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Estado de Minas CASO LORENZA

Promotor matou a mulher, acusa o Minist�rio P�blico

A conclus�o do inqu�rito aponta para feminic�dio praticado por Andr� de Pinho contra sua esposa, Lorenza Maria Silva de Pinho; m�dicos tamb�m s�o indiciados


30/04/2021 16:11 - atualizado 30/04/2021 19:33

Lorenza morreu em 2 de abril, no apartamento onde o casal morava com os cinco filhos, no Bairro Buritis, em Belo Horizonte(foto: Facebook e MPMG/Divulgação)
Lorenza morreu em 2 de abril, no apartamento onde o casal morava com os cinco filhos, no Bairro Buritis, em Belo Horizonte (foto: Facebook e MPMG/Divulga��o)

“Lamento informar a todos que estamos diante de um feminic�dioA morte de Lorenza Maria Silva de Pinho, crime atribu�do ao seu marido, o promotor Andr� Luiz Garcia de Pinho, aconteceu, segundo conclus�o das investiga��es da for�a tarefa, que foi composta pelo Minist�rio P�blico e Pol�cia Civil, por asfixia, a��o contundente e intoxica��o.”

Estas foram as palavras com as quais o Procurador-Geral de Justi�a de Minas Gerais, Jarbas Soares Filho, que presidiu o inqu�rito, anunciou a conclus�o do caso.

 

Al�m do promotor, dois m�dicos que assinaram o atestado de �bito, Itamar Tadeu Cardoso e Alexandre Maciel, est�o sendo indiciados por informa��es falsas no atestado de �bito. “Os dados s�o inver�dicos."

 

Nesta sexta-feira, foi oferecida a den�ncia ao Tribunal de Justi�a de Minas Gerais, com o pedido de pris�o preventiva do promotor, que dever� permanecer preso at� o julgamento. A pris�o tempor�ria se expiraria na segunda-feira. 

 

Ind�cios confirmados e falta de colabora��o do promotor

Segundo o promotor de Justi�a Marcos Paulo de Souza Miranda, as investiga��es tiveram in�cio �s 14h40 do dia 2 de abril de 2021. Foi quando foi formada a for�a tarefa, por determina��o da promotora Eliane Falc�o, coordenadora administrativa do TJMG. De imediato, a desembargadora Karen Emmerick emitiu o mandado de pris�o tempor�ria.

 

Segundo Marcos Paulo, todos os ind�cios de que Lorenza tinha sido v�tima de uma morte violenta foram confirmados pelo laudo do exame de corpo de delito. E que as investiga��es n�o ficaram restritas ao laudo, mas, antes mesmo da conclus�o deste, a for�a tarefa deu in�cio �s investiga��es e enfrentou problemas com a falta de colabora��o do promotor Andr� de Pinho.

 

“Ele se op�s, no dia da morte de Lorenza, que fosse feita uma per�cia no quarto onde a v�tima foi encontrada morta. Ele n�o deu a autoriza��o para a per�cia no apartamento, o que somente foi feito no dia 4”, afirma.

 

No entanto, o trabalho da for�a tarefa reuniu provas nesse per�odo. Segundo Marcos Paulo, as c�meras de monitoramento registraram o descarte de material, do quarto e do apartamento, na lixeira do pr�dio, nos dias 2 e 3 de abril. “Ou seja, uma atividade suspeita”.

 

Al�m disso, o promotor se recusou a fornecer as senhas de dois celulares, o seu particular e o de Lorenza, e tamb�m se recusou a fornecer os acessos de WhatsApp. Por�m, apesar da recusa, testemunhas ouvidas pela for�a-tarefa revelaram que, muitas vezes, o promotor Andr� se apossava do celular da esposa e enviava mensagens como se fosse ela.

 

E para ter acesso �s mensagens e registros dos dois telefones, a for�a tarefa est� solicitando a ajuda da empresa que fabrica o aparelho, em Israel, e somente depois do desbloqueio que ser� feito ter�o acesso �s liga��es feitas e mensagens, de ambos os aparelhos. O resultado dessa parte da investiga��o tamb�m ser� anexada ao processo.

