Marilza, Marizete, C�ntia, Fernanda, Gabriela e Francisco t�m hist�rias que se cruzam em um ponto comum: para n�o passar fome, eles precisam do Aux�lio Brasil. O valor de R$ 600, todos afirmam, � pouco. Mas � essencial para que se mantenham durante o m�s. O Estado de Minas foi �s ruas para ouvir cidad�os que dependem da ajuda do governo federal para conseguir o b�sico para sobreviver. Apesar do relativo al�vio no bolso, os efeitos do aumento do benef�cio, com continuidade prometida pelos candidatos que polarizam as elei��es para a Presid�ncia da Rep�blica, n�o definem o voto dos eleitores ouvidos pela reportagem, que oscilam entre um e outro.
O benef�cio contempla quem est� na extrema pobreza, com renda mensal de at� R$ 100 por pessoa, e em situa��o de pobreza, com renda per capita entre R$ 100,01 e R$ 200. Caso de Fernanda Rodrigues, que vive em Ara�ua�, no Vale do Jequitinhonha, e sustenta filhos e netos, e da dona de casa Marilza de Freitas, de 61 anos, que mora no Aglomerado Santa L�cia, em uma casa simples, com mais tr�s pessoas, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte. Fernanda conseguiu matar a fome da fam�lia. ComoMarilza, que n�o trabalha e recebe o Aux�lio Brasil para dar o que comer aos seus netos, que ficam com ela durante o dia.

T�mida, com poucas palavras, Marilza s� se soltou quando falou do pre�o dos alimentos. Fazendo contas, a dona de casa reclamou que com R$ 600 n�o d� para comprar muita coisa no supermercado. “A gente vai com 100, 200 reais e n�o d� nada n�o. D� para comprar o b�sico, um arroz, uns 60 (reais) de carne”, pontuou.
Sobre o restante de sua alimenta��o, ela agradeceu � Associa��o de Moradores do Aglomerado Santa L�cia. Marilza afirmou que se n�o fosse a cesta b�sica doada pelas ONGs, a situa��o iria apertar ainda mais. Ela ainda ressaltou que se n�o fosse a ajuda externa, o benef�cio do governo n�o seria o bastante para comer durante o m�s todo.
“Se a gente n�o recebesse essa cesta b�sica, n�o daria para passar o m�s. As coisas est�o bem caras. A� abaixa mais a renda. Seria bom se aumentasse”, disse Marilza.
Sua vizinha, a faxineira Marizete Gomes dos Santos, de 46, tamb�m disse que a salva��o do m�s � a cesta b�sica que recebe de projetos sociais. “Se a Associa��o n�o ajudasse, a gente estava perdido", contou.
Marizete ressaltou que as idas ao supermercado est�o cada vez mais escassas. E a culpa � do pre�o alto dos produtos. A substitui��o de alimentos, como a carne, � uma realidade para ela. A faxineira afirmou que s� d� para comer carne de segunda e que, �s vezes, come mistura.

“Quando vou ao supermercado, compro o b�sico. Arroz, feij�o, macarr�o, �leo. De vez em quando, compro um pezinho de galinha com umas misturas. S� d� pra comer carne de segunda, carne de boi n�o. Carne de boi est� cara”, disse.
Ela ainda relembrou a �poca em que recebia o Bolsa Fam�lia, benef�cio de transfer�ncia de renda dos governos Lula (2003 a 2006 e 2007 a 2010) e Dilma (2011 a 2014 e 2015 a 2016) , ambos do Partido dos Trabalhadores (PT). Marizete disse que recebia menos verba do governo, mas que o poder de compra era maior.
“Quando eu recebia o Bolsa Fam�lia, as coisas eram mais baratas, dava para comprar v�rias coisas. Agora aumentou (o benef�cio), mas os pre�os subiram tamb�m. Um litro de leite custa R$ 6. Antigamente, tudo era baratinho. Comprava o leite a R$ 2,50, R$ 1,90. Hoje tudo est� caro. O arroz foi para R$ 40”, desabafou.
