carro chinês sendo construído

Veiculo GWM Haval H6 Premium HEV 2024

GWM/Divulga��o

O andar ocupado pela GWM em um pr�dio da zona sul de S�o Paulo tem mesa de pingue-pongue, m�quinas com petiscos e caf� gr�tis. N�o � nada diferente de outras tantas empresas da regi�o, mas essas comodidades agradam aos funcion�rios chineses.

 

A montadora est� se adaptando aos modos do Brasil, e esse trabalho passa por tropicalizar os escrit�rios. Oswaldo Ramos, o principal executivo da montadora no Brasil e CCO (chefe da �rea comercial) da empresa, fala dessa transforma��o e das expectativas da fabricante no mercado nacional, em que est� investindo R$ 10 bilh�es.

 

Ap�s lan�ar os importados da linha Haval, como o Haval H6, a GWM se prepara para iniciar a produ��o em Iracem�polis (interior de S�o Paulo), na unidade que j� pertenceu � Mercedes-Benz. A data de in�cio ser� anunciada nesta quinta (27), e o primeiro modelo a sair das linhas de montagem deve ser a picape Proer. 

 

 

Folha - O Brasil teve algumas f�bricas de autom�veis fechadas nos �ltimos anos, inclusive a que foi adquirida pela GWM em Iracem�polis. Nesse cen�rio, por que a montadora chinesa decidiu produzir ve�culos no pa�s?

Oswaldo Ramos - O Brasil, independentemente do momento da economia, se tiver um crescimento de PIB mais forte, estar� no top 10 mundial. E se n�o tiver, vai continuar l�. O pa�s sempre ter� um mercado relevante.

 

Folha - A empresa produzir� h�bridos flex. Pretende tamb�m lan�ar modelos h�bridos que combinem apenas eletricidade e etanol?

Oswaldo Ramos - Tecnicamente, o h�brido flex tamb�m � um carro h�brido 100% a etanol. A tecnologia fica at� mais simples se for retirado o restante do software da gasolina. N�o h� obst�culo nenhum, e se for essa a regra do jogo, estamos prontos. Mas � importante definir essa regra.

O que queremos para a sociedade? O que queremos em sustentabilidade? N�o adianta fazer regras de laborat�rio e n�o ser exatamente o que o consumidor quer.

Sabemos que a maioria dos carros flex roda somente com gasolina, e hoje n�o existe nem produ��o suficiente de etanol caso todo mundo vire a chave da noite para o dia. � preciso planejamento, estrat�gia.

 

Folha - E como a montadora v� essa tecnologia?

Oswaldo Ramos - � preciso planejamento de m�dio prazo para aumentar a produ��o de etanol e substituir a gasolina em toda a frota circulante. � uma conta a ser feita, muito mais complexa do que s� o autom�vel. H� todo um ecossistema.

Mas n�s estamos inovando, trazendo um produto para o Brasil que � prioritariamente el�trico, o h�brido plug-in [que pode ser recarregado na tomada] com uma bateria que permite rodar 170 km no modo el�trico.

Para a maioria das pessoas, 80% do uso � nesse modo el�trico. Se precisar, voc� pode utilizar o motor a combust�o. Em termos de tecnologia, h� muitas vantagens para o consumidor e para o meio ambiente.

 

Folha - Mas o h�brido plug-in n�o � um projeto muito caro pelo fato de ter uma bateria bem maior, al�m dos dois motores?

Oswaldo Ramos - Sem d�vida alguma existe um custo, que depende da escala.

 

Folha - E a escala depende do qu�?

Oswaldo Ramos - Se escolhermos que essa � uma op��o tecnol�gica para o Brasil, boa para 80% dos consumidores, concentrarmos investimento na dire��o do h�brido plug-in --que pode ser flex ou a etanol, conforme for a diretriz energ�tica do pa�s-- e conseguirmos escala, � poss�vel viabilizar.

� mais barato, �s vezes, fazer um plug-in h�brido com uma boa bateria do que fazer um carro 100% el�trico com uma bateria ainda maior. Ou, por outro lado, ficar tentando viabilizar o motor a combust�o, seja com combust�vel sint�tico, seja com outras solu��es.

Enxergamos que, para a matriz energ�tica do Brasil, o h�brido flex � uma grande solu��o, olhando pela demanda do consumidor.

