Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto tem sido alvo de cr�ticas do governo Lula, parlamentares e empres�rios pela decis�o de manter, em mar�o, a taxa b�sica de juros em 13,75%

Sergio LIMA / AFP
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (21/4) que, se os juros n�o estivessem altos no Brasil, a taxa de infla��o ficaria em 10% em 2023, n�o 5,8%, como previsto pelas proje��es.

Ele afirmou ainda que a taxa Selic precisaria estar em 18,75% hoje para frear o aumento de pre�os no pa�s. Campos Neto tem sido alvo de cr�ticas do governo Lula, parlamentares e empres�rios pela decis�o de manter, em mar�o, a taxa b�sica de juros em 13,75% — patamar em vigor desde o in�cio de agosto de 2022. O presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) argumenta que os juros altos emperram o crescimento da economia.

"O Banco Central fez a maior alta de juros num ano de elei��o na hist�ria do mundo. Isso mostra que o BC atua de forma bastante independente. Na pol�tica monet�ria, quando voc� age antes, o custo � menor", disse Campos Neto em palestra na confer�ncia da Lide, em Londres.

"Se a gente n�o tivesse subido os juros, a infla��o n�o seria 5,8%, seria 10% em 2023 e 14% no ano seguinte. E a taxa de juros estaria em 18,75%."

Falando para uma plateia de empres�rios, ex-ministros da Fazenda, ex-presidentes do Banco Central e parlamentares, Campos Neto defendeu repetidas vezes a autonomia do Banco Central.

Segundo ele, embora o "anseio dos juros seja pol�tico" o trabalho do Banco Central "� tecnico".

"O timing t�cnico � diferente do timing pol�tico, por isso a autonomia � importante. O custo de combater infla��o � alto e sentido no curto prazo, mas o custo de n�o combater � mais alto e perene", afirmou.


Ele citou a Argentina como exemplo de pa�s que viu a infla��o ficar descontrolada depois de reduzir juros, abandonar metas de infla��o e retirar a autonomia do Banco Central.

"Ser� que vale seguir sistema de metas? Olhamos pa�ses que tinham sistemas e abandonaram. A Argentina aumentou meta para ter flexibilidade. Depois abandonou o sistema de metas e a autonomia do BC, e a infla��o acelerou", disse.

Para o presidente do Banco Central a taxa Selic alta se justifica porque previs�es econ�micas para os pr�ximos anos no Brasil se deterioraram.

"De novembro para c�, as expectativas come�aram a se deteriorar, tanto para 2025 quanto 2026."

Cr�ticas duras do presidente do Senado

Presidente do Senado Federal Rodrigo Pacheco (PSD-MG)

Presidente do Senado Federal Rodrigo Pacheco (PSD-MG), assim como o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), tamb�m criticou duramente a alta taxa de juros praticada pelo BC

Pedro Gontijo/Senado Federal
Um dia antes, tamb�m durante a confer�ncia da Lide, a alta taxa de juros foi alvo de duras cr�ticas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Diante do presidente do Banco Central, que estava na plateia da confer�ncia, Pacheco afirmou que h� um "consenso" entre o governo federal, o Congresso Nacional e empres�rios de que a taxa de juros precisa baixar.

"N�o conseguiremos crescer o Brasil com taxa de juros a 13,75%. Temos um novo governo com uma forma de pensar ao pa�s, um Congresso que tem suas perspectivas. H� diverg�ncias no meio empresarial. Mas se h� algo que nos une � o desejo de reduzir taxa de juros no Brasil", disse.

"N�s aprovamos a autonomia do Banco Central, que foi fundamental. Mas a perspectiva dessa autonomia � para que o BC n�o fosse suscet�vel a interfer�ncias indevidas. H� um sentimento de que precisamos encontrar caminhos para a redu��o imediata da taxa de juros."

Segundo Pacheco, a redu��o dos juros "� o desejo do Congresso, da economia e do setor produtivo, junto com o arcabou�o fiscal."

Arcabou�o fiscal

Ap�s discursar, o presidente do BC foi perguntado sobre o que acha do arcabou�o fiscal, proposta enviada pelo governo Lula ao Congresso e que vai substituir o teto de gastos. Segundo Campos Neto, o arcabou�o fiscal "vai na dire��o certa", mas ainda pode ser aprimorado pelos parlamentares.

"Pode ser que tenha alguns reparos e melhorias no Congresso. Mas acho que est� na dire��o certa."

Para o presidente do BC, � preciso "melhorar a comunica��o" sobre o potencial do arcabou�o fiscal em conter gastos para que os mercados reajam, melhorem as previs�es econ�micas para o Brasil e permitam redu��es na taxa de juros.

"Temos que explicar melhor, para que expectativa dos mercados melhore. Nenhum banqueiro central gosta de subir juros."

Segundo a proposta do governo federal, no lugar do teto de gastos — que hoje limita o crescimento das despesas � infla��o do ano anterior —, os gastos p�blicos passariam a crescer dentro de um intervalo de 0,6% a 2,5% acima da infla��o, a depender do ritmo de expans�o das receitas.

Campos Neto tamb�m foi perguntado se ele acredita que a autonomia do Banco Central est� amea�ada, j� que ela foi garantida por uma lei aprovada pelo Congresso e poderia eventualmente ser retirada pelos parlamentares.

"N�o acho que est� ama�ada. O debate sobre juros � normal e � meu papel explicar. Estou sempre dispon�vel para explicar o que est� acontecendo. Acho que � importante aumentar a comunica��o."