A neta de Marizete, que fez 7 anos recentemente, n�o teve festa de anivers�rio. A av� e os pais at� tentaram celebrar, mas os ingredientes para fazer um bolo est�o caros para a realidade da fam�lia. “A crise n�o me deixa comemorar o anivers�rio da minha neta”, disse.
MEDO DA FOME
C�ntia Priscila Martins, de 37, trabalha com capta��o de pessoas para tirar fotos. “Foto na hora, foto! Conhece?”, indagou. Na Pra�a Sete, ela aborda as milhares de pessoas que passam pelas ruas do Centro de Belo Horizonte durante o dia.
E C�ntia reclamou. Sua fonte de renda � o trabalho que exerce na rua. Por�m, para fazer carteira de identidade, a pessoa que tirava as fotos 3X4 necess�rias para a confec��o do documento, agora tem a comodidade de ser fotografada dentro dos Postos Uai. “Eles tiraram o pouco que a gente tinha”, disse.

Com nove pessoas morando na mesma casa, C�ntia precisou recorrer ao Aux�lio Brasil. Mas, ainda assim, afirmou que o valor de R$ 600 n�o est� dando para fazer uma compra completa do m�s. “D� para comprar o b�sico e mesmo assim n�o � tudo. Voc� vai escolhendo algumas coisas e complementa com algum trabalho que faz. E com esse valor n�o d� para comprar mais nada n�o. S� a alimenta��o mesmo e olhe l�. S� o grosso mesmo. A verdade � essa, porque n�o d� para comprar tudo. Est� tudo um absurdo. O �leo foi para R$ 8, R$ 9. Eu j� comprei at� de R$ 12”, relatou.
C�ntia, que j� � av�, contou da dificuldade de suprir a alimenta��o de todas as pessoas que moram na sua casa. Ela disse que percebeu um aumento dos pre�os dos produtos ap�s a pandemia. A mulher entende que muitas empresas entraram em fal�ncia e agora est�o repassando o custo disso para os consumidores, mas, segundo ela, n�o adianta dar um benef�cio de R$ 600 se isso n�o supre a cesta b�sica.
SITUA��O DE RUA
Francisco Jos� dos Santos J�nior, de 40, � pernambucano, mas mora nas ruas de Belo Horizonte. Seu endere�o fixo, afirmou, � na Avenida do Contorno. “Carrego uma coisinha pra l� e outra pra c�”, diz Francisco, conhecido como Pernambuco dos camel�s, j� que essa � a sua ocupa��o. Francisco tem dois filhos morando em S�o Paulo e manda dinheiro para eles todo m�s, mesmo n�o tendo renda fixa. Para ele, o Aux�lio Brasil ajuda muito, nesse sentido. Ele n�o recebe o valor de R$ 600, porque tamb�m conta com o Aux�lio G�s, concluindo em um montante de R$ 710. No entanto, o camel� afirmou que, mesmo recebendo mais e n�o pagando aluguel, n�o d� para consumir alimentos melhores. “D� pra comer direitinho, mas todos os alimentos est�o caros. Arroz, feij�o, tudo. A carne, pior ainda. Tem que comer � ovo, miojo”, disse.
A alta do pre�o dos alimentos � o que mais preocupa Pernambuco. Ele reclamou que, para fazer compras hoje, � preciso ter muito dinheiro, sen�o n�o se leva nada do supermercado.“Vai fazer compra para voc� ver. N�o compra nada. Se for fazer compras, pode ir com a carteirinha recheada, sen�o n�o traz nada”, afirmou.
Gabriela Lopes Gomes, de 38, tamb�m pontuou que n�o tem dinheiro o bastante para fazer a compra do m�s. Ela, assim como Francisco, n�o tem endere�o fixo, e atualmente trabalha como artes� de rua no Centro de Belo Horizonte. Mas � n�made, viaja o Brasil inteiro com a sua arte.
Gabriela disse que, em alguns meses, chega a faltar comida. Ela vive com o marido, que tamb�m � artes�o de rua e cuida de dois cachorros. Mesmo n�o tendo dependentes diretos, o dinheiro do Aux�lio Brasil n�o consegue suprir as necessidades alimentares, pois ela tamb�m precisa comprar os materiais de seus artesanatos.
