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Estado de Minas

Jovem supera barreiras impostas pela cegueira e acumula conquistas no esporte

Ana Luiza Martins de Freitas j� acumula 22 medalhas de jud� e golbol. Aos 18 anos, ela considera que alcan�ou a independ�ncia


postado em 24/08/2014 06:00 / atualizado em 24/08/2014 08:48

No tatame, a jovem alia força e técnica, mas tem consciência sobre pontos fracos(foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
No tatame, a jovem alia for�a e t�cnica, mas tem consci�ncia sobre pontos fracos (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)


Um dia para n�o esquecer. Acompanhar a deficiente visual Ana Luiza Martins de Freitas, de 18 anos, � um aprendizado. Logo pela manh�, com satisfa��o, ela e a av�, dona Dalva, abrem a porta e o aconchego da casa pequena, no Bairro Novo Boa Vista, para a equipe de reportagem. Ana, filha da dona de casa Juliana Lina e do comerciante Benedito Martins, crian�a ainda, acompanhou com tristeza a separa��o dos pais. Desde os 8 anos passou a morar com os av�s maternos em Contagem, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte. E � l� que a estudante vem somando vit�rias – ainda maiores do que as representadas pelas 22 medalhas de jud� e golbol j� conquistadas. Em tr�s anos de dedica��o ao esporte, a estudante treina diariamente e participa de competi��es em v�rias partes do Brasil.

“Pegue l� as medalhas, minha filha”, sugere dona Dalva. Ana Luiza � cega de nascen�a. De acordo com a av�, em fun��o de rub�ola que acometeu a m�e, Juliana Lina, durante a gravidez. A menina reconhece cada uma das premia��es pelo tato. Conta hist�rias e fala da �ltima viagem, quando caiu de mau jeito e teve que seguir de ambul�ncia para hospital do Esp�rito Santo, interrompendo sua participa��o na competi��o de golbol. “Desde os 12 anos ela anda para todo lado sozinha. � muito inteligente, essa menina”, diz, sorrindo, a av�.

Ana Luiza gosta de conversar. Quer ser jornalista. Traz o notebook para mostrar o texto que escreveu � faculdade, reclamando maior cuidado com a inclus�o. Passa pelas redes sociais e mostra software de �udio capaz de acelerar a “leitura”. Ningu�m na sala, al�m dela, � capaz de entender uma s� palavra do que diz a m�quina. Parece uma l�ngua embolada qualquer, daquelas que exigem estudo e dedica��o desde o nascimento.

A mo�a conhece bem o braile. No entanto, admite que tem deixado a leitura pelo tato de lado depois que aprendeu a dominar tecnologias, como o Dosvox – um sistema desenvolvido pelo N�cleo de Computa��o Eletr�nica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pensado para “conversar” com o usu�rio. Por meio do Dosvox, criado pelo professor Jos� Ant�nio Borges, Ana Luiza pode fazer uso, sob a plataforma Windows, de mais de 60 utilit�rios.

P� NA ESTRADA

Papo bom, mas � hora de tomar o rumo de Belo Horizonte para os compromissos do dia. Dona Dalva, com a B�blia nas m�os, agradece a visita e confia a neta querida � reportagem. De carona, cinco minutos de estrada, Ana Luiza demonstra conhecer bem o caminho. “Gosto de passar pela BR-040. Melhor do que pela Avenida das Am�ricas”, diz. Pelas curvas e lombadas, pelo cheiro e sons do ambiente, ela � capaz de reconhecer a maior parte dos trechos do itiner�rio. A habilidade sensorial impressiona.

“Este viaduto � bastante in�til, porque na sa�da dele os carros ficam presos no engarrafamento. � estreito. N�o funciona”, avalia, deixando os acompanhantes boquiabertos em um trecho da Via Expressa. Mais adiante, no Barro Preto – que a estudante conhece bem, pelos tempos de Instituto S�o Rafael, especializado no ensino de portadores de defici�ncia visual –, um passeio a p� pelos quarteir�es ilustra os obst�culos, que s�o muitos, a come�ar pelas cal�adas irregulares, sem o menor padr�o. Ana Luiza lamenta os recortes de pista t�til, que, para ela, “muito pouco auxiliam”.

