Mateus Parreiras
“O que vai acontecer com a minha linha?”. “Por onde entro nas esta��es?”. “Onde vou passar meu cart�o de embarque?”. Faltam apenas seis dias para a inaugura��o do Move, o BRT de BH, e a falta de informa��es oficiais deixa os passageiros confusos e indica a especialistas um cen�rio de transtorno quando os �nibus articulados e simples (padron) come�arem a rodar no trecho inaugural de 8,4 quil�metros dos corredores das avenidas Cristiano Machado e Santos Dumont/Paran�.
O novo conceito de transporte de massa � a aposta da capital mineira para a Copa do Mundo e exige muitas adapta��es dos usu�rios, que ter�o de aprender a embarcar em linhas novas, fazer baldea��o em esta��es, conhecer os pontos de compra de bilhetes e se acostumar a n�o ter mais de pagar pela viagem aos cobradores. Entre embarques e desembarques, passageiros relataram in�meras d�vidas � reportagem do Estado de Minas, nem todas devidamente respondidas pela BHTrans.
At� sexta-feira, nenhuma informa��o pr�tica foi divulgada nos pontos de embarque, nos murais das esta��es de integra��o ou no jornalzinho do �nibus sobre o servi�o que entrar� em opera��o no pr�ximo s�bado com a inaugura��o do Move.
Hoje, paro no ponto da Rua Jacu�, mas com o BRT n�o sei como vou fazer para chegar ao ponto que fica no meio da Cristiano Machado”, diz o professor Roberto Caldeira, de 54. “Acho que vai ter muita confus�o quando as mudan�as come�arem, mas se for s� por um ou dois dias, n�o tem problema”, completa.
Outra quest�o que confunde passageiros � a venda de passagens. O projeto definitivo da BHTrans determina que no corredor Santos Dumont/Paran� haver� quiosques entre as esta��es de embarque para vender e carregar os cart�es. No corredor da Cristiano Machado, as passagens ser�o vendidas nas bilheterias das esta��es modulares ao longo da via, chamadas esta��es de transfer�ncia (ET), e na Esta��o S�o Gabriel. Mas a BHTrans ainda n�o informou se esse sistema j� estar� operando no dia 15 nem como ser�o as transa��es nos hospitais e outras regi�es.
“Outra preocupa��o � o transporte de tanta gente para o Centro, no corredor mais perigoso da cidade, onde ocorrem assaltos e furtos por causa do grande n�mero de viciados. Imagina s� ter de ficar comprando passagens em quiosques com os marginais o espreitando”, teme o advogado Am�ncio Dias Sampaio, de 67.
Quando estiverem completamente operantes, os corredores inaugurados no dia 15 chegar�o a comportar cerca de 300 mil passageiros por dia. O volume representa 43% do total previsto para o sistema completo do BRT, estimado em 700 mil usu�rios com a adi��o futura dos trechos das avenidas Ant�nio Carlos, Dom Pedro I e Vilarinho, num total de 23,1 quil�metros.
Segundo a BHTrans, os passageiros que estiverem nos bairros ter�o duas op��es: poder�o pegar um �nibus de linha alimentadora, que os levar� at� uma esta��o de integra��o (EI), como a de S�o Gabriel, e se estiverem longe das esta��es embarcar�o em linhas troncais que os levar�o at� as esta��es de transfer�ncia.
Essa d�vida incomoda quem est� acostumado a subir num �nibus em seu bairro e seguir diretamente para seu destino, no Centro ou em outra regi�o. “Moro no Xangril� (Pampulha) e uso um �nibus apenas para ir ao Centro. Se tiver de ir at� uma esta��o para pegar outro ser� um transtorno maior. N�o sei se vai compensar, mesmo sendo mais r�pido. Prefiro, por exemplo, demorar mais 20 minutos, mas ir sentada”, afirma a costureira Selma dos Reis Dias, de 62, que leva uma hora nas viagens, mas gasta at� 40 minutos esperando a chegada de um �nibus nos pontos tradicionais.
Tempo para adapta��o
O coordenador do curso t�cnico de Transporte e Tr�nsito do Centro Federal de Educa��o Tecnol�gica de Minas Gerais (Cefet-MG), professor Guilherme de Castro Leiva, alerta para o risco de transtornos devido � falta de informa��es precisas. “� preciso dar publicidade a todo o sistema, porque quando � implantado acaba gerando um ou dois dias de adapta��es e de experimenta��es entre as pessoas e isso pode envolver alguma confus�o”.
J� o mestre em engenharia de transportes e professor da Fumec M�rcio Aguiar considera preocupante o ritmo de andamento das obras do Move e diz n�o acreditar que no pr�ximo s�bado haja uma inaugura��o de linhas que tragam impactos consider�veis para os usu�rios. “Vai estar inacabado, sem operar plenamente as esta��es. Isso tudo colabora tamb�m para dificultar a adapta��o dos usu�rios”, afirma.
