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Estado de Minas ENSINO AFETADO

Educa��o: mais de uma em cada dez crian�as e adolescentes n�o frequenta escola no Brasil, revela estudo

'Os alunos n�o s�o apenas n�meros', diz coordenadora de escola que conseguiu reverter crise de evas�o dos estudantes no interior da Para�ba.


15/09/2022 19:02 - atualizado 16/09/2022 11:26


Alunas em sala de aula
Cerca de 2 milh�es de crian�as e adolescentes entre 11 e 19 anos est�o fora da escola (foto: TANIA REGO - AG BRASIL)

Nadi Pereira Mendes � coordenadora pedag�gica da Escola Cidad� Integral Mestre J�lio Sarmento em Sousa, no interior da Para�ba, desde 2017. Boa parte do seu trabalho nos �ltimos anos foi dedicado ao combate � evas�o escolar.

Ela afirma se sentir muito orgulhosa todas as vezes que reencontra um ex-aluno que se formou no Ensino M�dio na institui��o ap�s receber apoio e ser incentivado a n�o desistir da escola.

"Os alunos que encontram dificuldades para permanecer na escola precisam de ajuda. E essa ajuda pode vir por meio de uma palavra de incentivo e da eleva��o da auto-estima, mas �s vezes o que faz a diferen�a s�o as condi��es materiais e sociais mesmo", afirmou a coordenadora � BBC News Brasil.

A escola de Nadi � considerada modelo no combate ao abandono da educa��o b�sica e �s faltas excessivas de alunos e alunas.

H� menos de sete anos, a escola terminava alguns anos letivos com at� 20% de evas�o, segundo a coordenadora. Atualmente, a taxa est� em menos de 2% e h� fila de espera para matr�culas.

Para reverter a situa��o, a coordenadora e os demais funcion�rios da escola de Ensino M�dio seguem, desde 2017, um modelo que combina escuta atenta e individual aos estudantes, di�logo com as fam�lias e busca por parcerias com outras redes p�blicas, como de sa�de e servi�o social, para ajudar a acabar com os obst�culos que mantinham os alunos longe do col�gio.

"Fazemos um controle pr�ximo das presen�as e quando notamos que um aluno est� muito ausente buscamos a fam�lia por telefone. Se n�o conseguimos contato assim realizamos a busca ativa nas casas dos estudantes", diz Nadi.

"Quando as fam�lias e os pr�prios alunos passaram a acreditar mais no seu potencial e perceberam que podiam contar com a escola para ajudar a resolver alguns de seus problemas em casa, houve uma transforma��o."

Durante a pandemia de covid-19, a escola forneceu tablets para os alunos que n�o tinham acesso a computadores ou celulares assistirem �s aulas online. "Garantimos que aqueles que n�o tinham acesso � internet recebessem todas as atividades impressas", diz.

"E n�o podemos ver os alunos como apenas n�meros. Mesmo depois que ele retorna, temos que garantir uma educa��o de qualidade e dar aten��o para garantir que ele fique."

Mas o retrato da educa��o p�blica no Brasil como um todo � de crise. Um estudo in�dito, realizado pelo Ipec para o Unicef, revela que mais de uma em cada dez meninas e meninos de 11 a 19 anos (11%) n�o est�o frequentando a escola no pa�s.

A porcentagem � equivalente a cerca de 2 milh�es de crian�as e adolescentes da rede p�blica de ensino nesta faixa et�ria.

Essa foi a primeira vez que Unicef e Ipec se juntaram para fazer a pesquisa e, portanto, n�o h� n�meros de outros anos para compara��o. Dados da Pnad Educa��o de 2019, por�m, indicam que naquele ano quase 690 mil crian�as e adolescentes entre 11 e 17 anos estavam fora da escola.

"O pa�s est� diante de uma crise urgente na educa��o. H�, pelo menos, 2 milh�es de meninas e meninos fora da escola, somente na faixa et�ria de 11 e 19 anos. Se incluirmos as crian�as de 4 a 10 anos, o n�mero certamente � ainda maior. E a eles se somam outros milh�es que est�o na escola, sem aprender, em risco de evadir. � urgente investir na inclus�o escolar e na recupera��o da aprendizagem", afirma M�nica Dias Pinto, chefe de Educa��o do Unicef no Brasil.


