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Estado de Minas EMPREGO E TECNOLOGIA

Como empregados s�o cada vez mais vigiados por patr�es com trabalho remoto

Monitoramento das equipes aumentou ap�s retorno ao escrit�rio em meio � pandemia. Esse � o novo normal?


05/07/2022 08:11 - atualizado 05/07/2022 09:47


Mulher em frente a computador
Para funcion�rio de empresa, monitoramento cria uma cultura de trabalho onde qualquer passo em falso pode ser identificado e punido (foto: Getty Images)

Joshua sabe que ter seu trabalho monitorado � parte do seu emprego.

Seu empregador, uma corretora do mercado financeiro com sede em Londres, usa um sistema de software que rastreia automaticamente sua atividade. O sobrenome de Joshua foi omitido para proteger sua seguran�a no trabalho.

Todos os detalhes do seu computador de trabalho foram otimizados para permitir seu monitoramento: desde o tempo para o desligamento da tela, definido na menor configura��o para que o patr�o possa verificar com mais facilidade se ele est� ocioso, at� uma ferramenta de bate-papo instant�neo, projetada especificamente para uso em qualquer comunica��o com os colegas.

Ele trabalha de casa com a premissa de que o seu patr�o pode verificar qualquer login ou toque no teclado ou no mouse.

Joshua afirma que est� t�o acostumado a ser rastreado que muitas vezes se esquece disso. "Os bancos de investimento geralmente operam sob paranoia. Os dados que manuseamos s�o t�o sens�veis que qualquer funcion�rio insatisfeito pode causar grandes danos", segundo ele.

Embora ele nunca tenha sido explicitamente informado que est� sendo monitorado, Joshua explica que isso � comum no seu setor. A legisla��o do Reino Unido exige que as empresas do setor financeiro tenham um programa de vigil�ncia. E, nos Estados Unidos, as institui��es financeiras s�o obrigadas a manter registro de todas as comunica��es relacionadas ao trabalho.

Para Joshua, isso cria uma cultura de trabalho onde qualquer passo em falso pode ser identificado e punido, gra�as � tecnologia de monitoramento.

"Voc� precisa entender que tudo o que voc� escreve est� sendo lido pela ger�ncia", explica ele. "Tudo est� bem at� o dia em que voc� � pego desprevenido e � demitido por dizer algo considerado inadequado."

O monitoramento dos funcion�rios existe h� algum tempo sob v�rios disfarces, desde o registro do tempo no ch�o de f�brica at� a coleta de dados dos trabalhadores em setores fortemente regulamentados, como o financeiro.

Mas o software de vigil�ncia, muitas vezes com natureza clandestina, come�ou a se infiltrar nos trabalhos administrativos em meio � pandemia, espalhando-se entre os setores que tradicionalmente n�o exigiam o rastreamento escrupuloso dos funcion�rios.

Agora, com os padr�es de trabalho remoto e h�brido tornando-se cada vez mais comuns, os empregadores buscam gerenciar os resultados e as equipes com software de monitoramento.

Embora isso possa ajudar a permitir a colabora��o fora do escrit�rio, em alguns casos, essas ferramentas de vigil�ncia podem tamb�m ser implementadas em meio ao receio de de que os funcion�rios n�o far�o seu trabalho longe dos olhares dos patr�es.

Mas, e se os funcion�rios come�arem a n�o gostar de ser vigiados, isso poder� destruir sua confian�a e motiva��o? Ou o problema n�o � necessariamente a tecnologia, mas sim a forma como ela est� sendo implementada?


Homem preocupado no trabalho
Em alguns setores, a vigil�ncia sempre esteve impregnada na cultura corporativa (foto: Getty Images)

O aumento da vigil�ncia dos funcion�rios

Desde a vigil�ncia nas lojas at� o monitoramento em call centers, alguns patr�es utilizam a tecnologia h� muito tempo para vigiar seus funcion�rios, seja por quest�es de seguran�a ou de desempenho.

Scott Walker, diretor-gerente da empresa brit�nica de recursos humanos XpertHR, afirma que os funcion�rios desses setores tendem a aceitar mais o monitoramento, pois a sua import�ncia para os neg�cios se estabeleceu h� muito tempo.

