(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas SABEDORIA DO CAMPO

Agricultor defende 'cota para brancos' em faculdade p�blica. Entenda por qu�

Ambientalista homenageado pela Unimontes defende faculdade de agroecologia com reserva de vagas para que alunos de escolas particulares aprendam com comunidades tradicionais


postado em 14/10/2019 06:00 / atualizado em 14/10/2019 08:35

'A ideia é que as pessoas possam conhecer e respeitar o cerrado, a questão hídrica e a importância das comunidades tradicionais', Braulino Caetano dos Santos, homenageado com o título de doutor honoris causa pela Unimontes(foto: Christiano Jilvan/Unimontes/Divulgação)
'A ideia � que as pessoas possam conhecer e respeitar o cerrado, a quest�o h�drica e a import�ncia das comunidades tradicionais', Braulino Caetano dos Santos, homenageado com o t�tulo de doutor honoris causa pela Unimontes (foto: Christiano Jilvan/Unimontes/Divulga��o)
A cria��o de uma faculdade p�blica com “cotas” para brancos. A proposta � de um pequeno produtor rural de 74 anos, de Montes Claros, no Norte de Minas, que, mesmo com “pouca leitura”, virou doutor. Antes que sua proposta possa causar estranhamento, o ambientalista Braulino Caetano dos Santos, que idealiza a implanta��o de cursos de agroecologia voltados para a conserva��o ambiental e o desenvolvimento sustent�vel, explica qual o sentido: transmitir tamb�m a estudantes da escola privada a sabedoria das comunidades tradicionais na conserva��o da natureza.

 

Braulino recebeu o t�tulo de doutor honoris causa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), ap�s aprova��o pelo Conselho Universit�rio da institui��o, com base na trajet�ria do pequeno produtor rural. Ele ganhou destaque pela luta em defesa do cerrado, das �guas e dos povos tradicionais do bioma, criando e participando de v�rias entidades envolvidas na luta pelo desenvolvimento sustent�vel. Com isso, virou objeto de estudo em disserta��es de mestrado, teses de doutorado e monografias em universidades, al�m de ser convidado para encontros e confer�ncias em outros pa�ses.

 

A entrega do t�tulo de doutor honoris causa ocorreu na abertura do 4º Col�quio Internacional dos Povos Tradicionais. E foi durante o evento que Braulino anunciou a proposta da cria��o da faculdade com “cotas para brancos”. De acordo com o agricultor e ambientalista, a ideia � a cria��o de uma faculdade p�blica que venha a oferecer cursos de agroecologia, destinados a negros, ind�genas e outros povos tradicionais, mas que reserve vagas tamb�m a alunos da escola privada – hoje, as reservas nas universidades priorizam os alunos do ensino p�blico.

 

Segundo Braulino, o objetivo do curso de agroecologia com “cota para brancos” seria transmitir informa��es sobre as pr�ticas relacionadas � conserva��o do cerrado e das �guas, al�m de estimular estudos e mais conhecimento sobre as popula��es tradicionais. “A ideia � que as pessoas possam conhecer e respeitar o cerrado, a quest�o h�drica e a import�ncia das comunidades tradicionais.”

 

O ambientalista explicou ainda que iniciativa visa a incentivar os filhos dos pequenos produtores a conhecer mais as pr�ticas sustent�veis e se interessarem em permanecerem na zona rural, trabalhando nas pequenas propriedades, “sem ter vergonha dos seus pais”. Desta maneira, explica, o objetivo tamb�m � combater o �xodo rural e estimular a produ��o no campo, fomentando a agricultura familiar. “O que acontece hoje � que quando formamos um filho nosso em curso de t�cnico agr�cola, por exemplo, ao receber o diploma, parece que ele tem um passaporte para desaparecer”, avaliou.

 

Para ele, com o �xodo rural e a falta de interesse dos jovens em trabalhar a terra, o campo est� sendo cada vez mais esvaziado. “Perto das grandes cidades, as pequenas propriedades est�o se tornando �reas de lazer de grandes empres�rios, que deixam nelas um caseiro para preparar o churrasco no fim de semana”, comenta. Segundo ele, o curso de agroecologia gratuito visa a reverter essa situa��o.

 

Braulino Caetano conta que j� discutiu a ideia da cria��o da faculdade de agroecologia com “cotas para brancos” com professores e com integrantes do Centro de Agricultura Alternativa (CAA) do Norte de Minas, organiza��o n�o governamental (ONG) voltada para apoio aos pequenos agricultores e comunidades tradicionais, que ele ajudou a fundar.

 

 

Escola da vida


Devido � sua atua��o na defesa do cerrado e das comunidades tradicionais, o agricultor e ambientalista Braulino Caetano dos Santos tornou-se objeto de estudos e dono de uma sabedoria agora reconhecida tamb�m pelo t�tulo da Unimontes. Ao receber o t�tulo de doutor honoris causa, entregue pelo reitor Ant�nio Alvimar Souza, n�o mudou seu estilo de homem do campo: usava chap�u de couro e botina.

 

 

Apesar do t�tulo, o ambientalista n�o tem receio de dizer que tem “pouca leitura”. “O que aprendi da escola foi consequ�ncia da vida”, afirma Braulino. Ele disse que era completamente analfabeto at� os 32 anos, quando assumiu o cargo de secret�rio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montes Claros. Foi a� que aprendeu a ler e a escrever com a ajuda da mulher, que era professora leiga. O aprendizado foi “por necessidade”, j� que ele se tornou o respons�vel pela elabora��o de atas das reuni�es da entidade.

 

A “pouca leitura” n�o o impediu de voar alto. Tanto que, al�m de ter atuado na cria��o de v�rias entidades voltada para a conserva��o ambiental e para a defesa das popula��es tradicionais – entre elas a Articula��o Nacional de Agroecologia (ANA), a Articula��o do Semi�rido (ASA) e a Rede Cerrado –, Braulino Caetano j� participou de encontros e confer�ncias ambientais em pa�ses como Estados Unidos, Alemanha, It�lia, Turquia, Mo�ambique e Argentina. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)