Pausa para almo�o


No self-service, a estudante e judoca conta com ajuda para fazer o prato e conseguir espa�o � mesa. N�o sem um esbarr�o com o quadril em uma quina de madeira. Rotina. Ana Luiza n�o se abala. Gosta da prosa, da condi��o de entrevistada. Espera que o peda�o da sua vida no notici�rio, quem sabe, desperte a aten��o de quem pode ajudar com provid�ncias. “� dif�cil viver em um mundo feito para a maioria. A vontade de vencer, de me superar, � o que me d� for�a”, ressalta. Para o paladar apurad�ssimo, a comida � boa, bem temperada. Namoro? N�o deu certo. Arranjou um mo�o, esportista, tamb�m deficiente, mas que, segundo ela, n�o queria avan�ar na vida. Resultado: ficou para tr�s.

Antes de encarar as aulas de jornalismo no Bairro Cai�ara, na Regi�o Noroeste de BH, h� o treino de jud� do outro lado da Via Expressa, no Carlos Prates. “Guarda e meia-guarda. � o que mais tenho que treinar”, constata. No tatame, h� oito judocas – seis deles com alguma defici�ncia. As duas alunas-instrutoras n�o fazem feio. Ana Luiza, faixa azul, tem for�a e t�cnica. D� trabalho para Patr�cia Castilho, estudante de educa��o f�sica e lideran�a da hora. “Ela n�o me d� tr�gua; me deixa exaurida”, diz Patr�cia, sorrindo, depois do treino com a jovem atleta.

“Se conhecesse uma reda��o de jornal, penso que poderia imaginar melhor como � o jornalismo na pr�tica”, sugere Ana Luiza, charmosa, ao fim dos treinos. E por que n�o? Na reda��o do Estado de Minas, no Bairro Funcion�rios, a estudante de comunica��o conheceu editores, infografistas, diagramadores, fot�grafos e rep�rteres. N�o desperdi�ou a oportunidade de se apresentar, pensando no futuro. Na despedida, agradeceu a visita com a alegria de quem sabe enxergar com os olhos do cora��o.

Golbol/ Um esporte exclusivo


O golbol foi criado em 1946 pelo austr�aco Hanz Lorezen e pelo alem�o Sepp Reindle. Ambos buscavam reabilitar veteranos da Segunda Guerra que haviam perdido a vis�o. Nos Jogos de Toronto (1976), sete equipes masculinas trouxeram � luz a modalidade. Dois anos depois, o registro do primeiro Campeonato Mundial, na �ustria. Em 1980, na Paralimp�ada de Arnhem, o golbol passou a integrar o programa paral�mpico. No Brasil, a modalidade foi implantada em 1985. O primeiro campeonato nacional foi realizado em 1987. Em Pequim, em 2008, ocorreu a estreia da Sele��o Masculina em uma paralimp�ada.

Diferentemente de outras modalidades do g�nero, o golbol foi desenvolvido exclusivamente para pessoas com defici�ncia. A quadra tem as mesmas dimens�es da de v�lei – 9m de largura por 18m de comprimento. As partidas duram 20 minutos, com dois tempos. Cada equipe conta com tr�s titulares e tr�s reservas. De cada lado, um gol com nove metros de largura e 1,2 de altura. Os atletas s�o, ao mesmo tempo, arremessadores e defensores. O arremesso deve ser rasteiro e o objetivo � balan�ar a rede advers�ria. A bola, semelhante em tamanho � do basquete, tem 76cm de di�metro e pesa 1,25kg. Carrega um guizo no interior que emite sons para que os jogadores se orientem.

 

Clique aqui para ouvir informa��es sobre o Golbol

 

 

Um mundo pelo tato

Censo
Segundo dados do IBGE de 2010, no Brasil, mais de 6,5 milh�es de pessoas t�m alguma defici�ncia visual. Do total, 528.624 pessoas s�o incapazes de enxergar (cegos); 6.056.654 pessoas possuem grande dificuldade permanente de enxergar (baixa vis�o ou vis�o subnormal). Outros 29 milh�es de pessoas declararam possuir alguma dificuldade permanente de enxergar, ainda que usando �culos ou lentes.


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