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Estado de Minas VIOL�NCIA CONTRA A MULHER

'Por que tanta agressividade?', diz advogada esfaqueada por ex-namorado

Bruno da Costal Val foi indiciado pela Pol�cia Civil nesta quinta (23), ap�s um m�s da tentativa de feminic�dio, quando agrediu Ver�nica Suriani com 11 facadas


23/06/2022 13:52 - atualizado 23/06/2022 15:33

Momento em que a advogada Verônica foi agredida pelo ex-namorado com 11 facadas
A mulher s� n�o foi morta gra�as � coragem da bab� Patr�cia Dias, que puxou a advogada das m�os do rapaz (foto: V�deo/Reprodu��o)
“Ainda me questiono o porqu� de tanta agressividade.” O desabafo � da advogada Ver�nica Suriani, de 40 anos, esfaqueada pelo ex-namorado no Bairro Gutierrez, Regi�o Oeste de Belo Horizonte. O agressor, Bruno da Costa Val Fonseca, foi indiciado pela Pol�cia Civil nesta quinta-feira (23/6), ap�s um m�s da tentativa de feminic�dio. A mulher s� n�o foi morta gra�as � coragem da bab� Patr�cia Dias, que puxou a advogada das m�os do rapaz.

Mas, mesmo com o indiciamento, a mulher acredita que, ainda que o homem cumpra a pena, � necess�rio que ele receba um acompanhamento psicossocial, para que o mesmo erro n�o ocorra com outras mulheres. “Ele ir� pagar para a sociedade o mal que fez, mas, se ele n�o fizer tratamento, isso pode acontecer com outras v�timas”, afirmou.

Em abril de 2020, foi sancionada a Lei 13.984/20 que obriga o agressor, em casos de viol�ncia dom�stica, a frequentar centros de reabilita��o e educa��o, al�m de receber acompanhamento psicossocial.  O texto alterou a Lei Maria da Penha, em seu artigo 22. 

Ver�nica ressalta que essa emenda na Lei, que garante a necessidade de tratamento do agressor, � muito importante para que a viol�ncia contra as mulheres seja combatida.

“No meu caso, a quest�o foi muito s�ria, pois foi uma tentativa de feminic�dio. Autores de agress�o e ame�a tamb�m devem ser tratados, assim eles ter�o ci�ncia de que est�o cometendo um crime. Talvez, se o Bruno tivesse esse acompanhamento, conforme a Lei, quando ocorreu a primeira agress�o, h� seis meses, n�s n�o ter�amos terminado numa situa��o t�o triste e grave”, contou. 

Ver�nica havia acabado a rela��o em novembro de 2021, ap�s o homem agredi-la. Desde ent�o, Bruno n�o aceitava o fim do relacionamento, a amea�ando e perseguindo. Na noite  anterior ao crime (22/6), ele teria invadido o apartamento dela. Por medo, no dia seguinte,  a mulher resolveu sair do im�vel com os filhos, onde foi surpreendida com o ataque do agressor, que n�o se arrependeu.

Ver�nica j� est� se recuperando 

Cerca de um m�s ap�s o crime, a advogada afirma que est� fazendo acompanhamento m�dico psiqui�trico e psicol�gico. No dia da agress�o, ela foi atingida nas costas, no peito, bra�os e na coxa pelo ex-namorado. “Estou frequentando o m�dico, mudei de casa e tentando me recuperar. Fisicamente j� estou bem melhor. Ainda tenho muitas cicatrizes e com dificuldade para movimentar o bra�o, mas irei come�ar a fisioterapia. Agora, � cuidar da mente e da alma”, disse. 

Em rela��o aos filhos, de 7 e 10 anos, que presenciaram o atentado, a v�tima explica que eles j� voltaram para a rotina normal. “As crian�as j� est�o readaptadas na rotina normal e tamb�m est�o fazendo terapia. Mas eles est�o bem. A situa��o em si foi muito grave, mas ele ter agido de tal forma na frente dos meus filhos, foi de uma crueldade imensa.”

Ela conta que ainda se questiona o motivo de tanta agressividade. “Penso que � algo que ocorre com todas as mulheres agredidas, inclusive comigo. Eu me questiono o porqu� de tanta agressividade com uma pessoa que ele compartilhou a vida e sonhos. Algu�m que voc� amou e cuidou, sabe? N�o tem causa e efeito que justifica isso.”

Conforme Ver�nica, � ‘assustador’, ap�s fazer tanto o bem para algu�m, terminar com uma tentativa de feminic�dio. “Eu advoguei para a fam�lia, eu cuidei da fam�lia e dele, ajudei no emprego e na terapia. Eu era companheira, caminhamos por um bom tempo juntos, e a pessoa n�o tem gratid�o. Ent�o sempre fica o porqu�”, ressaltou.