“Invisto mais em material para poder dobrar (a renda). Mas o aux�lio ajuda. N�o posso reclamar tamb�m, n�? Mas, �s vezes, falta comida sim. Com R$ 100, antigamente, voc� ia no mercado e comprava um monte de coisa. Hoje, n�o d� para nada”, disse.
Recurso n�o define votos para presidente
Apesar das realidades parecidas, as inten��es de voto para as elei��es presidenciais deste ano s�o distintas. O Aux�lio Brasil, que � comum para todos, divide as opini�es sobre os candidatos e, apesar de o aumento ter sido dado no governo atual, o presidente Jair Bolsonaro (PL) n�o � majorit�rio na decis�o dos benefici�rios.
A artes� Gabriela disse que n�o vota h� 15 anos, porque sempre est� em viagem, mas que se fosse votar este ano, o candidato petista seria sua op��o. “Eu votaria no Lula, em rela��o � educa��o e cultura. N�o sei se posso estar sendo alienada, mas no meu ver, na �poca do Lula, tinha muito mais dinheiro no bolso, principalmente para o pobre, n�? E para a popula��o de rua tamb�m”, afirmou.
C�ntia, trabalhadora das ruas da Pra�a Sete, tamb�m afirmou que n�o votaria em Bolsonaro nem se ele aumentasse o valor do benef�cio, pois ela j� tinha a sua decis�o tomada antes.“Se Bolsonaro virar e falar ‘Eu vou dar (aux�lio) de R$ 5mil’, ainda assim, j� tenho outro (candidato) em mente. Posso estar errada com o meu voto, mas n�o quero tentar o novo, porque tenho medo de decep��o com o novo. Eu n�o sei se � burrice, mas a gente quer insistir em uma pessoa que talvez a gente j� tenha um costume. A gente quer permanecer no velho, mesmo que seja voltar para tr�s”, disse.
As vizinhas Marilza e Marizete, do Aglomerado Santa L�cia, ressaltaram que n�o sabem, com certeza, em quem v�o votar, por�m, est�o tendendo a escolher pela reelei��o do presidente Jair Bolsonaro. Marilza disse que deve votar no ex-capit�o pela gest�o que ele fez durante a pandemia. Para ela, os esfor�os de Bolsonaro em entregar o Aux�lio Emergencial, que lhe proporcionou renda de R$ 1.200, foram essenciais para a sobreviv�ncia de sua fam�lia, na qual ningu�m trabalhava na �poca.
“N�o acho o governo ruim n�o, as pessoas falam que est� ruim, mas n�o acho n�o. O que ele pode fazer, ele faz. Na �poca da pandemia, achei a gest�o dele boa, porque ele deu o Aux�lio. Ainda estou pensando, mas meu voto deve ser dele”, afirmou.
J� Marizete, al�m do Aux�lio Brasil, tem outra raz�o para votar em Bolsonaro. Para ela, a escolha � contra Lula. A faxineira disse que n�o vai votar no petista por ter medo de o candidato ganhar e decretar o “banheiro unissex”. Ela n�o quer que a neta dela use o mesmo banheiro que outros homens, conforme viu nas redes sociais que aconteceria caso Lula ganhasse as elei��es. No entanto, o “banheiro unissex” n�o consta no plano de governo do petista.
“Eu n�o sabia em quem ia votar, mas como o Bolsonaro ajudou a gente, vou ter que votar nele, para ele ajudar a gente. Esses tempos pra tr�s, eu estava pensando em votar no Lula. Mas depois que eles estavam falando que as mulheres v�o usar o banheiro dos homens, a� eu fiquei preocupada, porque eu tenho uma neta. Isso est� muito errado”, disse, receosa.
J� Francisco, o morador de rua de Pernambuco, afirmou que n�o decidiu ainda em quem votar. Mas para ele, quem assumir a Presid�ncia vai ter que manter o benef�cio. “Eles v�o ter que resolver, porque o Aux�lio n�o pode acabar”, afirmou. (LP)