
Na primeira ocorr�ncia, registrada pela Pol�cia Militar, em Ibirit�, na Grande BH, uma mulher foi esfaqueada perto da Escola Estadual Jo�o Ant�nio Siqueira, no bairro Washington Pires. De acordo com a pol�cia, ela � funcion�ria da escola e estava indo para o trabalho no momento em que foi abordada pelo ex-companheiro.
A v�tima foi socorrida por funcion�rios da escola e levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ibirit�. O estado de sa�de dela n�o foi informado. Militares do 48º Batalh�o da Pol�cia Militar fizeram buscas na regi�o para tentar prender o criminoso que segue foragido.
O segundo caso aconteceu em Pouso Alegre, no Sul de Minas. Um homem foi preso em flagrante depois de perseguir a ex-mulher at� a porta da delegacia, onde ela foi prestar queixa contra ele.
A v�tima, de 34 anos, contou � pol�cia que, quando quis se separar, o ex-companheiro passou a amea��-la, dizendo frases como ‘se n�o fosse dele, n�o seria de mais ningu�m’. Al�m de persegui-la, ele a proibiu de estudar e trabalhar. Segundo a v�tima, apesar de n�o ter sido agredida fisicamente, ele tinha ci�mes excessivos, pegava o cart�o banc�rio dela e gastava todo o dinheiro, sem autoriza��o.
O homem foi preso em flagrante pelo crime de contraven��o, pelo uso do cart�o da v�tima sem autoriza��o e vai responder ainda pelo crime de viol�ncia dom�stica.
Morta a facadas ap�s denunciar o agressor
Os casos registrados nesta quarta-feira n�o s�o isolados. Segundo dados da Secretaria de Estado de Justi�a e Seguran�a P�blica de Minas Gerais (Sejusp), o estado registrou, de janeiro a mar�o deste ano, 33.848 casos de viol�ncia dom�stica e familiar contra a mulher. Em 2020 foram 145.424 casos e em 2021, 144.618 ocorr�ncias.
Na semana passada, uma mulher de 30 anos foi morta a facadas pelo ex-companheiro dentro da pr�pria casa, no Bairro Tropical, em Contagem, na Grande BH. O suspeito, de 23 anos, j� tinha sido preso por amea�a e agress�o � v�tima, mas foi liberado na madrugada em que cometeu o crime, ap�s ter colocado uma tornozeleira eletr�nica.
A delegada Karine Tassara, titular da Casa da Mulher Mineira, lembra que a medida protetiva � um recurso bastante eficaz no combate � viol�ncia dom�stica e familiar contra a mulher. “Quando ela registra o boletim de ocorr�ncia e pede uma medida protetiva, ela tem sim uma seguran�a. Mas ela n�o � 100%. N�o temos um seguran�a ao lado dessa mulher.”
Karine afirma que, na maioria dos casos de feminic�dio a v�tima, �s vezes, n�o registrou nenhum boletim de ocorr�ncia contra o agressor. Para a delegada, o grande desafio no combate a este tipo de crime � fazer com que a sociedade entenda que a viol�ncia dom�stica e familiar contra a mulher � sist�mica. “E precisamos estranhar essa viol�ncia. O tempo todo a sociedade precisa estar ciente de que a viol�ncia dom�stica e familiar n�o � fato isolado, n�o s�o poucos os casos e ela � mais presente do que imaginamos.”
A delegada alerta que quando a mulher come�a a suspeitar que est� passando por uma situa��o de viol�ncia dom�stica, deve buscar ajuda para identificar se a situa��o que ela est� vivendo se enquadra nesses casos.
“Muitas vezes, essa mulher n�o sabe que est� sofrendo viol�ncia. Ela acha que aquilo � normal porque a viol�ncia contra a mulher em ambiente familiar ainda � sist�mica, � hist�rica e naturalizada. � necess�rio acender esse alerta para que crian�as, adolescentes, sociedade de forma geral, sejam orientados a identificar o que � uma viol�ncia dom�stica e familiar.”
Segundo Karine, a sociedade tamb�m precisa ser instigada a denunciar. “� importante n�o esperar muito tempo, a segunda vez ou a terceira vez. � importante que ela tome uma provid�ncia imediata. � um desafio social, estrutural. Temos uma origem machista e o patriarcalismo ainda est� arraigado na nossa sociedade. O ato de a mulher denunciar precisa ser incentivado. Ela precisa ser encorajada a tomar uma provid�ncia o quanto antes”, afirma.
