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Estado de Minas

Crack se espalha por pequenos munic�pios mineiros e invade zona rural

Efeitos devastadores da pedra se somam a pobreza, seca e falta de infraestrutura de regi�es como o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha


postado em 19/06/2017 06:00 / atualizado em 19/06/2017 07:18

Do trabalho no campo a comunidades terapêuticas em busca de recuperação, lavradores batalham para se livrar do laço da dependência(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A PRESS)
Do trabalho no campo a comunidades terap�uticas em busca de recupera��o, lavradores batalham para se livrar do la�o da depend�ncia (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A PRESS)
Epidemia fora de controle em Belo Horizonte, onde a rede de aten��o aos usu�rios � reconhecidamente insuficiente, o crack, que deixou h� muito de ser problema das capitais, j� n�o se restringe �s maiores cidades do interior e se alastra por pequenos munic�pios, inclusive na zona rural.

Nesses lugares, a venda e o consumo da pedra proliferam � sombra da menor repress�o policial e fazem dependentes que contam com uma estrutura ainda menor na sa�de p�blica, menos apoio de entidades assistenciais do terceiro setor e capacidade inferior das fam�lias e do pr�prio poder p�blico para enfrentar um drama para o qual nem as grandes economias do pa�s t�m resposta. A realidade cobra um pre�o ainda mais caro em regi�es como o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, onde o flagelo do consumo da droga se soma ao desemprego, � pobreza e � seca, desafios hist�ricos dessas regi�es.

A pedra vem encontrando terreno f�rtil para prosperar em especial em munic�pios da regi�o que contam com plantios em projetos de irriga��o, como Jana�ba e Ja�ba. Um avan�o que se revela em situa��es como a do trabalhador rural Fabr�cio (nome fict�cio), de 37 anos, que tenta se libertar do v�cio em uma comunidade terap�utica em Montes Claros. Ele teve o primeiro contato com drogas aos 16 anos. Come�ou usando maconha e passou para coca�na. Com 24 conheceu o crack e a depend�ncia saiu do controle. Natural de Jana�ba, onde vivia na �rea urbana, ele relata que trabalhava em colheitas de banana e passou a intercalar o consumo com o servi�o nos per�metros irrigados da regi�o. “No come�o eu trabalhava durante o dia e fumava � noite”, conta o lavrador, revelando que conhece outros colegas de lavoura que tamb�m se tornaram dependentes.

Para conseguir se manter no emprego, Fabr�cio conseguiu disfar�ar o v�cio durante certo tempo. Mas conta que foi ficando cada vez mais dominado pela droga. “O crack � muito envolvente. D� muita sensa��o de prazer na hora do uso e a pessoa n�o quer parar mais”, relata o trabalhador rural, revelando que chegou a fumar 60 pedras do entorpecente em tr�s dias. Nessa altura j� n�o era mais poss�vel disfar�ar. “Acabei perdendo oportunidades de emprego. As pessoas n�o confiavam mais no meu trabalho”, conta. Sem servi�o, ele se afundou mais e mais no v�cio. “Passei a carregar as coisas de dentro de casa e a roubar para comprar pedra. Cheguei a ser preso por roubo e fiquei 30 dias trancado”, relata.

O trabalhador rural conta que em 2012 foi encaminhado para o centro de recupera��o em Montes Claros. Ap�s nove meses de tratamento, saiu “limpo”. No entanto, ao retornar a Jana�ba teve uma reca�da. H� dois meses Fabr�cio chegou � comunidade terap�utica onde est� atualmente. Afirma que est� conseguindo viver longe do crack e se mostra confiante em conseguir se livrar da depend�ncia, gra�as � for�a de vontade e � f�. “Busco sempre Deus. Sem a presen�a de Deus a gente n�o consegue largar o v�cio”, afirma.

Irriga��o faz girar neg�cios e drogas

Ja�ba, cidade de 33,5 mil habitantes, que sedia o projeto de irriga��o de mesmo nome, � uma das cidades do Norte de Minas onde a criminalidade mais avan�ou nos �ltimos anos. Junto dela, cresceu o consumo de drogas, incluindo o crack. Policiais que atuam no munic�pio revelam que, mesmo sem n�meros oficiais, � poss�vel constatar o aumento do consumo da pedra, pela concentra��o de usu�rios em terrenos vagos e tamb�m em locais pr�ximos �s barrancas do Rio Verde Grande, que corta �rea urbana.

O sargento F�bio Fernandes da Silva, que trabalha com o Programa Educacional de Resist�ncia �s Drogas (Proed), da Pol�cia Militar em Ja�ba, confirma o crescimento do uso de crack no munic�pio e revela que a droga chegou � zona rural e aos n�cleos urbanos do projeto local de irriga��o. Para ele, o pr�prio empreendimento, o maior per�metro irrigado em �rea cont�nua da Am�rica Latina, contribui para a invas�o da droga. “Por causa do projeto, a cidade tem um grande movimento de pessoas que chegam de outros lugares. Isso favorece a venda e o consumo de drogas”, disse o militar.

Al�m das palestras em escolas, realizadas por interm�dio do Proerd, o sargento F�bio Fernandes adota uma estrat�gia para tentar retirar crian�as e jovens do caminho do crack e de outras drogas com a ajuda do esporte. Ele criou e coordena uma escolinha de futebol, que re�ne crian�as e adolescentes de 6 a 17 anos. Segundo o sargento, mais de 200 alunos participam atualmente das atividades.

Maioria da popula��o de rua � dependente

Cidade polo do Norte de Minas, Montes Claros, com seus 394 mil habitantes, v� o consumo de crack nas ruas avan�ar “de forma assustadora”, como define o pr�prio diretor de aten��o da Secretaria de Sa�de do munic�pio, Bruno Pinheiro de Carvalho. Segundo ele, n�o h� um levantamento oficial sobre o consumo da droga na cidade, mas um dado d� ind�cio da dimens�o do problema: a prefeitura tem um cadastro de 600 moradores de rua, dos quais 70% s�o dependentes da pedra. Al�m disso, dos cerca de 1 mil cadastrados no �nico Centro de Apoio Psicossocial - �lcool e Drogas (Caps-AD), 60% s�o dependentes do entorpecente.

Segundo Bruno Carvalho, o crack apareceu no munic�pio em meados da d�cada de 1990 e de para l� c� se transformou em uma situa��o extremamente preocupante. At� porque o �ndice de reca�das de usu�rios em tratamento � de espantosos 60%. O diretor frisa que contribuiu para o avan�o da droga o fato de Montes Claros ser uma cidade que recebe grande n�mero de migrantes dos vizinhos menores do Norte de Minas.

Ele acrescenta que o servi�o municipal de sa�de aborda e atende os dependentes de crack e outras drogas por interm�dio da “busca ativa”, o chamado Consult�rio na Rua, integrado por equipe multidisciplinar, que inclui m�dico e outros profissionais. Mas afirma que os dependentes, em sua grande maioria, preferem permanecer nas ruas e evitam comparecer �s unidades de sa�de e de apoio, como o CAPS-AD, afastando-se tamb�m de suas fam�lias. “Eles se isolam do mundo e buscam a droga como ref�gio”, disse o diretor, que mesmo assim reconhece que apenas um CAPS-AD em Montes Claros � insuficiente para atender � demanda.


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