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Estado de Minas NA PRA�A SETE

Ex-moradora de rua faz sucesso vendendo marmitas a R$ 7 no Centro de BH

Marta Vieira vende quentinhas a pre�o popular na Pra�a Sete, Centro de BH; ela sonha em alimentar quem n�o pode comer e conhecer os irm�os biol�gicos


30/03/2023 15:32 - atualizado 30/03/2023 17:13

A Pra�a Sete � o cora��o de Belo Horizonte e as pessoas que passam ou trabalham no local fazem a �rea pulsar. E na hora do almo�o, numa das laterais do pr�dio do Uai (Unidade de Atendimento Integrado), as batidas ficam ainda mais intensas com a “Baratex”, barraquinha de marmitas que � sucesso absoluto no centr�o da capital mineira. Mas al�m de comida gostosa, caseira e, como o nome j� infere, barat�ssima, o metro quadrado onde a dona Marta Vieira se instala guarda hist�rias de luta, supera��o, generosidade e sonhos de uma vida.
 
Na foto, Marta Vieira na sua barraquinha, na Praça Sete
"Eu quero distribuir esse carinho para todo mundo". Mesmo com uma hist�ria repleta de dificuldades, a anima��o de dona Marta contagia (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
 
 
Marta Vieira C�ndida, de 58 anos, � natural de Tim�teo e oferece seu servi�o por um valor quase inacredit�vel. A marmita completa em sua barraquinha custa apenas R$ 7. Para ela, lucrar � o de menos. O mais importante � ver pessoas que n�o podem pagar altos valores na alimenta��o, comendo bem e diariamente.

Ela come�ou a trabalhar vendendo marmitas h� quatro anos, no Aglomerado da Serra, onde mora at� hoje. Com o sucesso do empreendimento, dona Marta resolveu levar as marmitas para a Pra�a Sete, um dos pontos mais movimentados de Belo Horizonte.

Gastando muito com aplicativos para buscar as marmitas e levar para o Centro, ela decidiu alugar uma cozinha para agilizar a produ��o. Ela conseguiu, ent�o, come�ar a produzir em um bar, localizado no segundo andar de um dos pr�dios da Pra�a Sete. Dividindo o espa�o com o dono do estabelecimento, o neg�cio cresceu e chegou ao que � hoje, com vendas de cerca de 120 marmitas por dia.

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O sucesso fez com que dona Marta expandisse ainda mais e passasse a servir almo�o no bar onde usa a cozinha. O mesmo estabelecimento agora tamb�m � restaurante. Por R$ 14, os clientes podem aproveitar um self-service sem balan�a e ainda aproveitar uma bonita vista do centro de BH.

Pouco dinheiro, muito carinho

Apesar dos n�meros relevantes, o baixo pre�o n�o permite que dona Marta tenha grandes lucros. As constantes doa��es e redu��es de pre�o tamb�m diminuem os ganhos. Mas para ela, que j� morou na rua quando se mudou para Belo Horizonte, a quest�o financeira fica em segundo plano.

“Os custos s�o altos e tem dia que vamos para casa com R$ 5, que � o dinheiro da passagem. Mas eu fico feliz porque eu j� passei por muita dificuldade, cheguei a morar na rua em BH, dormi embaixo de marquise. Mas com muita luta, catando papel�o, fazendo um monte de coisas, eu cheguei at� aqui”, contou Marta, com um sorriso orgulhoso no rosto.

Ajuda ao pr�ximo


Perguntada sobre as raz�es de manter um pre�o t�o baixo nos produtos, ela explica que suas origens orientam seu neg�cio. “Eu j� fui catadora de papel�o, j� vendi lavagem, n�o tinha como ter dinheiro direito. J� cheguei a tirar do lixo para comer, com meus filhos. Como eu vejo essas pessoas aqui na rua que n�o tem condi��es de comprar uma marmita mais cara, ou se n�o comer uma comida mais bem feita, eu decidi colocar esses pre�os”.


Em l�grimas, dona Marta deu um show de humildade, humanidade e perseveran�a. “Eu sou feliz demais. Eu vivi por muito tempo sem condi��es na minha vida. Eu pensava ‘meu Deus, porque que eu n�o posso chegar numa �poca e ajudar os outros?’. Hoje, tem hora que me faltam as coisas, mas pelo menos Deus me deu minha fam�lia e o carinho das pessoas na rua. Todo mundo olha para mim, me abra�a e eu fico muito feliz com isso”.

“� um carinho que eu n�o tive, mas eu quero distribuir esse carinho para todo mundo. Para quem precisa do meu carinho”, disse.

E ver Marta distribuindo amor � t�o comum quanto v�-la distribuindo marmitas. Um homem cego � abra�ado e amparado por ela. Mesmo com desgaste nos joelhos, ela ajuda outro com uma defici�ncia na perna a subir as escadarias do pr�dio onde comanda seu restaurante. Ficamos juntos por cerca de 30 minutos. Se a equipe do Estado de Minas passasse o dia a seu lado, acredito que cenas como essas necessitam de outra mat�ria para serem encaixadas, de t�o frequentes que seriam.
 
Na foto, barraca de dona Marta, na Praça Sete, cheia de clientes
Na hora do almo�o, barraca de dona Marta na Pra�a Sete sempre fica lotada (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
 

Miss�o

Dona Marta disse que ajudar as pessoas � sua miss�o na terra. Suas dificuldades forjaram-na, assim. “Quando eu morava na rua, ficava na Pra�a Raul Soares, e algumas pessoas vinham, �s vezes n�o para me dar as coisas, mas para me dar carinho, conversar comigo. Eu gr�vida e uma senhora me levava para tomar banho na casa dela. Ent�o retribuir isso aqui para mim � minha felicidade. E enquanto eu estiver viva vou fazer”.