Aluna preenche quadro de frequência na Escola Cidadã Integral Mestre Júlio Sarmento
Escola Cidad� Integral Mestre J�lio Sarmento usa quadro de frequ�ncia preenchido pelos pr�prios alunos para combater faltas (foto: Arquivo pessoal)

Desigualdades e obst�culos

Realizada em agosto deste ano, ouvindo crian�as e adolescentes de todas as regi�es do pa�s, a pesquisa divulgada pelo Unicef nesta quinta-feira (15/9) mostra que a exclus�o escolar afeta principalmente os mais vulner�veis. Na classe AB, 4% dos entrevistados n�o est�o frequentando a escola e, na classe DE, o percentual chega a 17% - ou seja, quatro vezes maior.

Entre quem n�o est� frequentando a escola, metade (48%) afirma que deixou de estudar "porque tinha de trabalhar fora".

Dificuldades de aprendizagem aparecem em segundo lugar, com 30% afirmando que saiu "por n�o conseguir acompanhar as explica��es ou atividades". Em seguida, 29% dizem que desistiram pois "a escola n�o tinha retomado atividades presenciais" e 28% afirmam que "tinham que cuidar de familiares".

Aparecem na lista, tamb�m, temas como falta de transporte (18%), gravidez (14%), desafios por ter alguma defici�ncia (9%), racismo (6%), entre outros.

Mesmo entre os estudantes que est�o na escola atualmente, a evas�o � um risco real. Segundo a pesquisa, nos �ltimos tr�s meses, 21% de quem est� na escola pensou em desistir dela. Entre os principais motivos est� o fato de n�o conseguir acompanhar as explica��es ou atividades passadas pelos professores — item citado por 50% dos que pensaram em desistir.

M�nica Dias Pinto chama aten��o ainda para a desigualdade que est� refletida em alguns dos dados coletados pela pesquisa.

"Observamos que normalmente as taxas de abandono, evas�o e repet�ncia t�m maior recorr�ncia em determinadas popula��es, entre elas de quilombolas e ind�genas, em �reas rurais ou entre pessoas com defici�ncia", diz.


Lousa
Pesquisa mostra que ainda h� escolas fechadas, apenas ofertando aulas remotas, no Brasil (foto: MARCOS SANTOS/USP IMAGENS)

Dias Pinto cita ainda a necessidade de abordar as desigualdades raciais e regionais quando s�o elaboradas solu��es para o problema da evas�o escolar.

Entre as crian�as e adolescentes que est�o na escola, 46% disseram ter se sentido despreparadas para acompanhar as atividades escolares no retorno para o presencial ap�s a pandemia de covid-19, contra 44% que disseram discordar da afirma��o.

Mas quando comparadas as respostas de alunos negros e brancos, 39% das crian�as e adolescentes brancas disseram sentir despreparo, enquanto 50% das negras concordaram com a afirma��o.

A pesquisa mostra tamb�m que ainda h� escolas fechadas, apenas ofertando aulas remotas, no pa�s. Enquanto 92% dos estudantes dizem que sua escola s� tem aulas presenciais, ainda h� 5% que afirmam ter aulas presenciais e remotas, e 3% que t�m apenas aulas remotas.

A regi�o Norte � a que apresenta o cen�rio mais desafiador, com apenas 82% das escolas totalmente presenciais e 11% apenas com aulas remotas.

Mas mesmo depois do longo per�odo de fechamento por conta da pandemia, estar na escola � um fator de esperan�a, segundo a pesquisa. Entre quem est� frequentando a escola, 84% dizem estar interessados nos estudos, 71% se sentem animados e 70% est�o otimistas com o futuro.

Sa�de e renda

Na escola Mestre J�lio Sarmento, Nadi identificou que os dois principais obst�culos que afastam os estudantes da escola s�o os problemas de sa�de e as dificuldades socioecon�micas, que obrigam os adolescentes a trabalhar.

Uma estudante auxiliada pela coordenadora, por exemplo, faltava pelo menos quatro dias todos os meses. Ap�s um estudo do caso, a escola percebeu que as faltas coincidiam com o per�odo em que ela estava menstruada.

