Laudo da Pol�cia Civil aponta que cerveja adulterada causou doen�a misteriosa em BH
Per�cia detecta dietilenoglicol em amostras da Belorizontina. Subst�ncia t�xica leva a quadro compat�vel com o de pacientes. SES re�ne for�a-tarefa para tra�ar atua��o
postado em 09/01/2020 19:15 / atualizado em 10/01/2020 10:30
Pol�cia Civil esteve na sede da cervejaria Backer, na tarde desta quinta-feira, em Belo Horizonte (foto: Juarez Rodrigues/EM/D. A. Press)
O medo iniciado no domingo, quando as primeiras informa��es come�aram a surgir nas redes sociais, ganhou um novo cap�tulo nesta quinta-feira: a Pol�cia Civil e a vigil�ncia sanit�ria informaram, em pronunciamento nesta noite no Instituto M�dico-Legal (IML), que per�cia em amostras de cerveja encontrou subst�ncia t�xica compat�vel com os quadros cl�nicos desenvolvidos por oito pessoas (uma delas morreu na ter�a-feira), todas ligadas ao Bairro Buritis, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte. O composto org�nico dietilenoglicol, tamb�m conhecido como �ter de glicol, usado no processo de refrigera��o na ind�stria de cerveja, foi encontrado em dois lotes (L11348 e L21348) do r�tulo Belohorizontina, da cervejaria Backer. Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Sa�de de Minas Gerais (SES-MG), informou que, diante do laudo “que comprova a presen�a de subst�ncia t�xica em cerveja consumida por pacientes internados em estado grave, em Belo Horizonte” convocou a for�a-tarefa envolvida na investiga��o “para defini��o dos encaminhamentos m�dicos, epidemiol�gicos e da Vigil�ncia Sanit�ria”.
Antes de divulgar o laudo, peritos da corpora��o vistoriaram a sede da empresa de bebidas artesanais, tamb�m localizada no Oeste de BH, no Bairro Olhos D'�gua. “Nas duas amostras de cerveja encaminhadas lacradas pela vigil�ncia sanit�ria do munic�pio de Belo Horizonte foi identificada a presen�a da subst�ncia dietilenoglicol em exames preliminares”, diz o laudo. Fontes ouvidas pelo Estado de Minas garantem que lotes de Belohorizontina produzidos entre outubro e dezembro do ano passado podem estar contaminados.
Apesar de a subst�ncia t�xica ter sido encontrada em garrafas do produto, as autoridades ainda n�o cravam que a contamina��o tenha ocorrido na cervejaria. “N�o h�, em hip�tese alguma, afirma��o de que a empresa seja respons�vel pela contamina��o”, ressaltou o promotor do Procon Amauri da Matta. Isso porque as garrafas em que o �ter de glicol foi rastreado foram recolhidas pelas autoridades fora da ind�stria. Contudo, uma das medidas j� tomadas pelas autoridades, de acordo com fontes ouvidas pela reportagem, � recolher todas as Belohorizontinas ainda comercializadas nas tr�s unidades de supermercado onde as cervejas contaminadas teriam sido compradas pelos pacientes. Os estabelecimentos est�o localizados nos bairros Cidade Nova e Buritis, ambos na capital mineira, e em Nova Lima, na Grande BH.
Outro ponto que incomodou a Pol�cia Civil durante a opera��o foi o fato de um refrigerador usado pela Backer no processo de produ��o estar localizado em um local em obras. Contudo, n�o h� liga��o efetiva do fato com a contamina��o por dietilenoglicol. Ainda na vistoria da for�a-tarefa realizada hoje, conforme fontes ouvidas pela reportagem, a corpora��o recolheu amostras de outros r�tulos da Backer. A per�cia pretende, com isso, verificar se outras cervejas da marca est�o pr�prias para consumo.
O avan�o na investiga��o do caso ocorreu horas depois de o Instituto M�dico-Legal finalizar a necr�psia do corpo de Paschoal Demartini Filho, de 55 anos, que morreu na noite de ter�a-feira depois de ter sido internado com os sintomas da “doen�a misteriosa”. Os trabalhos do IML foram finalizados na madrugada por volta das 3h, com aux�lio de um especialista da Universidade de S�o Paulo (USP). Por parte da Secretaria de Estado de Sa�de (SES), o balan�o continua o mesmo: nove notifica��es, com uma descartada (um idoso de 76), e oitos casos em apura��o por meio do Centro de Informa��es Estrat�gicas em Vigil�ncia em Sa�de (CIEVS Minas), incluindo um �bito.
