Um passeio por pontos da Regi�o Central contemplados com o programa de revitaliza��o da Prefeitura de Belo Horizonte encontra moradores e visitantes que consideram as mudan�as mais que bem-vindas. No Parque Municipal Am�rico Renn� Giannetti, mais antigo do que a pr�pria capital, que j� est� ficando aberto at� 21h de ter�a a s�bado, frequentadores de longa data, alguns quase “devotos” desse o�sis no meio da metr�pole, aplaudem a amplia��o de hor�rio.
Jo�o da Silva Camelo, de 59 anos, natural do Serro, no Vale do Jequitinhonha � um deles. Hoje morador de Justin�polis, em Ribeir�o das Neves, na Regi�o Metropolitana de BH, ele se lembra das �guas do Rio Jequitinhonha, enquanto admira os peixes nadando sob a Ponte R�stica, � sombra das �rvores do parque. “Este �, sem d�vida, um dos lugares de que mais gosto em Belo Horizonte. Muito bom ficar aberto at� tarde. Minha filha de 14 anos e meu filho de 12 gostam demais de vir aqui.”
Tamb�m curtindo a tarde, os irm�os Clarismundo Rodrigues, de 64, e Al� Rodrigues, de 56, v�o al�m. “Se fosse por minha vontade, o parque ficaria aberto nas 24 horas do dia. � muito bom vir aqui, � a natureza no meio da cidade”, opina Clarimundo, marceneiro, morador do Bairro Salgado Filho, na Regi�o Oeste de BH. “A gente pode ver os peixes e n�o escuta barulho”, acrescentou Al�, t�cnico em eletr�nica que vive na terra natal de ambos: Rubim, no Vale do Jequitinhonha.
O maior tempo para visita��o agrada tamb�m ao casal Flaviano Silva de Jesus, atendente de padaria, e Talita Dafne, residente no munic�pio vizinho de Sabar� e sempre indo ao Parque Municipal, nas folgas, para um piquenique com os filhos Jasmine Emanuelly, de 3, e Anthony, que comemorava ontem 1 ano e ganhou um bolo confeitado. “Legal at� para festejar � noite. M�s que vem � o anivers�rio da esposa, ent�o podemos vir”, disse Flaviano.
Para o Parque Municipal, o programa da prefeitura prev� um espa�o multiuso, em fase de atualiza��o de projetos e que ocupar� a �rea do antigo Col�gio Imaco. A previs�o � de que os estudos estejam conclu�dos ainda no primeiro semestre, para ent�o negociar junto ao estado, que faz parte do conv�nio, recursos para licitar as obras na antiga escola.
Mirante
Parada estrat�gica na hora do almo�o, no p�r do Sol, nas noites estreladas e em madrugadas de Lua cheia, a Rua Sapuca�, no Bairro Floresta, tamb�m na Regi�o Centro-Sul, de onde se avista um belo panorama de BH, virou “point” da capital, com bares, restaurantes, galerias de arte e muita badala��o. Agora, virou �rea de lazer oficial: aos domingos, a via, famosa pela mureta debru�ada sobre a Pra�a da Esta��o fica fechada ao tr�nsito para atividades de lazer, cultura e gastronomia.
No in�cio da tarde de quarta-feira, saboreando um t�pico prato mineiro, a designer paraense Ta�s Stein, que vive em BH h� quatro anos, apresentava a Sapuca� ao amigo �llan Mau�s, m�dico de Bel�m (PA) residente em S�o Paulo (SP). “Ele chegou e j� falei: vou te levar a um lugar bem legal da cena urbana”, contou Ta�s, que v� naquele endere�o uma familiaridade que � remete � terra natal.
Da mesa, Ta�s e �llan observam a Pra�a da Esta��o, as empenas do Projeto Cura (Circuito Urbano de Arte), o Viaduto Santa Tereza, o Edif�cio Acaiaca e outros pr�dios hist�ricos. “Estava falando com ele sobre esse programa da prefeitura. Com a rua fechada, as pessoas v�o poder andar livremente”, comentou a paraense.