"Ela sentia dores, tinha um fluxo muito intenso e tinha vergonha e medo de se sujar", conta Nadi. "Conversei com a m�e sobre a situa��o e encaminhamos a fam�lia para um ginecologista. Quando ela come�ou a se sentir confort�vel para discutir o assunto e passou a ter acompanhamento m�dico, voltou � escola e se formou."

J� para os alunos que enfrentavam dificuldades socioecon�micas em casa e sentiam a necessidade de contribuir financeiramente com a fam�lia, a escola lan�ou um projeto de empreendedorismo que auxilia os estudantes com a renda ao mesmo tempo em que ensina conceitos importantes como finan�as e organiza��o.

"O projeto auxilia especialmente os alunos maiores de idade, que s�o os que mais desistem da escola por precisarem trabalhar", diz a coordenadora.

"Uma de nossas alunas, por exemplo, voltou para a escola e come�ou a vender bombons saud�veis", relata. "Ela se formou e recentemente a encontrei por acaso na rua. Ela me deu um abra�o grande e me agradeceu. Fiquei orgulhosa."


A coordenadora pedagógica Nadi Pereira Mendes (de azul) ao lado de alunos e professores
A coordenadora pedag�gica Nadi Pereira Mendes (de azul) ao lado de alunos e professores (foto: Arquivo pessoal)

Nenhum a menos

Hist�rias de sucesso como a da Escola Cidad� Integral Mestre J�lio Sarmento em Sousa se repetem em outros estados e cidades pelo pa�s, em um exemplo de que os desafios n�o s�o imposs�veis de serem superados.

Na Comunidade do Cora��o, nos arredores da capital do Amap�, Macap�, a Escola Municipal Goi�s atende tanto estudantes da zona rural quanto urbana. A institui��o tamb�m conseguiu reverter uma situa��o preocupante de evas�o escolar com um projeto focado na busca ativa dos alunos.

"Se a crian�a falta tr�s dias seguidos e nenhum respons�vel aparece na escola para justificar as faltas, o professor entra em contato imediato com a fam�lia para questionar os motivos", explica Agnaldo da Silva Silveira, ex-coordenador pedag�gico da escola que atualmente trabalha na Secretaria de Educa��o do Amap�.


Escola Municipal Goiás, nos arredores de Macapá
Escola Municipal Goi�s, nos arredores de Macap� (foto: Naiara Jinknss | Unicef)

"O primeiro contato � por telefone. Quando n�o temos �xito mandamos uma convoca��o por escrito. E o �ltimo recurso � uma visita � casa da fam�lia. Essas visitas se tornaram super importantes para trazer os alunos de volta."

A a��o � parte do projeto "Nenhum a Menos", iniciativa criada pela escola em 2015 que conseguiu reduzir de 11% para menos de 5% os casos de abandono escolar.

"Em casos mais graves explicamos aos pais qual a sua responsabilidade com a educa��o dos filhos e deixamos claro que, se a crian�a continuar a faltar, precisaremos acionar o Conselho Tutelar", diz Agnaldo. "Mas felizmente tivemos que fazer isso poucas vezes, quase sempre resolvemos na conversa."

O coordenador explica que muitos dos alunos atendidos pela escola s�o filhos de agricultores, pescadores e trabalhadores informais da regi�o rural de Macap� que enfrentam dificuldades financeiras e de locomo��o.

"Especialmente no per�odo de chuvas, que vai de dezembro a maio, muitas crian�as faltam porque fica praticamente imposs�vel sair de casa por conta de alagamentos e muita lama", diz. "Aqueles que v�m chegam sujas e molhados, o que dificulta o aprendizado."

Quase metade das meninas e meninos da Escola Goi�s usa o transporte coletivo escolar, mas em algumas comunidades mais afastadas as peruas ainda n�o est�o dispon�veis.

"N�o s�o apenas problemas de sa�de ou renda que afastam os alunos e temos que pensar em tudo isso para garantir o direito das crian�as de estudarem", afirma Agnaldo.


O coordenador Agnaldo Silveira
'Se a crian�a falta tr�s dias seguidos e nenhum respons�vel aparece na escola para justificar as faltas, o professor entra em contato imediato com a fam�lia', explica o coordenador Agnaldo Silveira (foto: Naiara Jinknss | Unicef)

"Ainda temos muito a fazer e nosso objetivo � chegar � evas�o zero. Mas estamos satisfeitos com o nosso progresso."

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62922370

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