
Pela segunda vez, o estado de Minas Gerais, detentor do maior n�mero de represas do Brasil, se v� socorrendo feridos e recuperando corpos ap�s o rompimento de uma barragem de rejeitos da nossa maior riqueza mineral, o min�rio de ferro. A trag�dia do rompimento da Barragem do Fund�o, em Mariana, na Regi�o Central, ainda tem centenas de pessoas fora de suas casas e a do C�rrego do Feij�o, em Brumadinho, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, centenas de mortos. Pouco mais de um m�s depois de assumir o governo de Minas, Romeu Zema (Novo) enfrenta a maior crise socioambiental por que uma unidade da Federa��o j� passou. Em meio a essa situa��o, que demanda esfor�os de todo o pa�s, o governador concedeu entrevista exclusiva ao Estado de Minas, para falar sobre essa trag�dia e a resposta que o estado tem dado. “O pr�ximo passo ser� apurar as responsabilidades sobre o rompimento e trabalhar para que haja puni��o severa e exemplar”, disse o governador, que destacou o trabalho dos bombeiros. E garantiu: “Na campanha eleitoral falamos muito sobre dar agilidade aos licenciamentos, mas isso n�o significa, de forma alguma, ser menos rigorosos ou exigentes nessas an�lises”.
Estava em uma agenda fora de BH, quando o coronel Borges (chefe do Gabinete Militar do governador e da Defesa Civil) me ligou e informou sobre o rompimento da barragem B1 da Mina do Feij�o. Imediatamente, retornei para a capital para as primeiras provid�ncias. Enquanto isso, meu vice, Paulo Brant, que estava na capital, se deslocou para Brumadinho at� que eu chegasse.
Quais foram as primeiras atitudes e como o senhor avalia a resposta do governo de MG?
Nossa primeira atitude foi criar o gabinete de crise. Enquanto retornava para BH, fui monitorando as a��es por celular. Alinhamos junto � Defesa Civil, ao Corpo de Bombeiros, � Pol�cia Militar e � Pol�cia Civil e �s secretarias de governo as primeiras a��es. Preparamos as equipes para seguir imediatamente para Brumadinho. Acredito que nossa equipe trabalha muito afinada. E bons trabalhos s�o feitos em fluxo cont�nuo, com cada um fazendo a sua parte sincronizadamente com as demais.
Os recursos do estado t�m sido suficientes para suprir uma opera��o desse porte?
N�o. Como � de conhecimento de toda a popula��o, Minas Gerais vive o pior cen�rio econ�mico da sua hist�ria e � o estado mais endividado da Federa��o. Nosso compromisso � com o povo e, por isso, empregamos todos os esfor�os poss�veis para auxiliar as pessoas afetadas pelo rompimento da barragem. O estado, infeliz e irresponsavelmente, est� falido. Assumi o governo e, em menos de 30 dias, tenho que lidar com o maior crime ambiental de Minas e j� com mais de uma centena de mortos. Mas, mesmo nesse cen�rio ca�tico, me enche de esperan�a ver a disponibilidade e solidariedade tanto das nossas equipes, quanto do povo mineiro. Acredito que a solidariedade � uma das caracter�sticas mais bonitas do povo mineiro. Nas idas a Brumadinho, via a gana dos nossos militares para prestar um bom trabalho para a popula��o. Via o empenho deles na busca por sobreviventes e no aux�lio �s v�timas. Acompanhava nas redes sociais as pessoas se mobilizando para doar alimentos e �gua para as pessoas que estavam l�. Os recursos financeiros s�o muito limitados neste momento, mas os recursos humanos do povo mineiro s�o infind�veis. Pessoas simples, solid�rias, de bom cora��o, prontas para estender as m�os a qualquer momento. Acredito que se mantivermos o Estado coeso, como agimos agora, mudaremos essa realidade que tanto nos incomoda. O nosso prop�sito � mudar Minas para melhor. Com mais empregos, seguran�a e recursos.
Quais ser�o os pr�ximos passos?
O pr�ximo passo ser� apurar as responsabilidades sobre o rompimento e trabalhar para que haja puni��o severa e exemplar. O estado, por meio da Advocacia-Geral, j� desde o primeiro dia da trag�dia conseguiu um bloqueio bilion�rio de recursos da Vale para assegurar que as fam�lias atingidas sejam amparadas. Estamos falando de perdas de centenas de vidas. Isso, infelizmente, nunca poder� ser reparado. No entanto, daremos total aten��o aos familiares das v�timas, justamente em respeito �s vidas que foram perdidas ali.
E quanto � devasta��o ambiental?
Na esferal ambiental, determinamos a desativa��o de todas as barragens constru�das a montante. Outro fato a salientar � que mantivemos o secret�rio de Meio Ambiente, Germano (Luiz Gomes Vieira, que atuou tamb�m no governo de Fernando Pimentel), ap�s ouvirmos diversas lideran�as desse setor e que se mostravam favor�veis � continuidade dele, justamente pelo trabalho que foi feito na pasta ap�s o desastre de Mariana, frisando que ele n�o era o secret�rio � �poca desse primeiro rompimento, embora seja um servidor efetivo da Semad.
H� uma controv�rsia sobre a acelera��o das licen�as para atividades como a minera��o. Isso pode tornar essa atividade menos segura?
Na campanha eleitoral falamos muito sobre dar agilidade aos licenciamentos, mas isso n�o significa, de forma alguma, ser menos rigorosos ou exigentes nessas an�lises. Minas leva a minera��o at� no nome. N�o poderemos crucificar o setor, que � um dos esteios da nossa economia. Mas, a partir de agora, a parte que nos cabe ser� refor�ada para que n�o ocorram mais mortes nessa atividade. Vamos fazer uma triagem intensa nas barragens atuais para checar se h� outras em situa��o de risco.
H� alguma previs�o de aux�lio externo?
Sobre aux�lio, temos tido muita solidariedade de todos, citando o exemplo da parceria afinada com a Uni�o por meio do presidente (Jair) Bolsonaro e at� com pa�ses amigos, como � o caso de Israel, nesse pronto atendimento �s v�timas de Brumadinho. Em um aspecto mais amplo, o que vamos precisar mesmo � que os projetos para a recupera��o fiscal passem na Assembleia para que possamos aderir ao plano do Tesouro Nacional o mais r�pido poss�vel e ter um f�lego nas contas p�blicas do Estado.
Alguma mensagem para as fam�lias atingidas e mineiros?
Quero deixar uma mensagem de esperan�a para todas mineiras e mineiros. Que n�o est� faltando empenho e trabalho para superarmos esse momento de profunda tristeza e luto. Vejo no exemplo de garra e efici�ncia dos nossos militares no salvamento uma sa�da para resolvermos nossos problemas assim. Com todos imbu�dos numa mesma causa: restaurar Minas Gerais. Das trag�dias ambientais e da fal�ncia financeira.