Dólar

No mercado de c�mbio, o d�lar comercial � vista fechou o preg�o desta segunda-feira (2) com ganho de 1,47% sobre o real, cotado a R$ 5,3570

Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress

O mercado financeiro iniciou 2023 com uma forte demonstra��o de descontentamento de investidores com o discurso de posse e as primeiras a��es do presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT). A leitura feita por analistas � de que h� sinais claros de que o governo ser� mais intervencionista na economia do que se esperava, com consistente uso de empresas p�blicas.

H� tamb�m piora nas expectativas quanto ao controle dos gastos p�blicos, sentimento que ganhou for�a ap�s o an�ncio da manuten��o da desonera��o por dois meses para gasolina e etanol, e por um ano para diesel, biodiesel e g�s de cozinha.

Os juros futuros fecharam em forte eleva��o, com as taxas DI (Dep�sitos Interbanc�rios) para 2025 saltando de 12,66% para 12,93% ao ano. Nos contratos para 2027, o indicador passou de 12,61% para 12,92%.

No mercado de c�mbio, o d�lar comercial � vista fechou o preg�o desta segunda-feira (2) com ganho de 1,47% sobre o real, cotado a R$ 5,3570. Na Bolsa, o �ndice de refer�ncia Ibovespa caiu 3,06%, aos 106.376 pontos.

 

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Desvaloriza��es expressivas de companhias controladas pelo governo federal respondem por grande parte da perda do Ibovespa nesta sess�o. Pap�is mais negociados no dia, as a��es preferenciais da Petrobras tombaram 6,45%, enquanto as a��es ordin�rias da estatal mergulharam 6,66%. O Banco do Brasil perdeu 4,23%.

Com as principais Bolsas do exterior fechadas devido ao prolongamento do feriado de Ano-Novo, a tend�ncia de queda foi refor�ada devido � aus�ncia do fluxo de investidores estrangeiros, mais otimistas com o novo governo do que os locais, segundo analistas. O baixo volume movimentado tamb�m tornou as oscila��es mais exageradas.

Empresas com grande participa��o do governo, como Banco do Brasil, BB Seguridade, Eletrobras, Caixa Seguridade e Petrobras perderam, juntas, R$ 31,8 bilh�es em valor de mercado nesta segunda, sendo que s� a Petrobras respondeu por R$ 22,76 bilh�es desse total, segundo levantamento da plataforma TradeMap.

Lula fez em seus discursos de posse uma forte defesa do Estado no desenvolvimento econ�mico do pa�s. Ao falar em sess�o no Congresso, citou bancos p�blicos e outras empresas estatais como atores do processo e citou especificamente o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social) e empresas indutoras "de crescimento e inova��o, como a Petrobras".

O presidente assinou ainda no domingo as primeiras medidas na �rea econ�mica, entre as quais uma determina��o para que os ministros tomem provid�ncias para retirar as estatais do programa de privatiza��es.

A medida atinge em especial a Petrobras e os Correios, que estavam em processo para privatiza��o j� sob an�lise de membros do TCU (Tribunal de Contas da Uni�o).

Essa mudan�a de postura quanto � condu��o das estatais � observada por investidores como o encerramento de um programa de desestatiza��o em curso desde a gest�o do ex-presidente Michel Temer (MDB) e que agradava o mercado, segundo Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

"Al�m disso, h� um peso bastante negativo das falas de Lula por conta do papel das estatais na indu��o do desenvolvimento econ�mico, sobretudo dos bancos, como Banco do Brasil, Caixa e do pr�prio BNDES", afirma Pizzani.

"O Estado tem uma fatia de responsabilidade na indu��o de crescimento de uma economia, mas ele n�o deve ser o protagonista do crescimento", diz Vin�cius Teixeira, s�cio da Messem Investimentos.

Analista da Senso Investimentos, Jo�o Augusto Frota afirma que a queda das a��es do BB reflete o fato de o banco ser um indutor de pol�ticas p�blicas no novo governo. "O receito de recrudescer o �ndice de inadimpl�ncia � forte, o que amplia o risco do BB", afirma o analista.