Como buscar ajuda
Existe um canal de den�ncia espec�fico para a viol�ncia dom�stica, com uma central de atendimento � mulher. O n�mero � o 180. “O denunciante � an�nimo, mas � importante que ele passe informa��es em rela��o � v�tima, o endere�o em que ela se localiza, para que possamos apurar os fatos”, explica a delegada.
J� a medida protetiva, em regra, � solicitada pela v�tima. “N�o � comum a medida ser solicitada pelos pais ou irm�os. Teria que avaliar cada caso.” Ela ressalta ainda que � importante diferenciar: a medida protetiva n�o est� ligada � provid�ncia criminal. “Um boletim de ocorr�ncia pode resultar em uma medida protetiva, caso seja o desejo da mulher. Mas, pode resultar tamb�m em uma apura��o criminal, se for o caso. Tem que analisar cada caso e cada crime.”
A mulher em estado de viol�ncia dom�stica e familiar deve procurar a delegacia mais pr�xima. Se na cidade em que ela mora n�o tiver delegacia especializada em atendimento � mulher, a v�tima deve ir a uma delegacia comum. Ela vai registrar o boletim de ocorr�ncia e pedir a medida protetiva.
A Casa da Mulher Mineira � uma unidade policial que tem o objetivo de atender ocorr�ncias de demanda espont�nea das mulheres v�timas de viol�ncia dom�stica, familiar e sexual, garantindo um acolhimento humanizado e mais c�lere, em local projetado especialmente para essa finalidade.
O espa�o fica na Avenida Augusto de Lima, 1.845, no Barro Preto, bem pr�ximo � Delegacia Especializada em Atendimento � Mulher. As mulheres s�o atendidas por uma equipe de policiais e servidores de diversas �reas de forma��o, como psic�logos e assistentes sociais, treinados para orientar, encaminhar e acolher todas as demandas da mulher em situa��o de viol�ncia.
Dados de Viol�ncia Dom�stica e Familiar contra a Mulher em Minas
- 2020 - 145.424 casos
- 2021 - 144.618 casos
- 2022 (janeiro a mar�o) - 33.848
- janeiro - 11.389
- fevereiro - 10.423
- mar�o - 12.036
Dados de Viol�ncia Dom�stica e Familiar contra a Mulher em BH
- 2020 - 16.974 casos
- 2021 - 16.964 casos
- 2022 (janeiro a mar�o) - 3.900
- janeiro - 1.332
- fevereiro - 1.215
- mar�o - 1.353
O que � relacionamento abusivo?
Os relacionamentos abusivos contra as mulheres ocorrem quando h� discrep�ncia no poder de um em rela��o ao outro. Eles n�o surgem do nada e, mesmo que as viol�ncias n�o se apresentem de forma clara, os abusos est�o ali, presentes desde o in�cio. � preciso esclarecer que a rela��o abusiva n�o come�a com viol�ncias expl�citas, como amea�as e agress�es f�sicas.
A viol�ncia dom�stica � um problema social e de sa�de p�blica e, que quando se fala de comportamento, a raiz do problema est� na socializa��o. Entenda o que � relacionamento abusivo e como sair dele.
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Como denunciar viol�ncia contra mulheres?
- Ligue 180 para ajudar v�timas de abusos.
- Em casos de emerg�ncia, ligue 190.
O que � viol�ncia f�sica?
- Espancar
- Atirar objetos, sacudir e apertar os bra�os
- Estrangular ou sufocar
- Provocar les�es
O que � viol�ncia psicol�gica?
- Amea�ar
- Constranger
- Humilhar
- Manipular
- Proibir de estudar, viajar ou falar com amigos e parentes
- Vigil�ncia constante
- Chantagear
- Ridicularizar
- Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em d�vida sobre sanidade (Gaslighting)
O que � viol�ncia sexual?
- Estupro
- Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto
- Impedir o uso de m�todos contraceptivos ou for�ar a mulher a abortar
- Limitar ou anular o exerc�cio dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher
O que � viol�ncia patrimonial?
- Controlar o dinheiro
- Deixar de pagar pens�o
- Destruir documentos pessoais
- Privar de bens, valores ou recursos econ�micos
- Causar danos propositais a objetos da mulher
O que � viol�ncia moral?
- Acusar de trai��o
- Emitir ju�zos morais sobre conduta
- Fazer cr�ticas mentirosas
- Expor a vida �ntima
- Rebaixar por meio de xingamentos que incidem sobre a sua �ndole
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