(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MONTANHAS DE HIST�RIAS

EM refaz trajeto de tropeiros entre Lapinha da Serra e Concei��o do Mato Dentro

Na quarta reportagem sobre as montanhas de Minas e sua import�ncia geogr�fica, hist�rica e cultural para o estado, os rep�rteres Mateus Parreiras e Leandro Couri percorreram a Cordilheira do Espinha�o, da Serra do Intendente, em Concei��o do Mato Dentro, a Lapinha da Serra, na Serra do Cip�


26/08/2018 06:00 - atualizado 03/05/2021 14:50
432



Concei��o do Mato Dentro e Santana do Riacho – A voz � mansa, mas as palavras v�m de arranque. Assim se fala o igatu, regionalismo lingu�stico confinado nos vales de Lapinha da Serra, por meio da qual o sertanejo Jos� C�ndido de Oliveira, de 90 anos, o seu Juquinha, lembra como esse badalado destino tur�stico vizinho � Serra do Cip� mudou com a passagem dos anos. Pouca gente repara como aquele local ainda preserva hist�rias e caracter�sticas dos sertanejos. O povoado original, pertencente ao munic�pio de Santana do Riacho, saltou de tr�s para 300 habitantes, mas chega a reunir 5 mil pessoas em celebra��es como a festa de s�o-jo�o. As cachoeiras que encantam visitantes serviam s� para coleta de �gua e a travessia que desportistas percorrem at� Concei��o do Mato Dentro era a �nica rota para habitantes, tropeiros e mascates.

Ouvindo a prosa do seu Juquinha, o lado belo das montanhas d� lugar �s dificuldades comuns a v�rias localidades tradicionais mineiras ao longo de sua evolu��o de arraiais para povoa��es mais bem constitu�das. “Antigamente, a gente aprontava de seguir junto com a tropa, nessas trilhas que tem no mato. S� assim para trazer as coisas, j� que n�o tinha estrada. Eram 11 burros alinhados, que tinham de vencer as pedras para o alto e descer nas grotas sem escorregar nas pedras soltas”, conta o mais velho habitante da Lapinha. As chuvas e o frio s� pioravam a situa��o das tropas. “Quando tinha chuva, os rios tomavam o trilho, tinha barro e ca�am barreiras, desciam os barrancos. Tinha que pegar o (asno) l�der da junta e colocar um peitoral de couro nele, para ir guiando a subida da tropa. Os outros burros seguiam esse que dava o caminho. Quatro pessoas davam conta de tocar a tropa, mas era trabalho para mais de quatro dias”, lembra seu Juquinha.

Trecho da travessia em que já se pode avistar o povoado de Lapinha e que era a única rota para habitantes da região, tropeiros e mascates
Trecho da travessia em que j� se pode avistar o povoado de Lapinha e que era a �nica rota para habitantes da regi�o, tropeiros e mascates (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


Os desafios dessa trilha de 27 quil�metros, entre os parques da Serra do Intendente, Natural Municipal do Tabuleiro e �rea de Preserva��o Ambiental (APA) do Morro da Pedreira, foram percorridos pela reportagem do Estado de Minas, numa travessia que ilustra as dificuldades enfrentadas pelos sertanejos que precisavam cruzar as longas dist�ncias do territ�rio mineiro. Relatos trazidos pela s�rie Montanhas de hist�rias, publicada pelo EM desde mar�o, s�o uma forma de reverenciar a saga dos mineiros pela perspectiva das montanhas que dominam oterrit�rio das Minas e das Gerais.