‘Me relacionei com uma pessoa aparentemente am�vel’

O crime contra � advogada n�o foi a primeira vez que Bruno teria comportamento agressivo. Segundo a Pol�cia Civil, j� havia uma s�rie de den�ncias contra ele, incluindo a queixa de uma ex-namorada. A v�tima, que na �poca tinha 26 anos, estava sendo perseguida e amea�ada pelo homem, pois este n�o aceitava o fim do relacionamento. A mulher contou que ele enviava mensagens intimidadoras para as amigas dela. 

“Eu n�o sabia que o Bruno tinha boletim de ocorr�ncia e medida protetiva por causa de outra ex-namorada. Eu desconhecia esse fato. Ent�o, isso j� ocorreu com uma pessoa e, depois, aconteceu comigo. � o padr�o do machismo aceit�vel na sociedade, que coloca a mulher na posi��o de objeto. Por isso, o acompanhamento psicossocial � importante”, contou Ver�nica.

Segundo a mulher, ap�s o ocorrido, recebeu muito apoio da Comiss�o de Enfrentamento da Viol�ncia Contra Mulher da OAB, sobretudo da advogada Isabela Pedersoli, que tamb�m acredita na relev�ncia do tratamento do agressor. “Ela reafirma muito isso. � necess�rio recuperar esse agressor que, quando era adolescente, observava esse tipo de agress�o na sua casa e isso fica leg�timo para a sociedade. Um empurr�o, um tapa e, depois, uma tentativa de feminic�dio, como foi o meu caso”, disse. 

A advogada afirma que espera mais movimentos governamentais para cuidar das v�timas de viol�ncia dom�stica e do agressor. “Porque isso acaba sendo uma doen�a social que est� sendo legitimada. S�o quest�es de 1900, quando era permitido o homem agredir a mulher. Mudou-se a lei, mas o fato ainda ocorre. S�o mulheres agredidas diariamente e, muitas vezes, somos tratadas socialmente para n�o sermos agressivas e, por isso, aceitamos essa agress�o na esperan�a que n�o ir� ocorrer novamente. Mas, infelizmente, n�o � a �ltima”, completou. 

Conforme Ver�nica, esse tipo de comportamento ainda est� enraizado na nossa cultura. “Por exemplo, se a mulher n�o � uma boa dona de casa, muitos acreditam que isso j� � motivo para a agress�o ser aceit�vel. Ainda escutamos pessoas dizendo isso, pois h� um h�bito cultural que devemos trabalhar para n�o existir mais”, ressaltou.  

Apesar do carinho que recebeu de muitas pessoas, ela conta que, depois da agress�o, algumas pessoas ainda questionam o fato dela ter se relacionado com Bruno. “Isso � algo que me magoa muito. Eu me envolvi com uma pessoa aparentemente am�vel, respeit�vel e instru�do. T�nhamos uma vida completamente normal, meus filhos gostavam muito dele.  O Bruno nunca falou alto com as crian�as. No entanto, por causa de uma negativa no relacionamento, ele se tornou agressivo. Essas afirma��es s�o outras agress�es contra a v�tima,  como se a culpa fosse nossa”, disse. 
 

Medo de den�ncia est� 'associada a fatores sociais e jur�dicos' 

Segundo a advogada, o medo de mulheres em denunciar os agressores est� relacionado a fatores sociais e jur�dicos. “Isso porque, muitas vezes, ficamos desamparadas. Mesmo sendo advogada, eu me senti um pouco assim. Hoje fa�o acompanhamento pelo Centro Risoleta Neves de Atendimento � Mulher (Cerna), mas penso que deveria ter recebido essa assist�ncia na primeira agress�o. A Lei � muito interessante, mas o programa ainda � falho”, afirmou.

Al�m disso, Ver�nica ressalta que, muitas vezes, as v�timas t�m vergonha da situa��o. “Eu vejo que as mulheres t�m uma vergonha social por passar esse constrangimento. Depois do que aconteceu comigo, eu fiquei impressionada com a quantidade de mulheres que me ligaram, para relatar situa��es de agress�o”, contou. 

Ela conta que, apesar de tudo, recebeu muito carinho. “O lado bom de ter vivido isso, foi ver o lado humano das pessoas. Eu fui muito acolhida, muita gente orou por mim, me ligou, mandou mensagem, flores, e esse � o lado que devemos cativar. � dif�cil viver a limiar do bem e do mal, mas eu senti muito amor por pessoas que eu nem conhecia”, afirmou.  

Para a mulher, a den�ncia contra agress�o  � fundamental. “Existe um padr�o de agressividade, que vai evoluindo at� chegar em tentativa de morte. Acredito que, quanto mais r�pido a situa��o for resolvida, melhor � para a v�tima. Por isso, a Lei precisa ser eficaz”, finalizou. 
 
*Estagi�ria sob supervis�o 
 


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