“Alguns n�o t�m condi��o de comprar o marmitex por R$ 7 e eu vendo por 5, mesmo. Outro dia um casal veio com dinheiro para comprar uma marmita para os dois. Vendi as duas pelo pre�o de uma. Quiseram at� tirar uma foto comigo. Eu quero que todo mundo possa comer. Aqueles que n�o tem condi��o de pagar, quando sobra alguma marmita eu doo. � muito bom ajudar as pessoas”, conta ela.
 

Sonhos

Perguntada sobre seus sonhos, Marta afirmou que deseja arrumar parte da casa em que mora com os filhos, no Aglomerado da Serra. Segundo ela, um deslizamento de terra derrubou um muro que destruiu parte do im�vel, o que fez com que parte de sua fam�lia tivesse que deixar o lugar para morar de favor em outros locais.

Ela disse ainda que, pessoalmente, tem o desejo de montar um restaurante pr�prio, no qual n�o precise dividir com um bar. Apesar de ser grata ao propriet�rio do local onde trabalha, hoje, ela afirmou querer um “cantinho s� dela”. Mas ela ressaltou que mesmo realizando esse sonho, a barraquinha de marmitas “baratinhas” na Pra�a Sete n�o vai acabar.

Clientes

Enquanto a equipe esperava dona Marta para a entrevista, a quantidade de clientes na Baratex chamava a aten��o. A todo momento um novo comprador chegava. A maioria deles dona Marta j� conhecia pelo nome. Em certo momento, uma fila chegou a se formar, enquanto a reportagem do EM, involuntariamente, mudava a rotina do local e atrapalhava, com a melhor das inten��es, o fluxo de clientes.

A filha de dona Marta, que tamb�m trabalha na barraquinha, precisou chamar a responsabilidade para si para liberar a m�e, que atendia os clientes como se fossem amigos de longa data. Bem, pela sua presen�a constante na Pra�a Sete, talvez seja essa a quest�o.

Sara Maria, de 22 anos, trabalha numa pastelaria do Centro e � cliente da Baratex h� dois anos. Segundo ela, a simplicidade e o carinho de dona Marta s�o t�o diferenciados quanto o pre�o baixo. “A forma que ela te trata, para tudo que voc� precisar dela, ela est� ali. � o que tem de mais mineiro nela. E o pre�o ajuda ‘demais da conta’! � economia todo o dia”.

Nathan Sachetto Madureira, 21 anos, � atendente de call center e j� se considera um cliente fiel de dona Marta. “A empresa que eu trabalho mudou recentemente aqui para o Centro e quando eu vi que o marmitex tinha um pre�o popular eu vim experimentar, achei uma comida muito boa e fa�o quest�o de vir aqui todos os dias”.

“� formid�vel. Um pre�o que ajuda a gente que est� na correria do dia a dia, que � trabalhador. Realmente une o �til ao agrad�vel”, completou o jovem.
 

Busca pelos irm�os

No momento em que eu finalizava a entrevista, Emily, neta de dona Marta, que trabalha no restaurante, interrompeu a despedida de sua av� dizendo para ela falar “daquele sonho”. Instantaneamente, os olhos da comerciante voltaram a se encher de �gua e, bastante emocionada, ela come�ou, entre l�grimas, a contar seu desejo.

“Eu tenho desejo de, pelo menos, conhecer meus irm�os. Meus doze irm�os. Eu fui criada por uma mulher chamada Piedade, que me registrou como filha dela. Minha m�e verdadeira se chama Maria Efig�nia. Eu vim de Tim�teo com 16 anos e perdi o contato com todo mundo. A �nica fam�lia que tenho s�o meus filhos e eu tinha vontade de ter contato com eles, com pelo menos meus irm�os verdadeiros, que s�o filhos da Maria Efig�nia. Eu n�o conhe�o nenhum dos meus irm�os de sangue”, desabafou entre muitas l�grimas.
 
Na foto, Marta Vieira se emociona durante entrevista
Marta se emociona ao falar dos irm�os que sonha em reencontrar (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
 

Aos nove anos de idade, Marta foi doada pela sua m�e para outra fam�lia. Na nova casa, ela passou por dificuldades e teve que ir trabalhar no Rio de Janeiro antes de completar dez anos de idade.

Ela contou que � a terceira mais velha dos irm�os, sendo mais nova somente que Ant�nia e Isabel. Entre os mais novos, ela citou Aparecida e Ant�nio. De acordo com Marta, quando foi adotada, ela teve seu nome mudado. Anteriormente, se chamava Maura. Ela conta que isso aconteceu com outras de suas irm�s, incluindo Ant�nia, que tinha outro nome.

Entre seus irm�os adotivos, que ela tamb�m quer reencontrar, ela citou Maria da Penha, Lurdinha e Carlinhos. Segundo ela, n�o possui not�cias de nenhum deles h� muito tempo.

Marta alimenta pessoas, cora��es e sonhos, incluindo os seus pr�prios. E ela mostra que pode n�o ser necess�ria uma grande contrapartida para isso. Um cantinho na pra�a, um tempero bem feito e um sorriso no rosto conquistam muita gente.


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