"Em certos ambientes de trabalho, como os call centers, o monitoramento � usado para fins de treinamento. Em outros setores que precisam atender a exig�ncias legais, a coleta de dados [tamb�m] faz sentido", segundo ele.

Mas a pandemia disparou o uso indiscriminado do monitoramento dos funcion�rios. � medida que as equipes come�aram a trabalhar em casa, alguns patr�es instalaram software de vigil�ncia para acompanhar sua produtividade.

Um estudo de dezembro de 2021 com mais de 2.209 trabalhadores no Reino Unido concluiu que 60% deles acreditavam terem sido submetidos a algum tipo de vigil�ncia e monitoramento no seu emprego atual ou no mais recente, em compara��o com 53% em 2020.

O uso dessas ferramentas de monitoramento cresceu mesmo quando grande parte dos empregados retornou ao escrit�rio em tempo integral ou parcial. A empresa de consultoria Gartner afirma que o percentual de empregadores norte-americanos de m�dio e grande porte que usam ferramentas de monitoramento dobrou para 60% desde mar�o de 2020.

Segundo Brian Kropp, vice-presidente e chefe de pesquisa de RH do grupo Gartner, esse n�mero deve atingir 70% nos pr�ximos dois anos. "Originalmente, as empresas estavam preocupadas com as pessoas trabalhando em casa: 'eles v�o trabalhar ou apenas sentar e assistir � TV?'", afirma ele. "As ferramentas de rastreamento foram introduzidas para monitorar a produtividade."

Grande parte desse software de vigil�ncia vem sendo instalada desde ent�o nos computadores de trabalho, com ou sem o conhecimento dos funcion�rios. Apelidados de bossware (derivado de boss, ou "patr�o" em ingl�s), diversos desses programas podem registrar toques no teclado, fazer c�pias de tela e ativar secretamente as c�meras dos funcion�rios que trabalham em casa.

Muitas vezes, essa tecnologia passa despercebida, o que significa que os trabalhadores podem n�o saber que o seu patr�o realmente os est� espionando.

E, enquanto o trabalho remoto florescia, a vigil�ncia tamb�m prosperava. Os funcion�rios de bancos de investimento, por exemplo, v�m se queixando de que isso est� sendo feito dissimuladamente por meio de seus cart�es de identifica��o e dados de presen�a.

O monitoramento estendeu-se at� aos setores que n�o t�m necessariamente hist�rico de rastreamento dos funcion�rios. Kate, por exemplo, trabalha para uma ag�ncia de design e marketing da Calif�rnia, nos Estados Unidos. Quando os funcion�rios come�aram o trabalho remoto, foi instalado um dispositivo de rastreamento no seu computador.

Foi dito a ela que o software era um meio de controlar suas horas. Mas, al�m dos hor�rios de acesso, ele controla as abas do seu navegador - e, periodicamente, tamb�m faz capturas de tela que s�o enviadas para a companhia para an�lise.

Kate - cujo sobrenome tamb�m � omitido - afirma que o software afeta seus intervalos. "N�o sei ao certo por que a captura das minhas telas criando ilustra��es � essencial para o meu trabalho. E o software realmente reduz a velocidade do meu computador", explica ela.

"Fico nervosa at� para assistir a um v�deo de cinco minutos no meu hor�rio de almo�o, porque tenho medo de que algu�m veja uma captura de tela do YouTube e isso possa causar minha demiss�o."

As consequ�ncias de longo prazo

Como era de se esperar, o r�pido aumento do monitoramento dos funcion�rios vem corroendo as rela��es entre empregados e empregadores. � medida que aumenta a vigil�ncia, a desconfian�a dos trabalhadores tamb�m cresce.

Em uma pesquisa recente envolvendo 2 mil trabalhadores americanos remotos e h�bridos, 59% deles relataram sentir estresse ou ansiedade com seu empregador observando suas atividades online.

Os principais fatores incluem imaginar constantemente se est�o sendo observados e a press�o para trabalhar por mais tempo e fazer menos intervalos durante o dia. Quase a metade afirmou que a vigil�ncia � viola��o da confian�a.