 

Folha - Qual � o papel do etanol?

Oswaldo Ramos - Se a gente analisar o ecossistema inteiro, da produ��o ao nosso interesse no meio ambiente, sem d�vida o etanol pode ter um espa�o ainda maior.

A tecnologia nova, a eletrifica��o, n�o vem para substituir o flex ou o etanol. O Brasil tem um espa�o para ser protagonista nessas novas fontes de energia.

O biocombust�vel combinado a um sistema plug-in h�brido � uma solu��o excepcional, mais barata e mais vi�vel do que o carro 100% el�trico, e n�o requer tamanha infraestrutura.

 

Folha - A GWM j� anunciou a produ��o nacional da picape Proer. Ao mesmo tempo, existe a discuss�o sobre retomar a cobran�a do imposto sobre importados el�tricos e h�bridos. H� alguma preocupa��o com esse tema?

Oswaldo Ramos - Investir no Brasil � fazer o plano A, o plano B e o plano C, temos que trabalhar com todos os cen�rios, e estamos prontos para qualquer um.

Ter�amos muito mais investimento, muito mais tecnologia e muito mais op��es se tiv�ssemos um planejamento claro de m�dio e longo prazos, previsibilidade. Quem acaba pagando essa conta � o mercado consumidor.

Se voc� definir a regra do jogo, n�s vamos investir no Brasil, vamos ter dez carros em tr�s anos aqui.

A isen��o que existe no Imposto de Importa��o est� ligada a n�o haver um carro nacional similar. Na hora em que houver, ser� natural que se tenha esse controle, essa barreira alfandeg�ria.

A complementa��o sempre vai ocorrer nos segmentos que s�o mais de nicho, de menor escala. Esses v�o ser importados.

 

Folha - Em rela��o a exporta��es, como a GWM v� as possibilidades? A empresa pensa apenas no mercado da Am�rica Latina ou tem ambi��es de enviar os carros nacionais para Europa e �frica, por exemplo?

Oswaldo Ramos - O Brasil realmente � uma plataforma para a Am�rica Latina e temos at� uma demanda interessante, podendo passar para a Am�rica Central. Mas o pa�s pode ser protagonista em novas energias, e a nossa vis�o de longo prazo vai muito al�m dos produtos que vamos lan�ar no ano que vem.

O h�brido fica mais eficiente se � flex. Temos essa tecnologia, temos como desenvolver o software do Brasil, temos empresas especializadas, temos engenharia, temos o que exportar.

J� o carro 100% el�trico envolve as fontes de energia que o Brasil est� trabalhando, seja e�lica, seja fotovoltaica. Ou seja, o pa�s tamb�m tem protagonismo no carro el�trico.

Olhando a longo prazo, o Brasil pode, sim, ser um polo n�o s� de produ��o de hidrog�nio verde, mas de produ��o de ve�culos movidos a esse combust�vel.

 

Folha - Por qu�?

Oswaldo Ramos - O Brasil � um pa�s em que o transporte da maioria das mercadorias � feito por rodovias, n�o temos ferrovias aqui. Essa aus�ncia � suprida com caminh�es, que � onde o ecossistema de hidrog�nio se paga primeiro, porque se elimina o peso da bateria [de um caminh�o el�trico].

Temos dentro da nossa holding a FTXT, que j� tem rotas de caminh�es na matriz utilizando hidrog�nio. O Brasil tem que olhar no longo prazo, ter estrat�gia e ver qual � o nosso papel para sermos protagonistas.

 

Folha - A empresa pensa em tamb�m atuar no segmento de ve�culos pesados no mercado brasileiro?

Oswaldo Ramos - Hoje a GWM fornece as c�lulas de hidrog�nio [para caminh�es] e seus reatores para tr�s montadoras parceiras. Ou seja, somos tanto fornecedores como podemos ser fabricantes no futuro.

 

Folha - Sobre o retorno dos carros populares: a GWM tem interesse de entrar nesse segmento no mercado nacional?

Oswaldo Ramos - Desde o in�cio, o DNA das marcas que comp�em a GWM s�o SUVs e picapes, e vamos ser fi�is a isso. � a nossa expertise, vamos dar continuidade nesse projeto.