 

Outra recusa do promotor, que serviu para aumentar as suspeitas sobre a pr�tica do crime, foi, segundo o dr. Marcos Paulo, a recusa em fornecer material gen�tico para ser examinado, j� que foi encontrado material debaixo das unhas de Lorenza, que indicariam que ela tentou lutar contra uma agress�o. “Ele dificultou as investiga��es”, afirma.

 

Necropsia revelou sinais de viol�ncia

A necropsia foi acompanhada pelo delegado Alexandre Fonseca, da Delegacia de Homic�dios e integrante da for�a-tarefa, segundo o qual primeiro foi feita uma necropsia virtual, computadorizada, que analisou a parte interna do corpo de Lorenza. Segundo o delegado, a necropsia deixou claro sinais de viol�ncia, com contus�es na cabe�a e coluna cervical. 

 

Outro fator que dep�e contra o promotor � que na per�cia feita no apartamento, no quarto do filho mais velho, ainda adolescente, foi encontrado um rev�lver, com cinco balas intactas. “Isso demonstra falta de cuidado para com os filhos”, diz o promotor.

 

Carta sobre o relacionamento do casal 

Tamb�m foi feita uma per�cia no apartamento em que o casal residia antes de se mudar para o Buritis, no Bairro Sion. L�, foi encontrada uma carta, com a letra de Lorenza, em que ela fala do relacionamento do casal, que estaria se deteriorando.

 

A delegada Gislaine Oliveira diz que a carta relata o desgaste no relacionamento do casal, e que Lorenza teria ca�do em depress�o profunda depois da morte de sua m�e. “Passava a maior parte do tempo trancada em seu quarto”.

 

A carta revela que o promotor chegou a dizer que suspeitava de que a mulher o tra�a. Al�m disso, foi levantado que o casal passava por dificuldades financeiras, tendo sido despejados de um apartamento anterior ao que viviam. Lorenza relatava sobre sofrimento e reclamava da falta de aten��o do marido para com ela e que n�o se relacionavam sexualmente havia cinco meses.

 

Certid�o de �bito

Segundo o delegado Alexandre Fonseca, o laudo emitido pelos m�dicos Itamar e Alexandre indica que a morte teria acontecido por pneumonite e aspira��o de alimento ou v�mito. No entanto, salienta ele, n�o foi encontrado qualquer res�duo no pulm�o.

 

Isso indica, segundo o delegado, que houve falsidade ideol�gica. “L� est� escrito que havia, quando os m�dicos chegaram, atividade el�trica, o que acontece somente quando ainda h� vida, mas, no caso, Lorenza j� estava morta. S�o dados inver�dicos.”

O exame de corpo de delito concluiu, ainda, que existia dosagem de subst�ncias qu�micas no corpo.

 

O promotor de justi�a Cl�udio Maio de Barros ressalta que o laudo do IML � oficial, por se tratar do �rg�o oficial da Pol�cia Civil de Minas Gerais para cuidar de aut�psias. E que neste fica bem claro que houve uma hemorragia na coluna cervical, e que essa a��o s� acontece quando a pessoa est� ainda com vida. “O socorro s� chegou com ela morta”.

 

E contesta o laudo usado pela defesa, que contratou um m�dico perito, mas, segundo o dr. Cl�udio, este n�o teve acesso ao corpo em momento algum e que somente viu o laudo.

 

No pedido de pris�o e na conclus�o, a for�a tarefa deixa claro que o crime ocorreu por motivo torpe, e que foi realizado com recurso que impossibilitou a defesa da v�tima.

 

Ao final de seu pronunciamento, o procurador-geral se mostrou sensibilizado e comovido, ao se dirigir � fam�lia de Lorenza. “Desejo for�a � fam�lia, e que ela receba os mais sinceros sentimentos do Minist�rio P�blico de Minas Gerais.”

 

O que disse a defesa

Depois do �ltimo depoimento de Andr� Pinho, que durou mais de tr�s horas, o advogado de defesa Robson Silva disse que “o sentimento � de que n�o h� nenhuma prova contra o dr. Andr� e que leve � conclus�o de que ele tenha cometido homic�dio. N�o foi cometido crime, segundo o laudo”, afirmou o advogado.