Kropp afirma que a natureza dissimulada do monitoramento pode ser muito prejudicial para a confian�a do funcion�rio. "De forma geral, os trabalhadores n�o est�o muito animados com a ideia da vigil�ncia", segundo ele.

"Mas voc� pode responder �s preocupa��es sendo honesto e transparente sobre os motivos por que est� fazendo e como os dados est�o sendo utilizados."

"Quando a empresa n�o comunica e os funcion�rios descobrem que est�o sendo monitorados, isso se torna um problema maior. Os funcion�rios ficam imaginando por que est�o sendo observados e tendem a come�ar a acreditar que o seu empregador est� '� sua ca�a'", afirma Kropp.


Funcionária fazendo almoço em frente ao computador
'Fico nervosa at� para assistir a um v�deo de cinco minutos no meu hor�rio de almo�o' (foto: Getty Images)

Como cada vez mais empresas agora t�m algum tipo de monitoramento, ficar� cada vez mais dif�cil para os trabalhadores escolher empresas que n�o tenham alguma forma de vigil�ncia dos funcion�rios, mesmo em meio � crise de contrata��o e � luta por talentos em alguns pa�ses.

As ferramentas remotas usadas pelos trabalhadores, por exemplo, est�o sendo cada vez mais integradas � tecnologia de monitoramento. "Provavelmente, n�o teremos tecnologia separada para monitorar ou rastrear os funcion�rios no futuro", afirma Kropp. "Ela ficar� mais incorporada ao que fazemos e como trabalhamos. As [mesmas] ferramentas que usamos para trabalhar s�o aquelas que ir�o nos rastrear."

Al�m disso, algumas empresas chegam a implementar o mesmo software rastreador da produtividade para monitorar o bem-estar dos trabalhadores, segundo Kropp: "A coleta de dados � essencialmente a mesma. Elas ainda procuram o mesmo tipo de coisas: uso do teclado, express�es faciais e sua interpreta��o, mas com a perspectiva de descobrir se algu�m est� trabalhando demais e se h� risco de esgotamento."

Alguns especialistas acreditam que a crescente onipresen�a do monitoramento dos trabalhadores, al�m do desconforto dos funcion�rios, poder� prejudicar o ambiente de trabalho.

"Mais que uma cultura de medo, pode ser criada uma cultura de falta de confian�a", afirma Kropp. "Essa falta de confian�a torna tudo mais dif�cil para a organiza��o conseguir fazer seu trabalho."

Mas o problema n�o � necessariamente a tecnologia, mas sim como ela � implementada. Um certo grau de monitoramento pode, na verdade, ser ben�fico para gerenciar o fluxo de trabalho e o �nimo dos funcion�rios, particularmente entre as equipes remotas e h�bridas.

A startup de an�lise de dados Stellate, com sede em S�o Francisco, nos Estados Unidos, possui uma equipe totalmente remota espalhada pelo mundo. Al�m das ferramentas de colabora��o, ela rastreia o desenvolvimento dos funcion�rios com software de treinamento e tutoria.

"Voc� precisa reunir as equipes em torno das ideias e da inten��o por tr�s do monitoramento, para conciliar o processo em seguida", afirma Sue Odio, chefe de opera��es da Stellate. "� menos sobre o produto que voc� usa e mais sobre a inten��o."

Kropp acredita que, na pr�xima fase do trabalho h�brido, os empregadores definir�o uma �tica sobre se, quando e como o monitoramento deve ser implementado. Para ele, as orienta��es transparentes ajudar�o os funcion�rios a escolher a empresa certa para eles.

"Algumas empresas poder�o dizer que d�o o m�ximo de autonomia e flexibilidade para o funcion�rio, com zero monitoramento e total confian�a. Outras deixar�o claro que existe maior vigil�ncia e apresentar�o o sal�rio como sua proposta de valor", segundo ele.

Joshua se acostumou com o registro das suas atividades.

"Antes, eu tinha sensores de calor e movimento instalados sob a minha mesa", segundo ele.

"Agora, � mais sutil. Mesmo trabalhando remotamente, � muito f�cil para eles saber o que estou fazendo, gra�as �s ferramentas de monitoramento. Para mim, n�o � quest�o de justi�a; � simplesmente uma consequ�ncia do processo."

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Worklife.

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