Ele diz ainda que a nova presidente do banco, Tarciana Medeiros, � funcion�ria de carreira e teve pouca influ�ncia na queda das a��es. "O fato � que ela ter� pouca margem de manobra, se quiser manter o cargo, n�o contrariando os interesses iniciais do governo".

H� tamb�m d�vidas sobre como o governo limitar� os gastos, medida apontada como necess�ria para manter o pa�s atrativo para investidores sem a necessidade de ampliar ainda mais o pr�mio de risco, ou seja, os juros da d�vida p�blica.

Nesse sentido, Pizzani avaliou como positivo o compromisso refor�ado pelo ministro Fernando Haddad (PT). Ao assumir a Fazenda nesta segunda-feira (2), ele reafirmou que enviar� ao Congresso Nacional ainda no primeiro semestre a proposta de substitui��o ao teto de gastos.

Na v�spera, durante a posse, Lula chamou o teto de gastos de "estupidez", e disse que ele ser� revogado. A medida j� era prevista pela PEC da Gastan�a, que elevou o teto e permitiu gastos fora dele, mas estabeleceu que o Executivo deve apresentar uma nova regra para as contas p�blicas para substituir o atual.

Rodrigo Moliterno, chefe de renda vari�vel da Veedha Investimentos, afirma que a cr�tica de Lula � �ncora fiscal est� entre os pontos que provocaram maior preocupa��o entre investidores nesta segunda. "Isso d� uma clara no��o de como o governo ir� atuar e, fica claro tamb�m, que n�o h� nenhum apre�o pela quest�o do teto de gastos."

Lula assinou tamb�m a MP (medida provis�ria) que prorroga a desonera��o de combust�veis no pa�s, medida criada por Jair Bolsonaro (PL) em meio ao avan�o dos pre�os do petr�leo e que tinha como prazo 31 de dezembro de 2022.

Analistas avaliaram a decis�o como uma derrota de Haddad, que na semana passada havia solicitado ao governo Bolsonaro que n�o prorrogasse a desonera��o dos combust�veis. "O Lula passou a caneta na frente e prorrogou, sem demonstrar preocupa��o com a quest�o fiscal", disse Moliterno.

Escolhido pelo PT para a presid�ncia da Petrobras, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) afirmou que a desonera��o � v�lida por 60 dias e defendeu a reonera��o em mar�o. Segundo ele, no entanto, para o diesel e o GLP (g�s liquefeito de petr�leo, o g�s de cozinha) est� sendo estudada uma continuidade maior da desonera��o —de seis meses a um ano.

Prates tamb�m disse na �ltima sexta-feira (30) que pretender revisar a pol�tica de pre�os dos combust�veis da estatal, adotada no governo Michel Temer e refor�ada pelo governo Jair Bolsonaro, que prev� o acompanhamento da paridade de importa��o, conceito que simula quanto custaria para importar os produtos.

"A expectativa � que o futuro presidente da Petrobras promova uma redu��o dos pre�os nas refinarias que compense, em parte, o efeito do fim da desonera��o dos impostos federais em determinado momento do governo atual", afirmou Frota, da Senso Investimentos, acrescentando que o presidente Lula frisou que os pre�os v�o cair com a nova diretoria da Petrobras.

Entre a derrota de Haddad quanto aos combust�veis e o tom do discurso de posse de Lula, o segundo � o que mais afetou o humor do mercado, de acordo com Leandro Petrokas, diretor de pesquisa e s�cio da Quantzed.

"Parece que o fato de o Fernando Haddad mostrar fraqueza n�o pesam muito, pois j� era esperado pelo mercado um ministro sem ideias pr�prias, bem como a indica��o de um politico, em vez de um t�cnico, j� sinalizava mais um elo para defender a opini�o do presidente", afirmou Petrokas.

Jo�o Abdouni, analista da INV, tamb�m atribuiu �s declara��es de Lula o fator a exercer o principal peso negativo sobre a Bolsa. "S� podemos imaginar que esse descontentamento do mercado esteja relacionado �s falas de Lula, sobretudo quanto � Petrobras", comentou.

