Ver � bem diferente de enxergar. O sistema sensorial agu�ado e a capacidade extrema de percep��o dilatam o alcance de quem pouco ou nada v�. No breu das janelas da alma, deficientes visuais esbanjam sensibilidade e apresentam uma vis�o de mundo que vai longe, al�m do que se pode observar. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), quase 20% da popula��o tem alguma perda significativa no olhar. A defici�ncia visual severa � a mais anotada – 3,5% das pessoas declararam ter grande dificuldade ou nenhuma capacidade de enxergar. Em Belo Horizonte, 61.425 cidad�os quase nada podem ver e 7.044 vivem na absoluta escurid�o.
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Assista o v�deo em que deficientes visuais falam sobre suas dificuldades no dia a dia
Com pessoas como elas, aprende-se uma nova forma de ler o mundo. O braile, sistema de leitura com o tato para cegos, inventado em 1827 pelo franc�s Louis Braille, vai perdendo espa�o para softwares cada vez mais modernos, que leem em voz alta e-mails, mensagens, livros e jornais. Embora especialistas defendam a import�ncia do braile como “leitura ativa” – que, al�m do conte�do, d� ao c�rebro do leitor a estrutura do texto, letras e pontua��o –, � fato que as novas tecnologias, capazes de aumentar em at� cinco vezes a velocidade da “leitura” de qualquer escrita, est�o deixando o m�todo tradicional para tr�s. O desempenho ajuda a explicar o fen�meno: o ritmo da decodifica��o por meio de sistemas de �udio pode chegar a 250 palavras por minuto, enquanto a m�dia pelo tato n�o passa de 50.
Gustavo Felipe, de 39, andante apaixonado por Belo Horizonte, diz-se entristecido com a falta de cuidado de grande parte das pessoas com os deficientes. “Se pudesse fazer um pedido, hoje, pediria a vis�o”, diz. Alegre, sempre “feliz com as novas amizades”, Gustavo, a pedido do EM, descreve um de seus pontos preferidos em Belo Horizonte: a Pra�a da Liberdade.
Durante a reportagem em s�rie, publicada a partir de hoje, conhecemos adolescentes cegos, tomados por sonhos de caminhos menos dif�ceis. Politizados, eles falam do desafio de viver em “mundo pensado para a maioria”. Tateando por esse universo, nos deparamos com pessoas, que perderam a vis�o j� crescidas e falam das mem�rias dos tempos de luz. Descobrimos tamb�m m�es apaixonadas, que vivem de emprestar os olhos aos filhos. Associa��es e ONGs de Minas Gerais e do Brasil tamb�m foram ouvidas e exp�em cidades e indiv�duos pouco preparados para a rela��o com os deficientes. Em Belo Horizonte, por exemplo, um dos pontos mais criticados � a pista t�til, um arremedo de tra�o em poucas cal�adas da cidade, que costuma terminar em obst�culos ou levar a lugar algum.