Mateus Parreiras e Luiz Ribeiro
Enviados especiais

Buritizeiro, Iguatama e Pirapora – Os tanques que deveriam receber e tratar o esgoto produzido por 92 mil pessoas est�o tomados por mato crescido e comprometidos por rachaduras. Outros nem sequer foram constru�dos. Sem purifica��o, os dejetos de casas e com�rcio de Iguatama, no Centro-Oeste mineiro, Buritizeiro e Pirapora, no Norte do estado, s�o despejados diretamente no Rio S�o Francisco, cuja polui��o se torna mais concentrada nesta �poca, devido �s �guas rasas, fruto da seca prolongada. Isso ocorre porque as esta��es de tratamento de esgoto (ETEs), que deveriam ser implantadas nessas cidades como parte do Programa de Revitaliza��o do Rio S�o Francisco, est�o abandonadas. Como mostrou o Estado de Minas na edi��o de ontem, como essas, outras a��es do programa est�o sendo paralisadas. Os recursos encolheram 68,4% nos �ltimos tr�s anos, de R$ 363 milh�es, em 2012, para R$ 115 milh�es, neste ano, segundo dados da Controladoria-Geral da Uni�o (CGU). Agora, os repasses est�o suspensos e o programa � reavaliado.
Situa��o que se agrava diante da constata��o de que parte do que foi feito n�o funciona e que a transposi��o, que vai retirar recursos h�dricos do manancial para o semi�rido nordestino, continua a todo vapor, aumentando em 47% seus recursos no mesmo per�odo de tr�s anos. Ao todo, nesses projetos sanit�rios parados, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do S�o Francisco e Parna�ba (Codevasf) investiu R$ 19,6 milh�es.
O matagal que cresce entre tanques, encanamentos, v�lvulas e edif�cios, que j� serviu at� de pastagem para cabras, encobre estruturas da ETE de Iguatama, uma obra de R$ 7 milh�es que deveria tratar o esgoto da cidade de 8.200 habitantes desde 2011, quando foi inaugurada pela Codevasf. Por�m, pela planta de saneamento jamais passou nem sequer um litro do esgoto do munic�pio, que continua a ser despejado menos de um quil�metro adiante, no leito do S�o Francisco. Os dutos e registros que foram montados j� apresentam ferrugem e trincas.
�s cenas de abandono se soma outra forma de desperd�cio de dinheiro, j� que as luzes da ETE ficam acesas dia e noite, mesmo sem qualquer atividade. Mais grave ainda em uma �poca em que v�rias cidades da regi�o tentam economizar �gua e energia, por causa da estiagem que atinge os principais mananciais que sustentam hidrel�tricas, como o pr�prio S�o Francisco.
REVOLTA Iguatama � um caso emblem�tico, por ser a primeira cidade cortada pelo S�o Francisco em seu trajeto de 2.700 quil�metros por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. A popula��o da cidade cobra o funcionamento da ETE, at� porque enfrentou muitos transtornos na �poca em que a implanta��o da drenagem sanit�ria esburacou e interditou as principais vias da cidade. “Foi uma sem-vergonhice a constru��o dessa ETE. A gente v� de um lado o rio morrendo, seco, cheio de bancos de areia, do outro esse edif�cio que custou milh�es, se acabando, e o esgoto da cidade emporcalhando a �gua. � revoltante”, critica o empres�rio e fazendeiro de Iguatama Osvander Vieira Sim�es.
“Reduziram o Programa de Recupera��o do S�o Francisco � constru��o de esta��es de tratamento de esgoto que n�o funcionam. Muitas n�o s�o feitas de acordo com as normas da Copasa. Outras apresentaram erros de engenharia”, afirma o professor Apolo Heringer Lisboa, coordenador do Projeto Ambiental Manuelz�o, de conserva��o do Rio das Velhas, principal afluente do Velho Chico. Ele tamb�m alerta que, na elabora��o dos projetos de revitaliza��o, foi considerada apenas a calha principal. “� preciso recuperar os afluentes e recuperar as nascentes. O S�o Francisco � filho dos afluentes e das nascentes, e n�o pai. Para se revitalizar uma bacia � preciso que o rio seja levado em considera��o como um ecossistema”, acrescenta.
O bi�logo Rafael Resck, mestre em recursos h�dricos, afirma que o tratamento dos esgotos � a medida mais urgente em uma revitaliza��o de bacia. “Hoje, esse � o pior problema para o S�o Francisco. A emiss�o de esgotos � proporcional � popula��o, que est� aumentando, mas a vaz�o do rio s� vem sendo reduzida. Isso torna os res�duos mais concentrados e compromete a qualidade dos recursos h�dricos”, explica. O especialista afirma que a polui��o torna a �gua impr�pria para uso na agricultura, pecu�ria, pesca e ainda afeta a sa�de da popula��o. “�guas muito polu�das por esgotos s�o ambientes de prolifera��o de bact�rias que transmitem doen�as. Os nutrientes e o material org�nico que chegam com o esgoto possibilitam o aparecimento de algas t�xicas para o homem, como as cianobact�rias”, alerta.
Custo sem benef�cio
Como deveriam operar as ETEs que est�o abandonadas em Iguatama (foto), Pirapora e Buritizeiro
O esgoto bruto chega da rede sanit�ria das ruas por meio de dutos. Grades fazem a primeira filtragem, retendo s�lidos grosseiros
O esgoto passa por um tanque de concreto retangular onde processo mec�nico faz com que a areia assente, para ser removida
Um tanque prim�rio, que funciona como uma fossa s�ptica, permite a deposi��o do material mais pesado no fundo. O restante flui para outro tanque, chamado decantador, onde o restante do material em suspens�o se acumula, formando lodo na base
O esgoto previamente filtrado chega �s lagoas anaer�bias, onde o restante de dejetos tamb�m desce para o fundo do reservat�rio e as impurezas s�o digeridas por col�nias de bact�rias e algas
Dependendo do tipo de contamina��o do esgoto, outros reservat�rios podem ser necess�rios,
como lagoas de matura��o, estabiliza��o, aeradas e processos de filtragem mais sofisticados
A �gua resultante desses processos retorna purificada para os mananciais
Fonte: Feam