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Estado de Minas EDUCA��O

Brasil tem �xodo de um milh�o de alunos da rede privada

Segundo censo, n�mero de estudantes matriculados em escolas particulares no Brasil caiu 10% enquanto ensino p�blico se manteve est�vel entre 2021 e 2019


16/09/2022 07:20 - atualizado 16/09/2022 10:11


Escola pública em SP
Segundo o Censo Escolar 2021, n�mero de estudantes matriculados em escolas particulares no Brasil caiu 10%, ou quase um milh�o de estudantes, entre 2021 e 2019. (foto: Getty Images)

"De morador de aluguel em uma �rea nobre da minha cidade em 2016, me vejo hoje morando de favor na resid�ncia dos pais na periferia devido � inseguran�a financeira."

A hist�ria de ascens�o e queda no padr�o de vida do professor Guilherme Moraes, de 33 anos, revela como a crise econ�mica abala educadores — mas tamb�m pais e alunos no Brasil.

Professor de hist�ria bem-sucedido na rede privada, Moraes percebeu uma queda expressiva no n�mero de alunos em sala de aula desde 2019.

"Eu cheguei a dar aula para 14 turmas em 2019", conta o professor. "Depois caiu para 5."

E menos alunos significam menos turmas para professores de escolas particulares, cujo sal�rio no fim do m�s depende do n�mero de horas em sala de aula.

"Muita gente n�o conseguiu manter os filhos na rede privada e a carga horaria diminuiu. O nosso sal�rio tamb�m diminuiu", ele continua.

E dados oficiais confirmam a impress�o de Moraes sobre o esvaziamento de col�gios privados: segundo o Censo Escolar 2021, o n�mero de estudantes matriculados em escolas particulares no Brasil caiu 10%, ou quase um milh�o de estudantes, entre 2019 e 2021.


Guilherme Moraes
O n�mero de turmas do professor Guilherme Moraes em escolas privadas despencou no governo Bolsonaro (foto: Arquivo pessoal)

�xodo de escolas privadas

A surpreendente queda interrompeu uma sequ�ncia hist�rica de crescimento no n�mero de alunos em col�gios privados.

No mesmo per�odo, 2019 a 2021, a rede p�blica teve redu��o bem menor no n�mero de alunos: 0,5%.

"O empobrecimento das fam�lias, principalmente neste caso o da classe m�dia, impacta diretamente nos diversos tipos de servi�o, e no servi�o de educa��o isso � bastante significativo", avalia Fausto Augusto Junior, diretor-t�cnico do Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos (Dieese).

Para o especialista, os n�meros do censo escolar sugerem uma transfer�ncia de estudantes entre as redes particular e p�blica — resultado da crise econ�mica (aumento de mensalidades e do custo de vida em geral) e agravada pela pandemia.

"A classe m�dia est� sendo bastante atingida por conta da infla��o e da taxa de desemprego, o que tem a ver com essa sa�da de alunos da rede privada para a rede p�blica. Isso tem a ver com empobrecimento", diz.

� o caso de Lidiane Rosa, do Rio Grande do Sul.

"Eu tirei a minha filha da escola privada causa dos custos, estava muito caro e n�o tinha mais como bancar escola particular. Ela estava no primeiro ano do ensino fundamental e eu tinha que comprar muitos livros", ela diz � BBC News Brasil.

A economia no caso de Rosa foi al�m do ensino. "Na escola p�blica, ela aprendeu muito mais. Na escola particular, eles n�o tinham nenhuma refei��o. Na p�blica, eles almo�am e tomam caf� da tarde."

Retrocesso


Sala de aula
Para especialista, classe m�dia est� tirando alunos da escola privada como resultado da crise econ�mica (foto: Getty Images)

"� constrangedor. Voc� projeta o futuro, tem esperan�a de uma condi��o de vida melhor, come�a um processo de conquistas e, de repente, cai num retrocesso muito grande", diz o professor.

Filho de oper�rios, funcion�rio de uma f�brica local, ele conseguiu bolsa de estudos para se preparar para o vestibular e trabalhou para pagar a faculdade.

Depois de se formar, Moraes, que conta que chegou a passar fome na inf�ncia, viu seu padr�o de vida se transformar — inicialmente, para melhor.

"Eu estava muito bem estabilizado nas escolas particulares e tinha uma carga hor�ria muito boa", ele conta.

"Morava no centro da cidade, dividia um apartamento de aluguel muito alto com um amigo. Sobrava muito: eu gastava com viagem, m�veis para a resid�ncia, eletr�nicos. Jamais cogitava na vida ter um iPhone e consegui comprar um", recorda.

Em 2019, no entanto, os alunos come�aram a migrar. No ano seguinte, com a pandemia, a situa��o piorou muito e o professor precisou reorganizar sua vida.

"Quando senti que n�o seria mais poss�vel pagar o aluguel, procurei outros im�veis, dessa vez na periferia, para continuar tendo independ�ncia e autonomia. Mas os valores n�o ficavam muito diferentes e continuava pesado", ele conta.

"Quando ficou invi�vel, me vi na urg�ncia de entrar em contato com a fam�lia. Foi quando minha m�e sugeriu que eu retornasse e esperasse at� que as coisas melhorassem."

"Nada contra voltar a morar com meus pais", continua Moraes, "mas � algo que abate muito psicologicamente."

