Reunião de ontem da CPI que investiga o caso: CEO detalhou fraude e afirmou que há indícios de participação das empresas de auditoria

Reuni�o de ontem da CPI que investiga o caso: CEO detalhou fraude e afirmou que h� ind�cios de participa��o das empresas de auditoria

Bruno Spada/C�mara dos Deputaos

 

S�o Paulo e Rio de Janeiro e Bras�lia  –  O CEO da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, apresentou � Comiss�o Parlamentar de Inqu�rito (CPI) que investiga a fraude cont�bil da empresa e-mails e outras trocas de mensagem com supostas provas de que os balan�os da companhia foram intencionalmente alterados para inflar artificialmente os lucros. Ele tamb�m afirmou haver ind�cios de participa��o das empresas de auditoria PwC e KPMG. "Essas informa��es n�o me permitem tratar (o caso) como inconsist�ncias cont�beis", disse Pereira na sua fala inicial na CPI. Um fato relevante publicado ontem pela empresa chamou o caso de fraude pela primeira vez desde que a situa��o veio � tona, em janeiro.

 

Pereira apresentou uma troca de emails com a KPMG nos quais a carta final com as recomenda��es da auditoria � discutida em busca de uma reda��o final. Nessa discuss�o, a auditoria acaba substituindo recomenda��es para o conselho de administra��o por "recomenda��es que merecem aten��o da administra��o". A mudan�a nas palavras diminuiu o grau do problema ao dar a entender que os problemas n�o precisavam ser levados ao conselho de administra��o, inst�ncia m�xima da empresa, e podiam ficar no n�vel da diretoria.

 

Em outra leva de documentos, Pereira apontou uma "carta que d� ind�cios de que a PwC (empresa de auditoria) estava indicando como escrever texto em que o tema risco sacado (mecanismo utilizado para operacionalizar a fraude) n�o ficasse claro". Nos casos envolvendo as auditorias, Pereira ponderou que as informa��es ainda precisavam de mais contexto porque documentos falsificados foram apresentados a elas.

 

O CEO tamb�m apresentou um email enviado pelo ex-diretor Marcelo Nunes, antigo diretor financeiro da Americanas, para toda a ent�o diretoria da companhia. Em um balan�o chamado "vis�o interna", ele mostra um preju�zo antes de juros, impostos, deprecia��o e amortiza��o para 2021 de R$ 733 milh�es.

 

Um outro documento na mesma troca de mensagens intitulado "vis�o conselho" traz um lucro para a mesma rubrica de quase R$ 2,9 bilh�es. Esse foi o n�mero apresentado ao mercado. "Entre a vis�o interna e a vis�o conselho criou-se R$ 3,5 bilh�es de resultados. A fraude da Americanas � uma fraude de resultado". A ci�ncia da diretoria do caso foi evidenciada tamb�m com mensagens em um grupo de WhatsApp com seus integrantes. Nelas, os participantes diziam claramente que se uma alavancagem grande demais fosse apresentada para o conselho "seria morte s�bita".

 

Pereira apontou  tamb�m que a diretoria falsificava documentos solicitados pelas auditorias forjando assinaturas. "A carta falsificada com n�meros inventados eram apostas assinaturas digitais de cartas verdadeiras, fraude que acontece em boa parte das cartas que foram circularizadas para a auditoria", explicou.

 

LeiaAmericanas tem quase R$ 300 milh�es em a��es na Justi�a do Trabalho, segundo plataforma especializada 

Fatos relevantes

Em janeiro deste ano, a Americanas divulgou em fato relevante ter encontrado "inconsist�ncias cont�beis" da ordem de R$ 20 bilh�es em seus balan�os. O movimento foi seguido pela sa�da do ent�o CEO, Sergio Rial, que estava havia menos de um m�s no cargo. Pereira assumiu o posto em fevereiro, j� durante arecupera��o judicial da companhia.

 

Ontem, a varejista assumiu pela primeira vez que houve uma fraude baseado em relat�rio feito a partir de documentos do comit� de investiga��o independente, criado no final de janeiro. O relat�rio aponta que a fraude ocorria na suposta contrata��o de b�nus junto � ind�stria – quando fabricantes d�o descontos para grandes encomendas, que o relat�rio apontou como "contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC)".

 

Os descontos n�o ocorreram de fato. Com as supostas negocia��es vantajosas, a companhia melhorava o seu balan�o. Por outro lado, para cumprir o pagamento aos fornecedores, a diretoria anterior contratou empr�stimos sem o conhecimento do conselho de administra��o, o que aumentou o seu passivo, irregularmente contabilizado, diz o documento.

 

Segundo a Americanas os  supostos fraudadores s�o todos ex-diretores que foram afastados em fevereiro, 23 dias ap�s a divulga��o do esc�ndalo cont�bil, em 11 de janeiro, al�m de Miguel Gutierrez, que por 20 anos comandou uma das maiores varejistas do pa�s.  O texto afirma que Gutierrez se desligou da companhia em 31 de dezembro, ocasi�o em que Sergio Rial, ent�o presidente do conselho do Santander Brasil, assumiu o controle da varejista. Todos os outros executivos estavam afastados desde 3 de fevereiro e ser�o desligados. Tim�theo de Barros (vice-presidente, respons�vel por lojas f�sicas, log�stica e tecnologia), por�m, comunicou sua ren�ncia em 1º de maio, segundo a Americanas.

 

Aindas segundo o fato relevante, o Conselho de Administra��o n�o sabia da fraude. O conselho � formado pelos representantes dos acionistas de refer�ncia da empresa, que eram os controladores da varejista at� o final de 2021: Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, s�cios na empresa de private equity 3G. Est�o no conselho hoje o pr�prio Sicupira, Paulo Alberto Lemann (filho de Jorge Paulo); Cl�udio Moniz Barreto Garcia e Eduardo Saggioro Garcia. (Folhapress)

 

 

Bloqueio � venda de a��es

 

A Americanas confirmou em comunicado � Comiss�o de Valores Mobili�rios (CVM) que as negocia��es com bancos credores incluem uma cl�usula que impede que seus acionistas de refer�ncia vendam suas a��es por um determinado per�odo, ainda indefinido.  Os acionistas de refer�ncia s�o o trio de bilion�rios Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.

 

No comunicado � CVM, a Americanas diz que a implanta��o de uma cl�usula de "lock-up", como � conhecido o impedimento para venda de a��es, � parte "de uma negocia��o mais ampla" com credores.  O lock-up j� teria sido aceito pelo trio, mas ainda n�o foi batido o martelo sobre o per�odo, segundo fontes pr�ximas aos credores.