consultoria.

"Muito embora haja alguns indicadores de dinamismo da atividade econ�mica, h� algumas caracter�sticas dessa retomada — que s�o um peso relevante da informalidade e um quadro inflacion�rio ainda desafiador — que mant�m uma sensa��o de vulnerabilidade, o que resulta na elevada rejei��o do governo e num sentimento de mudan�a em ano eleitoral. N�o por acaso o ex-presidente Lula aparece sistematicamente � frente das pesquisas."


Cartaz de protesto afixado nas pilastras do Minhocão, no centro de São Paulo, diz CRISE sobre uma imagem de Bolsonaro andando de jet ski. Em frente ao cartaz, pessoas em situação de rua dormem em barracas
Em S�o Paulo, pessoas em situa��o de rua ocupam barracas em frente a um cartaz de protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (foto: AFP)

Cortez observa que a melhora da economia tem sido fundamental para apertar a diferen�a entre os dois candidatos, mas acredita que uma virada dependeria de a campanha do governo conseguir reverter a rejei��o pessoal de Bolsonaro, que tem fatores para al�m da economia, como a dificuldade do presidente junto ao eleitorado feminino e o desempenho na pandemia.

Ele destaca ainda que a recupera��o da economia � muito recente e isso � um dos fatores para o anseio do governo por levar a elei��o para o segundo turno.

"Essa melhora da economia � praticamente um fato novo na campanha. Mas a percep��o disso pela pessoas � um processo lento, que demanda tempo, n�o por acaso o governo faz um esfor�o relevante por um segundo turno, porque ele precisa de tempo para que essa melhora de indicadores se torne um fato pol�tico."

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62747306

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