 

“O laudo mostra que a morte foi causada por intoxica��o ex�gena, ingest�o de bebida alco�lica, mais o uso de medicamentos controlados. N�o existe uma a��o concreta que possa atribuir ao dr. Andr� a culpa. N�o h� uma causa violenta, apesar de um m�dico, o dr. Marcelo, ter dito de que a causa da morte seria a viol�ncia", completou o advogado do promotor.

 

Sobre o fato de o laudo citar hematomas internos, ele disse: “S�o hematomas internos que podem muito bem ter sido provocados por manobras de ressuscita��o. O laudo cita asfixia e intoxica��o. N�o existe nada que revele culpa”. 

Relembre o caso

Lorenza Maria Silva de Pinho morreu em casa no Bairro Buritis, Regi�o Oeste de Belo Horizonte. O marido alegou que ela havia se engasgasgado durante o sono, ap�s tomar rem�dios. 

 

No mesmo dia, logo ap�s a confirma��o do �bito por um m�dico, ele levou a esposa direto para a funer�ria e pagou pelo servi�o de crema��o. Familiares da v�tima, no entanto, acionaram a Pol�cia Civil, que determinou que o corpo fosse encaminhado ao IML para a realiza��o de exames. Legistas detectaram marcas na regi�o do pesco�o.

 

O casal tinha cinco filhos com idades entre 2 e 17 anos. Eles est�o sob a guarda provis�ria do m�dico da fam�lia, Bruno Sander. 

 

Hist�rico familiar conturbado

Segundo a Pol�cia Civil, o promotor e a mulher chegaram a registrar ao menos 30 boletins de ocorr�ncia contra o irm�o de Andr� Lu�s, que � advogado, ap�s sofrerem amea�as e viol�ncias diversas. Ele teria se tornado hostil pelo fato de n�o ter sido apoiado durante o processo de separa��o de sua ex-mulher. 

 

Em 2012, Andr� e Lorenza foram alvejados por tiros durante uma sa�da de carro. O irm�o do promotor foi apontado como suspeito. Lorenza tinha uma medida protetiva contra ele.  

 

O que � feminic�dio?

Feminic�dio � o nome dado ao assassinato de mulheres por causa do g�nero. Ou seja, elas s�o mortas por serem do sexo feminino.

O Brasil � um dos pa�ses em que mais se matam mulheres, segundo dados do Alto Comissariado das Na��es Unidas para os Direitos Humanos. O pa�s ocupa, desde 2013, o 5º lugar no ranking de homic�dios femininos numa lista que inclui 83 pa�ses.

A tipifica��o desse tipo de crime � recente no Brasil. A Lei do Feminic�dio (Lei 13.104/15) entreou em vigor em 9 de mar�o de 2015.

O feminic�dio � o n�vel mais alto da viol�ncia dom�stica. � um crime de �dio, o desfecho tr�gico de um relacionamento abusivo.

O que � relacionamento abusivo e como sair dele?

Especialistas ensinam a identificar sinais de uma rela��o abusiva, falam sobre sua origem e explicam porque a viol�ncia dom�stica � quest�o de sa�de p�blica.

Como fazer den�ncia de viol�ncia contra mulheres

  • Para denunciar e/ou buscar ajuda, ligue 180
  • Em casos de emerg�ncia, ligue 190

Saiba o que � a cultura do estupro

O Brasil tem um caso de estupro a cada oito minutos. Ao contr�rio do que o senso comum nos leva a acreditar, a viol�ncia contra as mulheres nem sempre ocorre de forma expl�cita.

Os abusos podem come�ar cedo, ainda na inf�ncia. Para tentar entender as origens dessa brutal realidade, o Estado de Minas ouviu especialistas em direito da mulher, ci�ncias social e pol�tica, psicologia, filosofia e comunica��o para mostrar como a cultura do estupro, da pornografia e da pedofilia fazem parte da nossa sociedade e estimulam, direta e indiretamente, esse ciclo de viol�ncia contra mulheres e crian�as.

Como a pornografia distorce o sexo e incita viol�ncia contra mulheres


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