Se houver espa�o para outros nichos vi�veis no Brasil, poderemos, sim, analisar. Mas o plano de hoje � a continuidade em picapes e SUVs.

 

Folha - O que a equipe brasileira tem feito para esclarecer aos chineses as mudan�as de regras que ocorrem no Brasil?

Oswaldo Ramos - Trabalho h� tr�s d�cadas na ind�stria automobil�stica, lidei com v�rias culturas diferentes. A GWM tem uma cultura extremamente curiosa, perguntando e querendo entender.

Na maioria das culturas, o que � bom na matriz tem que ser bom para a filial, e n�o se tem muita voz como Brasil. Mas aqui est� acontecendo exatamente o oposto.

Fizemos um carro de brasileiros para brasileiros, usando a melhor tecnologia que t�nhamos l� na matriz. Eu acredito muito que, quando se fazem as coisas orientadas para o mercado, o destino � o sucesso.

Mas toda essa discuss�o existe, os chineses perguntam muito e, como eu disse, � preciso investir um tempo extra no Brasil e fazer o plano A, o plano B e o plano C, porque os cen�rios podem mudar.

� um trabalho grande explicar que o pa�s tem mudan�as de curto prazo. Neste momento em que temos um governo muito recente, se abre novamente uma janela.

Eu n�o estou dizendo que n�o havia conversa com o governo anterior, eu estou dizendo que a �rea industrial tem uma interlocu��o aparentemente melhor agora.

 

Folha - Parece que a GWM tem conversado muito com Bras�lia.

Oswaldo Ramos - A reindustrializa��o do Brasil � um esfor�o coletivo. Isso independe do momento pol�tico e do ciclo econ�mico. N�s compramos a f�brica da Mercedes no ciclo anterior, tomamos a decis�o de investimento independentemente do governo.

� muito bom, sim, ter uma interlocu��o. Muito antes de falar "vamos brecar a importa��o", falar "como n�s vamos viabilizar a produ��o local?".

H� uma revolu��o acontecendo l� fora, e o Brasil est� assistindo de longe. N�s precisamos trazer essas novas tecnologias, e n�o � com solu��es antigas que o pa�s vai ganhar escala. N�o adianta voltar ao passado.

 

Folha - Ser� que daqui a dez anos veremos montadoras chinesas no top 5 das marcas mais vendidas do Brasil?Oswaldo Ramos - Independentemente da nacionalidade, enxergamos que vai sobreviver quem olhar para o mercado, quem olhar para o consumidor.

Se, como j� ocorreu algumas vezes no passado, os chineses tentarem chegar aproveitando a oportunidade do Imposto de Importa��o, uma taxa de c�mbio favor�vel ou uma sobra de produ��o, isso n�o vai dar certo.

E n�o d� certo para chin�s, n�o d� certo para americano, n�o d� certo para europeu. Se algu�m tentar empurrar a tecnologia que est� sobrando na matriz para c�, isso n�o se sustenta.

E quando vai chegar o carro 100% el�trico nacional da GWM?

Oswaldo Ramos - O 100% el�trico ainda � um nicho, e n�o h� escala para produzir no Brasil. � aquela discuss�o que tivemos anteriormente.

� por isso que a importa��o vem primeiro, para criar o mercado e a infraestrutura. Quando isso acontecer, haver� escala para se produzir no Brasil.

O ponto �: entendemos que o h�brido flex � muito bom para quem roda longas dist�ncias sem acesso a um carregador. J� o h�brido plug-in � excelente para o dia a dia na cidade e, no fim de semana, permite fazer percursos maiores. Ele � flex�vel para os dois ambientes.

Na outra ponta temos o carro 100% el�trico, ideal para quem s� roda na cidade. Mas � a tend�ncia, vai acontecer.

Esse nicho vai virar segmento, por isso � importante come�armos a oferecer esses produtos com uma vis�o de longo prazo. A nacionaliza��o � uma quest�o de escala, de volume.

 

Raio-X

Oswaldo Ramos, 56

Chefe da �rea comercial da montadora chinesa GWM, trabalhou por mais de 30 anos na Ford e teve passagem pela Peugeot. � formado em engenharia de produ��o pela Escola Polit�cnica da USP (Universidade de S�o Paulo).