Entenda o que o t�tulo de Cidade Criativa na gastronomia significa para BH

O tempero, riqueza de ingredientes e regionalidade j� consagrados nas mesas e nos paladares espalhados pelo Brasil agora tamb�m v�o se tornar, oficialmente, refer�ncia internacional. A culin�ria mineira, por meio de Belo Horizonte, entrou ontem para o seleto grupo das Cidades Criativas da Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco). O reconhecimento considerou dossi� elaborado pela Belotur, com colabora��o de empres�rios, chefs e associa��es ligadas � comida do estado, que permitiu que BH fosse agraciada na sede da Unesco, em Paris, como uma das capitais mundiais da gastronomia criativa. Fortaleza (CE), por sua influ�ncia na �rea do design, tamb�m se tornou uma cidade criativa. Cataguases, na Zona da Mata mineira, concorreu a uma vaga por sua produ��o cinematogr�fica, mas n�o entrou para o time.

Para o presidente da Belotur, Gilberto Castro, a distin��o � resultado de um trabalho conjunto. “O que contou foi o trabalho coletivo, pois participaram cerca de 90 integrantes do poder p�blico e associa��es, com apoio do setor privado, a partir de empres�rios e chefs. Esse trabalho foi capaz de mostrar a singularidade da nossa gastronomia. Belo Horizonte sintetiza tudo que � feito no estado”, explica.

Ainda de acordo Gilberto Castro, a valoriza��o da gastronomia mineira n�o d� s� �gua na boca de quem vive ou passa por aqui, mas tamb�m impulsiona a economia de Belo Horizonte. "A candidatura defendeu o DNA pr�prio da nossa gastronomia. Sem sombra de d�vidas, � importante para (a culin�ria de) BH, mas tamb�m para valorizar nossa economia e nossa proje��o internacional. A expectativa � que tenhamos, de fato, a gastronomia como um motor do desenvolvimento econ�mico”, pontua.

Segundo ele, outros trabalhos desenvolvidos pela prefeitura tamb�m contribu�ram para a conquista. “As pol�ticas p�blicas que a prefeitura vem trabalhando tamb�m, como as feiras comunit�rias e o restaurante popular. Al�m do fato de a cidade ter a s�ntese da gastronomia mineira", completa. "O t�tulo passa a ser, na verdade, motivo de mais trabalho, pois o dossi� define objetivos de longo prazo. H� uma s�rie de coisas a serem feitas, n�o s� na troca de experi�ncias a partir da rede criativa, mas tamb�m desenvolver programas que envolvam toda cadeia da gastronomia", complementa.

BH concorria com Aracaju (SE), na �rea de m�sica; Cataguases (MG), em cinema; e Fortaleza (CE), em design. Esses munic�pios foram indicados, preliminarmente, pelo Itamaraty, que realizou uma pr�-sele��o das cidades brasileiras. Apenas 21 cidades no mundo inteiro haviam sido reconhecidas por sua gastronomia pela Unesco, como Parma, na It�lia, e San Antonio, nos Estados Unidos. No Brasil, agora s�o quatro nesse quesito: Bel�m (PA), Florian�polis (SC) e Paraty (RJ), al�m de Belo Horizonte. Bras�lia (DF) , Curitiba (PA) e agora Fortaleza (CE) est�o na rede na categoria designs. Jo�o Pessoa (PB), na categoria artesanato e artes folcl�ricas, Salvador (BA), em m�sica, e Santos (SP), em cinema, complementam o grupo brasileiro  de cidade criativas (veja quadro).

Al�m de BH e Fortaleza, a Unesco anunciou outras 64 cidades criativas ontem. Elas ter�o o compromisso de defender a��es de desenvolvimento sustent�vel que beneficiem diretamente as comunidades no n�vel urbano. O foco se volta a cinco princ�pios: pessoa, planeta, prosperidade, paz e parceria. Com as escolhas de ontem, a rede conta com cerca de 250 munic�pios espalhados por todos os continentes.

"Em todo o mundo, essas cidades, cada uma a seu modo, fazem da cultura o pilar, e n�o um acess�rio, de sua estrat�gia", diz a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay. "Isso favorece a inova��o pol�tica e social e � particularmente importante para as gera��es jovens".

Receita para o sucesso

No �ltimo dia do prazo para que cada postulante ao t�tulo de Cidade Criativa da Unesco, Belo Horizonte enviou a defesa de candidatura a Paris. Para conquistar o t�tulo, a capital mineira apostou na mescla dos mais de 70 festivais que s�o realizados na cidade anualmente, na “cultura de boteco” e na import�ncia da cadeia produtiva que gera mais de 54 mil postos de trabalho, movimentando algo em torno de R$ 4,5 bilh�es por ano.

Outro trunfo � o fato de sintetizar os territ�rios gastron�micos de Minas. O documento que re�ne esses ingredientes foi constru�do tendo como base a hist�ria da cidade e da gastronomia, as pol�ticas p�blicas do setor, a cadeia produtiva e a governan�a. A etapa final da disputa envolveu a an�lise dos dossi�s, com as principais caracter�sticas de cada postulante, que foram analisados na capital francesa, sede da Unesco.

Para o chef L�o Paix�o, propriet�rio do Restaurante Glouton, Nicolau Bar da Esquina e Nico Sandu�ches, o reconhecimento da Unesco n�o trar� benef�cios de imediato para a capital mineira, mas significa uma oportunidade para ampliar neg�cios. “Acredito que isso possa trazer algum tipo de m�dia para atrair clientes. Com o tempo, todo o processo colaborativo da Unesco pode trazer uma s�rie de benef�cios, inclusive com a vinda de algum tipo de recurso que possa facilitar alguma a��o dentro da gastronomia”, salienta.

Ainda segundo Paix�o, BH s� entrou para o grupo das cidades criativas gra�as � valoriza��o dos governos municipal e estadual, que enfim entenderam a contribui��o da gastronomia mineira para o turismo e para a economia. “A gente pode melhorar na gastronomia como um todo. Tudo ainda tem muito o que crescer. Mas o t�tulo d� uma inje��o de �nimo pra gente. Nos �ltimos oito anos, eles (governos) t�m investido em gastronomia. Isso � muito importante”, sustenta.

Propriet�rio do Bar do J�lio, que est� h� 42 anos no Mercado Central, J�lio C�sar Palhares, de 57, v� o reconhecimento como uma oportunidade para quem trabalha no setor. “Nosso diferencial � o f�gado com jil� e cebola. Queremos que ainda mais pessoas venham visitar o Mercado Central depois desse pr�mio. Todo turista que vem a BH precisa conhecer esse espa�o. Nossa gastronomia come�a por aqui”, destaca.

A vendedora de queijos Marlene Le�o, que tamb�m trabalha no ponto tur�stico do Hipercentro, disse que a culin�ria mineira � a que mais desperta interesse entre os turistas. “A gente recebe todos os tipos de turistas aqui, do mundo inteiro. Quando falamos dos queijos, eles ficam loucos”, afirma. *Estagi�rias sob supervis�o da subeditora Rachel Botelho