A BHTrans informou que nesta semana dever� esclarecer “todas as d�vidas” sobre o sistema, que passa a operar no dia 15.
Fim das faixas exclusivas
O trecho inaugural do Move, nas avenidas Cristiano Machado, Santos Dumont e Paran�, e os pr�ximos a serem ativados, at� 15 abril, nas avenidas Ant�nio Carlos e Dom Pedro I, ser�o os �nicos a contar com calhas de concreto exclusivas. Nas demais vias do Move a BHTrans planeja apenas a demarca��o do espa�o de rodagem dos �nibus por pistas de asfalto, algumas simples, outras duplas, com ou sem espa�o para ultrapassagens e adequa��es nas dimens�es de passeios e baias.
As medidas constam do relat�rio final do plano de mobilidade da BHTrans, o Planmob, lan�ado em outubro do ano passado e com implanta��o calculada para este ano. O EM teve acesso com exclusividade ao plano, que esclarece o funcionamento dos �nibus articulados e simples (padrons), em corredores como Amazonas, Tereza Cristina, Via do Min�rio e Nossa Senhora do Carmo e que estavam previstos para este ano, mas que n�o dever�o ser cumpridos nesse prazo, segundo a BHTrans.
De acordo com o Planmob, os �nibus do Move poder�o circular em uma faixa exclusiva por sentido que conta com �reas de ultrapassagem nas aproxima��es de pontos e de baias. As pistas poder�o ser implantadas ao longo de canteiros centrais ou acompanhando as cal�adas. Esse modelo ser� o adotado nas avenidas Presidente Carlos Luz, Dom Pedro II, Portugal, Amazonas, Tereza Cristina, Vilarinho e Via do Min�rio. Somente a Avenida Nossa Senhora do Carmo teria uma faixa exclusiva por sentido sem espa�os para que um coletivo possa ultrapassar outro que esteja parado num ponto. As manobras se dariam em meio �s pistas mistas.
O mestre em engenharia de transportes e professor da Fumec M�rcio Aguiar diz que esse tipo de organiza��o do tr�fego de �nibus n�o pode ser considerado, por si s�, uma solu��o. Para ele, o investimento que poder� trazer um al�vio real ao tr�fego � a implanta��o e a amplia��o das tr�s linhas de metr�, que t�m previs�o de estar totalmente conclu�das at� 2018.
D�VIDAS NO MEIO DO CAMINHO
Principais perguntas de passageiros do Move/BRT
Quais linhas ser�o substitu�das?
A BHTrans ainda n�o informou, mas o EM apurou junto � Ouvidoria do Munic�pio que ser�o 134 linhas.
Quais os novos itiner�rios?
N�o informado. A defini��o por enquanto � que as linhas alimentadoras levar�o passageiros dos bairros para as esta��es de transfer�ncia, onde ser� feita a baldea��o para o corredor exclusivo.
Onde comprar a passagem?
Normalmente, nas bilheterias das esta��es ou em quiosques na Esta��o Santos Dumont/Paran�. Mas a BHTrans n�o informou como ser� o esquema no dia 15.
Onde ser� o embarque?
A BHTrans n�o informou como ser�feito o embarque fora das esta��esa partir do dia 15.
O cart�o de embarque ser� passado dentro ou fora do �nibus?
Dentro das esta��es o cart�o ser�passado uma vez. A BHTrans n�o informou como ser� fora das esta��es.
Ser� aceito dinheiro nos �nibus?
Inicialmente, seria aceito dinheiro nas bilheterias, mas n�o se sabe ainda como isso ocorrer� fora das esta��es.
As linhas dos bairros j� ser�o alteradas?
A BHTrans n�o adiantou se haver� mudan�as de linhas j� no dia 15. O EM apurou que s� entrar�o em funcionamento as linhas troncais.
Quanto tempo vai valer a integra��o
das passagens?
Inicialmente, foi prevista para durar 90 minutos, mas isso ainda n�o foi confirmado.
Quem pegava �nibus na Avenida Cristiano Machado para outras regi�es vai ter de ir at� alguma esta��o?
N�o informado.
Os pontos de �nibus fora dos corredores ser�o adaptados?
N�o informado.
Nos bairros de onde partir�o as linhas, como ser�o compradas as passagens?
N�o informado.
Como entrar nas esta��es de transfer�ncia instaladas no meio da Avenida Cristiano Machado?
O projeto define o uso de passarelas e faixas de pedestres, mas a BHTrans ainda n�o informou como isso ocorrer� no dia 15, j� que muitas passarelas ainda ser�o montadas.
Os passageiros que ficarem esperando o �nibus dentro das esta��es n�o v�o acabar entrando todos de uma vez? Como isso vai melhorar o embarque?
N�o informado