O testemunho do lavrador mostra como a seca tem se intensificado e, pior do que isso, tem acelerado processos de desertifica��o em parte dos 19 munic�pios do Noroeste de Minas, como a equipe de reportagem do Estado de Minas p�de constatar em Arinos, Bonfin�polis de Minas, Buritis, Dom Bosco, Formoso e Urucuia. Os motivos variam, de acordo com especialistas, que destacam entre os respons�veis a pecu�ria predat�ria, o desmatamento, a produ��o de carv�o e o plantio de monoculturas sem cuidados com a conserva��o do solo. “A regi�o toda est� sofrendo com a degrada��o dos terrenos e a falta de chuvas. A seca, que durava de maio a setembro, se ampliou e nos �ltimos anos tem ido de mar�o a outubro. H� ondas de calor e sequ�ncias de mais de 30 dias com temperatura acima de 40 graus. Uma situa��o que lembra mais o semi�rido”, afirma o gerente regional da Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Manuel Faria Duque Filho. “Isso tudo poderia ter sido evitado se os produtores rurais tivessem se precavido h� d�cadas. Se n�o usassem fogo para limpar pastos. Se fizessem terra�os para segurar a �gua no terreno e conter a eros�o. Mas o que fizeram foi exaurir as terras e depois abandon�-las quando n�o serviam mais”, acrescenta o engenheiro-agr�nomo e coordenador do Comit� de Bacias Hidrogr�ficas (CBH) do Rio Urucuia, Julio Ayala. HERAN�A MALDITA DO �LTIMO GRANDE INC�NDIO A avalia��o dos t�cnicos encontra amparo na explica��o de agricultores simples, mas que viveram por d�cadas nas fazendas do Noroeste, como o calejado lavrador Jos� Nicolau. Sua cidade, Bonfin�polis, a 560 quil�metros de Belo Horizonte, teve o decreto de estado de emerg�ncia devido � estiagem reconhecido na segunda-feira pelo Estado. “N�o chove mais como antigamente. Estamos pagando pelo fogo que tocamos no cerrado para formar pasto. A �gua da serra que a gente bebia minguou. Isso foi depois de um inc�ndio (em 2008). Veio at� avi�o (helic�ptero) para apagar”, lembra o homem de 84 anos. O s�tio onde o agricultor aposentado vive com a fam�lia, de acordo com o mapeamento feito pelos agr�nomos da CBH do Rio Urucuia, fica em uma das partes mais degradadas do munic�pio, perto da Rodovia MG-181. Em volta do terreno, entre o cerrado estorricado por inc�ndios e as pastagens abandonadas, pelo menos cinco �reas intercaladas sofrem avan�ado processo de desertifica��o e come�am a se fundir em um vasto cen�rio desolado. Somadas, as terras em avan�ada degrada��o em Bonfin�polis chegam a 9,3 quil�metros quadrados, o que representa seis vezes a extens�o do Parque do Ibirapuera, em S�o Paulo, ou tr�s vezes o Parque das Mangabeiras, em BH. Nelas, o solo sofreu eros�o t�o intensa que algumas nascentes desapareceram, deixando para tr�s apenas o rastro de um curso encascalhado, serpenteando entre encostas onde as margens ficaram esculpidas na rocha. O ch�o � t�o duro que nada consegue brotar. Do carv�o ao deserto, uma s�rie de agress�es Em Buritis – terra batizada pela planta que nasce nas veredas ricas em �gua –, onde o coordenador de Meio Ambiente da prefeitura, Dadiane Amaral, tenta conter a degrada��o provocada pelo manejo predat�rio do solo e por estradas abertas sem os devidos cuidados, �reas em franco processo de desertifica��o servem de alerta aos produtores rurais. Na comunidade de Santa Maria est�o as mais degradadas, onde o processo se espalha por oito terrenos que somam 30 quil�metros quadrados. Para ter uma ideia da �rea envolvida, a medida � a mesma do lago formado em 2006 com o represamento do Rio Doce para a Usina Hidrel�trica de Aimor�s, que deixou debaixo d’�gua 265 casas da cidade de Itueta, 247 de Resplendor e 70 propriedades rurais. O cen�rio lembra a devasta��o provocada por um bombardeio militar. No solo endurecido e ocre n�o nasce planta alguma. �rvores mortas, sem folhas, ressecadas e ainda presas ao solo, apodrecem como �ltimas testemunhas da mata de cerrado que n�o resistiu � voracidade do homem. “Aqui o que ocorreu foi o desmate por anos seguidos do cerrado para fazer carv�o. Depois, foram feitos inc�ndios para formar pasto com capins ex�ticos, que quando pegam fogo geram uma energia muito maior do que a vegeta��o nativa e assim empobrecem o solo. Ent�o, para terminar, introduziram o gado, que foi compactando o solo e arrancando a vegeta��o”, indica o agr�nomo Julio Ayala. “Depois que a chuva veio, levou embora a camada prim�ria do solo, que � onde as plantas conseguem nutrientes. Sobrou apenas a camada secund�ria, que � muito pobre. Se continuar assim, em pouco tempo a regi�o chegar� � camada terci�ria, onde s� h� rochas”, alerta. “Isso tudo poderia ter sido evitado se os produtores rurais tivessem se precavido h� d�cadas. Mas o que fizeramfoi exaurir as terras e depois abandon�-las quando n�o serviam mais” JULIO AYALA, coordenador do Comit� de Bacia do Rio Urucuia

