Uma das medidas apontadas por especialistas para reverter o quadro de baixo crescimento � estimular o empresariado a investir, criando melhores condi��es de produ��o no pa�s
O Brasil perdeu a vantagem do b�nus demogr�fico, que poderia ser uma aliada para acelerar o crescimento sustent�vel no pa�s. O contexto, que descreve o momento em que a popula��o mais jovem em idade de trabalhar � maior do que a de aposentados, representaria um dos motores para o enfrentamento das dificuldades econ�micas atuais. Pelos c�lculos de Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (FGV Ibre), a janela dessa vantagem competitiva do pa�s foi fechada em 2018.
"Se o governo fizer as coisas certas, como manter as coisas boas de reformas realizadas desde 2016 e evitar retrocessos, ele consegue escapar dessa armadilha do baixo crescimento. E, para isso, ser� preciso melhorar a produtividade para conseguir crescer, pois perdeu a janela do b�nus demogr�fico. Agora, o governo est� correto em elencar a reforma tribut�ria como priorit�ria. Essa � a grande reforma", afirma Alessandra Ribeiro.
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, tamb�m faz o alerta sobre a perda do b�nus demogr�fico, pois o pa�s n�o pode mais perder tempo para crescer. "O Brasil entrou em uma situa��o cr�nica e cr�tica que, para reverter, ser� preciso uma mudan�a de ideologia que vai sacrificar uma gera��o. E nenhum pol�tico est� disposto a isso", ressalta.
Um dos principais equ�vocos dos governos petistas foi a Nova Matriz Econ�mica que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tentou implementar sem sucesso em seu governo, avalia Silvia Matos. "Colhemos uma grande recess�o e perdemos muita vantagem competitiva em rela��o aos outros pa�ses", resume ela, em refer�ncia �s quedas do PIB em 2015 e 2016 enquanto o mundo crescia a passos largos.
O professor de Finan�as do Insper, Otto Nogami, lembra que n�o adianta o governo apostar em um pacote de cr�dito com medidas de incentivo ao consumo, como fez no passado, porque a realidade � outra. As fam�lias est�o mais endividadas e esse tipo de medida tem efeitos de curto prazo e que n�o garantem um desenvolvimento sustent�vel.
"Da� vem o termo voos de galinha, porque ocorre um crescimento com um pouco de est�mulo para o consumo. Mas, depois, o PIB volta a recuar ou a ficar negativo. Assim, o impacto dessas medidas de curto prazo, que s�o constantemente utilizadas, fazem com que o PIB gravite em torno de 1% ao ano, na m�dia", explica.
Mudan�a no quadro
Otto Nogami defende que uma das medidas para reverter esse quadro de baixo crescimento � estimular o empresariado a investir, criando melhores condi��es de produ��o no pa�s. "Como consequ�ncia, isso gera mais emprego e mais renda, que gera mais capacidade e consumo, e, consequentemente, mais produ��o. Esse � o chamado c�rculo virtuoso da economia. Mas est� dif�cil de chegarmos a esse ponto", lamenta o acad�mico.
Nogami e Agostini refor�am que ser� preciso um plano estrat�gico bem elaborado e de longo prazo. Mas eles destacam que, at� agora, o governo ainda est� perdido e n�o sabe para onde vai, al�m de acreditar que est� governando apenas para os que defendem a velha e desatualizada cartilha do PT.
"A desindustrializa��o � um problema dif�cil de solucionar, porque o custo do capital no pa�s � elevad�ssimo e o governo insiste em punir o investidor produtivo, pois mant�m a cobran�a do IOF (Imposto sobre Opera��es Financeiras) dos empr�stimos, opera��es de c�mbio para exporta��o, que s� aumentam custo e geram press�es, inflacion�rias", destaca Agostini.
Fatores culturais
Nogami reconhece que outros fatores culturais tamb�m dificultam o crescimento do pa�s. Um exemplo � que, no Brasil, existe uma cultura no mercado financeiro que � motivada pela especula��o, ao contr�rio dos pa�ses desenvolvidos, onde a pessoa f�sica olha para a Bolsa pensando na aposentadoria.
"Aqui, o mercado de capitais � motivado pela especula��o. O comprador de papel n�o tem a preocupa��o de manter as a��es por um per�odo mais longo e n�o olha na capacidade de a empresa obter lucros e distribuir dividendos. Essa � a grande diferen�a entre o investidor de Bolsa brasileira e o de outros pa�ses", diz. "Aqui, pensamos na valoriza��o do papel, o dividendo � secund�rio", emenda.
Outra quest�o cultural nociva para a economia � o fato de os bancos brasileiros praticarem juros extremamente elevados se comparados com os de pa�ses desenvolvidos. Os spreads (que inclui a margem de lucro) banc�rio dos bancos brasileiros s�o absurdamente elevados, o que tamb�m prejudica o desenvolvimento do pa�s, pois o custo de qualquer investimento para uma empresa � proibitivo.
"� preciso mudar essa cultura dos bancos, mas tamb�m a dos pol�ticos brasileiros, porque eles precisam come�ar a se preocupar menos com o interesse individual, que � a reelei��o. Se o governo quer que a taxa de juros fique em outro patamar, ele precisar� dar maior previsibilidade para o Banco Central e para o empres�rio. E, para isso, precisar� de um planejamento de longo prazo, onde vai mostrar para onde o pa�s vai, porque ser� um grande desafio para o Brasil sair dessa armadilha da renda m�dia baixa. Por enquanto, h� muita incerteza e n�o sabemos o que vai acontecer daqui a 45 dias", afirma Nogami.
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