O trajeto mais tradicional desse caminho se inicia em Lapinha da Serra e dura tr�s dias at� chegar a Concei��o do Mato Dentro. Contudo, o sentido oposto tem ganho adeptos. Principalmente porque Concei��o do Mato Dentro apresenta dificuldades hoteleiras e conflitos sociais que andam desanimando alguns turistas encontrados pela reportagem. Um fator que nada tem a ver com o turismo, mas sim com a economia mineradora, que atraiu milhares de pessoas para o munic�pio, incorporando � rotina que antes era pacata uma grande circula��o de autom�veis, viol�ncia e costumes importados de grandes centros, sobretudo da Grande BH. J� a Lapinha da Serra se manteve pr�xima de suas ra�zes interioranas, de um povoado que surgiu com sete fam�lias originais e nem sequer tem estrada asfaltada.

Ver galeria . 8 Fotos O povoado original de Lapinha da Serra, pertencente ao município de Santana do Riacho, que tinha cerca de 300 habitantes, chega a reunir 5 mil pessoas em celebrações, como a festa de São JoãoLeandro Couri/EM/D.A. Press
O povoado original de Lapinha da Serra, pertencente ao munic�pio de Santana do Riacho, que tinha cerca de 300 habitantes, chega a reunir 5 mil pessoas em celebra��es, como a festa de S�o Jo�o (foto: Leandro Couri/EM/D.A. Press )


E um dos guardi�es dessa cultura cabocla � seu Juquinha, o anci�o da vila que ainda conversa com o sotaque de seus ancestrais, toca viola e dan�a o batuque, uma forma de manifesta��o cultural com dan�a e m�sica t�picos da comunidade. Com seu viol�o de 12 cordas, o patriarca da comunidade reproduz can��es que lhe foram passadas pelos antigos e outras de sua pr�pria composi��o. “A gente aprendeu com os tios, com os primos, com a fam�lia mesmo. Eram essas as m�sicas que a gente tinha para receber quem vinha de longe ou alegrar a partida daqueles que iam embora”, conta. Um dos batuques de sua autoria retrata justamente a solid�o da travessia feita pelas trilhas montanhosas da Serra do Intendente. “Eu n�o tenho como ir embora. No sereno da madrugada. Toda vez que eu for embora. Tira a pedra do caminho. Bota a barreira entrada.”

"Quando tinha chuva, os rios tomavam o trilho, tinha barro e ca�am barreiras, desciam os barrancos"

Seu Juquinha, de 90 anos, morador de Lapinha da Serra



O rigor das tempestades era mesmo o que mais impunha dificuldades nessas estradas primitivas. “Nas �guas (temporada de chuvas), quando tinha de atravessar o rio, a gente mandava os burros para a �gua e eles brigavam para atravessar. Mas os burros sabiam onde entrar e sair. Os animais sabiam nadar e atravessavam com toda a carga neles. Nas bolsas dos burros a gente trazia milho, feij�o, arroz. De tudo que precisava um pouco tinha. J� teve vez que a gente levou at� caixa de madeira com cervejas”, lembra seu Juquinha. Considerado um dos marcos da travessia, a Cachoeira do Tabuleiro n�o atra�a a aten��o dos tropeiros daquela �poca. “A gente dormia nas casas das pessoas que moravam no meio do caminho. � cachoeira mesmo, ningu�m ia. Aquilo l� era abandonado, ningu�m descia l� para fazer nada. Ali era tudo vago”, conta. Olhando para tr�s, o caboclo constata profundas mudan�as no vilarejo onde cresceu e formou sua fam�lia. “A Lapinha virou cidade. A Lapinha tinha tr�s casas na minha �poca. Tenho saudade daqueles tempos em que a gente conhecia todo mundo. A gente juntava para fazer o nosso batuque, as festas”, disse.

Seu Juquinha relembra as canções que eram usadas para receber quem vinha de longe ou alegrar a partida dos que iam embora
Seu Juquinha relembra as can��es que eram usadas para receber quem vinha de longe ou alegrar a partida dos que iam embora (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)

 

(A LOJA ROTA PERDIDA/ROTA EXTREMA - www.rotaperdida.com.br - forneceu parte dos equipamentos usados nas expedi��es) 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)