Pacientes come�aram a apresentar os sintomas da doen�a misteriosa em dezembro. No in�cio, problemas gastrointestinais (n�usea e/ou v�mito e/ou dor abdominal). Depois, insufici�ncia renal aguda de evolu��o r�pida (em at� 72 horas) somada a altera��es neurol�gicas, como paralisia facial e descendente, borramento visual, amaurose (perda da vis�o parcial ou totalmente) e altera��o sensorial.
A cerveja Belohorizontina foi alvo de suspeita de moradores do Buritis desde que as primeiras informa��es come�aram a circular, no fim de semana. Depois da entrevista da Pol�cia Civil, a fabricante disse que o �ter de glicol “n�o faz parte do processo de produ��o” do r�tulo.
Drama das fam�lias
Morador do Bairro Sion, na Regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, C�lio Barros convive com a ang�stia e a incerteza desde o in�cio de dezembro. O irm�o dele tem 56 anos, � morador do Buritis e est� internado no Hospital Mater Dei, no Bairro Santo Agostinho, tamb�m no Centro-Sul da cidade, desde 6 de dezembro, ou seja, antes da �ltima quinzena de 2019, quando seis dos oito casos em investiga��o foram registrados. Dois, entre os quais provavelmente est� o parente de Barros, foram notificados na quarta-feira e a Secretaria de Estado de Sa�de informou que ainda n�o havia mapeado a data do adoecimento.
“Meu irm�o sentiu um desconforto muito grande no dia 5 e foi ao m�dico. Quando chegou ao hospital, a press�o dele estava em 22. Deram um rem�dio e ele voltou para casa. No dia 6, ele acordou e n�o conseguiu trabalhar. Isso foi �s 8h e ele decidiu voltar ao hospital. �s 11h, j� estava internado”, relata C�lio. No retorno � unidade m�dica, o banc�rio de 56 anos passou por exames de sangue. Os profissionais de sa�de detectaram diversas altera��es ligadas ao funcionamento dos rins. “Ele n�o urinava desde o dia anterior. Isso tudo aconteceu seis meses depois que ele fez um check-up que mostrou que sua sa�de estava boa”, conta o irm�o.
De acordo com os relatos de Barros, a v�tima, em poucos dias, sofreu com borramento visual, paralisa��o facial e perdeu os movimentos, sintomas da doen�a misteriosa. O banc�rio ficou entubado por cerca de 15 dias e s� saiu desse estado neste m�s. “Ele gosta muito de cerveja e come muita carne tamb�m. Aquele churrasquinho. A fam�lia inteira bebe e confraterniza. Todos beberam e comeram as mesmas coisas que ele. � muito estranho”, conta o irm�o do doente.
C�lio lamenta os dias dif�ceis enfrentados pela fam�lia Barros. “Quando voc� vai pro hospital com apendicite, se preocupa, mas j� sabe que tem tudo para o tratamento dar certo. Mas um neg�cio desse preocupa demais. Por isso, os m�dicos serem transparentes ajuda muito. O que voc� quer ver � a pessoa que est� cuidando do seu ente querido como parceiro. Isso ajudou muito meu irm�o”, ressalta.
(foto: Arte EM)
Leia a nota da cervejaria Backer
"Ap�s entrevista coletiva nesta tarde, a Pol�cia Civil divulgou laudo informando que a subst�ncia dietilenoglicol foi identificada em duas amostras recolhidas da cerveja Belorizontina na casa de clientes, que vieram a desenvolver os sintomas. Vale ressaltar que essa subst�ncia n�o faz parte do processo de produ��o da cerveja Belorizontina, fabricada pela Cervejaria Backer.
Por precau��o, os lotes em quest�o - L1 1348 e L2 1348 - citados pela Pol�cia Civil, e recolhidos na resid�ncia dos consumidores citados, ser�o retirados imediatamente de circula��o, caso ainda haja algum remanescente no mercado. A Cervejaria Backer continua � disposi��o das autoridades para contribuir com a investiga��o e tem total interesse que as causas sejam apuradas, at� a conclus�o dos laudos e investiga��o."