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Estado de Minas QUILOMBOLAS

Coronav�rus: f� e ci�ncia juntas na prote��o em comunidades quilombolas

Em respeito ao distanciamento, comunidades da Grande BH trocam festejos em honra a Nossa Senhora do Ros�rio, tradicionais em maio, por preces familiares


postado em 27/05/2020 04:00 / atualizado em 27/05/2020 07:38

Com objetos de fé, mas sem abrir mão da proteção da máscara, Mário Braz da Luz, da Comunidade dos Arturos, diz que nunca viu nada parecido em seus 87 anos(foto: Fotos: Leandro Couri/Em/D.a press)
Com objetos de f�, mas sem abrir m�o da prote��o da m�scara, M�rio Braz da Luz, da Comunidade dos Arturos, diz que nunca viu nada parecido em seus 87 anos (foto: Fotos: Leandro Couri/Em/D.a press)


Maio costuma ser sin�nimo de festa nas comunidades quilombolas, guardi�s de conhecimentos e tradi��es da cultura negra em Minas. No entanto, o novo coronav�rus mudou costumes tamb�m nesses espa�os. Para se proteger, matriarcas e patriarcas de dois dos mais importantes remanescentes de quilombos mineiros orientam os mais jovens a ficarem em casa, usar m�scara e �lcool em gel. Parte importante da identidade desses povos, os festejos em homenagem a Nossa Senhora do Ros�rio tamb�m ter�o de mudar. Foi o que descobriu o Estado de Minas no Quilombo dos Arturos, em Contagem, e no Quilombo do A�ude, em Jaboticatubas, ambos na Grande BH.

“� o m�s de Maria. Mas, com a pandemia, pedimos para cada um fazer a reza em fam�lia. Mantemos a tradi��o rezando e agradecendo a Deus”, afirma Fl�vio Jos� dos Santos, de 48 anos, do A�ude. A devo��o revelada em suas palavras � algo que comp�e as formas de viver dessas comunidades, onde desde cedo meninos e meninas aprendem cantos, dan�as e preces em homenagem a Nossa Senhora do Ros�rio. � nelas que se encontram as origens do congado mineiro.

Sem largar a f�, a matriarca  do Quilombo do A�ude, Maria das Merc�s dos Santos, ou simplesmente Dona Merc�s, assim como outras lideran�as adotaram, com sabedoria, as medidas preconizadas pela ci�ncia para proteger as 128 pessoas que vivem em uma das comunidades mais tradicionais de Minas. Por esse motivo, a comunidade n�o far� este ano, no �ltimo domingo de maio, o candombe em homenagem a Nossa Senhora do Ros�rio – uma tradi��o que consiste em uma reza em forma de canto, entoado em grandes rodas que se formam � noite, para que todos possam participar.

Com capela em Contagem fechada, faixa informa sobre a suspensão das benzeções por tempo indeterminado, por causa do novo coronavírus
Com capela em Contagem fechada, faixa informa sobre a suspens�o das benze��es por tempo indeterminado, por causa do novo coronav�rus


Localizada na Serra do Cip�, um importante polo tur�stico, a comunidade tamb�m limitou a entrada de visitantes neste per�odo de enfrentamento � pandemia. “Fechamos a comunidade para visita. Estamos nos protegendo bem, cuidando bem mesmo”, diz Fl�vio. At� mesmo os integrantes da comunidade que vivem em Belo Horizonte foram orientados a ficar onde est�o, para guardar a quarentena. “N�o transitamos pelas avenidas principais da Serra do Cip�. S� sa�mos para o essencial”, diz Fl�vio dos Santos. O cuidado � redobrado devido ao n�mero de pessoas com mais de 60 anos, cerca de 20 moradores.

O reconhecimento da comunidade como remanescente de quilombo chegou em 2004, como espa�o de manuten��o das tradi��es da cultura negra. A agricultura familiar � uma fonte de onde tiram o sustento, nesses tempos suplementado com ajuda externa. “O pessoal tem ajudado bastante com cestas b�sicas”, diz Fl�vio.

Seguindo todos os cuidados que a ci�ncia preconiza para a preven��o da COVID-19, os moradores t�m esperan�a de que tudo v� passar, e que deixar� ensinamentos. “O  homem vem plantando h� muito tempo. Agora est� colhendo. Havia muita gan�ncia. A Terra vem sofrendo demais com atitude do ser humano, que n�o pensa no pr�ximo. Quando tudo isso passar, teremos um mundo melhor, mais coletividade, mais igualdade humana, mais valor � fam�lia”, acredita Fl�vio.

Restri��es e
igrejas vazias

No Quilombo dos Arturos, as orienta��es da ci�ncia tamb�m andam de m�os dadas com a f�, e os cuidados foram redobrados. A comunidade negra descende de Camilo Silv�rio da Silva que, em meados do s�culo XIX, chegou ao Brasil num navio negreiro vindo de Angola. Fazem parte do grupo 80 fam�lias, cerca de 500 pessoas.

Entre eles, a quarentena est� sendo guardada e todos usam m�scaras. Maria das Gra�as de Souza, de 70 anos, uma das matriarcas, est� assustada com o avan�o no novo coronav�rus. “Mudou demais a rotina. � muito dif�cil. A gente n�o pode sair. Mesmo com os cuidados dentro de casa, a gente ainda fica com medo”, afirma.

Entre as mudan�as de que se ressente, est�o a restri��o a visitar as pessoas em hospitais e as mudan�as nos hor�rios do transporte coletivo. “Eu mesma, de 9h para tr�s � que posso tomar �nibus. Tudo est� dif�cil”, constata. Na avalia��o dela, a pandemia � uma prova de Deus. “As pessoas querem passar por cima Dele, n�o querem ter caridade. Muita coisa est� ocorrendo para ver ser os seres humanos mudam”, afirma.

Um dos patriarcas dos Arturos, M�rio Braz da Luz, conta que nunca enfrentou situa��o parecida em seus 87 anos de vida. “Se Deus quiser acabar com o mundo, � coisa de minuto”, filosofa. Ele acredita que a epidemia exige que as pessoas tenham mais uni�o, mas lamenta a suspens�o das festas religiosas, t�o tradicionais na comunidade. “Semana Santa n�o teve prociss�o. As igrejas est�o todas vazias”, lamenta.


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