
"As bombeiras inspiram na �rea de mergulho, inc�ndio, atendimento pr�-hospitalar, produtos perigosos, at� nas opera��es especiais. N�o vejo por que haver distin��o"
Cabo Carolina Maria Viriato Freitas, primeira mulher da corpora��o a integrar equipe de busca e salvamento fora de Minas
Mulheres que inspiram outras mulheres com substantivo feminino: bravura. Numa atividade de predomin�ncia masculina, bombeiras militares enfrentam o desafio de provar que tamb�m s�o capazes de salvar vidas todos os dias. Em Minas Gerais, o Corpo de Bombeiros tem 584 bombeiras em atividade, e mesmo assim s� no m�s passado conseguiu enviar a primeira a compor uma equipe de busca e salvamento em miss�es fora do estado.
Antes disso, a corpora��o mineira j� havia atuado em outras quatro opera��es externas de apoio – Mo�ambique, Amaz�nia, Haiti e Bahia. Mas n�o havia presen�a feminina nessas equipes, apesar de haver bombeiras no trabalho di�rio do Batalh�o de Emerg�ncias Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad). A situa��o � atribu�da ao restrito recrutamento de mulheres na corpora��o, que destina a elas apenas 10% das vagas nos concursos p�blicos.
Experi�ncia
O curr�culo de Carolina � apreciado no meio militar, por sua atua��o em grandes opera��es, como nos desastres da minera��o em Mariana e Brumadinho, al�m de outras grandes ocorr�ncias, como o deslizamento de terra ocorrido em 2013, em Sardo�, no Vale do Rio Doce, que provocou a morte de cinco pessoas.
“Nenhuma ocorr�ncia � igual a outra. Muda a extens�o, os riscos s�o diferentes. Nessa de Petr�polis, o terreno era muito acidentado, a visibilidade dificultava e as chuvas chegavam de repente, a toda hora, ent�o havia tamb�m uma situa��o de risco para n�s, que est�vamos nos trabalhos de busca”, relembra Carolina, al�m de pontuar a import�ncia do trabalho em equipe e intera��o com os familiares das v�timas.
Nos dias em que esteve na cidade serrana, sua equipe conseguiu resgatar quatro corpos soterrados. Embora no trabalho tudo tenha ocorrido bem, ela confidencia que gostaria de ter mais companheiras. “Preferia que houvesse mais (mulheres), pelo menos mais uma”, diz. “Queria que meu trabalho fosse mostrado naturalmente, mas infelizmente � muito dif�cil mostrar a mulher no nosso meio.”
Capacidade indiscut�vel
Compet�ncia, coragem e determina��o s�o tra�os caracter�sticos da militar, tamb�m instrutora do curso de soterramento e salvamento em enchentes e inunda��es, desenvolvido pela corpora��o e incorporado ao Treinamento de Resposta a Desastres Urbanos da For�a Nacional de Seguran�a P�blica.
Carolina come�ou na carreira aos 23 anos, mas n�o se limitou � atividade de salvar e proteger vidas e bens alheios. Hoje, ela j� tem duas gradua��es no curr�culo: matem�tica e arquitetura e urbanismo. “Conhecimento sempre agrega at� no nosso dia a dia mesmo”, afirma.
Mineira de Pedro Leopoldo, a cabo Carolina lembra que, quando crian�a, n�o tinha refer�ncias femininas em viaturas vermelhas para se inspirar, mas o incentivo da m�e foi fundamental para escolher a profiss�o. “Minha m�e era uma pessoa muito boa. Ela tinha essa ideia da profiss�o bombeiro, de ajudar as pessoas”, relembra enquanto l�grimas correm pelo rosto. “O choro � de saudade dela mesmo. Lembran�a boa.”
Refer�ncias
“Acho que esse protagonismo importa, porque outras mulheres v�o ver que tem essa possibilidade. Antes de eu entrar no Corpo de Bombeiros, n�o tinha ideia de como era. N�o tinha ideia de que l� havia mulheres dando aula, trabalhando na rua. Na minha cidade, eu nunca tinha visto uma bombeira. Se a gente conseguir mostrar que tem como fazer um trabalho que na ideia das pessoas normalmente n�o se associa a uma mulher, isso pode inspirar outras”, diz a militar.
“Hoje vejo muitas mulheres de v�rias �reas na corpora��o. Elas inspiram na �rea de mergulho, inc�ndio, atendimento pr�-hospitalar, produtos perigosos, at� nas opera��es especiais. N�o vejo por que distinguir mulher de homem”, afirma.
Mas na rotina di�ria, em meio � predomin�ncia masculina, a mulher bombeira n�o est� isenta de preconceito, conta. “J� aconteceu. Quando voc� entra, a gente passou pelas mesmas provas, os testes de resist�ncia, for�a e t�cnica. Depois a gente se forma. Mas, quando vai trabalhar, tem hist�rias de tratamento diferente. Continuamos tendo que provar que temos capacidade”, lamenta Carolina.