Dono do Xang�, misto de bar, restaurante e galeria de arte, Jo�o Pinheiro s� v� vantagens nas interven��es propostas pela prefeitura. “Com a rua fechada aos domingos, as pessoas podem circular tranquilamente ou praticar esportes. Noventa por cento do nosso p�blico vem de transporte por aplicativo, ent�o a via ficar fechada n�o significa problema para o com�rcio”, destaca.
Convoca��o para toda a sociedade
No conjunto de decretos e despachos que marcam o in�cio do programa Centro de Todo Mundo, a prefeitura informou que pretende deixar a �rea mais bonita, arborizada e acess�vel, al�m de melhorar as op��es de lazer, cultura, desenvolvimento e seguran�a. Belo-horizontino criado no Bairro Padre Eust�quio, o prefeito Fuad Noman declarou: “N�o � um projeto da prefeitura, � um projeto da sociedade. E para todos aqueles que tiverem interesse em participar, estamos de portas abertas. Que o Centro seja bonito, que nos orgulhe, que possa ter gente circulando, morando, gente trabalhando, e que seja de fato aquilo que j� foi”.
Como parte das interven��es, a Pra�a Jo�o Pessoa, no Bairro Funcion�rios, deve receber um monumento em homenagem �s v�timas da COVID-19 e aos profissionais de sa�de. O prefeito assinou despacho autorizando concurso p�blico para cria��o e instala��o do “Memorial � Vida” no espa�o que integra o Conjunto Hist�rico e Paisag�stico da Avenida Bernardo Monteiro. Para isso, est�o previstos R$ 450 mil do Fundo de Prote��o do Patrim�nio de Belo Horizonte.
Passando pelo local em dire��o ao trabalho, o ge�grafo Thiago Campos apoia as mudan�as e fica na expectativa de que os locais p�blicos sejam bem aproveitados. “Quando h� atrativos, as pessoas se apropriam mais do lugar. A constru��o do memorial � boa ideia para que esse epis�dio n�o seja esquecido e que lembremos sempre dos tempos dif�ceis da pandemia.”
Conforme a PBH, outra iniciativa pretende simplificar o Programa Adoro BH, para ado��o de espa�os p�blicos e �reas verdes. Com a a��o, dever�o ser reduzidas as dificuldades burocr�ticas e exig�ncias para a ado��o de espa�os p�blicos por pessoas f�sicas ou jur�dicas com interesse em preservar e valorizar o patrim�nio p�blico, como pra�as, parques, canteiros, rotat�rias, pistas de caminhada e ciclovias.
Expectativa
O presidente da Associa��o dos Lojistas do Hipercentro de Belo Horizonte, Fl�vio Froes, explica que pacote de interven��es na regi�o atende a um antigo pedido da entidade. “A regi�o est� abandonada h� anos. Ap�s a inaugura��o da Cidade Administrativa (sede oficial do governo de Minas, no Bairro Serra Verde, Regi�o de Venda Nova, inaugurada em 2010), o Centro se esvaziou ainda mais, situa��o ampliada com a pandemia. Al�m disso, a chamada ‘desconcentra��o’, criando outras centralidades, mostrou que n�o deu certo, ocasionando, em resumo, mais deslocamentos, gasto de combust�vel, perda de tempo”, acredita.
Segundo Fl�vio Froes, o Centro da cidade precisa voltar a ser habitado, o que significa vida, movimento, dinamismo. “H� uma boa estrutura de servi�os, moradias, equipamentos de lazer � espera de aproveitamento. Essa ideia de demolir o acr�scimo do Sulacap � excelente. Os belo-horizontinos, com certeza, v�o descobrir uma cidade que n�o conhecem”, projeta.
Pedido de socorro h� duas d�cadas
Em 28 de janeiro de 2002, com o t�tulo de “Centro perde a identidade”, o Estado de Minas publicou reportagem mostrando os problemas da regi�o que, agora, recebe um pacote de interven��es. Na �poca, guiada pela arquiteta, urbanista e professora de planejamento urbano Jurema Rugani, para quem “Belo Horizonte era linda, por�m mal-amada”, a equipe do EM percorreu diversos cantos da cidade, com primeira parada do Edif�cio Sulacap, considerado uma “arquitetura deformada”.