Pobreza

O �xodo de alunos da rede privada para a p�blica, raz�o principal da crise enfrentada pelo professor, � sintoma da redu��o na renda das fam�lias brasileiras desde 2019.

Segundo a Funda��o Get�lio Vargas, entre 2019 e 2021, o Brasil ganhou 9,6 milh�es de novos pobres — ou pessoas com renda domiciliar per capita de at� R$ 497.

Isso significa que uma popula��o equivalente a de Portugal formada s� por brasileiros passou a ser classificados como pobres, segundo a institui��o. O total de pessoas nessa situa��o no pa�s � de 62,9 milh�es — ou 29,6% dos brasileiros.

Junto ao empobrecimento, vem a fome. O n�mero de brasileiros que n�o teve dinheiro para alimentar a si ou a sua fam�lia em algum momento nos �ltimos 12 meses subiu de 30% em 2019 para 36% em 2021 — um novo recorde da s�rie iniciada em 2006.

Segundo Marcelo Neri, diretor do grupo de pesquisas FGV Social, "� a primeira vez que o Brasil ultrapassa a m�dia mundial e o aumento foi quatro vezes maior do que a eleva��o ocorrida no mundo, entre 2019 e 2021".

Para o diretor do Dieese, "infla��o, fome e desemprego s�o fatores decisivos na elei��o".


Favela brasileira
Entre 2019 e 2021, o Brasil ganhou 9,6 milh�es de "novos pobres" - ou pessoas com renda domiciliar per capita de at� R$ 497. (foto: Getty Images)

"N�s estamos falando de mais de 33 milh�es de pessoas que hoje passam fome no Brasil. E uma taxa de desemprego que, apesar de vir se reduzindo, ainda se mant�m num patamar muito alto, pr�ximo aos 10 milh�es de desempregados", diz.

"Esse talvez seja um dos principais temas, ou o tema mais relevante, at� porque a gente precisa olhar com muita aten��o quais s�o as propostas dos candidatos para de alguma forma sair desse buraco que n�s ca�mos. Do ponto de vista econ�mico, � essencial para melhorar a vida m�dia da popula��o, para voltar a ter eleva��o de renda, amplia��o do n�vel de consumo e redu��o da taxa de desemprego", continua Fausto Augusto Junior.

Propostas dos candidatos

Segundo a �ltima pesquisa DataFolha, divulgada em 2 de setembro, 57% dos brasileiros dizem que emprego e renda est�o entre os tr�s principais crit�rios na escolha de um candidato a presidente — junto com sa�de e educa��o.

Em seu programa de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) promete que o Aux�lio Brasil, seu programa de transfer�ncia de renda, seja no valor de R$ 600 a partir de 2023.

O valor original, de R$ 400, foi aumentado para R$ 600 at� dezembro deste ano, coincidindo com o per�odo eleitoral.

A proposta de Or�amento para 2023 enviada ao Congresso Nacional pelo presidente, no entanto, prev� que o aux�lio volte ao valor m�dio de R$ 405.


Lula, Tebet e Bolsonaro fotografados em debate
Candidatos incluiram medidas contra o empobrecimento em planos de governo (foto: Getty Images)

Questionado, o presidente disse que o valor arrecadado com privatiza��es poder� bancar a promessa de seu programa de governo.

J� o candidato Luiz In�cio Lula da Silva (PT), primeiro colocado na maioria das pesquisas de inten��o de voto, promete em seu programa de governo "retomar centralidade e urg�ncia no enfrentamento da fome e da pobreza, assim como a garantia dos direitos � seguran�a alimentar e nutricional e � assist�ncia social".

O petista diz que vai resgatar o Bolsa Fam�lia, uma das principais marcas de sua gest�o, em vers�o "renovada e ampliada, viabilizando a transi��o por etapas, rumo a um sistema universal e uma renda b�sica de cidadania".

O ex-presidente tamb�m diz querer manter o valor de R$ 600 para os benefici�rios do programa e anunciou a cria��o de uma parcela extra de R$ 150 por crian�a at� 6 anos no Bolsa Fam�lia.

Ciro Gomes (PDT), terceiro colocado nas pesquisas, promete um programa de renda m�nima de R$ 1 mil reais para 60 milh�es de pessoas.

J� Simone Tebet (PMDB) tamb�m anunciou planos de um programa permanente de renda m�nima e disse que erradicar a fome ser� "prioridade m�xima" em seu governo.

Futuro

"Para quem j� passou fome na inf�ncia, acho imposs�vel que hoje, formado, eu volte a estaca zero", diz o professor Moraes � reportagem.

Isso significa otimismo?

"N�o, n�o acho que vou voltar � situa��o em que estava h� cinco, dez anos. De qualquer forma, avan�ar vai ser muito dif�cil, mesmo que o governo mude", ele diz.

"Muita gente bota uma esperan�a muito grande em cima do Lula, dizendo que ele vai salvar o pa�s e fazer o Brasil voltar a sorrir de novo... Eu n�o acho que ele vai fazer um governo economicamente muito diferente do Bolsonaro, infelizmente."

Esta reportagem � resultado de um relato enviado por Guilherme � BBC News Brasil.

Voc� tamb�m pode ter sua hist�ria pessoal transformada em reportagem nessas elei��es — clique no link abaixo.

Elei��es 2022: Compartilhe sua hist�ria pessoal sobre viol�ncia, emprego, sa�de, educa��o, direitos humanos e meio ambiente conosco. Sua experi�ncia pode virar reportagem da BBC

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62795996

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