Na esteira do prolongamento da desonera��o dos combust�veis, as a��es da S�o Martinho despencaram quase 11,39%. O grupo produz etanol, que enfrenta concorr�ncia dos combust�veis derivados do petr�leo e, nesse aspecto, � desfavorecido pela redu��o da tributa��o, segundo Heitor Martins, especialista em renda vari�vel na Nexgen Capital.

"� um papel de uma empresa que trabalha com derivados da cana e, no caso dos combust�veis, o etanol. A desonera��o reduz tanto o pre�o da gasolina, quanto o do etanol. Mas em um cen�rio com os dois combust�veis custando menos, � esperado o aumento de demanda por gasolina."

 

BOLSA SOBE MENOS DO QUE A INFLA��O EM 2022, MAS SUPERA EXTERIOR


Na quinta-feira (29), a Bolsa de Valores brasileira fechou 2022 com um ganho acumulado de 4,69%, abaixo da expectativa de infla��o de 5,6% para o ano passado, estimada por analistas consultados pelo Banco Central.

O resultado positivo da Bolsa brasileira superou, por�m, os principais mercados do exterior, castigados pela volatilidade provocada por uma crise inflacion�ria mundial.

O mercado de a��es dos Estados Unidos encerrou na sexta-feira (30) o seu pior ano desde a crise do setor imobili�rio americano de 2008. A r�pida eleva��o da taxa de juros no pa�s, medida adotada para combater a maior infla��o em quatro d�cadas, est� por tr�s desse resultado.

Al�m da concorr�ncia que a renda fixa representa para o mercado de a��es, analistas passaram a temer que o aperto � oferta de cr�dito poder� resultar em uma recess�o global em 2023, o que seria um cen�rio ainda pior para as empresas e isso afugentou ainda mais investidores dos chamados mercados de risco.

Refer�ncia para os pap�is negociados na Bolsa de Nova York, o indicador S&P 500 fechou o ano em queda de 19,5%, o pior resultado anual desde o tombo de 38,5% h� 14 anos.

Com um mergulho ainda maior, o �ndice Nasdaq perdeu 33% neste ano, chegando perto da queda de 40,5% no ano da crise financeira. � neste segmento que est�o as m�dias empresas com grande potencial de crescimento, muitas da �rea de tecnologia. � um setor sens�vel � alta dos juros porque o cr�dito barato se faz necess�rio para a expans�o desses neg�cios.

MERCADO ESPERA AVAN�O DA INFLA��O EM 2023


Analistas consultados pelo Banco Central encerraram 2022 elevando as proje��es para infla��o e prevendo menos cortes para a taxa b�sica de juros neste novo ano, de acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira (2).

O levantamento, que capta a percep��o do mercado para indicadores econ�micos, foi fechado na sexta-feira, dia 30 de dezembro, antes da posse de Lula para seu terceiro mandato como presidente, no domingo.

O Focus apontou que a expectativa � de que o IPCA tenha encerrado 2022 com alta de 5,62%, contra 5,64% antes. Mas para este ano a conta subiu em 0,08 ponto percentual, para 5,31%. Para 2024 tamb�m houve aumento, de 0,05 ponto, para 3,65%.

Em todos os casos, as perspectivas para a infla��o superam o centro da meta para cada ano (3,5% para 2022, 3,25% para 2023 e 3,00% para 2024), sempre com margem de toler�ncia de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

A press�o inflacion�ria levou os especialistas consultados a preverem uma taxa b�sica de juros mais alta este ano, de 12,25% contra 12,00% antes, calculando assim menos cortes para a Selic ante o patamar atual de 13,75%. Para 2024 segue a expectativa de que a taxa encerre a 9,00%.

�tore Sanchez e Andr� Coelho, da Ativa Investimentos, afirmaram em an�lise divulgada nesta manh� que o primeiro Focus de 2023 mostra "uma piora significativa da conjuntura, em especial na continuidade do processo dedesancoragem das expectativas de infla��o para horizontes mais longos".