Desde ent�o, houve avan�os, mas, na �poca, o cen�rio se mostrava ca�tico. Em infogr�fico sob t�tulo de “O jogo dos sete horrores”, a reportagem mostrava monumentos abandonados, como o Cine Brasil (j� em plena efervesc�ncia), a Pra�a da Esta��o, ent�o um gigantesco estacionamento, e a Pra�a Raul Soares, vista na �poca apenas como �rea de passagem e entroncamento de pesados corredores de tr�nsito.
Destacava ainda o casar�o na esquina das ruas Timbiras e Esp�rito Santo – que, depois restaurado, ressurgiu das cinzas –, a enorme polui��o visual dos pr�dios, e o abandono do Castelinho, de 1929, na esquina da Avenida Afonso Pena com Rua Esp�rito Santo. Ent�o rec�m-restaurado, o im�vel j� exibia picha��es que o tempo ainda n�o apagou.
Mestre no seu of�cio, Jurema Rugani observava que o Centro de BH deveria ser considerado uma prioridade, recebendo investimentos e requalifica��o urbana e ambiental, em uma a��o harmoniosa entre poder p�blico, setor privado e popula��o. Passados 21 anos, toda a capital espera que essa realidade tenha, enfim, chegado.
Regi�o repaginada
Ponto a ponto do programa BH Centro do Mundo
1) J� est� valendo
Parque Municipal Am�rico Renn� Giannetti, na Avenida Afonso Pena passa a ficar aberto at� as 21h, de ter�a-feira a s�bado.
Rua Sapuca�, no Bairro Floresta: Fechada aos ve�culos aos domingos para atividades de lazer, cultura e gastronomia. �nibus das linhas SC01A, SC03A, 8203, 8205, 8405, 9103, 9104 e 9210 ter�o os pontos desativados na via e transferidos para a Avenida Assis Chateaubriand, 499, e avenida Francisco Sales, 199.
2) Em andamento
Decreto municipal declara de utilidade p�blica, para desapropria��o, os im�veis do Edif�cio Novo Sul Am�rica, conhecido como Edif�cio Sulacap, para valoriza��o do patrim�nio hist�rico e cultural e restitui��o da Pra�a da Independ�ncia, na Avenida Afonso Pena, 961, entre as ruas Bahia e Tamoios. Na sexta-feira, foi publicado o decreto para desapropria��o e demoli��o do anexo.
3) A��es definidas
Autorizada a publica��o de edital de concurso para cria��o de monumento art�stico em homenagem �s v�timas da COVID-19 em BH e aos profissionais de sa�de, a ser instalado na Pra�a Jo�o Pessoa (acima), parte do Conjunto Hist�rico e Paisag�stico da Avenida Bernardo Monteiro.
Autorizada licita��o e contrata��o de equipamentos e servi�os para a revitaliza��o e amplia��o do videomonitoramento na cidade, com prioridade para �rea central.
Simplifica��o do programa que disp�e sobre a ado��o de espa�os p�blicos e �reas verdes, reduzindo dificuldades burocr�ticas.
Cria��o de Espa�o Multiuso do Parque Municipal em fase de atualiza��o de projetos. A previs�o � de que estejam conclu�dos ainda no primeiro semestre, para ent�o negociar junto ao estado, que faz parte do conv�nio, recursos para licitar as obras no antigo Col�gio Imaco.
Em compasso de espera
Sugest�es de moradores, urbanistas e lojistas para melhorar ainda mais a Regi�o Central
Requalifica��o do entorno da rodovi�ria, com readequa��o do terminal, que, no dia a dia ou em v�spera de feriados recebe grande aglomera��o e provoca s�rios problemas no tr�nsito.
Tratamento diferenciado para a Avenida Afonso Pena, com projetos para desafogar o tr�nsito, deixar mais espa�o para que as pessoas caminhem e para ciclistas.
Resgate de pr�dios hist�ricos. BH tem muitas constru��es degradadas ou encobertas por �rvores e fia��o, que podem trazer mais beleza se restauradas.
Como h� muitas unidades habitacionais vazias, assim como endere�os comerciais, o ideal � que tenham moradores para movimentar a regi�o.
Programas para atendimento � popula��o em situa��o de rua, que n�o devem ser ignorada durante a implanta��o do pacote de interven��es.